Tem-se assistido, devido à crise financeira mundial, a um certo retrocesso da louvação do capitalismo e uma crítica acerada às políticas económicas provenientes da era Reagan. Mas o capitalismo, aquele que está em crise, encontra os seus defensores. Henrique Raposo, no útimo Expresso, faz a apologia do que se tem passado, criticando a criação do bode expiatórios (sejam eles e cito «“os bandidos da Wall Street”, os políticos e as sociedades ocidentais»). O curioso é a lição maior que o articulista tira: «A maior lição desta crise não está ao nível da regulação institucional dos mercados, mas sim ao nível da auto-regulação que cada indivíduo deve possuir perante a tentação do crédito. Eis, portanto, a conclusão mais dolorosa: o capitalismo permanece de pé, mas estamos a descobrir que ter casa não é para toda a gente. Em 2008, morreu a democratização da propriedade através do empréstimo bancário.»Extraordinária lição. Imagine o leitor que perante uma onda avassaladora de crimes, onde as instituições de segurança se impedissem de interferir e regular a segurança dos cidadãos, viesse alguém dizer que o principal problema estava ao nível, não da acção política, mas da auto-regulação que cada indivíduo deve possuir perante a tentação do crime. Isto é para levar a sério? Mas como é possível não responsabilizar todos aqueles que induziram, com interesses e ganhos evidentes, pessoas que não podiam cumprir os seus compromissos a comprar casa? Parece que os culpados de uma derrota militar são os cozinheiros. Os generais e a estrutura responsável é que não pode ser responsabilizada e muito menos a ideologia subjacente, ou a estratégia seguida. Pensar que o problema é moral (auto-regulação dos indivíduos) é querer iludir-se e iludir os outros. O mercado deixado a si-mesmo tal como aconteceu gerou a situação em que vivemos. Agora diabolizar os milhões de pobres que se deixaram tentar pelos cantos de sereia dos gestores inovadores parece ser, assim, um acto de profunda inteligência e compreensão da natureza dos homens e uma óptima solução para o que se está a passar. O melhor ser prendê-los a todos, aos que ficaram sem casa, por atentado à moralidade. Ao mesmo tempo deve-se gratificar infinitamente a gestão política ocidental por se ter demitido da fiscalização e regulação da economia e promover todas as administrações das instituições falidas.
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Tem-se assistido, devido à crise financeira mundial, a um certo retrocesso da louvação do capitalismo e uma crítica acerada às políticas económicas provenientes da era Reagan. Mas o capitalismo, aquele que está em crise, encontra os seus defensores. Henrique Raposo, no útimo Expresso, faz a apologia do que se tem passado, criticando a criação do bode expiatórios (sejam eles e cito «“os bandidos da Wall Street”, os políticos e as sociedades ocidentais»). O curioso é a lição maior que o articulista tira: «A maior lição desta crise não está ao nível da regulação institucional dos mercados, mas sim ao nível da auto-regulação que cada indivíduo deve possuir perante a tentação do crédito. Eis, portanto, a conclusão mais dolorosa: o capitalismo permanece de pé, mas estamos a descobrir que ter casa não é para toda a gente. Em 2008, morreu a democratização da propriedade através do empréstimo bancário.»Extraordinária lição. Imagine o leitor que perante uma onda avassaladora de crimes, onde as instituições de segurança se impedissem de interferir e regular a segurança dos cidadãos, viesse alguém dizer que o principal problema estava ao nível, não da acção política, mas da auto-regulação que cada indivíduo deve possuir perante a tentação do crime. Isto é para levar a sério? Mas como é possível não responsabilizar todos aqueles que induziram, com interesses e ganhos evidentes, pessoas que não podiam cumprir os seus compromissos a comprar casa? Parece que os culpados de uma derrota militar são os cozinheiros. Os generais e a estrutura responsável é que não pode ser responsabilizada e muito menos a ideologia subjacente, ou a estratégia seguida. Pensar que o problema é moral (auto-regulação dos indivíduos) é querer iludir-se e iludir os outros. O mercado deixado a si-mesmo tal como aconteceu gerou a situação em que vivemos. Agora diabolizar os milhões de pobres que se deixaram tentar pelos cantos de sereia dos gestores inovadores parece ser, assim, um acto de profunda inteligência e compreensão da natureza dos homens e uma óptima solução para o que se está a passar. O melhor ser prendê-los a todos, aos que ficaram sem casa, por atentado à moralidade. Ao mesmo tempo deve-se gratificar infinitamente a gestão política ocidental por se ter demitido da fiscalização e regulação da economia e promover todas as administrações das instituições falidas.