Octávio V. Gonçalves: Quo vadis, PSD

27-01-2012
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In Expresso, 12/11/2011
Apesar da publicidade e do destaque que foram dados à peça jornalística do Expresso sobre as medidas do Governo para a Educação, a sua leitura leva-nos a concluir que se trata daquela notícia com a qual e sem a qual se fica exatamente igual, exceto no que ela tem de confirmatório relativamente às seguintes evidências:
- a existência de um PSD sem pensamento e sem programa político coerente e consistente para a Educação (teve-o entre março e abril de 2011, mas enjeitou-o), reduzindo-se a refém colaborante de Sócrates (a legitimação do modelo de avaliação dos professores, a continuação da burocracia e o mesmo tique impositivo estão aí para o provar), dos voos de pássaro estatísticos da troika, de interesses privados, da Cratuística (uma fusão de Crato e casuística) e da direita radical americana (cuja idiotice da obsessão pelos cortes nas funções essenciais do Estado ficou, ainda esta semana, bem patente na gaffe/amnésia do candidato à investidura republicana, Rick Perry);
- a impreparação confrangedora desta equipa ministerial, desconhecendo realidades e enquadramentos e apresentando-se sem estratégia, sem rumo, sem convicção, apenas suportada numa retórica de intenções de cortes vaga e indefinida, porque, no fundamental eles não sabem onde cortar, o que cortar e para que cortar, mais parecendo que os cortes ocorrerão nas disciplinas e nas áreas que suscitarem menos e mais débeis reações públicas, independentemente da relevância intrínseca do que vier a ser cortado;
- a irrelevância funcional e política da secretária de Estado, Isabel Leite, mau grado estas quase furtivas aparições nos jornais a fazer prova de que se está a estudar e que se fará qualquer coisa;
- o colaboracionismo dos diretores que, salvo um ou outro reparo, sempre deram, aos anteriores governos de Sócrates e ao Governo atual, o benefício da dúvida, o benefício da farsa, o benefício do paternalismo centralista ou o benefício da arrogância, pelo que não podemos ter a expetativa de esperar grande coisa das intervenções oriundas deste flanco;
- a perpetuação, sem qualquer intenção de corte, do inútil Conselho de Escolas, essa criatura parida do ventre manipulador e controleiro de Maria de Lurdes Rodrigues;
- o mais inquietante, e inesperado (ou talvez não), é que, aqui chegados, Mário Nogueira (Fenprof) intervém como se de um mero comentador e analista se tratasse, quase reduzido à função de simples constatador de ataques aos docentes e à escola, mas a que não se segue qualquer dinâmica sindical nas escolas que discuta e prepare reações.
Em Educação, como no corpo humano, cortar até restar o essencial, seja qual for a idealização de homem unidimensional que lhe subjaza, tem como resultado final um organismo aberrante. Além de que, para determinadas vocações, o essencial é a música ou são as artes ou é a performance atlética e desportiva. Há mais vida essencial para além da matemática.
Claro, o post ficaria incompleto se não desse expressão a mais anúncios de medidas que a peça incorpora, como, a título de exemplo, a prova de ingresso na docência (ou me engano muito, ou ainda me vou rir com o seu conteúdo) e a liberdade de os pais escolherem a escola dos filhos (não é por nada, mas gostaria de ter liberdade efetiva de escolha de um serviço tão básico, como o fornecimento de energia elétrica, da mesma forma que os pais também gostariam de escolher uma escola pública em lugares onde apenas existe oferta privada), a implementar lá para as calendas e para o caso de não ocorrerem reações, do tipo das protagonizadas pelos autarcas, pelos reitores das universidades, por Marcelo Rebelo de Sousa, por Cavaco Silva e outras forças temporais de bloqueio.

In Expresso, 12/11/2011
Apesar da publicidade e do destaque que foram dados à peça jornalística do Expresso sobre as medidas do Governo para a Educação, a sua leitura leva-nos a concluir que se trata daquela notícia com a qual e sem a qual se fica exatamente igual, exceto no que ela tem de confirmatório relativamente às seguintes evidências:
- a existência de um PSD sem pensamento e sem programa político coerente e consistente para a Educação (teve-o entre março e abril de 2011, mas enjeitou-o), reduzindo-se a refém colaborante de Sócrates (a legitimação do modelo de avaliação dos professores, a continuação da burocracia e o mesmo tique impositivo estão aí para o provar), dos voos de pássaro estatísticos da troika, de interesses privados, da Cratuística (uma fusão de Crato e casuística) e da direita radical americana (cuja idiotice da obsessão pelos cortes nas funções essenciais do Estado ficou, ainda esta semana, bem patente na gaffe/amnésia do candidato à investidura republicana, Rick Perry);
- a impreparação confrangedora desta equipa ministerial, desconhecendo realidades e enquadramentos e apresentando-se sem estratégia, sem rumo, sem convicção, apenas suportada numa retórica de intenções de cortes vaga e indefinida, porque, no fundamental eles não sabem onde cortar, o que cortar e para que cortar, mais parecendo que os cortes ocorrerão nas disciplinas e nas áreas que suscitarem menos e mais débeis reações públicas, independentemente da relevância intrínseca do que vier a ser cortado;
- a irrelevância funcional e política da secretária de Estado, Isabel Leite, mau grado estas quase furtivas aparições nos jornais a fazer prova de que se está a estudar e que se fará qualquer coisa;
- o colaboracionismo dos diretores que, salvo um ou outro reparo, sempre deram, aos anteriores governos de Sócrates e ao Governo atual, o benefício da dúvida, o benefício da farsa, o benefício do paternalismo centralista ou o benefício da arrogância, pelo que não podemos ter a expetativa de esperar grande coisa das intervenções oriundas deste flanco;
- a perpetuação, sem qualquer intenção de corte, do inútil Conselho de Escolas, essa criatura parida do ventre manipulador e controleiro de Maria de Lurdes Rodrigues;
- o mais inquietante, e inesperado (ou talvez não), é que, aqui chegados, Mário Nogueira (Fenprof) intervém como se de um mero comentador e analista se tratasse, quase reduzido à função de simples constatador de ataques aos docentes e à escola, mas a que não se segue qualquer dinâmica sindical nas escolas que discuta e prepare reações.
Em Educação, como no corpo humano, cortar até restar o essencial, seja qual for a idealização de homem unidimensional que lhe subjaza, tem como resultado final um organismo aberrante. Além de que, para determinadas vocações, o essencial é a música ou são as artes ou é a performance atlética e desportiva. Há mais vida essencial para além da matemática.
Claro, o post ficaria incompleto se não desse expressão a mais anúncios de medidas que a peça incorpora, como, a título de exemplo, a prova de ingresso na docência (ou me engano muito, ou ainda me vou rir com o seu conteúdo) e a liberdade de os pais escolherem a escola dos filhos (não é por nada, mas gostaria de ter liberdade efetiva de escolha de um serviço tão básico, como o fornecimento de energia elétrica, da mesma forma que os pais também gostariam de escolher uma escola pública em lugares onde apenas existe oferta privada), a implementar lá para as calendas e para o caso de não ocorrerem reações, do tipo das protagonizadas pelos autarcas, pelos reitores das universidades, por Marcelo Rebelo de Sousa, por Cavaco Silva e outras forças temporais de bloqueio.

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