Compreender o 11 de Setembro

11-01-2013
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Hoje os dilemas continuam: que preço pagar pela democratização dos países estratégicos para os EUA?

"No dia 1 de Maio de 2011, Barack Obama comunicou ao mundo a morte de Osama bin Laden. Enclausurado numa casa - ‘bunker' situada na cidade paquistanesa de Abbottabad, o líder da al-Qaeda foi abatido a tiro durante um raide nocturno montado pelos SEAL, as tropas especiais navais americanas. Obama também revelou que os comandos resgataram o cadáver de Bin-Landen, transportando-o para o porta-aviões USS Carl Vinson, e, depois de observados os ritos fúnebres islâmicos, lançaram-no ao Mar da Arábia. Chegava assim ao fim a caça ao homem de quase uma década e que levou os Estados Unidos a prosseguirem uma "guerra global contra o terrorismo deveras dispendiosa em sangue e tesouro". É desta forma, sucinta e conclusiva que Vasco Rato, autor do livro "Compreender o 11 de Setembro", inicia esta sua explicação sobre o significado do 11 de Setembro.

Para Vasco Rato, Doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade de Georgetown (Washington DC), para tentarmos compreender o 11 de Setembro temos que ter ( lê-se nas entrelinhas) vistas largas e um certo entendimento de geoestratégia. Explica o autor que temos que entender as raízes da al-Qaeda e do seu líder, Osama Bin-Laden. "É imperativo reconhecer que Bin-Laden não era um mero terrorista ‘niilista', um ‘cão raivoso' destituído de objectivos políticos", escreve Rato, nos posfácio.

Mas será mesmo que foi no dia 11 de Setembro que tudo mudou? "A verdadeira alteração de paradigma ocorre em 1979, quando a União Soviética invade o Afeganistão, o Xá do Irão é deposto para dar lugar à teocracia dos ‘ayatollahs' e ocorre a ocupação armada da Grande Mesquita de Meca por um grupo de fundamentalistas suadistas. "Na verdade", lê -se na obra, "estes acontecimentos revelar-se-iam determinantes para Osama Bin-Laden que, de um filho do privilégio, se transformaria num guerreiro santo".

As consequências? Essas, infelizmente, são bem conhecidas: os sangrentos ataques aos Estados Unidos e a insegurança ímpar e global (tantos anos dada como "quasi -certa") no mundo ocidental.

De notar que esta obra, além de constituir uma excelente forma de entender a dinâmica geoestratégica que esteve por detrás dos atentados, brilha também por tocar em pontos sensíveis das teorias das Relações Internacionais, que são essenciais para identificarmos onde estamos e para onde vamos.

Neste puzzle de vida é importante levantar questões tais como democracia versus novos mercados? Se sim, a que custo? Dilemas que também não foram esquecidos por este autor que toca em questões pertinentes e expõe de forma clara os complicados dilemas dos nossos dias.

"Se a guerra contra o terrorismo trouxe ganhos geoestratégicos, os acontecimentos verificados no Paquistão - e noutros países como, por exemplo na Arábia Saudita e no Egipto - colocaram a Casa Branca perante um dilema: como apoiar uma agenda de democratização em países com regimes autocráticos que eram estrategicamente vitais para os Estados Unidos?". Tema quente. A seguir.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto

A trama termina onde começou: junto à sepultura do pai. Esta história que comoveu o mundo é contada pelo olhar de uma criança de nove anos que é "inventor, francófilo, tocador de trampolim, actor shakespeariano, joalheiro, pacifista". Oskar Schell é a personagem criada por Jonathan Safran Foer, jovem autor muito premiado nos últimos anos, que surpreendeu o mundo com "Está Tudo Iluminado", livro que lhe valeu a nomeação de melhor livro do ano pelo Los Angeles Times. Nesta obra Safran Foer coloca um miúdo a correr cinco cantos de Nova Iorque em busca de uma fechadura onde poderá colocar a misteriosa chave do seu pai, morto nos atentados de 11 de Setembro contra o World Trade Center. A história é bonita mas pesada. Oskar, o protagonista do conto, tem o poder de levar quem conhece a capital financeira dos Estados Unidos a relembrar, ao detalhe, zonas da cidade como o Central Park, Coney Island ou o Bronx. "Comer animais", lançado em 2010, é outra das obras deste autor que está a dar que falar. Extremamente Alto, Incrivelmente Perto I Jonathan Safran Foer I Livros Quetzal, 458 páginas, 22.72 euros

