Octávio V. Gonçalves: Palavras leva-as a Água(s)

21-01-2012
marcar artigo

Perante as escandalosas nomeações do governo (tendo em conta o compromisso público de Passos Coelho em sentido contrário) para tudo quanto é lugar do Estado (ironicamente, nomeando personagens que se vinham batendo contra o despesismo do Estado e que, agora, têm a desfaçatez de se alimentarem principescamente a expensas do mesmo) e face à obscenidade de vencimentos e de alcavalas que se continuam a pagar aos comissários políticos (isto sim, são as "gorduras" do Estado, caro primeiro-ministro), delapidando, sem qualquer réstia de moralidade, os recursos públicos e os escassos rendimentos da generalidade dos portugueses (nos impostos, nos cortes, nas absurdas faturas da água, da luz...), não pude deixar de reparar nestas palavras recentes (14 de Novembro de 2011) de Manuel Frexes:

Ao falar durante um jantar-conferência promovido pelo PSD de Ansião,
sábado à noite, o autarca do Fundão referiu que «o nosso Poder Local vai
ser confrontado com os seus problemas inerentes» mas também «vai ser
encarado com os problemas da consciência social relativamente a um clima
que se vai criar, quiçá de revolta, de alguma desorientação» e
sobretudo de «muita desilusão de muitos cidadãos».

 O autarca considera que «vamos passar muito mal nos próximos anos» mas
acredita que «daqui a dois ou a três anos estaremos a sair deste período
negro da nossa história».

Além de registar o mau exemplo ético e político que Manuel Frexes dá com a aceitação do cargo para que foi proposto, contribuindo desgraçadamente para a premonição das suas palavras, se aplicadas aos outros, mas não a si próprio, não resisto a formular aqui três questões, reputadamente cruciais:

- como resolverá ou influenciará Manuel Frexes, administrador
da empresa Águas de Portugal, o litígio relacionado com a dívida de 7,5 milhões de
euros, acumulada, independentemente das razões ou motivações, pelo
presidente da Câmara Municipal do Fundão, Manuel Frexes?
- quem, em Portugal, dispõe da autoridade, da coragem e da ética que permita travar os vencimentos e as mordomias obscenas e vampirescas que grassam nas empresas públicas e participadas do Estado?
- não há, em Portugal, notáveis especialistas e pessoas independentes dos partidos que, nas diversas áreas empresariais e da administração, aceitassem assumir a gestão das coisas públicas, por destacamento ou até um limite de 5000 euros mensais, dispensando-se a trupe de mamões que se encostam aos partidos para viverem à grande e à francesa?
Já o escrevi várias vezes, mas não me canso de sublinhar esta evidência, novamente: aqui chegados, tenho muitas dúvidas sobre se é mais preocupante a existência de pessoas que vampirizam o Estado (a quem não reconheço nenhuma ética pessoal e nenhuma social democracia), mas apelam à necessidade de sacrifícios para os outros e à necessidade de cortes na educação e na saúde, se é a apatia e a tolerância dos portugueses face a este tipo de gente.

Enquanto uns usufruem e/ou acumulam injustificados vencimentos milionários (sem nunca na vida terem arriscado, eles próprios, criar empresas, criar riqueza e criar postos de trabalho) e outros vão sendo condenados ao empobrecimento e à miserabilização, o conhecimento da história, o bom senso, a inteligência e a ética aconselhariam os nossos governantes a valorizarem mais mensagens como a que, ainda recentemente, se podia ler numa manifestação de pessoas em dificuldades, num país do terceiro mundo, e que tomo a liberdade de traduzir livremente: "Quando os pobres já não tiverem nada para comer, restar-lhes-á comer os ricos".

Perante as escandalosas nomeações do governo (tendo em conta o compromisso público de Passos Coelho em sentido contrário) para tudo quanto é lugar do Estado (ironicamente, nomeando personagens que se vinham batendo contra o despesismo do Estado e que, agora, têm a desfaçatez de se alimentarem principescamente a expensas do mesmo) e face à obscenidade de vencimentos e de alcavalas que se continuam a pagar aos comissários políticos (isto sim, são as "gorduras" do Estado, caro primeiro-ministro), delapidando, sem qualquer réstia de moralidade, os recursos públicos e os escassos rendimentos da generalidade dos portugueses (nos impostos, nos cortes, nas absurdas faturas da água, da luz...), não pude deixar de reparar nestas palavras recentes (14 de Novembro de 2011) de Manuel Frexes:

Ao falar durante um jantar-conferência promovido pelo PSD de Ansião,
sábado à noite, o autarca do Fundão referiu que «o nosso Poder Local vai
ser confrontado com os seus problemas inerentes» mas também «vai ser
encarado com os problemas da consciência social relativamente a um clima
que se vai criar, quiçá de revolta, de alguma desorientação» e
sobretudo de «muita desilusão de muitos cidadãos».

 O autarca considera que «vamos passar muito mal nos próximos anos» mas
acredita que «daqui a dois ou a três anos estaremos a sair deste período
negro da nossa história».

Além de registar o mau exemplo ético e político que Manuel Frexes dá com a aceitação do cargo para que foi proposto, contribuindo desgraçadamente para a premonição das suas palavras, se aplicadas aos outros, mas não a si próprio, não resisto a formular aqui três questões, reputadamente cruciais:

- como resolverá ou influenciará Manuel Frexes, administrador
da empresa Águas de Portugal, o litígio relacionado com a dívida de 7,5 milhões de
euros, acumulada, independentemente das razões ou motivações, pelo
presidente da Câmara Municipal do Fundão, Manuel Frexes?
- quem, em Portugal, dispõe da autoridade, da coragem e da ética que permita travar os vencimentos e as mordomias obscenas e vampirescas que grassam nas empresas públicas e participadas do Estado?
- não há, em Portugal, notáveis especialistas e pessoas independentes dos partidos que, nas diversas áreas empresariais e da administração, aceitassem assumir a gestão das coisas públicas, por destacamento ou até um limite de 5000 euros mensais, dispensando-se a trupe de mamões que se encostam aos partidos para viverem à grande e à francesa?
Já o escrevi várias vezes, mas não me canso de sublinhar esta evidência, novamente: aqui chegados, tenho muitas dúvidas sobre se é mais preocupante a existência de pessoas que vampirizam o Estado (a quem não reconheço nenhuma ética pessoal e nenhuma social democracia), mas apelam à necessidade de sacrifícios para os outros e à necessidade de cortes na educação e na saúde, se é a apatia e a tolerância dos portugueses face a este tipo de gente.

Enquanto uns usufruem e/ou acumulam injustificados vencimentos milionários (sem nunca na vida terem arriscado, eles próprios, criar empresas, criar riqueza e criar postos de trabalho) e outros vão sendo condenados ao empobrecimento e à miserabilização, o conhecimento da história, o bom senso, a inteligência e a ética aconselhariam os nossos governantes a valorizarem mais mensagens como a que, ainda recentemente, se podia ler numa manifestação de pessoas em dificuldades, num país do terceiro mundo, e que tomo a liberdade de traduzir livremente: "Quando os pobres já não tiverem nada para comer, restar-lhes-á comer os ricos".

marcar artigo