O Dito Cujo publicou uns comentários ao meu post sobre os Jogos Olímpicos de Vila Nova de Gaia que me sugerem alguns comentários, comentários esses demasiado extensos para colocar nos Comments ao tal post.
Comecemos pelo parágrafo:
“Finalmente, não compreendi essa da Europa ser inimiga de Portugal. Não disputando isso, penso que estás a subestimar os próprios portugueses como sendo os principais responsáveis pelo seu próprio estado. Temos de deixar de culpar os outros - sejam eles os espanhóis, os americanos ou os europeus - pelo estado de Portugal. Temos de olhar para nós mesmos e ver aquilo que podemos mudar para avançar”.
Este parágrafo revela uma das características portuguesas que mais me faz confusão, a busca incessante pelos culpados.
Isto lembra-me um dito que ouvi num curso que frequentei e referente às fases de um projecto: 1. Entusiasmo inicial;
2. Confusão total;
3. Procura dos culpados;
4. Castigo dos inocentes. É o que acontece em Portugal. Se qualquer coisa corre mal procuram-se desesperadamente culpados. Note-se que escrevi “culpados” e não “os culpados”. Lembra um pouco a prisão dos “suspeitos do costume” como é referido no filme Casablanca.
Não interessa se se apanham os verdadeiros culpados. O povo pede sangue, portanto arranjam-se uns gajos quaisquer, culpados ou inocentes e castigam-se esses gajos. Ponto final, o problema está resolvido e, muitas vezes, os verdadeiros culpados podem respirar de alívio.
Todos nos lembramos do acidente de Entre-os-rios em que uma ponte caiu matando as pessoas que tiveram o azar de, nesse momento, estarem a atravessar a ponte.
Toda a gente pedia “Queremos os culpados!” e esses culpados tinham de ser pessoas muito importantes. Tudo se resumiu a um folhetim mórbido aproveitado pelas oposições para apontar o dedo aos governantes da altura, apesar de se ter chegado à conclusão de que “as culpas” até vinham muito de trás.
Logo a seguir, em Espanha, caiu uma ponte pouco depois de um comboio com centenas de pessoas passar. Não aconteceu nada de especial.
Um ou dois anos depois estava em férias nos Estados Unidos quando um batelão chocou contra um dos pilares de uma ponte nova no rio Arkansas (estado de Oklahoma) e a ponte caiu mandado os carros que iam a passar para o rio e matando várias pessoas.
Vi as notícias no noticiário da TV. Por várias vezes vi jornalistas a fazer perguntas ao Governador do Estado de Oklahoma (Frank Keating). A situação foi totalmente diferente da de cá. Para começar, todas as entrevistas, começavam com o jornalista a apresentar condolências ao Governador pelo acidente e pelos mortos que tinha havido.
Lá procuravam-se as causas do acidente. Cá procuravam-se os culpados.
Mas quase todos os portugueses, na sua parolice, são capazes de jurar a pés juntos que Portugal não é como os países evoluídos, lá os culpados são punidos, cá os culpados escapam sempre. Alguns (os super parolos) não se esquecem de chamar a atenção de que Portugal é como no terceiro mundo...
Vamos a ver se nos entendemos. Os ricos e poderosos, excepto quando se desentendem, escapam sempre, em Portugal ou no estrangeiro.
Claro que se podem citar exemplos de poderosos que, noutros países, foram presos. O caso mais emblemático talvez seja do banqueiro galego Mário Conde que apanhou, em Espanha, vários anos de prisão.
Quem refere isto esquece que Mário Conde era um galego outsider que se estava a tornar demasiado poderoso e o sistema acabou com ele. Foi, embora em menor escala, o que aconteceu ao Vale e Azevedo. O Vale e Azevedo não deve ter feito nada que outros presidentes do Benfica (ou de outros clubes) não tivessem feito. O problema é que ele estava tornar-se demasiado poderoso e estava a pisar os calos a muitos interesses instalados, interesses esses que, no mínimo, lhe deviam fazer companhia lá na prisão.
E aqui voltamos ao tal parágrafo do Dito Cujo. O problema não é se a culpa dos problemas de Portugal é nossa ou é da União Europeia.
Eu não procuro culpados. Eu procuro a causa dos problemas e acho que o que está a acontecer é que a adesão à União Europeia e principalmente ao Euro é actualmente a principal causa dos nossos problemas com a agravante de que não nos fornece um ambiente capaz de os ultrapassar.