Aftershock

O futuro que se segue é o ponto de interrogação que paira sobre os norte-americanos, em especial, e sobre o mundo, de uma forma global. Esta obra de Robert Reich, professor de políticas públicas na Richard and Rhoda Goldman School of Public Policy da Universidade da Califórnia não é apenas sobre o 11 de Setembro. Neste livro Reich, que integrou três administrações norte-americanas, da última vez como secretário do trabalho de Bill Clinton, escreve sobre um outro atentado terrorista: o ataque à classe média.

Para este estudioso, que é considerado um dos mais influentes ‘opinionmakers' pelo "Wall Street Journal", quando a economia americana se afundou em 2008, a "culpa" não foi de Wall Street. O problema é "estrutural", defende. Segundo Reich, esta crise económica global "reside na concentração crescente dos rendimentos e da riqueza no topo, e numa classe média que teve que se endividar profundamente para conservar um padrão de vida decente." Escrevem os antigos que depois da tempestade vem a bonança. Por isso, mais do que nunca, é necessário olhar para a frente e procurar, já hoje, uma saída. Para os mais desanimados, uma certeza: tristezas não pagam dívidas. Por isso, mãos à obra para este "aftershock". Boa leitura. AFTERSHOCK I ROBERT B.REICH I DOM QUIXOTE, 200 páginas, 15.95 euros

Filmes com história. Real.

Será que a ficção, por melhor que seja, supera a realidade? Dificilmente. Afinal a máxima de vida dos realizadores do emergente cinema documental recai exactamente na tentativa de retratar fielmente factos que superam toda e qualquer ficção. E existirá, nos últimos anos, melhor "evento" do que os trágicos acontecimentos do 11 de Setembro (que foram filmados em tempo real por milhares de câmaras, em todos os ângulos possíveis e com tanto detalhe, que - e como diria seguramente Samuel Huntington - até a morte "dos outros" foi filmada... )?

11 de Setembro significa não só uma data. É um ‘momentum' com muitas histórias de vida destruídas, com muito sofrimento, mágoa, perda, incompreensão e sentimento de que ninguém é intocável. Um autêntico ‘cocktail' explosivo de emoções que levou à escrita de infinitos caracteres sobre o assunto.

E se no mundo dos livros a tragédia rendeu milhares de títulos e milhões de exemplares vendidos, no mundo da sétima arte, rendeu bons filmes mas sobretudo bons documentários. O campeão é Michael Moore, com o seu polémico "Fahrenheit 9/11", documentário que além de encher (literalmente) salas e salas de cinema em cidades como Washigton DC, foi ainda distinguido com a Palma de Ouro no festival de Cannes em 2004. Surpreendente? Nem por isso. Apesar do ângulo "anti- Bush" e da tentativa de estabelecer possíveis vínculos entre as famílias do presidente George W. Bush e a de Osama Bin-Laden, este documentário tornou-se um fenómeno. Porquê? O tema era quente (apresenta o que esteve por detrás do 11 de Setembro) e surgiu num ano eleitoral em que a fadiga da guerra no Iraque assumiu proporções generalizadas e internacionais.

Mas há mais - e não tão polémico - no mundo do "ecran". Os destaques vão paraas colectâneas do National Geographic e do History Channel, respectivamente, "Inside 9/11" (Edição Comemorativa) e "9/11 Commemorative". Se gosta mesmo de bons filmes reais e se é um interessado pelo tema: não deixe de ver ainda "America 911 - We Will Never Forget (2001)", "In Memoriam - New York City, 9/11/01 e "102 Minutes That Changed America (2008)".

Todos este títulos são filmes que merecem a pena serem vistos e revistos. Afinal, uma imagem vale mais do que mil palavras. Que o diga Yuri Alves, luso descendente e, ao que consta, o primeiro a editar as imagens do "11 de Setembro", num documentário intitulado "The day the World Change". Este documentário, que foi visionado na Casa Branca, estava pronto sete dias depois dos atentados, tornando-se assim o primeiro "doc" sobre o 11 de Setembro. A assinatura é luso-descendente.

