Babosices, baboseiras e afins...: PARABÉNS!!!

30-06-2011
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Esta mítica discoteca cumpre este ano o bonito e redondo número de 40 anos de existência e está, merecidamente, de parabéns. Olhando para trás, constato que se trata de um local marcante da minha vida, pois muitos foram os episódios que vivi naquela casa. Ainda no passado dia 28 de Dezembro, data do meu aniversário, acabei a noite ao som de Bob Marley na tradicional terça-feira de reggae. Já não sou um frequentador assíduo, mas sei que posso sempre regressar e que serei bem recebido.
Dado que a menina passou a ser uma quarentona, importa relembrar a sua história, pelo que deixo de seguida três artigos alusivos a esta efeméride:
Discoteca Jamaica celebra 40 anos e junta todos os DJpor Agência Lusa, Publicado em 26 de Janeiro de 2011
A discoteca Jamaica, em Lisboa, cumpre 40 anos e voltará a reunir os DJ que marcaram a identidade musical do espaço, entre eles Mário Dias e Bruno Dias, o primeiro e o atual disc-jockey. Pai e filho.
O encontro está marcado para quinta-feira à noite, quando for apresentado o programa dos 40 anos do Jamaica para os próximos meses, e juntará na cabine os cinco homens que colocaram música ao longo destes anos.
Mário Dias, a trabalhar na rádio TSF, foi o primeiro DJ do Jamaica, em 1975, quatro anos depois da abertura da discoteca. Tinha na altura 23 anos e viu naquele trabalho a oportunidade de se aproximar daquilo que mais queria: fazer rádio.
Na altura não era comum dizer-se DJ, mas sim alguém que passava música numa discoteca, mostrando e apresentando vinil atrás de vinil, com as novidades rock e reggae que chegavam de fora e também com o que se ouvia em Portugal: Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Fausto.
Em entrevista à agência Lusa, Mário Dias recordou que muita gente também levava discos de casa, alguns que ainda não tinham saído em Portugal, como os primeiros singles dos Talking Heads, de Blondie e Bruce Springsteen.
"O Jamaica era frequentado essencialmente por malta de esquerda e como eu tinha o privilégio de usar o microfone, era sempre o reviralho a noite inteira. Falava entre os discos, apresentava as músicas, mandava bocas, que é coisa que não se faz agora", disse Mário Dias entre risos.
O jornalista da TSF ficou no Jamaica até 1987 e desde aí até 2006 o lugar foi ocupado por Jorge Bernardino, Armando Oliveira e Pedro Rodrigues.
Atualmente é Bruno Dias, o filho, de 30 anos, que assume o mesmo papel do pai, Mário Dias.
É o DJ residente do Jamaica desde 2006, depois de ter passado pelo Ritz Club e pelo Tokyo, mas lembra-se desde sempre de estar naquela discoteca.
"Sentava-me em cima de uma caixa de vinil na cabine e passava lá as noites, porque achava piada àquilo. Uma vez por outra deixavam-me passar uns discos e fui ganhando o bichinho", explicou o DJ à agência Lusa.
Hoje, Bruno Dias ainda inclui na seleção musical muitos temas que passavam há 30 anos no Jamaica, "porque as boas músicas são intemporais".
"Noto, mas dá-me gozo, passar um Zeca Afonso, olhar para a pista e ver que há meia dúzia de pessoas que ficam com cara de quem não está a gostar da música", reconheceu.
Ainda que refugiado no espaço do DJ, na cabine atrás do aparelho de onde debita a música, Bruno Dias tem a perceção que há várias gerações a dançar no espaço do Jamaica: "De vez em quando aparecem pessoas que dizem que conheciam o meu pai e que gostavam".
Apesar do desgaste da vida noturna, do qual não tem saudades, Mário Dias relembra com alguma saudade as histórias de muitas noites a escolher música para os outros, ainda que esses outros fossem músicos.
"O Joe Strummer veio cá com a banda [The Clash] e ficou mais oito ou 15 dias de férias e todas as noites ia ao Jamaica. Ficámos amigos. Era um gajo do caraças e passava completamente despercebido, era o anti-vedeta absoluto", elogiou o radialista.
Há pelo menos uma tradição que passou de pai para filho, e também pelos restantes DJ que puseram música naquela discoteca ao longo de 40 anos: As noites do Jamaica terminam sempre com uma valsa.
Mesmo quarentão, o Jamaica deita-se tarde 26.01.2011 - 15:58 Por Ana Henriques
O segredo? "Nunca apostámos na música dos tops", diz o primeiro DJ da casa, Mário Dias. Gerida durante muito tempo por um homem de direita, a clientela sempre se inclinou para a esquerda.
