Câmara Corporativa: Loja de conveniência

21-01-2012
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Sr. Lei na Cidade dos BrinquedosEscrevi umas coisas avulsas sobre os elaborados pensamentos do Manuel, do José e do Carlos (acho que não me equivoquei na ordem protocolar), mas eles fizeram-se de mortos. Ontem, dois deles saltaram-me às canelas. Manda a boa educação que lhes preste alguma atenção. Mas não sei exactamente o que dizer. É que a Grande Loja não é propriamente um blogue.O Manuel estampa fotos de passarinhos coloridos e, nos intervalos, revela a sua sofrida desilusão por o Prof. Cavaco ainda não ter empossado um governo de salvação nacional. Ontem, o Manuel aproveitou a deixa para ajustar contas com o Conselheiro Noronha por não ter feito ascender nenhum membro da loja de conveniência ao Supremo Tribunal de Justiça. É a primeira função da Grande Loja: interceder pelos seus.O José andou dias a fio a anunciar que iria partir para um retiro espiritual, mas regressou antes de o afastamento produzir quaisquer resultados. Em consequência, temos mais do mesmo: mais fascículos da enciclopédia da pop music (vai agora na letra P, com os Procol Harum), o pezinho sempre a escorregar para a delação e o policiamento atento das mais obscuras caixas de comentários. É uma espécie de Sr. Lei na Cidade dos Brinquedos. É a segunda função da Grande Loja: denunciar as safadezas que a humanidade em geral comete contra o Ministério Público, que representa, como se sabe, o Bem.O Carlos, esse, segura as audiências, afixando por cima dos passarinhos coloridos do Manuel umas moças de calendário (e de olhar lânguido) repescadas só ele sabe aonde. É a terceira função da Grande Loja: se não pode dar pão, dá circo para elevar a consciência das tropas.Há mais uns tantos senhores em trânsito, que não se percebe exactamente sobre o que escrevem — para além daquele outro senhor versado em leis, que teima em falar de finanças públicas (assunto que manifestamente não domina) e se socorre da loja do Manuel, quando os jornais o mandam dar uma volta: estampa aí uns quadros apocalípticos, cujos valores jamais alguém conferiu, que anunciam o fim do universo há mais tempo que as Testemunhas de Jeová.As scuts e a net modernizaram, efectivamente, o país. A Grande Loja representa mais uma fornada que chega ao mundo através da blogosfera, numa curiosa simbiose entre o spam e as contas de Viana. Mas o choque tecnológico não os desembaraçou do país rural. Por isso, há umas cabeças povoadas de histórias de polícias e ladrões e há também a celebrada desconfiança do Zé Povinho de Bordallo. Mas há, sobretudo, a defesa dos pequeninos privilégios que trabalhar para o Estado concede.Por tudo isto, a Grande Loja parece-me um lugar soturno, que, não obstante as teias de aranha, a intriga provinciana e o duvidoso gosto, cumpre uma função social inequívoca: fazer companhia às madrugadas da famosa Zazie. Mas é pouco para ser um blogue.Que se pode esperar desta loja de conveniência? Que o Carlos vire mais uma página do calendário.PS 1 — José, você adora, no meio de uma desastrada sintaxe, escrever palavras caras. Mas dar erros ortográficos, ainda para mais frequentes, é a morte do artista: o adjectivo que quis usar é “estrénuo” e não “estrénue”. Parece tudo colado com cuspo. Porra, José, para que andou o Estado a gastar dinheiro consigo no CEJ?PS 2 — O Manuel escreve: “Quanto a Paulo Teixeira Pinto, julgava-o mais inteligente, na melhor das hipóteses caiu numa armadilha...” Será que o Manuel toma o Conselho Superior da Magistratura por uma entidade pouco recomendável e Paulo Teixeira Pinto por um impoluto e ingénuo que “caiu numa armadilha” de aceitar um convite suspeito? Então sou eu que quero “desacreditar, desacreditar e desacreditar (…) o sistema judicial”?PS 3 — Armados em entendidos, o Manuel e o José sustentam que o CC é um blogue ao serviço do Governo. Não lhes vou ensinar tudo de uma só vez, mas sempre lhes digo que um blogue que tivesse essas funções teria de abrir caminho, por antecipação, às decisões do Governo. Partir pedra com meses de antecedência. Ora, não me levem mal, mas dá-me mais gozo andar a brincar às escondidas com os veneráveis da Grande Loja, o que, convenhamos, não adianta nem atrasa à acção do Governo. Mas um dia explico-vos como deveria ser um blogue ao serviço de uma estratégia. Hoje, não, porque poderia ser entendido como uma candidatura por via electrónica. E eu prefiro continuar a ser um “alto funcionário da Administração Pública”, como diz o polícia Zé.


