Octávio V. Gonçalves: Queimem os professores, pá!

28-01-2012
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Desde o início da sua governação, Sócrates escolheu os professores para alvos preferenciais do seu odioso político, optando por distintas vias ou estratégias para arruinar, de forma gratuita e incongruente, a reputação pública, o estatuto, a profissionalidade e o quotidiano escolar dos professores.
Na fixação patológica contra os professores, que se viu ainda mais acicatada pelos estragos irreversíveis que a reacção destes causou na imagem de Sócrates, insere-se a maioria das intervenções e medidas levadas a cabo no domínio da educação, algumas das quais já caíram por fiasco grosseiro (os titulares ou as provas de recuperação), enquanto outras prosseguem, nas escolas, trajectórias de descrédito, sob a forma de farsas, défices de seriedade e de consistência, cosméticas de faz-de-conta ou, em alguns casos, meros exercícios de atrevida regedoria.
Permito-me destacar as seguintes manifestações políticas e legislativas enquadráveis em formas de afronta ao trabalho e à imagem pública dos professores:
- as sucessivas aparições mediáticas que veicularam uma ideia dos professores como um grupo profissional privilegiado, não avaliado, negligente no desempenho das suas funções e a necessitar de domesticação, apesar de o assumido "perdi os professores (...)" não ter produzido os efeitos populistas desejados para a equipa ministerial e para Sócrates;
- a divisão artificial da carreira, suportada em critérios arbitrários e traduzida num pressuposto de desrespeito pelo currículo e pela experiência profissional dos professores, o que viria a constituir o rastilho da luta dos docentes, pois ao contrário de os dividir, uniu-os contra uma indignidade, que viria a ser universalmente reconhecida, excepto pelos mentores desta idiotice;
- o modelo de avaliação imposto sobre a mentira da inexistência de avaliação anterior e sobre a mistificação de um "desígnio nacional", o qual, de tão absurdo e inconsistente, revoltou os professores e degradou o ambiente nas escolas, convertendo-se no processo de avaliação menos sério das últimas décadas;
- o estatuto do aluno que retirou autoridade aos professores e os ocupou inutilmente em burocracias de recuperação que apenas serviram à legitimação da falta de assiduidade, passando, genericamente, uma mensagem de facilitismo e de tolerância à indisciplina;
- o novo modelo de gestão que, na prática, retirou poder de decisão e de intervenção pedagógica aos professores, sem qualquer razão justificativa válida;
- a sistemática falta de solidariedade e de gratidão/apoio por parte da tutela face aos professores que foram antecipando o fim das suas carreiras ou face aqueles que foram sendo vítimas da indisciplina crescente.

É exactamente nesta lógica de confrontação, de anátema de irrelevância lançado sobre os professores e de desconfiança básica em relação à função docente que se inserem as mais recentes propostas do ministério da Educação de encerramento de escolas com menos de 20 alunos e de transição miraculosa dos alunos cábulas do 8º para o 10º ano, o que além de inconstitucional é totalmente irrealista.
Se a primeira proposta acarreta o risco de despedimento de professores e põe em causa a capacidade destes para prepararem devidamente os seus alunos em situações em que eles próprios constituem os recursos fundamentais, a segunda tem subjacente a saga socrática de desqualificação da escola, das aulas e dos professores.
Admitir, por absurdo, que alunos que reprovam no 8º ano (o que, hoje em dia, apenas ocorre em situações de quase absoluta negligenciação dos estudos e desinteresse pelas matérias escolares) são capazes de, em escassos dias, realizarem o milagre da aprendizagem dos conteúdos de 8º ano e ainda de 9º ano, o que, para quem tenha uma concepção exigente da aprendizagem escolar, é uma impossibilidade fáctica, apenas tem como objectivo passar, mais uma vez, a mensagem da dispensabilidade e irrelevância dos professores, imputando-lhes a eles próprios e à frequência das aulas a causa do insucesso escolar.
Os professores são um obstáculo ao ideal inatista de Sócrates, de acordo com o qual em cada recém-nascido existe um engenheiro e um doutor, pelo que o reconhecimento destas realidades excepcionais é tão-só uma questão de mera certificação.
Perante mais estes ataques, era fundamental que os professores e os portugueses em geral ficassem a conhecer a identidade dos asnos que bufam estas medidas aos (ir)responsáveis políticos, também para que se percebessem os défices e as motivações daqueles que estão apostados em "queimar" a reputação e o papel dos professores como agentes imprescindíveis da qualificação do país e da mudança social.
É lamentável que mais estes episódios da vingança de Sócrates em relação aos professores tenham sido viabilizados pela ingenuidade e pela indulgência de alguns sindicatos, que aos ataques de Sócrates responderam com um Acordo de Princípios que, na prática, se traduziu em oferecer a outra face para alvo da prossecução destes achincalhamentos.