O DJ dá mais uma baforada no cigarro antes de pôr os Rolling Stones: "I"ve been holding out so long, I"ve been sleeping all alone..." Na pequena pista de dança, que daqui a nada há-de estar a abarrotar, entoa-se o resto do refrão: "... lord I miss you."

Desde que as chamadas casas de meninas se reconverteram, transformando o Cais do Sodré num local de culto da noite lisboeta, já não é preciso vir para a fila do Jamaica para beber um copo. No Vicking, mesmo em frente, também passam clássicos; e quem preferir sons mais actuais é só rumar duas ou três portas adiante e ir até ao Music Box ou ao Roterdão. Mesmo assim, é quase sempre nesta antiga leitaria - que em 1971 se transformou num bar de alterne igual aos outros -, que a fila para entrar mais se alonga ao fim-de-semana.
Já com idade para ficar em casa a ver séries de televisão, Maria José Pereira passa muitas noites a cumprimentar quem vai passando à porta ou entra. "A decoração não é nada de especial. O nosso segredo é a música. Há anos que é a mesma e as pessoas não se cansam." Viúva de um dos sócios do Jamaica, resolveu tomar as rédeas da casa há meia dúzia de anos, e os 67 que já leva de vida não a demovem. Um dos filhos, Fernando, igualmente há muito ligado à casa, corrobora: "Pomos músicas que as pessoas podem cantar. Outro trunfo é o espaço: quando há muita gente na sala ninguém consegue ver nem dois metros à frente de si." Passa-se despercebido. Ou não: foram vários os casamentos que saíram das noites do Jamaica, confirmam proprietária e empregados. E alguns deles ainda se mantêm de pé.
O cheiro a pecado
Nos anos de 1980, antes de a zona de Santos nascer para a noite, o roteiro do sol posto começava no Bairro Alto, mas era aqui que acabava invariavelmente. O ambiente canalha, de bas-fond, que ainda restava do velho Cais do Sodré dos marinheiros-em-busca- de-prazeres-rápidos, exercia um certo fascínio sobre novos frequentadores, recorda o arquitecto Manuel Aires Mateus. Nessa época, quando ficava a trabalhar até tarde, passava primeiro pelo Frágil e depois pelo Jamaica com os amigos. "O que mais me agradava? Não se conseguir conversar, por causa do volume da música. Era um descanso...", ironiza.
"Tinha um certo cheirinho a pecado", observa por seu lado o escritor Mário Zambujal, que aqui lançou o livro Crónica dos Bons Malandros. O primeiro DJ da casa, Mário Dias, actualmente na TSF, tinha 23 anos quando mudou a sina do Jamaica.
"Jamaicização" da esquerda
Nos anos quentes do pós-revolução trocou os slows românticos e o disco-sound histriónico por Bruce Springsteen e Talking Heads, que tinham acabado de aparecer, à mistura com alguma música de intervenção. Só mais tarde haviam de surgir as terças-feiras de reggae. O intelectual Eduardo Prado Coelho inventou mesmo a expressão "jamaicização da esquerda portuguesa". Homem de direita, o marido de Maria José ia aos arames. "Tínhamos grandes discussões ao final da noite, ele a chamar-me comunista e eu a chamá-lo fascista", conta Mário Dias, cujo filho lhe seguiu as pisadas e põe música... no Jamaica.
"Como a sede da PIDE não era longe, antes do 25 de Abril havia agentes que frequentavam a casa", conta um antigo empregado, Augusto Barbosa. "Também era aqui que o Agostinho Neto passava o tempo" antes de se tornar Presidente de Angola, em 1975.
Nesses tempos, o bar abria logo às 9h, para servir café com leite às raparigas que trabalhavam de noite. E havia um quiosque com bonecas à entrada, para os cavalheiros que lhas quisessem oferecer, antes de irem para os quartos das redondezas.
Nesses tempos era assim, segundo a imprensa: num congresso, em Tóquio, um cientista anunciava a descoberta de uma pílula que permitiria às mulheres "comandarem a procriação" dali em diante; nas suas Conversas em Família, Marcelo Caetano inquietava-se com a situação internacional e, por arrasto, a portuguesa; os marinheiros continuavam a gastar dólares no Cais do Sodré, que se tornara um centro semiclandestino de troca de divisas. Quem saía do país abastecia-se ali, para contornar o limite legal de troca de moeda, diz Augusto Barbosa. A 2 de Setembro, o Jamaica faz 40 anos. O programa de festas começa amanhã e prolonga-se até Outubro. DJ convidados ligados às artes alternarão com sessões de reggae e outras noites temáticas. O segredo? "Nunca apostámos na música dos tops", diz Mário Dias. "Nem Shakira, nem Beyoncé. A pop ligeirinha não faz parte dos hábitos da casa."
