Sócrates devia vestir-se no Freeport

13-10-2015
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Bastou o jornal espanhol "El Mundo" considerar o "nosso" Sócrates um dos homens mais elegantes do Planeta para os ministros se cotizarem no Natal para oferecer ao chefinho um vale-oferta de 2250 euros na Fashion Clinic, uma das mais exclusivas lojas do país, pertencente à filha de Américo Amorim, que por sua vez é dono de 25% do Tom Ford. Chique mais chique não há! Andassem os colegas de Manuel Pinho a ler as páginas de Finanças da imprensa estrangeira e talvez tivessem oferecido algo mais apropriado para os tempos de crise que aí vinham: um cheque-prenda num outlet, por exemplo.

É óbvio que esta aura de elegância planetária lhe dá a patine que os socialistas sempre gostaram de ver nos seus líderes. Soares tinha berço. Sampaio era ruivo. Sócrates veste Prada. Não fosse a crise e até podia continuar assim para além da entronização de hoje, em Espinho. Mas é preciso dar o exemplo. Não basta dizer que não é rico ou arrancar as etiquetas dos blazers.

Eu próprio ainda não tinha interiorizado o conceito de outlet. Ultimamente tanto se tem falado no tal Freeport que decidi ir ver com os meus próprios olhos. Aquilo está num local magnífico. Não podiam ter escolhido melhor! De repente, no meio da natureza selvagem abre-se uma mini-metrópole multicromática com os seus néons de marcas sonantes a piscar um convite guloso para aquela zona do cérebro onde ainda está adormecida uma reminiscência guterrista: "Gasta! Gasta! É fazer as contas depois."

É preciso não confundir um produto outlet com uma "marca branca". Por exemplo, o ministro Silva Pereira é um Sócrates "marca branca". É apenas parecido com o original mas de qualidade inferior. Um produto outlet é o original mas de uma colecção anterior, que foi sucessivamente recusado pelos consumidores. Por exemplo, um Sócrates de há duas estações, neoliberal, a ocupar o espaço do PSD, a privatizar ou a prometer 150 mil empregos. Isso é um Sócrates outlet. Ainda é o original mas está fora de moda. Hoje em dia ninguém vai andar por aí com um Sócrates neoliberal. O Sócrates Primavera/Verão 09 é neokeynesiano, socialista da esquerda popular.

Mas chega de teoria. Uma coisa é certa: na Fashion Clinic com o cheque de 2250 euros natalício ele terá comprado pouco mais que um fatito Prada. A questão é sempre um problema de megalomania. O primeiro-ministro tem apreço pelos gastos de grandes montantes em uma única peça em vez de espalhar o capital por muitas empreitadas. Nos fatos e nas obras públicas.

No Freeport, Sócrates enchia o BMW oficial de sacos mais o carro dos seguranças e até o assessor de imprensa tinha de voltar de transporte público, mas sempre garantia roupeiro até ao final do próximo mandato.

É certo que cada peça que ali chega já foi rejeitada por muitos e há coisas horrendas que não desejamos nem a um Bernardino Soares. Mas com jeitinho encontra uns fatos Boss cinza dois botões, colecção 2007, a pouco mais de 400 euros, camisas Versace lisas a menos de 70, ténis Adidas quase dados para correr no calçadão de Luanda ou nos parques de Caracas, camisolões Adolfo Dominguez do ano passado para se deixar fotografar, casual, ao longe pelos paparazzi para as capas das revistas do social.

Não é a Fashion Clinic, mas também não vai ficar com o aspecto de traça de lã do ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva.

Tom Ford Américo Amorim pode andar a queixar-se da crise mas o 'seu' Tom Ford parece imune. Acabou de lançar uns jeans para homem de 760 euros feitos de "denim japonesa selvagem que parece crua". O botão é de ouro (18kts) e têm pespontos de seda e outras subtilezas certamente valiosas. Dado os tempos que se vivem, as críticas choveram. nymag.com/daily/fashion/2009/01/tom_ford_launches_990_jeans.html/

Teoria Nas livrarias encontra-se "O Diabo Também Veste Zara", sem dúvida o melhor guia de etiqueta masculino em português já com algumas preocupações em valorizar e optimizar a relação qualidade/preço. Uma leitura recomendada mesmo a homens que não querem ser políticos. O autor é João Pedro Wanzeller, especialista em protocolo e etiqueta. Ed. Guerra & Paz

