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21-06-2011
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Os nomes que compõem o governo Passos Coelho já são conhecidos. Há que reconhecer o mérito do líder do PSD, primeiro-ministro de Portugal, por constituir governo, celebrar o acordo político com o CDS, de forma célere, eficaz e responsável. Tal como as exigências do interesse nacional impunham. No entanto, o elenco governativo definitivo é uma relativa desilusão: tem pouco peso político, com a inclusão de académicos, essencialmente teóricos sem experiência política. Será este um sinal positivo ou negativo? Dependerá muito das circunstâncias que envolverão a execução das medidas da troika e a (in)capacidade do executivo em lidar com a inevitável contestação social. Dito isto, analisemos o novo executivo pasta a pasta:

Ministro das Finanças: Vítor Gaspar. É um nome tecnicamente competente, alinhado com as orientações financeiras do BCE (um profundo monetarista) e um nome com uma reputação positiva junto do FMI. Não obstante, numa altura em que se esperaria um super ministro das finanças, com um peso político acrescido, a sua escolha deixa muito a desejar.

Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro: Carlos Moedas. Este é o aspeto mais curioso do novo governo e que nenhum analista político ainda salientou. É que, na verdade, na prática, vamos ter dois ministros das finanças: Vítor Gaspar e Carlos Moedas. O que aconteceu? Todos sabemos que o intuito de Passos Coelho consistia em ter um ministro das Finanças com um peso político ao nível de um Vice primeiro-ministro. Perante a recusa de Vítor Bento (que era o nome preferido por Passos Coelho - ao contrário do que Eduardo Catroga fez entender - e que recusou à última hora), Passos optou por dividir para reinar, atribuindo as finanças a Vítor Gaspar (um perfil mais técnico) e para secretário de estado adjunto optou por Carlos Moedas (apesar de tudo, mais político, um homem da confiança de Passos Coelho). Veremos como se irão articular os dois, chamando-se a atenção para uma possível esquizofrenia na área financeira no próximo governo. Ademais, Passos Coelho falhou no casting - esta solução de dividir para reinar só faria sentido se um dos dois perfis tivesse peso político, o que não é o caso. Foi uma opção estranha de Passos, que esperamos que resulte;

Ministro dos Negócios Estrangeiros: Paulo Portas. É o sonho concretizado do líder do CDS/PP. Tem a vantagem de ser pró-americano, com um pensamento estruturado sobre a lusofonia e soberanista. No entanto, algumas histórias do seu passado podem ser utilizadas contra ele (nomeadamente, a sua oposição veemente à integração de Portugal na União Europeia). É um risco para o PSD ter o líder centrista que pasta que geralmente é a mais popular. Cheira-me que o CDS não vai estar de alma e coração neste executivo durante toda a legislatura...

Ministro da Economia: Álvaro Santos Pereira. Um ilustre desconhecido teórico com um pensamento neo-liberal que Passos lançou politicamente. Um nome à partida fraco mas que se poderá revelar uma surpresa. Confesso que esta pasta deveria pertencer ao CDS. Por uma razão: quando se tem nomes em cima da mesa, como os de António Pires de Lima ou António Lobo Xavier, disponíveis para ingressar no governo, que representam o melhor que Portugal tem, não se deve atender à sua filiação partidária. Apenas ao mérito. Mais uma vez as partidarites agudas custaram ao país;

Ministro da Defesa: José Pedro Aguiar-Branco. Compreensível. Pretende abranger no executivo os sectores afetos aos adversários que derrotou nas eleições internas para pacificar a máquina. Paulo Rangel recusou por não concordar com a apsta que lhe seria atribuída, Aguiar Branco fica na defesa. Passará bem no teste, sem brilhar. Que diabo: se até Augusto Santos Silva foi capaz de dar conta do recado...

Ministra da Justiça: Paula Teixeira da Cruz. Numa área onde se impõem grandes mudanças - e onde o corporativismo é avassalador -, Passos Coelho escolheu uma incendiária. Veremos como correrá;

Quanto ao mais, Miguel Macedo na Administração Interna é um erro de casting (uma cedência a Luís Marques Mendes), numa altura em que se precisava de alguém que conhecesse os problemas da segurança em Portugal e da capacidade das forças de segurança; Mota Soares ainda não tem peso político suficiente para uma área que será particularmente sensível nos próximos anos com o aumento da pobreza e da miséria; Assunção Cristas está deslocada no Ambiente e na Agricultura, mas tem um enorme talento político que me sossega. Merecia mais.

Nuno Crato, na educação, e Paulo Macedo na Saúde são os trunfos fortes do Governo.

Em suma, este governo é uma incógnita. Não é brilhante, mas poderá ser competente.

