Transformação em curso

20-11-2014
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Transformação em curso

Rita Marques Guedes

00:05

Remodelação. A mera hipótese de uma remodelação extensa, a um ano de eleições, se não está no domínio da fantasia, estará certamente no do desconhecimento da realidade.

Uma realidade com duas componentes decisivas. Uma, relativa ao custo-benefício de uma remodelação, centrado na ponderação que não pode deixar de ser feita sobre a transição de equipas e do período necessário para que as novas tomem o pulso aos diferentes ‘dossiers' sob sua tutela e se tornem aptas a tomar decisões, ou seja, a actuar. A outra, a cada vez mais estreita margem de recrutamento de pessoas capazes e disponíveis a assumirem pastas governativas, factor tanto mais complexo quanto se estaria a falar de um período de exercício reduzido a um ano. Fez bem, portanto, o primeiro-ministro em não embarcar naquilo que seria uma pura cosmética, muito a gosto dos títulos mediáticos, mas com potencial prejuízo para o interesse público.

Mais do que centrar a atenção sobre a extensão das remodelações, importa, isso sim, que o líder do Governo cuide de apresentar uma proposta política, de coligação ou não, que seja susceptível de atrair os portugueses e contrariar o valor ascendente da liderança socialista. Será um trabalho difícil, tão mais se tivermos presente o sofrimento imposto aos portugueses durante os anos de governação. Pode ser injusto que quem veio consertar o país das consequências dos erros produzidos por outros, saia penalizado, vergado a uma derrota eleitoral. É certo que ao longo destes últimos anos, ainda que não houvesse alternativa às políticas empreendidas, em grande parte determinadas pela ‘troika', a forma como as mesmas foram comunicadas e apresentadas poderia em muito ter contribuído para suavizar o impacto dos socos no estômago que portugueses ainda estão a levar. E neste particular, a sensação que fica é que se teve muito mais atenção à aritmética do défice do que à vida das pessoas. Virá, pois, o tempo eleitoral em que as pessoas ditarão os números de avaliação de que esta governação é merecedora.

Podemos! Estamos em pleno período de transformação em curso e, como em todas as situações vividas ao tempo, temos reduzida capacidade de antecipação e menos visibilidade sobre os momentos seguintes e, sobretudo, como vai ser a estrutura do modelo em que vamos viver no futuro, necessariamente diferente, substancialmente diferente, daquele que temos vivido até agora. Não é sem desconforto que vemos tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo, sem termos uma percepção de onde tudo isto nos vai conduzir. Diria que nos conduzirá, exactamente, ao lugar proporcional, à menor ou maior intensidade de participação por parte da sociedade civil. Já sabemos que as nossas " lites" não primam pela actuação, antes preferem passivamente mal dizerem cada decisão que outros tomam. Esta atitude desconstrutiva que perdura há dezenas de anos levou ao domínio estrangulador de um Estado que nos tira mais do que nos dá. Mas podemos determinar o sentido da mudança. Devemos ter uma atitude participativa e ser mais exigentes desde logo sobre um dos núcleos do problema e que se evidência nos modelos partidários, enquistados lá atrás ao tempo em que foram constituídos e incapazes de se questionarem, quanto mais de se transformarem. Temos muito menos tradição activista do que Espanha e, dificilmente, encontraremos espaço para uma força partidária emergente de um movimento cívico como verificamos acontecer naquele país.

No entanto, há que olhar os sinais e perceber que a dinâmica dos acontecimentos é suficiente para que a olhemos com preocupação e consequente maior sentido de intervenção.

Transformação em curso

Rita Marques Guedes

00:05

Remodelação. A mera hipótese de uma remodelação extensa, a um ano de eleições, se não está no domínio da fantasia, estará certamente no do desconhecimento da realidade.

Uma realidade com duas componentes decisivas. Uma, relativa ao custo-benefício de uma remodelação, centrado na ponderação que não pode deixar de ser feita sobre a transição de equipas e do período necessário para que as novas tomem o pulso aos diferentes ‘dossiers' sob sua tutela e se tornem aptas a tomar decisões, ou seja, a actuar. A outra, a cada vez mais estreita margem de recrutamento de pessoas capazes e disponíveis a assumirem pastas governativas, factor tanto mais complexo quanto se estaria a falar de um período de exercício reduzido a um ano. Fez bem, portanto, o primeiro-ministro em não embarcar naquilo que seria uma pura cosmética, muito a gosto dos títulos mediáticos, mas com potencial prejuízo para o interesse público.

Mais do que centrar a atenção sobre a extensão das remodelações, importa, isso sim, que o líder do Governo cuide de apresentar uma proposta política, de coligação ou não, que seja susceptível de atrair os portugueses e contrariar o valor ascendente da liderança socialista. Será um trabalho difícil, tão mais se tivermos presente o sofrimento imposto aos portugueses durante os anos de governação. Pode ser injusto que quem veio consertar o país das consequências dos erros produzidos por outros, saia penalizado, vergado a uma derrota eleitoral. É certo que ao longo destes últimos anos, ainda que não houvesse alternativa às políticas empreendidas, em grande parte determinadas pela ‘troika', a forma como as mesmas foram comunicadas e apresentadas poderia em muito ter contribuído para suavizar o impacto dos socos no estômago que portugueses ainda estão a levar. E neste particular, a sensação que fica é que se teve muito mais atenção à aritmética do défice do que à vida das pessoas. Virá, pois, o tempo eleitoral em que as pessoas ditarão os números de avaliação de que esta governação é merecedora.

Podemos! Estamos em pleno período de transformação em curso e, como em todas as situações vividas ao tempo, temos reduzida capacidade de antecipação e menos visibilidade sobre os momentos seguintes e, sobretudo, como vai ser a estrutura do modelo em que vamos viver no futuro, necessariamente diferente, substancialmente diferente, daquele que temos vivido até agora. Não é sem desconforto que vemos tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo, sem termos uma percepção de onde tudo isto nos vai conduzir. Diria que nos conduzirá, exactamente, ao lugar proporcional, à menor ou maior intensidade de participação por parte da sociedade civil. Já sabemos que as nossas " lites" não primam pela actuação, antes preferem passivamente mal dizerem cada decisão que outros tomam. Esta atitude desconstrutiva que perdura há dezenas de anos levou ao domínio estrangulador de um Estado que nos tira mais do que nos dá. Mas podemos determinar o sentido da mudança. Devemos ter uma atitude participativa e ser mais exigentes desde logo sobre um dos núcleos do problema e que se evidência nos modelos partidários, enquistados lá atrás ao tempo em que foram constituídos e incapazes de se questionarem, quanto mais de se transformarem. Temos muito menos tradição activista do que Espanha e, dificilmente, encontraremos espaço para uma força partidária emergente de um movimento cívico como verificamos acontecer naquele país.

No entanto, há que olhar os sinais e perceber que a dinâmica dos acontecimentos é suficiente para que a olhemos com preocupação e consequente maior sentido de intervenção.

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