Octávio V. Gonçalves: Passos perdido(s) e sem vista para Portas

24-01-2012
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Mais uma vez, Paulo Portas demonstrou, no anúncio do voto contra o orçamento, o profissionalismo e a inteligência de quem faz o trabalho de casa e de quem suporta a sua actuação política em diagnósticos clarividentes, em princípios claros (concorde-se ou não com os mesmos) e em decisões/actuações conformes aos mesmos.
Ao votar, em coerência, contra o orçamento para 2011, Portas capitalizará à direita, tanto a vontade daqueles que rejeitam este orçamento e as políticas de espoliação dos rendimentos de quem trabalha, que o mesmo consubstancia, como o desejo daqueles que esgotaram o crédito e a paciência para continuarem a ser afrontados e enganados vezes sem conta por um personagem como Sócrates, que transferiu a soberania portuguesa para a vontade dos credores internacionais e que não merece a mínima confiança da parte de nenhuma pessoa de bem.
Por seu lado, Passos Coelho tinha três possibilidades de posicionamento face ao orçamento de Sócrates que, a partir de hoje, será também, para o mal, o seu próprio orçamento, numa atracção, difícil de explicar, para se associar às desgraças, mentiras e inépcias do socratismo.
Vou enunciar essas possibilidades de acordo com uma hierarquia de racionalidade e de decência política que a sustenta:
- demarcar-se absolutamente das políticas e do estilo de actuação de Sócrates, manifestando, desde os primeiros indícios de incumprimento do PEC2, indisponibilidade para se deixar enganar uma segunda vez e para viabilizar a aprovação deste orçamento, ao mesmo tempo que devia ter investido na constituição de um governo sombra apostado numa política de transparência e de mobilização dos portugueses, ao invés da parvoíce das propostas de revisão constitucional. Não fez uma coisa, nem outra, com uma consequência ainda mais desastrosa do que aquela que adviria do facto de o país não ter este orçamento socratino (algo que se resolveria com a demissão de Sócrates e a criação de um governo de unidade nacional, sem Sócrates e incomparavelmente mais mobilizador do que este), ou seja, não ter sabido preservar uma alternativa e uma esperança de mudança para Portugal a partir de Junho de 2011, pois, o pior que pode acontecer a Portugal não é a entrada do FMI ou o nervosismo (passageiro até surgir uma alternativa de governo mais fiável) dos credores internacionais, mas a negociação artificial e contranatura que vincula o PSD à tragédia socrática e o destrói como alternativa política. Passos perdeu a oportunidade de se afirmar como líder verdadeiramente alternativo, além de que perdeu de vista, à direita, a aproximação a Portas - que não está disponível para a viabilização de Sócrates;
- recusar qualquer negociação com Sócrates, pelo que este e o seu orçamento representam de descrédito, mas viabilizar o orçamento pela via da abstenção, como foi postulado por muita gente de relevo no interior do PSD. Trata-se de uma posição de irracionalidade política, mas que, por razões de interesse nacional imediato, seria um mal menor, embora seja difícil compreender como o interesse nacional se adequa à continuidade da desgovernação de Sócrates;
- negociar com o governo alterações ao orçamento, prevalecendo a tentação, quer para voltar a dar a mão a Sócrates (parece o fado de um PSD menorizado e reduzido a uma função bengala, sem capacidade afirmativa e alternativa), quer para se tornar cúmplice e se irmanar ao destino de Sócrates, mesmo que se venham a abster na votação do orçamento. Trata-se de uma solução que a breve prazo facilita a vida a Cavaco Silva, apazigua temporariamente o frenesim dos mercados e até pode ser recompensada por aqueles eleitores saudosistas de uma qualquer união nacional. Todavia, trata-se de uma opção que, além de legitimar Sócrates, não interromperá as políticas de endividamento, arrastará Passos Coelho e o PSD para o pântano e comprometerá soluções de governabilidade e de alternância democrática para o futuro. Um desastre político a somar ao desastre económico.


