Nanny State Watch

10-04-2015
marcar artigo

magreza ilegal e obesidade legislativa

Posted on Abril 9, 2015 by Maria João Marques

1

O meu texto de ontem no Observador, sobre a mais recente invenção francesa.
«’Uma mulher nunca é demasiado rica ou demasiado magra’ dizia Wallis Simpson, ela própria magricelas e com tendência para se apaixonar e casar com homens ricos. E que se tornou famosa numa década (anos 30 do século XX) cuja estética me agrada particularmente e que, no que toca aos objetos que nos protegem o corpo do frio e acomodam o pudor, promovia uma silhueta esguia e magra. As roupas de Mainbocher, Vionnet e Chanel não se destinavam a curvilíneas de índice de massa corporal elevado. Na exposição de fotografia que já aqui referi, as senhoras eram todas magras – mesmo para os padrões atuais – e os vestidos em tecido e linha que lá estavam expostos só admitiam cinturas viperinas.
(Lembro isto porque inevitavelmente achamos que é a primeira vez que tudo sucede em toda a história da humanidade – e até no período dos dinossauros – quando afinal não somos originais, apenas repetimos tendências e das vezes anteriores não se seguiu o fim do mundo como o conhecemos.)
Em todo o caso Wallis Simpson seria uma boa candidata para sofrer as penas da recente criação do legislador francês: uma lei que bane modelos excessivamente magras (com IMC abaixo de 18) e pune com multa de milhares de euros e pena de prisão até um ano quem promover a anorexia.
De França não vêm só roupas, queijos, perfumes, Monsieur Hulot e o Obelix. O país também nos habituou a produções mais questionáveis, desde a guilhotina aos anos dourados do exílio de Mário Soares, passando por Jean-Paul Belmondo. E agora esta legislação parece ser um interlúdio para habituar os franceses aos mimos da Frente Nacional. Afinal os extremistas políticos dos dois lados sempre apreciaram condicionar o corpo e a aparência femininos – a propaganda hitleriana difundia a sugestão imperativa de corpos saudáveis e com músculos habituados ao exercício, e de caras sem maquilhagem e maçãs do rosto naturalmente rosadas pelo ar livre.’
O resto está aqui.
Partilhar:Partilhar no Facebook (Opens in new window)Carregue aqui para partilhar no Twitter (Opens in new window)Click to share on Google+ (Opens in new window)

Publicado em Insurgentes nos media, Nanny State Watch, Socialismo
|
1 resposta

magreza ilegal e obesidade legislativa

Posted on Abril 9, 2015 by Maria João Marques

1

O meu texto de ontem no Observador, sobre a mais recente invenção francesa.
«’Uma mulher nunca é demasiado rica ou demasiado magra’ dizia Wallis Simpson, ela própria magricelas e com tendência para se apaixonar e casar com homens ricos. E que se tornou famosa numa década (anos 30 do século XX) cuja estética me agrada particularmente e que, no que toca aos objetos que nos protegem o corpo do frio e acomodam o pudor, promovia uma silhueta esguia e magra. As roupas de Mainbocher, Vionnet e Chanel não se destinavam a curvilíneas de índice de massa corporal elevado. Na exposição de fotografia que já aqui referi, as senhoras eram todas magras – mesmo para os padrões atuais – e os vestidos em tecido e linha que lá estavam expostos só admitiam cinturas viperinas.
(Lembro isto porque inevitavelmente achamos que é a primeira vez que tudo sucede em toda a história da humanidade – e até no período dos dinossauros – quando afinal não somos originais, apenas repetimos tendências e das vezes anteriores não se seguiu o fim do mundo como o conhecemos.)
Em todo o caso Wallis Simpson seria uma boa candidata para sofrer as penas da recente criação do legislador francês: uma lei que bane modelos excessivamente magras (com IMC abaixo de 18) e pune com multa de milhares de euros e pena de prisão até um ano quem promover a anorexia.
De França não vêm só roupas, queijos, perfumes, Monsieur Hulot e o Obelix. O país também nos habituou a produções mais questionáveis, desde a guilhotina aos anos dourados do exílio de Mário Soares, passando por Jean-Paul Belmondo. E agora esta legislação parece ser um interlúdio para habituar os franceses aos mimos da Frente Nacional. Afinal os extremistas políticos dos dois lados sempre apreciaram condicionar o corpo e a aparência femininos – a propaganda hitleriana difundia a sugestão imperativa de corpos saudáveis e com músculos habituados ao exercício, e de caras sem maquilhagem e maçãs do rosto naturalmente rosadas pelo ar livre.’
O resto está aqui.
Partilhar:Partilhar no Facebook (Opens in new window)Carregue aqui para partilhar no Twitter (Opens in new window)Click to share on Google+ (Opens in new window)

Publicado em Insurgentes nos media, Nanny State Watch, Socialismo
|
1 resposta

marcar artigo