Sr. Lei na Cidade dos BrinquedosEscrevi umas coisas avulsas sobre os elaborados pensamentos do Manuel, do José e do Carlos (acho que não me equivoquei na ordem protocolar), mas eles fizeram-se de mortos. Ontem, dois deles saltaram-me às canelas. Manda a boa educação que lhes preste alguma atenção. Mas não sei exactamente o que dizer. É que a Grande Loja não é propriamente um blogue.O Manuel estampa fotos de passarinhos coloridos e, nos intervalos, revela a sua sofrida desilusão por o Prof. Cavaco ainda não ter empossado um governo de salvação nacional. Ontem, o Manuel aproveitou a deixa para ajustar contas com o Conselheiro Noronha por não ter feito ascender nenhum membro da loja de conveniência ao Supremo Tribunal de Justiça. É a primeira função da Grande Loja: interceder pelos seus.O José andou dias a fio a anunciar que iria partir para um retiro espiritual, mas regressou antes de o afastamento produzir quaisquer resultados. Em consequência, temos mais do mesmo: mais fascículos da enciclopédia da pop music (vai agora na letra P, com os Procol Harum), o pezinho sempre a escorregar para a delação e o policiamento atento das mais obscuras caixas de comentários. É uma espécie de Sr. Lei na Cidade dos Brinquedos. É a segunda função da Grande Loja: denunciar as safadezas que a humanidade em geral comete contra o Ministério Público, que representa, como se sabe, o Bem.O Carlos, esse, segura as audiências, afixando por cima dos passarinhos coloridos do Manuel umas moças de calendário (e de olhar lânguido) repescadas só ele sabe aonde. É a terceira função da Grande Loja: se não pode dar pão, dá circo para elevar a consciência das tropas.Há mais uns tantos senhores em trânsito, que não se percebe exactamente sobre o que escrevem — para além daquele outro senhor versado em leis, que teima em falar de finanças públicas (assunto que manifestamente não domina) e se socorre da loja do Manuel, quando os jornais o mandam dar uma volta: estampa aí uns quadros apocalípticos, cujos valores jamais alguém conferiu, que anunciam o fim do universo há mais tempo que as Testemunhas de Jeová.As scuts e a net modernizaram, efectivamente, o país. A Grande Loja representa mais uma fornada que chega ao mundo através da blogosfera, numa curiosa simbiose entre o spam e as contas de Viana. Mas o choque tecnológico não os desembaraçou do país rural. Por isso, há umas cabeças povoadas de histórias de polícias e ladrões e há também a celebrada desconfiança do Zé Povinho de Bordallo. Mas há, sobretudo, a defesa dos pequeninos privilégios que trabalhar para o Estado concede.Por tudo isto, a Grande Loja parece-me um lugar soturno, que, não obstante as teias de aranha, a intriga provinciana e o duvidoso gosto, cumpre uma função social inequívoca: fazer companhia às madrugadas da famosa Zazie. Mas é pouco para ser um blogue.Que se pode esperar desta loja de conveniência? Que o Carlos vire mais uma página do calendário.PS 1 — José, você adora, no meio de uma desastrada sintaxe, escrever palavras caras. Mas dar erros ortográficos, ainda para mais frequentes, é a morte do artista: o adjectivo que quis usar é “estrénuo” e não “estrénue”. Parece tudo colado com cuspo. Porra, José, para que andou o Estado a gastar dinheiro consigo no CEJ?PS 2 — O Manuel escreve: “Quanto a Paulo Teixeira Pinto, julgava-o mais inteligente, na melhor das hipóteses caiu numa armadilha...” Será que o Manuel toma o Conselho Superior da Magistratura por uma entidade pouco recomendável e Paulo Teixeira Pinto por um impoluto e ingénuo que “caiu numa armadilha” de aceitar um convite suspeito? Então sou eu que quero “desacreditar, desacreditar e desacreditar (…) o sistema judicial”?PS 3 — Armados em entendidos, o Manuel e o José sustentam que o CC é um blogue ao serviço do Governo. Não lhes vou ensinar tudo de uma só vez, mas sempre lhes digo que um blogue que tivesse essas funções teria de abrir caminho, por antecipação, às decisões do Governo. Partir pedra com meses de antecedência. Ora, não me levem mal, mas dá-me mais gozo andar a brincar às escondidas com os veneráveis da Grande Loja, o que, convenhamos, não adianta nem atrasa à acção do Governo. Mas um dia explico-vos como deveria ser um blogue ao serviço de uma estratégia. Hoje, não, porque poderia ser entendido como uma candidatura por via electrónica. E eu prefiro continuar a ser um “alto funcionário da Administração Pública”, como diz o polícia Zé.

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