Playlist de Mário Dias para 40 anos de Jamaica
O PÚBLICO destaca algumas das 54 músicas escolhidas por Mário Dias, o primeiro DJ do Jamaica Patti Smith - Because The Night
Talking Heads - Psycho Killer
Roxy Music - Love Is The Drug
Police - Roxanne
Waterboys - Whole Of The Moon
David Bowie - Heroes
Bauhaus - Ziggy Stardust
Janis Joplin - Move Over
Frank Zappa - Cocaine Decisions
Doors - Roadhouse Blues
Jimi Hendrix - Fire
Killing Joke - Love Like Blood
Rolling Stones - Jumpin" Jack Flash
Clash - Rock The Kasbah
Public Image Limited - (This Is Not a) Love Song
R.E.M. - Rádio Free Europe
Smiths - What Difference Does It Make?
Scritti Politti - Hypnotize
Siouxsie & the Banshees - Spellbound
Vapors - Turning Japanese
Carlos Puebla - Hasta Siempre
Jáfumega - Latin" América
Rádio Macau - Elevador da Glória
Rui Veloso - Chico Fininho
Xutos & Pontapés - Sémen
GNR - Dunas
António Variações - O Corpo É Que Paga
Táxi - A Queda dos Anjos
Sétima Legião - Glória
Júlio Pereira - Celtibera
José Afonso - O Que Faz Falta
Fausto - O Barco Vai de Saída
Trovante - Saudade
Vitorino - Leitaria Garrett
Bob Marley - Trenchtown Rock
Dillinger - Cocaine In My Brain
Lee Perry - Dreadlocks In Midnight
Aswad - Mosman Skank
Gladiators - Get Ready
Sly Dunbar - Mr. Music
U ROY - I Got To Tell You Goodbye
Culture - I Tried
Twinkle Brothers - Jahoviah
Mighty Diamonds - 4000 Years
Slickers - Johnny Too Bad
Nina Hagen - African Reggae

Esta mítica discoteca cumpre este ano o bonito e redondo número de 40 anos de existência e está, merecidamente, de parabéns. Olhando para trás, constato que se trata de um local marcante da minha vida, pois muitos foram os episódios que vivi naquela casa. Ainda no passado dia 28 de Dezembro, data do meu aniversário, acabei a noite ao som de Bob Marley na tradicional terça-feira de reggae. Já não sou um frequentador assíduo, mas sei que posso sempre regressar e que serei bem recebido.
Dado que a menina passou a ser uma quarentona, importa relembrar a sua história, pelo que deixo de seguida três artigos alusivos a esta efeméride:
Discoteca Jamaica celebra 40 anos e junta todos os DJpor Agência Lusa, Publicado em 26 de Janeiro de 2011
A discoteca Jamaica, em Lisboa, cumpre 40 anos e voltará a reunir os DJ que marcaram a identidade musical do espaço, entre eles Mário Dias e Bruno Dias, o primeiro e o atual disc-jockey. Pai e filho.
O encontro está marcado para quinta-feira à noite, quando for apresentado o programa dos 40 anos do Jamaica para os próximos meses, e juntará na cabine os cinco homens que colocaram música ao longo destes anos.
Mário Dias, a trabalhar na rádio TSF, foi o primeiro DJ do Jamaica, em 1975, quatro anos depois da abertura da discoteca. Tinha na altura 23 anos e viu naquele trabalho a oportunidade de se aproximar daquilo que mais queria: fazer rádio.
Na altura não era comum dizer-se DJ, mas sim alguém que passava música numa discoteca, mostrando e apresentando vinil atrás de vinil, com as novidades rock e reggae que chegavam de fora e também com o que se ouvia em Portugal: Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Fausto.
Em entrevista à agência Lusa, Mário Dias recordou que muita gente também levava discos de casa, alguns que ainda não tinham saído em Portugal, como os primeiros singles dos Talking Heads, de Blondie e Bruce Springsteen.
"O Jamaica era frequentado essencialmente por malta de esquerda e como eu tinha o privilégio de usar o microfone, era sempre o reviralho a noite inteira. Falava entre os discos, apresentava as músicas, mandava bocas, que é coisa que não se faz agora", disse Mário Dias entre risos.
