Devaneios Desintéricos: o Julgamento de Fujimori

21-01-2012
marcar artigo


A notícia é excelente: o Chile autorizou a extradição de ex-Presidente peruano Fujimori para Lima para que lá conheça a Justiça que a tantos sonegou. Alberto Fujimori, filho de pais japoneses que se mudaram para o Perú em 1934, foi presidente deste país de 1990 a 2000 tendo se tornado conhecido por um mandato recheado de tirania e corrupção, com supressão de liberdades individuais a favor da luta anti terrorista contra a Frente Maoísta Sendero Luminoso. Na lógica securitária de Fujimori tudo se justificava perante a razão última de erradicação dos terroristas.Aliás, o relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação, publicado em Lima a 28 de Agosto de 2003, prova a existência de uma lógica generalizada de massacres de camponeses, por vezes aldeias inteiras, às mãos do Exército Peruano por alegada suspeita, não provada de apoio aos Guerrilheiros Maoístas. Na mesma linha, um relatório da ONG Human Rights Watch sobre aquele país latino-americano, publicado em Novembro de 2005, refere ainda a realização de esterilizações forçadas de mulheres, tortura, suborno e corrupção generalizada do aparelho de Estado. Por outro lado, a Procuradoria Geral da República do Perú veio recentemente advogar a existência de largos milhões de dólares desviados para contas em Zürich , Genebra e Grand Cayman. Não obstante, em 2000, apesar de do ponto de vista do Direito Constitucional Peruano tudo indicar que não poderia, o ditador Fujimori resolveu candidatar-se a um terceiro mandato presidencial que, obviamente, ganhou a 28 de Maio de 2000. O que se seguiu foi um clima de intensa instabilidade social. Em Novembro do mesmo ano, partindo em visita de Estado para o Brunei, Fujimori resolve fugir para Tóquio onde apresenta, através de fax, a sua demissão de Presidente do Perú. Em Lima foram tempos conturbados que levaram às eleição de um novo presidente, o então líder da oposição, Alejandro Toledo. Em exílio no Japão, protegido pelo Governo Nipónico dado ser cidadão daquele país, o Governo de Lima nunca desistiu de obter a sua extradição. O uma vez que a mesma sempre foi negada, Fujimori pôde desenvolver um novo partido - o Sí Cumple - com o intuito de se candidatar às eleições presidenciais peruanas de 2006. Refém de um (felizmente enganador) sentimento de inimputabilidade que tanto caracteriza os ditadores, a 4 de Novembro de 2005 descolou de Tóquio, num jacto privado, a caminho de Santiago, capital do Chile, com escala de reabastecimento em Tijuana, México. Estranhamente, o voo de Fujimori sobrevoou espaço aéreo peruano a caminho do Chile. Mais tarde, veio a ser descoberto que o então Chefe da Interpol em Lima, Carlos Medel, havia ordenado o desligar do sistema de alerta policial internacional do país durante 24 horas, entre dia 5 e 6 de Novembro. Tal operação contou com a conivência de altos responsáveis da Gestão do Espaço Aéreo. Todos prontamente despedidos e julgados, quando descobertos. Mas, em Santiago, foi apanhado quando julgava poder sobreviver a um eventual pedido de extradição junto do governo chileno, dado o período de dificuldades e desentendimentos que as relações Lima - Santiago atrevessavam naquela altura. Porque existirá sempre quem esteja disposto a abdicar da sua liberdade em prol de soluções securitárias, aquilo que se julgará em Lima é muito mais do que um ditador. No banco dos réus sentar-se-ão, com Fujimori, todos aqueles que, na busca de soluções totalitárias, acreditam que os fins justificam os meios e que os direitos humanos são meros axiomas académicos desprovidos de qualquer valor absoluto.


A notícia é excelente: o Chile autorizou a extradição de ex-Presidente peruano Fujimori para Lima para que lá conheça a Justiça que a tantos sonegou. Alberto Fujimori, filho de pais japoneses que se mudaram para o Perú em 1934, foi presidente deste país de 1990 a 2000 tendo se tornado conhecido por um mandato recheado de tirania e corrupção, com supressão de liberdades individuais a favor da luta anti terrorista contra a Frente Maoísta Sendero Luminoso. Na lógica securitária de Fujimori tudo se justificava perante a razão última de erradicação dos terroristas.Aliás, o relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação, publicado em Lima a 28 de Agosto de 2003, prova a existência de uma lógica generalizada de massacres de camponeses, por vezes aldeias inteiras, às mãos do Exército Peruano por alegada suspeita, não provada de apoio aos Guerrilheiros Maoístas. Na mesma linha, um relatório da ONG Human Rights Watch sobre aquele país latino-americano, publicado em Novembro de 2005, refere ainda a realização de esterilizações forçadas de mulheres, tortura, suborno e corrupção generalizada do aparelho de Estado. Por outro lado, a Procuradoria Geral da República do Perú veio recentemente advogar a existência de largos milhões de dólares desviados para contas em Zürich , Genebra e Grand Cayman. Não obstante, em 2000, apesar de do ponto de vista do Direito Constitucional Peruano tudo indicar que não poderia, o ditador Fujimori resolveu candidatar-se a um terceiro mandato presidencial que, obviamente, ganhou a 28 de Maio de 2000. O que se seguiu foi um clima de intensa instabilidade social. Em Novembro do mesmo ano, partindo em visita de Estado para o Brunei, Fujimori resolve fugir para Tóquio onde apresenta, através de fax, a sua demissão de Presidente do Perú. Em Lima foram tempos conturbados que levaram às eleição de um novo presidente, o então líder da oposição, Alejandro Toledo. Em exílio no Japão, protegido pelo Governo Nipónico dado ser cidadão daquele país, o Governo de Lima nunca desistiu de obter a sua extradição. O uma vez que a mesma sempre foi negada, Fujimori pôde desenvolver um novo partido - o Sí Cumple - com o intuito de se candidatar às eleições presidenciais peruanas de 2006. Refém de um (felizmente enganador) sentimento de inimputabilidade que tanto caracteriza os ditadores, a 4 de Novembro de 2005 descolou de Tóquio, num jacto privado, a caminho de Santiago, capital do Chile, com escala de reabastecimento em Tijuana, México. Estranhamente, o voo de Fujimori sobrevoou espaço aéreo peruano a caminho do Chile. Mais tarde, veio a ser descoberto que o então Chefe da Interpol em Lima, Carlos Medel, havia ordenado o desligar do sistema de alerta policial internacional do país durante 24 horas, entre dia 5 e 6 de Novembro. Tal operação contou com a conivência de altos responsáveis da Gestão do Espaço Aéreo. Todos prontamente despedidos e julgados, quando descobertos. Mas, em Santiago, foi apanhado quando julgava poder sobreviver a um eventual pedido de extradição junto do governo chileno, dado o período de dificuldades e desentendimentos que as relações Lima - Santiago atrevessavam naquela altura. Porque existirá sempre quem esteja disposto a abdicar da sua liberdade em prol de soluções securitárias, aquilo que se julgará em Lima é muito mais do que um ditador. No banco dos réus sentar-se-ão, com Fujimori, todos aqueles que, na busca de soluções totalitárias, acreditam que os fins justificam os meios e que os direitos humanos são meros axiomas académicos desprovidos de qualquer valor absoluto.

marcar artigo