Bastou o jornal espanhol "El Mundo" considerar o "nosso" Sócrates um dos homens mais elegantes do Planeta para os ministros se cotizarem no Natal para oferecer ao chefinho um vale-oferta de 2250 euros na Fashion Clinic, uma das mais exclusivas lojas do país, pertencente à filha de Américo Amorim, que por sua vez é dono de 25% do Tom Ford. Chique mais chique não há! Andassem os colegas de Manuel Pinho a ler as páginas de Finanças da imprensa estrangeira e talvez tivessem oferecido algo mais apropriado para os tempos de crise que aí vinham: um cheque-prenda num outlet, por exemplo.

É óbvio que esta aura de elegância planetária lhe dá a patine que os socialistas sempre gostaram de ver nos seus líderes. Soares tinha berço. Sampaio era ruivo. Sócrates veste Prada. Não fosse a crise e até podia continuar assim para além da entronização de hoje, em Espinho. Mas é preciso dar o exemplo. Não basta dizer que não é rico ou arrancar as etiquetas dos blazers.

Eu próprio ainda não tinha interiorizado o conceito de outlet. Ultimamente tanto se tem falado no tal Freeport que decidi ir ver com os meus próprios olhos. Aquilo está num local magnífico. Não podiam ter escolhido melhor! De repente, no meio da natureza selvagem abre-se uma mini-metrópole multicromática com os seus néons de marcas sonantes a piscar um convite guloso para aquela zona do cérebro onde ainda está adormecida uma reminiscência guterrista: "Gasta! Gasta! É fazer as contas depois."

É preciso não confundir um produto outlet com uma "marca branca". Por exemplo, o ministro Silva Pereira é um Sócrates "marca branca". É apenas parecido com o original mas de qualidade inferior. Um produto outlet é o original mas de uma colecção anterior, que foi sucessivamente recusado pelos consumidores. Por exemplo, um Sócrates de há duas estações, neoliberal, a ocupar o espaço do PSD, a privatizar ou a prometer 150 mil empregos. Isso é um Sócrates outlet. Ainda é o original mas está fora de moda. Hoje em dia ninguém vai andar por aí com um Sócrates neoliberal. O Sócrates Primavera/Verão 09 é neokeynesiano, socialista da esquerda popular.

Mas chega de teoria. Uma coisa é certa: na Fashion Clinic com o cheque de 2250 euros natalício ele terá comprado pouco mais que um fatito Prada. A questão é sempre um problema de megalomania. O primeiro-ministro tem apreço pelos gastos de grandes montantes em uma única peça em vez de espalhar o capital por muitas empreitadas. Nos fatos e nas obras públicas.

No Freeport, Sócrates enchia o BMW oficial de sacos mais o carro dos seguranças e até o assessor de imprensa tinha de voltar de transporte público, mas sempre garantia roupeiro até ao final do próximo mandato.

É certo que cada peça que ali chega já foi rejeitada por muitos e há coisas horrendas que não desejamos nem a um Bernardino Soares. Mas com jeitinho encontra uns fatos Boss cinza dois botões, colecção 2007, a pouco mais de 400 euros, camisas Versace lisas a menos de 70, ténis Adidas quase dados para correr no calçadão de Luanda ou nos parques de Caracas, camisolões Adolfo Dominguez do ano passado para se deixar fotografar, casual, ao longe pelos paparazzi para as capas das revistas do social.

Não é a Fashion Clinic, mas também não vai ficar com o aspecto de traça de lã do ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva.

Tom Ford Américo Amorim pode andar a queixar-se da crise mas o 'seu' Tom Ford parece imune. Acabou de lançar uns jeans para homem de 760 euros feitos de "denim japonesa selvagem que parece crua". O botão é de ouro (18kts) e têm pespontos de seda e outras subtilezas certamente valiosas. Dado os tempos que se vivem, as críticas choveram. nymag.com/daily/fashion/2009/01/tom_ford_launches_990_jeans.html/

Teoria Nas livrarias encontra-se "O Diabo Também Veste Zara", sem dúvida o melhor guia de etiqueta masculino em português já com algumas preocupações em valorizar e optimizar a relação qualidade/preço. Uma leitura recomendada mesmo a homens que não querem ser políticos. O autor é João Pedro Wanzeller, especialista em protocolo e etiqueta. Ed. Guerra & Paz

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