O jornalista da TSF ficou no Jamaica até 1987 e desde aí até 2006 o lugar foi ocupado por Jorge Bernardino, Armando Oliveira e Pedro Rodrigues.
Atualmente é Bruno Dias, o filho, de 30 anos, que assume o mesmo papel do pai, Mário Dias.
É o DJ residente do Jamaica desde 2006, depois de ter passado pelo Ritz Club e pelo Tokyo, mas lembra-se desde sempre de estar naquela discoteca.
"Sentava-me em cima de uma caixa de vinil na cabine e passava lá as noites, porque achava piada àquilo. Uma vez por outra deixavam-me passar uns discos e fui ganhando o bichinho", explicou o DJ à agência Lusa.
Hoje, Bruno Dias ainda inclui na seleção musical muitos temas que passavam há 30 anos no Jamaica, "porque as boas músicas são intemporais".
"Noto, mas dá-me gozo, passar um Zeca Afonso, olhar para a pista e ver que há meia dúzia de pessoas que ficam com cara de quem não está a gostar da música", reconheceu.
Ainda que refugiado no espaço do DJ, na cabine atrás do aparelho de onde debita a música, Bruno Dias tem a perceção que há várias gerações a dançar no espaço do Jamaica: "De vez em quando aparecem pessoas que dizem que conheciam o meu pai e que gostavam".
Apesar do desgaste da vida noturna, do qual não tem saudades, Mário Dias relembra com alguma saudade as histórias de muitas noites a escolher música para os outros, ainda que esses outros fossem músicos.
"O Joe Strummer veio cá com a banda [The Clash] e ficou mais oito ou 15 dias de férias e todas as noites ia ao Jamaica. Ficámos amigos. Era um gajo do caraças e passava completamente despercebido, era o anti-vedeta absoluto", elogiou o radialista.
Há pelo menos uma tradição que passou de pai para filho, e também pelos restantes DJ que puseram música naquela discoteca ao longo de 40 anos: As noites do Jamaica terminam sempre com uma valsa.
Mesmo quarentão, o Jamaica deita-se tarde 26.01.2011 - 15:58 Por Ana Henriques
O segredo? "Nunca apostámos na música dos tops", diz o primeiro DJ da casa, Mário Dias. Gerida durante muito tempo por um homem de direita, a clientela sempre se inclinou para a esquerda.
O DJ dá mais uma baforada no cigarro antes de pôr os Rolling Stones: "I"ve been holding out so long, I"ve been sleeping all alone..." Na pequena pista de dança, que daqui a nada há-de estar a abarrotar, entoa-se o resto do refrão: "... lord I miss you."

Desde que as chamadas casas de meninas se reconverteram, transformando o Cais do Sodré num local de culto da noite lisboeta, já não é preciso vir para a fila do Jamaica para beber um copo. No Vicking, mesmo em frente, também passam clássicos; e quem preferir sons mais actuais é só rumar duas ou três portas adiante e ir até ao Music Box ou ao Roterdão. Mesmo assim, é quase sempre nesta antiga leitaria - que em 1971 se transformou num bar de alterne igual aos outros -, que a fila para entrar mais se alonga ao fim-de-semana.
Já com idade para ficar em casa a ver séries de televisão, Maria José Pereira passa muitas noites a cumprimentar quem vai passando à porta ou entra. "A decoração não é nada de especial. O nosso segredo é a música. Há anos que é a mesma e as pessoas não se cansam." Viúva de um dos sócios do Jamaica, resolveu tomar as rédeas da casa há meia dúzia de anos, e os 67 que já leva de vida não a demovem. Um dos filhos, Fernando, igualmente há muito ligado à casa, corrobora: "Pomos músicas que as pessoas podem cantar. Outro trunfo é o espaço: quando há muita gente na sala ninguém consegue ver nem dois metros à frente de si." Passa-se despercebido. Ou não: foram vários os casamentos que saíram das noites do Jamaica, confirmam proprietária e empregados. E alguns deles ainda se mantêm de pé.
O cheiro a pecado
Nos anos de 1980, antes de a zona de Santos nascer para a noite, o roteiro do sol posto começava no Bairro Alto, mas era aqui que acabava invariavelmente. O ambiente canalha, de bas-fond, que ainda restava do velho Cais do Sodré dos marinheiros-em-busca- de-prazeres-rápidos, exercia um certo fascínio sobre novos frequentadores, recorda o arquitecto Manuel Aires Mateus. Nessa época, quando ficava a trabalhar até tarde, passava primeiro pelo Frágil e depois pelo Jamaica com os amigos. "O que mais me agradava? Não se conseguir conversar, por causa do volume da música. Era um descanso...", ironiza.