E os culpados? Esses somos nós, claro. Ninguém nos mandou votar em partidos que nos vão enterrando na integração europeia.
E este é que é o grande problema. Quando o Dito Cujo escreve: “temos de olhar para nós mesmos e ver aquilo que podemos mudar para avançar”, esquece-se que com a integração europeia o poder de decisão já não está nas nossas mãos, o poder de decisão está em Bruxelas e em Frankfurt, no Banco Central Europeu.
Podemos dizer que a culpa está em Bruxelas ou Frankfurt? Acho que não, Bruxelas e Frankfurt olham para a União Europeia como um todo e tomam decisões para favorecer a economia da União Europeia como um todo. É óbvio que seria criminoso que a taxa de juro, por exemplo, marcada pelo BCE tivesse em atenção as especificidades da economia portuguesa ou irlandesa e prejudicasse a alemã ou a francesa. Se fizesse isso o BCE não estava a cumprir o seu papel.
O problema foi nos nós termos abdicado da nossa soberania económica e financeira.
E isso, indubitavelmente, é culpa nossa. Quanto ao resto dos comentários sobre os Jogos Olimpicos de Vila Nova de Gaia e sobre as grandes realizações nacionais em geral, eu lembro que as críticas feitas pelo Dito Cujo podem-se adpatar a qualquer investimento.
A Ponte 25 de Abril sobre o Rio Tejo, por exemplo.
Actualmente ninguém contesta a sua utilidade.
Mas, na altura, havia grandes deficiências na saúde, educação, habitação, etc. Não teria sido preferível o Salazar investir o dinheiro da ponte antes em hospitais?
É que a discussão sobre a prioridade de investimentos é sempre muito discutível.
A Expo98 conseguiu por um preço muito módico recuperar uma zona da cidade totalmente degradada. Fui várias vezes passear para lá. Era um local irreal, com uma lixeira enorma cheia de gaivotas, estradas de terra batida, fios de "água" totalmente poluídos, etc. Se não tivesse havido Expo98 quanto é que teria custado recuperar aquela zona toda. E quanto tempo teria demorado? Certamente que ainda a estariamos a recuperar...
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O Dito Cujo publicou uns comentários ao meu post sobre os Jogos Olímpicos de Vila Nova de Gaia que me sugerem alguns comentários, comentários esses demasiado extensos para colocar nos Comments ao tal post.
Comecemos pelo parágrafo:
“Finalmente, não compreendi essa da Europa ser inimiga de Portugal. Não disputando isso, penso que estás a subestimar os próprios portugueses como sendo os principais responsáveis pelo seu próprio estado. Temos de deixar de culpar os outros - sejam eles os espanhóis, os americanos ou os europeus - pelo estado de Portugal. Temos de olhar para nós mesmos e ver aquilo que podemos mudar para avançar”.
Este parágrafo revela uma das características portuguesas que mais me faz confusão, a busca incessante pelos culpados.
Isto lembra-me um dito que ouvi num curso que frequentei e referente às fases de um projecto: 1. Entusiasmo inicial;
2. Confusão total;
3. Procura dos culpados;
4. Castigo dos inocentes. É o que acontece em Portugal. Se qualquer coisa corre mal procuram-se desesperadamente culpados. Note-se que escrevi “culpados” e não “os culpados”. Lembra um pouco a prisão dos “suspeitos do costume” como é referido no filme Casablanca.
Não interessa se se apanham os verdadeiros culpados. O povo pede sangue, portanto arranjam-se uns gajos quaisquer, culpados ou inocentes e castigam-se esses gajos. Ponto final, o problema está resolvido e, muitas vezes, os verdadeiros culpados podem respirar de alívio.
Todos nos lembramos do acidente de Entre-os-rios em que uma ponte caiu matando as pessoas que tiveram o azar de, nesse momento, estarem a atravessar a ponte.
Toda a gente pedia “Queremos os culpados!” e esses culpados tinham de ser pessoas muito importantes. Tudo se resumiu a um folhetim mórbido aproveitado pelas oposições para apontar o dedo aos governantes da altura, apesar de se ter chegado à conclusão de que “as culpas” até vinham muito de trás.
Logo a seguir, em Espanha, caiu uma ponte pouco depois de um comboio com centenas de pessoas passar. Não aconteceu nada de especial.