Desde o início da sua governação, Sócrates escolheu os professores para alvos preferenciais do seu odioso político, optando por distintas vias ou estratégias para arruinar, de forma gratuita e incongruente, a reputação pública, o estatuto, a profissionalidade e o quotidiano escolar dos professores.
Na fixação patológica contra os professores, que se viu ainda mais acicatada pelos estragos irreversíveis que a reacção destes causou na imagem de Sócrates, insere-se a maioria das intervenções e medidas levadas a cabo no domínio da educação, algumas das quais já caíram por fiasco grosseiro (os titulares ou as provas de recuperação), enquanto outras prosseguem, nas escolas, trajectórias de descrédito, sob a forma de farsas, défices de seriedade e de consistência, cosméticas de faz-de-conta ou, em alguns casos, meros exercícios de atrevida regedoria.
Permito-me destacar as seguintes manifestações políticas e legislativas enquadráveis em formas de afronta ao trabalho e à imagem pública dos professores:
- as sucessivas aparições mediáticas que veicularam uma ideia dos professores como um grupo profissional privilegiado, não avaliado, negligente no desempenho das suas funções e a necessitar de domesticação, apesar de o assumido "perdi os professores (...)" não ter produzido os efeitos populistas desejados para a equipa ministerial e para Sócrates;
- a divisão artificial da carreira, suportada em critérios arbitrários e traduzida num pressuposto de desrespeito pelo currículo e pela experiência profissional dos professores, o que viria a constituir o rastilho da luta dos docentes, pois ao contrário de os dividir, uniu-os contra uma indignidade, que viria a ser universalmente reconhecida, excepto pelos mentores desta idiotice;
- o modelo de avaliação imposto sobre a mentira da inexistência de avaliação anterior e sobre a mistificação de um "desígnio nacional", o qual, de tão absurdo e inconsistente, revoltou os professores e degradou o ambiente nas escolas, convertendo-se no processo de avaliação menos sério das últimas décadas;
- o estatuto do aluno que retirou autoridade aos professores e os ocupou inutilmente em burocracias de recuperação que apenas serviram à legitimação da falta de assiduidade, passando, genericamente, uma mensagem de facilitismo e de tolerância à indisciplina;
- o novo modelo de gestão que, na prática, retirou poder de decisão e de intervenção pedagógica aos professores, sem qualquer razão justificativa válida;
- a sistemática falta de solidariedade e de gratidão/apoio por parte da tutela face aos professores que foram antecipando o fim das suas carreiras ou face aqueles que foram sendo vítimas da indisciplina crescente.

É exactamente nesta lógica de confrontação, de anátema de irrelevância lançado sobre os professores e de desconfiança básica em relação à função docente que se inserem as mais recentes propostas do ministério da Educação de encerramento de escolas com menos de 20 alunos e de transição miraculosa dos alunos cábulas do 8º para o 10º ano, o que além de inconstitucional é totalmente irrealista.
Se a primeira proposta acarreta o risco de despedimento de professores e põe em causa a capacidade destes para prepararem devidamente os seus alunos em situações em que eles próprios constituem os recursos fundamentais, a segunda tem subjacente a saga socrática de desqualificação da escola, das aulas e dos professores.
Admitir, por absurdo, que alunos que reprovam no 8º ano (o que, hoje em dia, apenas ocorre em situações de quase absoluta negligenciação dos estudos e desinteresse pelas matérias escolares) são capazes de, em escassos dias, realizarem o milagre da aprendizagem dos conteúdos de 8º ano e ainda de 9º ano, o que, para quem tenha uma concepção exigente da aprendizagem escolar, é uma impossibilidade fáctica, apenas tem como objectivo passar, mais uma vez, a mensagem da dispensabilidade e irrelevância dos professores, imputando-lhes a eles próprios e à frequência das aulas a causa do insucesso escolar.
Os professores são um obstáculo ao ideal inatista de Sócrates, de acordo com o qual em cada recém-nascido existe um engenheiro e um doutor, pelo que o reconhecimento destas realidades excepcionais é tão-só uma questão de mera certificação.
Perante mais estes ataques, era fundamental que os professores e os portugueses em geral ficassem a conhecer a identidade dos asnos que bufam estas medidas aos (ir)responsáveis políticos, também para que se percebessem os défices e as motivações daqueles que estão apostados em "queimar" a reputação e o papel dos professores como agentes imprescindíveis da qualificação do país e da mudança social.
É lamentável que mais estes episódios da vingança de Sócrates em relação aos professores tenham sido viabilizados pela ingenuidade e pela indulgência de alguns sindicatos, que aos ataques de Sócrates responderam com um Acordo de Princípios que, na prática, se traduziu em oferecer a outra face para alvo da prossecução destes achincalhamentos.

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