Estoutro poema, dos anos 70, subscrito por João Miguel Fernandes Jorge, chegou por mail do João Vassalo.Pequenos versos em forma de NatalA abstracção não precisa de mãe nem painem tão pouco de tão tolo infantemas o natal de minha mãe é ainda o meu natalcom restos de Beira Altaano após ano via surgir figura nova nessepresépio de vaca burro banda de músicaribeiro com patos farrapos de algodão muitomusgo percorrido por ovelhas e pastoresmultidão de gente judaizante estremenha pelamão de meu pai descendo de montes contandomoedas azenhas movendo água levada pela estrelade Belémum galo bate as asas um frade está de acordocom a nossa circuncisão galinhas debicam milhode mistura com um porco a que minha avó juntavasempre um gato para dar sorte era pretoassim íamos todos naquela figuração animadaaté ao dia de Reis aí estãoum de joelhos outro em pée o rei preto vinha sentado nocamelo. Era o mais bonito.depois eram filhoses o acordar de prenda nosapato tudo tão real como o abrir das lojas no diade feirae eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima quetinha um cavalo debaixo do quartosubindo de vales descendo de montesacompanhando a banda do Carvalhal com ferrinhose roucas trompas o meu Natal é ainda o Natal deminha mãe com uns restos de canela e Beira Alta. João Miguel Fernandes Jorge, in Actus Tragicus (1979)
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Estoutro poema, dos anos 70, subscrito por João Miguel Fernandes Jorge, chegou por mail do João Vassalo.Pequenos versos em forma de NatalA abstracção não precisa de mãe nem painem tão pouco de tão tolo infantemas o natal de minha mãe é ainda o meu natalcom restos de Beira Altaano após ano via surgir figura nova nessepresépio de vaca burro banda de músicaribeiro com patos farrapos de algodão muitomusgo percorrido por ovelhas e pastoresmultidão de gente judaizante estremenha pelamão de meu pai descendo de montes contandomoedas azenhas movendo água levada pela estrelade Belémum galo bate as asas um frade está de acordocom a nossa circuncisão galinhas debicam milhode mistura com um porco a que minha avó juntavasempre um gato para dar sorte era pretoassim íamos todos naquela figuração animadaaté ao dia de Reis aí estãoum de joelhos outro em pée o rei preto vinha sentado nocamelo. Era o mais bonito.depois eram filhoses o acordar de prenda nosapato tudo tão real como o abrir das lojas no diade feirae eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima quetinha um cavalo debaixo do quartosubindo de vales descendo de montesacompanhando a banda do Carvalhal com ferrinhose roucas trompas o meu Natal é ainda o Natal deminha mãe com uns restos de canela e Beira Alta. João Miguel Fernandes Jorge, in Actus Tragicus (1979)