Informação editorial e sinopse AQUIConfesso que ainda não li o livro, pelo que a minha apreciação é genérica e susceptível de colidir ou poder ser contraditada por ideias específicas presentes no livro, pois a mesma suporta-se naquilo que conheço do pensamento do Professor Marçal Grilo e, em particular, nos princípios que, ontem, o próprio defendeu na SIC Notícias.
A minha curiosidade em relação à leitura do livro e o destaque que aqui lhe confiro, advêm de uma pré-avaliação de concordância com aquilo que me parecem ser as duas ideias-força que estruturam o livro e que aprecio sobremaneira:
- a convicção do autor que a escola deve ser reconduzida à sua função de ensinar conhecimentos e valores, recuperando-se a centralidade e a exigência dos processos de ensino-aprendizagem, assim como apostando-se numa sólida formação científica dos professores, com o concomitante desprezo pelos investimentos em burocracias e registos inúteis, em pedagogias de folclore e em evidências de faz-de-conta;
- a valorização do trabalho, da dedicação e do esforço.
A enfatização da importância do estudo é uma mensagem que vai no sentido certo, mas que peca por tardia em termos da sua oportunidade política, pois a mesma deveria ter sido publicamente afirmada quando as políticas educativas socráticas atacaram a motivação e a disponibilidade (uma idiota sobreocupação de tempo e competitividade de fachada) dos professores para investirem no processo de ensino-aprendizagem e pressionaram para o sucesso fácil e artificioso dos alunos.
Embora respeite a opção de Marçal Grilo em recusar o envolvimento político e a abordagem das questões que alimentam o conflito entre professores (que o próprio, de forma redutora e deslocada em relação ao que foi esta luta, confina aos sindicatos) e ministério da Educação, considero de uma grande ingenuidade admitir-se que é possível passar para os alunos, de forma convincente, a mensagem que dá título ao seu livro, no contexto desta educação socrática.
Só com muita tenacidade, segurança e confiança no seu trabalho docente é que alguns professores vão conseguindo resistir ao rolo compressor da pressão para a facilitação e para a trivialização das aprendizagens de um número crescente de alunos, que têm conduzido a um empolamento excessivo das classificações, sem os conhecimentos adquiridos e as competências desenvolvidas que correspondam a tais níveis classificativos, chegando-se ao desplante de muitos alunos com médias de 16 e 17 valores se auto-avaliarem com 19 e 20.
Esta pressão que advém de exames facilitados, de um ambiente geral de falta de exigência, de um modelo de avaliação absurdo que induz à confusão entre docência de qualidade e atribuição de classificações elevadas ou da fragilização pública da autoridade dos professores, acaba por conduzir a injustiças relativas para aqueles que mais estudam, que não vêem o seu empenho devidamente recompensado na diferença de notas face aos que não estudam, mostrando que, em termos de sucesso escolar (não digo de aprendizagem efectiva), nem todos os que não estudam se tramam.
A grande questão é esta: como articular a mensagem "se não estudas, estás tramado" com aquela que vai fazendo o seu caminho nas escolas e que exprimi na forma "se não dás boas notas, estás tramado" ou, ainda, com a consequente constatação de que "alguns não estudam e nem por isso se tramam"?
Categorias
Entidades
Informação editorial e sinopse AQUIConfesso que ainda não li o livro, pelo que a minha apreciação é genérica e susceptível de colidir ou poder ser contraditada por ideias específicas presentes no livro, pois a mesma suporta-se naquilo que conheço do pensamento do Professor Marçal Grilo e, em particular, nos princípios que, ontem, o próprio defendeu na SIC Notícias.
A minha curiosidade em relação à leitura do livro e o destaque que aqui lhe confiro, advêm de uma pré-avaliação de concordância com aquilo que me parecem ser as duas ideias-força que estruturam o livro e que aprecio sobremaneira:
- a convicção do autor que a escola deve ser reconduzida à sua função de ensinar conhecimentos e valores, recuperando-se a centralidade e a exigência dos processos de ensino-aprendizagem, assim como apostando-se numa sólida formação científica dos professores, com o concomitante desprezo pelos investimentos em burocracias e registos inúteis, em pedagogias de folclore e em evidências de faz-de-conta;
- a valorização do trabalho, da dedicação e do esforço.
A enfatização da importância do estudo é uma mensagem que vai no sentido certo, mas que peca por tardia em termos da sua oportunidade política, pois a mesma deveria ter sido publicamente afirmada quando as políticas educativas socráticas atacaram a motivação e a disponibilidade (uma idiota sobreocupação de tempo e competitividade de fachada) dos professores para investirem no processo de ensino-aprendizagem e pressionaram para o sucesso fácil e artificioso dos alunos.
Embora respeite a opção de Marçal Grilo em recusar o envolvimento político e a abordagem das questões que alimentam o conflito entre professores (que o próprio, de forma redutora e deslocada em relação ao que foi esta luta, confina aos sindicatos) e ministério da Educação, considero de uma grande ingenuidade admitir-se que é possível passar para os alunos, de forma convincente, a mensagem que dá título ao seu livro, no contexto desta educação socrática.
Só com muita tenacidade, segurança e confiança no seu trabalho docente é que alguns professores vão conseguindo resistir ao rolo compressor da pressão para a facilitação e para a trivialização das aprendizagens de um número crescente de alunos, que têm conduzido a um empolamento excessivo das classificações, sem os conhecimentos adquiridos e as competências desenvolvidas que correspondam a tais níveis classificativos, chegando-se ao desplante de muitos alunos com médias de 16 e 17 valores se auto-avaliarem com 19 e 20.
Esta pressão que advém de exames facilitados, de um ambiente geral de falta de exigência, de um modelo de avaliação absurdo que induz à confusão entre docência de qualidade e atribuição de classificações elevadas ou da fragilização pública da autoridade dos professores, acaba por conduzir a injustiças relativas para aqueles que mais estudam, que não vêem o seu empenho devidamente recompensado na diferença de notas face aos que não estudam, mostrando que, em termos de sucesso escolar (não digo de aprendizagem efectiva), nem todos os que não estudam se tramam.
A grande questão é esta: como articular a mensagem "se não estudas, estás tramado" com aquela que vai fazendo o seu caminho nas escolas e que exprimi na forma "se não dás boas notas, estás tramado" ou, ainda, com a consequente constatação de que "alguns não estudam e nem por isso se tramam"?