Mais uma vez, Paulo Portas demonstrou, no anúncio do voto contra o orçamento, o profissionalismo e a inteligência de quem faz o trabalho de casa e de quem suporta a sua actuação política em diagnósticos clarividentes, em princípios claros (concorde-se ou não com os mesmos) e em decisões/actuações conformes aos mesmos.
Ao votar, em coerência, contra o orçamento para 2011, Portas capitalizará à direita, tanto a vontade daqueles que rejeitam este orçamento e as políticas de espoliação dos rendimentos de quem trabalha, que o mesmo consubstancia, como o desejo daqueles que esgotaram o crédito e a paciência para continuarem a ser afrontados e enganados vezes sem conta por um personagem como Sócrates, que transferiu a soberania portuguesa para a vontade dos credores internacionais e que não merece a mínima confiança da parte de nenhuma pessoa de bem.
Por seu lado, Passos Coelho tinha três possibilidades de posicionamento face ao orçamento de Sócrates que, a partir de hoje, será também, para o mal, o seu próprio orçamento, numa atracção, difícil de explicar, para se associar às desgraças, mentiras e inépcias do socratismo.
Vou enunciar essas possibilidades de acordo com uma hierarquia de racionalidade e de decência política que a sustenta:
- demarcar-se absolutamente das políticas e do estilo de actuação de Sócrates, manifestando, desde os primeiros indícios de incumprimento do PEC2, indisponibilidade para se deixar enganar uma segunda vez e para viabilizar a aprovação deste orçamento, ao mesmo tempo que devia ter investido na constituição de um governo sombra apostado numa política de transparência e de mobilização dos portugueses, ao invés da parvoíce das propostas de revisão constitucional. Não fez uma coisa, nem outra, com uma consequência ainda mais desastrosa do que aquela que adviria do facto de o país não ter este orçamento socratino (algo que se resolveria com a demissão de Sócrates e a criação de um governo de unidade nacional, sem Sócrates e incomparavelmente mais mobilizador do que este), ou seja, não ter sabido preservar uma alternativa e uma esperança de mudança para Portugal a partir de Junho de 2011, pois, o pior que pode acontecer a Portugal não é a entrada do FMI ou o nervosismo (passageiro até surgir uma alternativa de governo mais fiável) dos credores internacionais, mas a negociação artificial e contranatura que vincula o PSD à tragédia socrática e o destrói como alternativa política. Passos perdeu a oportunidade de se afirmar como líder verdadeiramente alternativo, além de que perdeu de vista, à direita, a aproximação a Portas - que não está disponível para a viabilização de Sócrates;
- recusar qualquer negociação com Sócrates, pelo que este e o seu orçamento representam de descrédito, mas viabilizar o orçamento pela via da abstenção, como foi postulado por muita gente de relevo no interior do PSD. Trata-se de uma posição de irracionalidade política, mas que, por razões de interesse nacional imediato, seria um mal menor, embora seja difícil compreender como o interesse nacional se adequa à continuidade da desgovernação de Sócrates;
- negociar com o governo alterações ao orçamento, prevalecendo a tentação, quer para voltar a dar a mão a Sócrates (parece o fado de um PSD menorizado e reduzido a uma função bengala, sem capacidade afirmativa e alternativa), quer para se tornar cúmplice e se irmanar ao destino de Sócrates, mesmo que se venham a abster na votação do orçamento. Trata-se de uma solução que a breve prazo facilita a vida a Cavaco Silva, apazigua temporariamente o frenesim dos mercados e até pode ser recompensada por aqueles eleitores saudosistas de uma qualquer união nacional. Todavia, trata-se de uma opção que, além de legitimar Sócrates, não interromperá as políticas de endividamento, arrastará Passos Coelho e o PSD para o pântano e comprometerá soluções de governabilidade e de alternância democrática para o futuro. Um desastre político a somar ao desastre económico.

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