Fiel Inimigo: O grande mal da Wikileaks…

24-01-2012
marcar artigo

Share

"A supressão da privacidade é o objectivo fundamental do totalitarismo", diz-nos o famoso médico inglês Theodore Dalrymple, na melhor análise que li sobre o assunto e que foi aqui colocada em forma de link por Go_dot.Nós não precisávamos da Wikileaks para nos dizer entre outras coisas que o presidente francês é um homem banal com tendências autoritárias, ou que Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, gosta de dar umas quecas por fora. Também não é lá muito tranquilizador ver as nossas suspeitas confirmadas em mensagens da diplomacia americana, mas se eles tivessem dito algo completamente diferente a gente provavelmente não teria acreditado.Depois dos primeiros tremores de prazer pela atrapalhação demonstrada pelos poderosos, um prazer semelhante a ver um homem majestosamente digno escorregar numa casca de banana, começa a avistar-se as verdadeiras consequências da maior revelação de documentos oficiais da história do mundo:A Wikileaks vai muito mais longe do que apenas expor injustiças, ou supostas injustiças: está inconscientemente a trabalhar para o totalitarismo.A estratégia que está por detrás da Wikileaks é que a vida devia ser um livro aberto, em que tudo aquilo que é dito ou feito seja imediatamente revelado a toda a gente, em que não haja acordo, acção, nem conversações secretas. Na visão fanaticamente puritana da Wikileaks, nem uma pessoa nem uma organização deve ter algo a esconder. Creio que não vale a pena perder tempo em argumentos contra uma visão tão infantil da vida.A verdadeira consequência da Wikileaks vai ser profundamente e precisamente o contrário daquilo que queriam obter. Muito longe de um mundo mais transparente, vão provavelmente criar um muito mais reservado. O sigilo, ou melhor, a possibilidade de haver sigilo, não é o inimigo mas a condição prévia para haver franqueza.A Wikileaks vai semear desconfiança e medo, na realidade paranóia; no futuro as pessoas terão grande relutância a exprimirem-se abertamente (….). Isto pode vir a acontecer não apenas em ambiente de trabalho, mas também na esfera privada [temos o exemplo actual da Coreia do Norte, cdr]. Uma cortina de ferro poderia fechar-se, não apenas na Europa de Leste, mas no mundo inteiro. Um reino de virtude assumida seria imposto, em que as pessoas apenas dirão aquilo que não pensam, e só pensam aquilo que não estão dispostas a dizer.A destruição da diferença entre o que é da esfera privada e o que é público sempre foi um dos grandes objectivos do totalitarismo. Abrir e ler os e-mails de outras pessoas não é diferente de abrir e ler as cartas que não nos são dirigidas. Na realidade, a Wikileaks assume o papel de censor do planeta, mas assumir este papel requer uma surpreendente grandiosidade moral e muita arrogância. Mesmo que algumas maldades sejam expostas, ou ventiladas algumas verdades, o fim não justifica os meios.Theodore Dalrymple, a physician, is a contributing editor of City Journal, the Dietrich Weismann Fellow at the Manhattan Institute, and author of Not with a Bang but a Whimper and other books.

Share

"A supressão da privacidade é o objectivo fundamental do totalitarismo", diz-nos o famoso médico inglês Theodore Dalrymple, na melhor análise que li sobre o assunto e que foi aqui colocada em forma de link por Go_dot.Nós não precisávamos da Wikileaks para nos dizer entre outras coisas que o presidente francês é um homem banal com tendências autoritárias, ou que Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, gosta de dar umas quecas por fora. Também não é lá muito tranquilizador ver as nossas suspeitas confirmadas em mensagens da diplomacia americana, mas se eles tivessem dito algo completamente diferente a gente provavelmente não teria acreditado.Depois dos primeiros tremores de prazer pela atrapalhação demonstrada pelos poderosos, um prazer semelhante a ver um homem majestosamente digno escorregar numa casca de banana, começa a avistar-se as verdadeiras consequências da maior revelação de documentos oficiais da história do mundo:A Wikileaks vai muito mais longe do que apenas expor injustiças, ou supostas injustiças: está inconscientemente a trabalhar para o totalitarismo.A estratégia que está por detrás da Wikileaks é que a vida devia ser um livro aberto, em que tudo aquilo que é dito ou feito seja imediatamente revelado a toda a gente, em que não haja acordo, acção, nem conversações secretas. Na visão fanaticamente puritana da Wikileaks, nem uma pessoa nem uma organização deve ter algo a esconder. Creio que não vale a pena perder tempo em argumentos contra uma visão tão infantil da vida.A verdadeira consequência da Wikileaks vai ser profundamente e precisamente o contrário daquilo que queriam obter. Muito longe de um mundo mais transparente, vão provavelmente criar um muito mais reservado. O sigilo, ou melhor, a possibilidade de haver sigilo, não é o inimigo mas a condição prévia para haver franqueza.A Wikileaks vai semear desconfiança e medo, na realidade paranóia; no futuro as pessoas terão grande relutância a exprimirem-se abertamente (….). Isto pode vir a acontecer não apenas em ambiente de trabalho, mas também na esfera privada [temos o exemplo actual da Coreia do Norte, cdr]. Uma cortina de ferro poderia fechar-se, não apenas na Europa de Leste, mas no mundo inteiro. Um reino de virtude assumida seria imposto, em que as pessoas apenas dirão aquilo que não pensam, e só pensam aquilo que não estão dispostas a dizer.A destruição da diferença entre o que é da esfera privada e o que é público sempre foi um dos grandes objectivos do totalitarismo. Abrir e ler os e-mails de outras pessoas não é diferente de abrir e ler as cartas que não nos são dirigidas. Na realidade, a Wikileaks assume o papel de censor do planeta, mas assumir este papel requer uma surpreendente grandiosidade moral e muita arrogância. Mesmo que algumas maldades sejam expostas, ou ventiladas algumas verdades, o fim não justifica os meios.Theodore Dalrymple, a physician, is a contributing editor of City Journal, the Dietrich Weismann Fellow at the Manhattan Institute, and author of Not with a Bang but a Whimper and other books.

marcar artigo