Octávio V. Gonçalves: Erro do intelecto? Não sei...

24-01-2012
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Dedicado a todos aqueles que destilam certezas, a propósito de tudo e de coisa nenhuma.

Poema de Chuang Tzu (filósofo taoísta - daoísta - chinês do Século IV a.C.):

“Uma noite em que estive meditando
Horas longas nas cousas deste mundo
Pouco a pouco me veio o sono brando
E um sonho tão jucundo que ninguém já teve, assim:
Sonhei que era uma lépida e elegante borboleta voando,
De pouso em pouso, sobre o néctar dulcíssimo das flores.
Tempos e tempos, uma vida inteira, andei eu
Com outras companheiras, numa doideira,
Na estação quente dos amores.
Tudo me parecia tão real, tal qual estou dizendo,
E até me lembro que, numa tarde muito fria, quando o sol procurava,
Um vento tão gelado de repente me assaltou,
Tão mal, tão mal, fiquei, que logo ali, sobre um jasmim, morri!
Despertei: e acordado, ainda insecto morto me julguei!
Que sonhos tem a gente – extravagantes!
Sonhos?! – que fosse sonho, então, acreditei,
Mas após muito cogitar vejo só um caso emaranhado!
Justifico: é que a minha convicção
De existir como insecto foi tão firme antes
Como agora é de ser de humana geração!
E, portanto: fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta,
ou sou agora uma borboleta que sonha que é um homem?
Erro do intelecto?
Não sei…”
Versão poética e adaptada de Silva Mendes (1930). Excertos de Filosofia Taoísta. Macau: Escola das Artes e Ofícios.


Dedicado a todos aqueles que destilam certezas, a propósito de tudo e de coisa nenhuma.

Poema de Chuang Tzu (filósofo taoísta - daoísta - chinês do Século IV a.C.):

“Uma noite em que estive meditando
Horas longas nas cousas deste mundo
Pouco a pouco me veio o sono brando
E um sonho tão jucundo que ninguém já teve, assim:
Sonhei que era uma lépida e elegante borboleta voando,
De pouso em pouso, sobre o néctar dulcíssimo das flores.
Tempos e tempos, uma vida inteira, andei eu
Com outras companheiras, numa doideira,
Na estação quente dos amores.
Tudo me parecia tão real, tal qual estou dizendo,
E até me lembro que, numa tarde muito fria, quando o sol procurava,
Um vento tão gelado de repente me assaltou,
Tão mal, tão mal, fiquei, que logo ali, sobre um jasmim, morri!
Despertei: e acordado, ainda insecto morto me julguei!
Que sonhos tem a gente – extravagantes!
Sonhos?! – que fosse sonho, então, acreditei,
Mas após muito cogitar vejo só um caso emaranhado!
Justifico: é que a minha convicção
De existir como insecto foi tão firme antes
Como agora é de ser de humana geração!
E, portanto: fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta,
ou sou agora uma borboleta que sonha que é um homem?
Erro do intelecto?
Não sei…”
Versão poética e adaptada de Silva Mendes (1930). Excertos de Filosofia Taoísta. Macau: Escola das Artes e Ofícios.

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