Octávio V. Gonçalves: Da série "os inadaptados"

24-01-2012
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Ao contrário do desengano, que manifestei ab initio, relativamente a qualquer expetativa de boa governação da parte de Nuno Crato, continuo convencido que o elenco governativo integra ministros com capacidade política e/ou técnica para, no quadro de uma herança de extremas dificuldades e de depauperamento irresponsável dos cofres do Estado, enfrentarem os problemas, imporem moralidade política e atuarem com rigor e seriedade na procura das melhores soluções para os domínios que tutelam e para o país.
Mesmo correndo o risco de poder vir a ser defraudado, situo, neste lote, os ministros Vítor Gaspar, José Pedro Aguiar Branco, Miguel Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Paulo Portas, Pedro Mota Soares e, contra o atual coro de indignados, Álvaro Santos Pereira.
Se ao temor face ao risco de politização excessiva que Miguel Relvas não deixará de imprimir ao seu desempenho governativo, com os vícios habituais da incoerência política, dos desditos (de que a privatização da RTP é caso paradigmático) e da gestão retórica e tendencialmente manipulatória das falhas e danos da governação, acrescentar a impressão de que as coisas, na área da Saúde, podem escangalhar-se de um momento para o outro, por força daquilo que pode vir a ser a confluência de desconhecimento da área, insensibilidade às necessidades e expetativas dos utentes, escassez de recursos e proximidade aos privados, apenas ficam a restar a ministra Assunção Cristas e o ministro Nuno Crato.
Relativamente à ministra da Agricultura e mais o que seja, parece-me existir camião a mais para a carta que a habilita a conduzir, pois a reabilitação dos setores (im)produtivos que tutela não se compadece com meras virtudes parlamentares, visões românticas ou assessorias ao abrigo do ar condicionado, mesmo que "a temperaturas de conforto", parecendo faltar-lhe a poeira da terra e os balanços do mar, enquanto ímpetos para não se ficar apenas pela evidenciação de "Cristas" e poder aventurar-se a "galar" os problemas.
Todavia, o caso mais "inadaptado" é, sem dúvida, o de Nuno Crato, uma vez que, além de começar por desprezar um compromisso eleitoral do PSD e, com isso, frustrar as expetativas dos professores, como se fosse possível construir qualquer coisa de sério e de credível em cima dos escombros mais reles do socratismo (o atual modelo de ADD), vai arruinando a sua retórica da exigência com atos em sentido contrário (os prémios de mérito ou a palhaçada do 2º ciclo de avaliação do desempenho dos professores), vai pactuando com contratações e concursos de professores duvidosos, vai ficar associado ao estrangulamento financeiro e à miserabilização da educação estatal, para já não aprofundar o que começa a parecer uma visão anacrónica e tacanha dos curricula e da formação dos alunos.
Quanto a Álvaro Santos Pereira, continuo a dar-lhe o benefício da dúvida, pois acompanhei-o na desmontagem fundamentada do socratismo, e admito que o encarniçamento do PS e de alguma comunicação social contra a sua pessoa possa corresponder a uma eventual antecipação de interesses e privilégios absolutamente injustificados que poderão ter os dias contados.
Se o peso e a experiência políticas, no interior dos partidos de origem, podem constituir um fator razoavelmente preditivo de um bom desempenho governativo (apesar das exceções de parte a parte, como por exemplo Relvas versus Gaspar), não tenho dúvidas que, em tempos de grande exigência e rigor na governação, o elemento mais desastroso para a performance governativa, uma vez acomodada a auréola mediática inicial, se prende com o desconhecimento dos terrenos que se tutelam, porque a ilusão da perspetiva pára-quedista e a publicitação televisiva do bitaite não são suficientes para garantir uma governação consistente.


Ao contrário do desengano, que manifestei ab initio, relativamente a qualquer expetativa de boa governação da parte de Nuno Crato, continuo convencido que o elenco governativo integra ministros com capacidade política e/ou técnica para, no quadro de uma herança de extremas dificuldades e de depauperamento irresponsável dos cofres do Estado, enfrentarem os problemas, imporem moralidade política e atuarem com rigor e seriedade na procura das melhores soluções para os domínios que tutelam e para o país.
Mesmo correndo o risco de poder vir a ser defraudado, situo, neste lote, os ministros Vítor Gaspar, José Pedro Aguiar Branco, Miguel Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Paulo Portas, Pedro Mota Soares e, contra o atual coro de indignados, Álvaro Santos Pereira.
Se ao temor face ao risco de politização excessiva que Miguel Relvas não deixará de imprimir ao seu desempenho governativo, com os vícios habituais da incoerência política, dos desditos (de que a privatização da RTP é caso paradigmático) e da gestão retórica e tendencialmente manipulatória das falhas e danos da governação, acrescentar a impressão de que as coisas, na área da Saúde, podem escangalhar-se de um momento para o outro, por força daquilo que pode vir a ser a confluência de desconhecimento da área, insensibilidade às necessidades e expetativas dos utentes, escassez de recursos e proximidade aos privados, apenas ficam a restar a ministra Assunção Cristas e o ministro Nuno Crato.
Relativamente à ministra da Agricultura e mais o que seja, parece-me existir camião a mais para a carta que a habilita a conduzir, pois a reabilitação dos setores (im)produtivos que tutela não se compadece com meras virtudes parlamentares, visões românticas ou assessorias ao abrigo do ar condicionado, mesmo que "a temperaturas de conforto", parecendo faltar-lhe a poeira da terra e os balanços do mar, enquanto ímpetos para não se ficar apenas pela evidenciação de "Cristas" e poder aventurar-se a "galar" os problemas.
Todavia, o caso mais "inadaptado" é, sem dúvida, o de Nuno Crato, uma vez que, além de começar por desprezar um compromisso eleitoral do PSD e, com isso, frustrar as expetativas dos professores, como se fosse possível construir qualquer coisa de sério e de credível em cima dos escombros mais reles do socratismo (o atual modelo de ADD), vai arruinando a sua retórica da exigência com atos em sentido contrário (os prémios de mérito ou a palhaçada do 2º ciclo de avaliação do desempenho dos professores), vai pactuando com contratações e concursos de professores duvidosos, vai ficar associado ao estrangulamento financeiro e à miserabilização da educação estatal, para já não aprofundar o que começa a parecer uma visão anacrónica e tacanha dos curricula e da formação dos alunos.
Quanto a Álvaro Santos Pereira, continuo a dar-lhe o benefício da dúvida, pois acompanhei-o na desmontagem fundamentada do socratismo, e admito que o encarniçamento do PS e de alguma comunicação social contra a sua pessoa possa corresponder a uma eventual antecipação de interesses e privilégios absolutamente injustificados que poderão ter os dias contados.
Se o peso e a experiência políticas, no interior dos partidos de origem, podem constituir um fator razoavelmente preditivo de um bom desempenho governativo (apesar das exceções de parte a parte, como por exemplo Relvas versus Gaspar), não tenho dúvidas que, em tempos de grande exigência e rigor na governação, o elemento mais desastroso para a performance governativa, uma vez acomodada a auréola mediática inicial, se prende com o desconhecimento dos terrenos que se tutelam, porque a ilusão da perspetiva pára-quedista e a publicitação televisiva do bitaite não são suficientes para garantir uma governação consistente.

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