Um ou dois anos depois estava em férias nos Estados Unidos quando um batelão chocou contra um dos pilares de uma ponte nova no rio Arkansas (estado de Oklahoma) e a ponte caiu mandado os carros que iam a passar para o rio e matando várias pessoas.
Vi as notícias no noticiário da TV. Por várias vezes vi jornalistas a fazer perguntas ao Governador do Estado de Oklahoma (Frank Keating). A situação foi totalmente diferente da de cá. Para começar, todas as entrevistas, começavam com o jornalista a apresentar condolências ao Governador pelo acidente e pelos mortos que tinha havido.
Lá procuravam-se as causas do acidente. Cá procuravam-se os culpados.
Mas quase todos os portugueses, na sua parolice, são capazes de jurar a pés juntos que Portugal não é como os países evoluídos, lá os culpados são punidos, cá os culpados escapam sempre. Alguns (os super parolos) não se esquecem de chamar a atenção de que Portugal é como no terceiro mundo...
Vamos a ver se nos entendemos. Os ricos e poderosos, excepto quando se desentendem, escapam sempre, em Portugal ou no estrangeiro.
Claro que se podem citar exemplos de poderosos que, noutros países, foram presos. O caso mais emblemático talvez seja do banqueiro galego Mário Conde que apanhou, em Espanha, vários anos de prisão.
Quem refere isto esquece que Mário Conde era um galego outsider que se estava a tornar demasiado poderoso e o sistema acabou com ele. Foi, embora em menor escala, o que aconteceu ao Vale e Azevedo. O Vale e Azevedo não deve ter feito nada que outros presidentes do Benfica (ou de outros clubes) não tivessem feito. O problema é que ele estava tornar-se demasiado poderoso e estava a pisar os calos a muitos interesses instalados, interesses esses que, no mínimo, lhe deviam fazer companhia lá na prisão.
E aqui voltamos ao tal parágrafo do Dito Cujo. O problema não é se a culpa dos problemas de Portugal é nossa ou é da União Europeia.
Eu não procuro culpados. Eu procuro a causa dos problemas e acho que o que está a acontecer é que a adesão à União Europeia e principalmente ao Euro é actualmente a principal causa dos nossos problemas com a agravante de que não nos fornece um ambiente capaz de os ultrapassar.
E os culpados? Esses somos nós, claro. Ninguém nos mandou votar em partidos que nos vão enterrando na integração europeia.
E este é que é o grande problema. Quando o Dito Cujo escreve: “temos de olhar para nós mesmos e ver aquilo que podemos mudar para avançar”, esquece-se que com a integração europeia o poder de decisão já não está nas nossas mãos, o poder de decisão está em Bruxelas e em Frankfurt, no Banco Central Europeu.
Podemos dizer que a culpa está em Bruxelas ou Frankfurt? Acho que não, Bruxelas e Frankfurt olham para a União Europeia como um todo e tomam decisões para favorecer a economia da União Europeia como um todo. É óbvio que seria criminoso que a taxa de juro, por exemplo, marcada pelo BCE tivesse em atenção as especificidades da economia portuguesa ou irlandesa e prejudicasse a alemã ou a francesa. Se fizesse isso o BCE não estava a cumprir o seu papel.
O problema foi nos nós termos abdicado da nossa soberania económica e financeira.
E isso, indubitavelmente, é culpa nossa. Quanto ao resto dos comentários sobre os Jogos Olimpicos de Vila Nova de Gaia e sobre as grandes realizações nacionais em geral, eu lembro que as críticas feitas pelo Dito Cujo podem-se adpatar a qualquer investimento.
A Ponte 25 de Abril sobre o Rio Tejo, por exemplo.
Actualmente ninguém contesta a sua utilidade.
Mas, na altura, havia grandes deficiências na saúde, educação, habitação, etc. Não teria sido preferível o Salazar investir o dinheiro da ponte antes em hospitais?
É que a discussão sobre a prioridade de investimentos é sempre muito discutível.
A Expo98 conseguiu por um preço muito módico recuperar uma zona da cidade totalmente degradada. Fui várias vezes passear para lá. Era um local irreal, com uma lixeira enorma cheia de gaivotas, estradas de terra batida, fios de "água" totalmente poluídos, etc. Se não tivesse havido Expo98 quanto é que teria custado recuperar aquela zona toda. E quanto tempo teria demorado? Certamente que ainda a estariamos a recuperar...