O Vaticano aproveita o período natalício para empreender mais uma batalha contra a liberdade alheia travestindo-a de "defesa da família". Depois de longamente debatida, a proposta de instituição de um Pacto Civil de Solidariedade irá, tudo indica, ser adoptada pela renovada Câmara de Deputados italiana. Trata-se, grosso modo, de uma figura jurídica atípica semelhante a uma união de facto mas registável, tendente a atribuir ao casal, hetero ou homossexual, que a ela se sujeite os direitos e deveres semelhantes aos decorrentes do casamento tout court.É logicamente inegável a vontade, embora convenientemente tímida, do legislador italiano em atribuir às uniões homossexuais, no difícil quadro do catolicismo italiano, a existência jurídica possível. Note-se que não é o casamento civil puro e simples desejável. Mas foi suficiente para suscitar a fúria da Santa Sé que, à semelhança do ocorrido em Espanha, não evita a ingerência mais aberrante na direcção democraticamente legitimada dos assuntos absolutamente seculares da República Italiana.O pasquim L'OSSERVATORE ROMANO (arauto oficial das ideias do Vaticano editado diariamente em italiano e semanalmente em português) denuncia, na sua última edição, "o vergonhoso ataque" ao modelo tradicional italiano de família, composto por uma comunhão perpétua de um homem e de uma mulher no seio da Igreja de Deus, operado pelo Governo de Roma. Diz-nos aquele ícone da isenção jornalística que a "hipocrisia e contradição políticas são evidentes" porque se pretende dar existência legal a relações sabidas temporárias e pouco estáveis. "Estão a relativizar o valor família. Eis o primeiro passo para o abismo". E porque não vale a pena perder tempo a rebater semelhantes argumentos, o Devaneios prefere, isso sim, humildemente sugerir outros temas verdadeiramente relevantes que deviam inquietar a Santa Sé em tempos natalícios (e não só):As 1100 Milhões de pessoas que sobrevivem diariamente com menos de 0,85 euro e os 2700 Milhões de indivíduos que o fazem com menos de 1,70 euros por dia;O aumento da Fome no Mundo;O agudizar dos conflitos político-militares mundiais;A SIDA no terceiro Mundo;A não concessão (ou mesmo supressão) de variadíssimas liberdades políticas a diversos povos;O avanço do Racismo em todo o mundo- incluindo na própria Igreja Católica;A violência contra as mulheres;Homofobia;Tudo isto entre tantas outras coisas. Mas não. É preciso que os homossexuais comecem a querer casar para que a Igreja considere que o Mundo se encontra à beira do abismo...
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O Vaticano aproveita o período natalício para empreender mais uma batalha contra a liberdade alheia travestindo-a de "defesa da família". Depois de longamente debatida, a proposta de instituição de um Pacto Civil de Solidariedade irá, tudo indica, ser adoptada pela renovada Câmara de Deputados italiana. Trata-se, grosso modo, de uma figura jurídica atípica semelhante a uma união de facto mas registável, tendente a atribuir ao casal, hetero ou homossexual, que a ela se sujeite os direitos e deveres semelhantes aos decorrentes do casamento tout court.É logicamente inegável a vontade, embora convenientemente tímida, do legislador italiano em atribuir às uniões homossexuais, no difícil quadro do catolicismo italiano, a existência jurídica possível. Note-se que não é o casamento civil puro e simples desejável. Mas foi suficiente para suscitar a fúria da Santa Sé que, à semelhança do ocorrido em Espanha, não evita a ingerência mais aberrante na direcção democraticamente legitimada dos assuntos absolutamente seculares da República Italiana.O pasquim L'OSSERVATORE ROMANO (arauto oficial das ideias do Vaticano editado diariamente em italiano e semanalmente em português) denuncia, na sua última edição, "o vergonhoso ataque" ao modelo tradicional italiano de família, composto por uma comunhão perpétua de um homem e de uma mulher no seio da Igreja de Deus, operado pelo Governo de Roma. Diz-nos aquele ícone da isenção jornalística que a "hipocrisia e contradição políticas são evidentes" porque se pretende dar existência legal a relações sabidas temporárias e pouco estáveis. "Estão a relativizar o valor família. Eis o primeiro passo para o abismo". E porque não vale a pena perder tempo a rebater semelhantes argumentos, o Devaneios prefere, isso sim, humildemente sugerir outros temas verdadeiramente relevantes que deviam inquietar a Santa Sé em tempos natalícios (e não só):As 1100 Milhões de pessoas que sobrevivem diariamente com menos de 0,85 euro e os 2700 Milhões de indivíduos que o fazem com menos de 1,70 euros por dia;O aumento da Fome no Mundo;O agudizar dos conflitos político-militares mundiais;A SIDA no terceiro Mundo;A não concessão (ou mesmo supressão) de variadíssimas liberdades políticas a diversos povos;O avanço do Racismo em todo o mundo- incluindo na própria Igreja Católica;A violência contra as mulheres;Homofobia;Tudo isto entre tantas outras coisas. Mas não. É preciso que os homossexuais comecem a querer casar para que a Igreja considere que o Mundo se encontra à beira do abismo...