Email: politicoesfera@gmail.com

Os nomes que compõem o governo Passos Coelho já são conhecidos. Há que reconhecer o mérito do líder do PSD, primeiro-ministro de Portugal, por constituir governo, celebrar o acordo político com o CDS, de forma célere, eficaz e responsável. Tal como as exigências do interesse nacional impunham. No entanto, o elenco governativo definitivo é uma relativa desilusão: tem pouco peso político, com a inclusão de académicos, essencialmente teóricos sem experiência política. Será este um sinal positivo ou negativo? Dependerá muito das circunstâncias que envolverão a execução das medidas da troika e a (in)capacidade do executivo em lidar com a inevitável contestação social. Dito isto, analisemos o novo executivo pasta a pasta:

Ministro das Finanças: Vítor Gaspar. É um nome tecnicamente competente, alinhado com as orientações financeiras do BCE (um profundo monetarista) e um nome com uma reputação positiva junto do FMI. Não obstante, numa altura em que se esperaria um super ministro das finanças, com um peso político acrescido, a sua escolha deixa muito a desejar.

Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro: Carlos Moedas. Este é o aspeto mais curioso do novo governo e que nenhum analista político ainda salientou. É que, na verdade, na prática, vamos ter dois ministros das finanças: Vítor Gaspar e Carlos Moedas. O que aconteceu? Todos sabemos que o intuito de Passos Coelho consistia em ter um ministro das Finanças com um peso político ao nível de um Vice primeiro-ministro. Perante a recusa de Vítor Bento (que era o nome preferido por Passos Coelho - ao contrário do que Eduardo Catroga fez entender - e que recusou à última hora), Passos optou por dividir para reinar, atribuindo as finanças a Vítor Gaspar (um perfil mais técnico) e para secretário de estado adjunto optou por Carlos Moedas (apesar de tudo, mais político, um homem da confiança de Passos Coelho). Veremos como se irão articular os dois, chamando-se a atenção para uma possível esquizofrenia na área financeira no próximo governo. Ademais, Passos Coelho falhou no casting - esta solução de dividir para reinar só faria sentido se um dos dois perfis tivesse peso político, o que não é o caso. Foi uma opção estranha de Passos, que esperamos que resulte;

Ministro dos Negócios Estrangeiros: Paulo Portas. É o sonho concretizado do líder do CDS/PP. Tem a vantagem de ser pró-americano, com um pensamento estruturado sobre a lusofonia e soberanista. No entanto, algumas histórias do seu passado podem ser utilizadas contra ele (nomeadamente, a sua oposição veemente à integração de Portugal na União Europeia). É um risco para o PSD ter o líder centrista que pasta que geralmente é a mais popular. Cheira-me que o CDS não vai estar de alma e coração neste executivo durante toda a legislatura...

Ministro da Economia: Álvaro Santos Pereira. Um ilustre desconhecido teórico com um pensamento neo-liberal que Passos lançou politicamente. Um nome à partida fraco mas que se poderá revelar uma surpresa. Confesso que esta pasta deveria pertencer ao CDS. Por uma razão: quando se tem nomes em cima da mesa, como os de António Pires de Lima ou António Lobo Xavier, disponíveis para ingressar no governo, que representam o melhor que Portugal tem, não se deve atender à sua filiação partidária. Apenas ao mérito. Mais uma vez as partidarites agudas custaram ao país;

Ministro da Defesa: José Pedro Aguiar-Branco. Compreensível. Pretende abranger no executivo os sectores afetos aos adversários que derrotou nas eleições internas para pacificar a máquina. Paulo Rangel recusou por não concordar com a apsta que lhe seria atribuída, Aguiar Branco fica na defesa. Passará bem no teste, sem brilhar. Que diabo: se até Augusto Santos Silva foi capaz de dar conta do recado...

Ministra da Justiça: Paula Teixeira da Cruz. Numa área onde se impõem grandes mudanças - e onde o corporativismo é avassalador -, Passos Coelho escolheu uma incendiária. Veremos como correrá;

Quanto ao mais, Miguel Macedo na Administração Interna é um erro de casting (uma cedência a Luís Marques Mendes), numa altura em que se precisava de alguém que conhecesse os problemas da segurança em Portugal e da capacidade das forças de segurança; Mota Soares ainda não tem peso político suficiente para uma área que será particularmente sensível nos próximos anos com o aumento da pobreza e da miséria; Assunção Cristas está deslocada no Ambiente e na Agricultura, mas tem um enorme talento político que me sossega. Merecia mais.

Nuno Crato, na educação, e Paulo Macedo na Saúde são os trunfos fortes do Governo.

Em suma, este governo é uma incógnita. Não é brilhante, mas poderá ser competente.

Email: politicoesfera@gmail.com

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