Eis que morrestes - agora já não bateO vosso coração cujo baterDava ritmo e esperança ao meu viverAgora estais perdidos para mim- O olhar não atravessa esta distância -Nem irei procurar-vos pois não souOrpheu tendo escolhido para mimEstar presente aqui onde estou viva.Eu vos desejo a paz nesse caminhoFora do mundo que respiro e vejo.Porém aqui eu escolhi viverNada me resta senão olhar de frenteNeste país de dor e incerteza.Aqui eu escolhi permanecerOnde a visão é dura e mais difícilAqui me resta apenas fazer frenteAo rosto sujo de ódio e de injustiçaA lucidez me serve para verA cidade a cair muro por muroE as faces a morrerem uma a umaE a morte que me corta ela me ensinaQue o sinal do homem não é uma coluna.E eu vos peço por este amor cortadoQue vos lembreis de mim lá onde o amorJá não pode morrer nem ser quebrado.Que o vosso coração que já não bateO tempo denso de sangue e de saudadeMas vive a perfeição da claridadeSe compadeça de mim e de meu prantoSe compadeça de mim e do meu canto.Sophia de Mello Breyner Andresen
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Eis que morrestes - agora já não bateO vosso coração cujo baterDava ritmo e esperança ao meu viverAgora estais perdidos para mim- O olhar não atravessa esta distância -Nem irei procurar-vos pois não souOrpheu tendo escolhido para mimEstar presente aqui onde estou viva.Eu vos desejo a paz nesse caminhoFora do mundo que respiro e vejo.Porém aqui eu escolhi viverNada me resta senão olhar de frenteNeste país de dor e incerteza.Aqui eu escolhi permanecerOnde a visão é dura e mais difícilAqui me resta apenas fazer frenteAo rosto sujo de ódio e de injustiçaA lucidez me serve para verA cidade a cair muro por muroE as faces a morrerem uma a umaE a morte que me corta ela me ensinaQue o sinal do homem não é uma coluna.E eu vos peço por este amor cortadoQue vos lembreis de mim lá onde o amorJá não pode morrer nem ser quebrado.Que o vosso coração que já não bateO tempo denso de sangue e de saudadeMas vive a perfeição da claridadeSe compadeça de mim e de meu prantoSe compadeça de mim e do meu canto.Sophia de Mello Breyner Andresen