Hoje os dilemas continuam: que preço pagar pela democratização dos países estratégicos para os EUA?

"No dia 1 de Maio de 2011, Barack Obama comunicou ao mundo a morte de Osama bin Laden. Enclausurado numa casa - ‘bunker' situada na cidade paquistanesa de Abbottabad, o líder da al-Qaeda foi abatido a tiro durante um raide nocturno montado pelos SEAL, as tropas especiais navais americanas. Obama também revelou que os comandos resgataram o cadáver de Bin-Landen, transportando-o para o porta-aviões USS Carl Vinson, e, depois de observados os ritos fúnebres islâmicos, lançaram-no ao Mar da Arábia. Chegava assim ao fim a caça ao homem de quase uma década e que levou os Estados Unidos a prosseguirem uma "guerra global contra o terrorismo deveras dispendiosa em sangue e tesouro". É desta forma, sucinta e conclusiva que Vasco Rato, autor do livro "Compreender o 11 de Setembro", inicia esta sua explicação sobre o significado do 11 de Setembro.

Para Vasco Rato, Doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade de Georgetown (Washington DC), para tentarmos compreender o 11 de Setembro temos que ter ( lê-se nas entrelinhas) vistas largas e um certo entendimento de geoestratégia. Explica o autor que temos que entender as raízes da al-Qaeda e do seu líder, Osama Bin-Laden. "É imperativo reconhecer que Bin-Laden não era um mero terrorista ‘niilista', um ‘cão raivoso' destituído de objectivos políticos", escreve Rato, nos posfácio.

Mas será mesmo que foi no dia 11 de Setembro que tudo mudou? "A verdadeira alteração de paradigma ocorre em 1979, quando a União Soviética invade o Afeganistão, o Xá do Irão é deposto para dar lugar à teocracia dos ‘ayatollahs' e ocorre a ocupação armada da Grande Mesquita de Meca por um grupo de fundamentalistas suadistas. "Na verdade", lê -se na obra, "estes acontecimentos revelar-se-iam determinantes para Osama Bin-Laden que, de um filho do privilégio, se transformaria num guerreiro santo".

As consequências? Essas, infelizmente, são bem conhecidas: os sangrentos ataques aos Estados Unidos e a insegurança ímpar e global (tantos anos dada como "quasi -certa") no mundo ocidental.

De notar que esta obra, além de constituir uma excelente forma de entender a dinâmica geoestratégica que esteve por detrás dos atentados, brilha também por tocar em pontos sensíveis das teorias das Relações Internacionais, que são essenciais para identificarmos onde estamos e para onde vamos.

Neste puzzle de vida é importante levantar questões tais como democracia versus novos mercados? Se sim, a que custo? Dilemas que também não foram esquecidos por este autor que toca em questões pertinentes e expõe de forma clara os complicados dilemas dos nossos dias.

"Se a guerra contra o terrorismo trouxe ganhos geoestratégicos, os acontecimentos verificados no Paquistão - e noutros países como, por exemplo na Arábia Saudita e no Egipto - colocaram a Casa Branca perante um dilema: como apoiar uma agenda de democratização em países com regimes autocráticos que eram estrategicamente vitais para os Estados Unidos?". Tema quente. A seguir.

Extremamente Alto, Incrivelmente Perto

A trama termina onde começou: junto à sepultura do pai. Esta história que comoveu o mundo é contada pelo olhar de uma criança de nove anos que é "inventor, francófilo, tocador de trampolim, actor shakespeariano, joalheiro, pacifista". Oskar Schell é a personagem criada por Jonathan Safran Foer, jovem autor muito premiado nos últimos anos, que surpreendeu o mundo com "Está Tudo Iluminado", livro que lhe valeu a nomeação de melhor livro do ano pelo Los Angeles Times. Nesta obra Safran Foer coloca um miúdo a correr cinco cantos de Nova Iorque em busca de uma fechadura onde poderá colocar a misteriosa chave do seu pai, morto nos atentados de 11 de Setembro contra o World Trade Center. A história é bonita mas pesada. Oskar, o protagonista do conto, tem o poder de levar quem conhece a capital financeira dos Estados Unidos a relembrar, ao detalhe, zonas da cidade como o Central Park, Coney Island ou o Bronx. "Comer animais", lançado em 2010, é outra das obras deste autor que está a dar que falar. Extremamente Alto, Incrivelmente Perto I Jonathan Safran Foer I Livros Quetzal, 458 páginas, 22.72 euros