"Tinha um certo cheirinho a pecado", observa por seu lado o escritor Mário Zambujal, que aqui lançou o livro Crónica dos Bons Malandros. O primeiro DJ da casa, Mário Dias, actualmente na TSF, tinha 23 anos quando mudou a sina do Jamaica.
"Jamaicização" da esquerda
Nos anos quentes do pós-revolução trocou os slows românticos e o disco-sound histriónico por Bruce Springsteen e Talking Heads, que tinham acabado de aparecer, à mistura com alguma música de intervenção. Só mais tarde haviam de surgir as terças-feiras de reggae. O intelectual Eduardo Prado Coelho inventou mesmo a expressão "jamaicização da esquerda portuguesa". Homem de direita, o marido de Maria José ia aos arames. "Tínhamos grandes discussões ao final da noite, ele a chamar-me comunista e eu a chamá-lo fascista", conta Mário Dias, cujo filho lhe seguiu as pisadas e põe música... no Jamaica.
"Como a sede da PIDE não era longe, antes do 25 de Abril havia agentes que frequentavam a casa", conta um antigo empregado, Augusto Barbosa. "Também era aqui que o Agostinho Neto passava o tempo" antes de se tornar Presidente de Angola, em 1975.
Nesses tempos, o bar abria logo às 9h, para servir café com leite às raparigas que trabalhavam de noite. E havia um quiosque com bonecas à entrada, para os cavalheiros que lhas quisessem oferecer, antes de irem para os quartos das redondezas.
Nesses tempos era assim, segundo a imprensa: num congresso, em Tóquio, um cientista anunciava a descoberta de uma pílula que permitiria às mulheres "comandarem a procriação" dali em diante; nas suas Conversas em Família, Marcelo Caetano inquietava-se com a situação internacional e, por arrasto, a portuguesa; os marinheiros continuavam a gastar dólares no Cais do Sodré, que se tornara um centro semiclandestino de troca de divisas. Quem saía do país abastecia-se ali, para contornar o limite legal de troca de moeda, diz Augusto Barbosa. A 2 de Setembro, o Jamaica faz 40 anos. O programa de festas começa amanhã e prolonga-se até Outubro. DJ convidados ligados às artes alternarão com sessões de reggae e outras noites temáticas. O segredo? "Nunca apostámos na música dos tops", diz Mário Dias. "Nem Shakira, nem Beyoncé. A pop ligeirinha não faz parte dos hábitos da casa."
Playlist de Mário Dias para 40 anos de Jamaica
O PÚBLICO destaca algumas das 54 músicas escolhidas por Mário Dias, o primeiro DJ do Jamaica Patti Smith - Because The Night
Talking Heads - Psycho Killer
Roxy Music - Love Is The Drug
Police - Roxanne
Waterboys - Whole Of The Moon
David Bowie - Heroes
Bauhaus - Ziggy Stardust
Janis Joplin - Move Over
Frank Zappa - Cocaine Decisions
Doors - Roadhouse Blues
Jimi Hendrix - Fire
Killing Joke - Love Like Blood
Rolling Stones - Jumpin" Jack Flash
Clash - Rock The Kasbah
Public Image Limited - (This Is Not a) Love Song
R.E.M. - Rádio Free Europe
Smiths - What Difference Does It Make?
Scritti Politti - Hypnotize
Siouxsie & the Banshees - Spellbound
Vapors - Turning Japanese
Carlos Puebla - Hasta Siempre
Jáfumega - Latin" América
Rádio Macau - Elevador da Glória
Rui Veloso - Chico Fininho
Xutos & Pontapés - Sémen
GNR - Dunas
António Variações - O Corpo É Que Paga
Táxi - A Queda dos Anjos
Sétima Legião - Glória
Júlio Pereira - Celtibera
José Afonso - O Que Faz Falta
Fausto - O Barco Vai de Saída
Trovante - Saudade
Vitorino - Leitaria Garrett
Bob Marley - Trenchtown Rock
Dillinger - Cocaine In My Brain
Lee Perry - Dreadlocks In Midnight
Aswad - Mosman Skank
Gladiators - Get Ready
Sly Dunbar - Mr. Music
U ROY - I Got To Tell You Goodbye
Culture - I Tried
Twinkle Brothers - Jahoviah
Mighty Diamonds - 4000 Years
Slickers - Johnny Too Bad
Nina Hagen - African Reggae

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