Aftershock

O futuro que se segue é o ponto de interrogação que paira sobre os norte-americanos, em especial, e sobre o mundo, de uma forma global. Esta obra de Robert Reich, professor de políticas públicas na Richard and Rhoda Goldman School of Public Policy da Universidade da Califórnia não é apenas sobre o 11 de Setembro. Neste livro Reich, que integrou três administrações norte-americanas, da última vez como secretário do trabalho de Bill Clinton, escreve sobre um outro atentado terrorista: o ataque à classe média.

Para este estudioso, que é considerado um dos mais influentes ‘opinionmakers' pelo "Wall Street Journal", quando a economia americana se afundou em 2008, a "culpa" não foi de Wall Street. O problema é "estrutural", defende. Segundo Reich, esta crise económica global "reside na concentração crescente dos rendimentos e da riqueza no topo, e numa classe média que teve que se endividar profundamente para conservar um padrão de vida decente." Escrevem os antigos que depois da tempestade vem a bonança. Por isso, mais do que nunca, é necessário olhar para a frente e procurar, já hoje, uma saída. Para os mais desanimados, uma certeza: tristezas não pagam dívidas. Por isso, mãos à obra para este "aftershock". Boa leitura. AFTERSHOCK I ROBERT B.REICH I DOM QUIXOTE, 200 páginas, 15.95 euros

Filmes com história. Real.

Será que a ficção, por melhor que seja, supera a realidade? Dificilmente. Afinal a máxima de vida dos realizadores do emergente cinema documental recai exactamente na tentativa de retratar fielmente factos que superam toda e qualquer ficção. E existirá, nos últimos anos, melhor "evento" do que os trágicos acontecimentos do 11 de Setembro (que foram filmados em tempo real por milhares de câmaras, em todos os ângulos possíveis e com tanto detalhe, que - e como diria seguramente Samuel Huntington - até a morte "dos outros" foi filmada... )?

11 de Setembro significa não só uma data. É um ‘momentum' com muitas histórias de vida destruídas, com muito sofrimento, mágoa, perda, incompreensão e sentimento de que ninguém é intocável. Um autêntico ‘cocktail' explosivo de emoções que levou à escrita de infinitos caracteres sobre o assunto.

E se no mundo dos livros a tragédia rendeu milhares de títulos e milhões de exemplares vendidos, no mundo da sétima arte, rendeu bons filmes mas sobretudo bons documentários. O campeão é Michael Moore, com o seu polémico "Fahrenheit 9/11", documentário que além de encher (literalmente) salas e salas de cinema em cidades como Washigton DC, foi ainda distinguido com a Palma de Ouro no festival de Cannes em 2004. Surpreendente? Nem por isso. Apesar do ângulo "anti- Bush" e da tentativa de estabelecer possíveis vínculos entre as famílias do presidente George W. Bush e a de Osama Bin-Laden, este documentário tornou-se um fenómeno. Porquê? O tema era quente (apresenta o que esteve por detrás do 11 de Setembro) e surgiu num ano eleitoral em que a fadiga da guerra no Iraque assumiu proporções generalizadas e internacionais.

Mas há mais - e não tão polémico - no mundo do "ecran". Os destaques vão paraas colectâneas do National Geographic e do History Channel, respectivamente, "Inside 9/11" (Edição Comemorativa) e "9/11 Commemorative". Se gosta mesmo de bons filmes reais e se é um interessado pelo tema: não deixe de ver ainda "America 911 - We Will Never Forget (2001)", "In Memoriam - New York City, 9/11/01 e "102 Minutes That Changed America (2008)".

Todos este títulos são filmes que merecem a pena serem vistos e revistos. Afinal, uma imagem vale mais do que mil palavras. Que o diga Yuri Alves, luso descendente e, ao que consta, o primeiro a editar as imagens do "11 de Setembro", num documentário intitulado "The day the World Change". Este documentário, que foi visionado na Casa Branca, estava pronto sete dias depois dos atentados, tornando-se assim o primeiro "doc" sobre o 11 de Setembro. A assinatura é luso-descendente.

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