Fiel Inimigo: Marx e a Vanessa

21-01-2012
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Como é sabido, o marxismo conjura um enredo linear em que, no fim da história, a classe operária derrota a burguesia e instala a sociedade sem classes. O argumento não é original. Noutras escatologias do mesmo tipo, S. Jorge mata o Dragão, o Messias julgará os vivos e os mortos, o Mhadi aterrará em Teerão, etc, etc. Tudo se joga num final cataclísmico que acabará com o mal e trará a felicidade eterna. No capítulo 32 de Das Kapital, Marx prevê também um gigantesco ajuste de contas com o capitalismo, muito parecido com o juizo final do cristianismo e, no Anel dos Nibelungos, de Wagner, com a morte de Brunilde e Siegfried, e o cataclismo da Valhalla. Acontecimentos redentores que libertarão por fim os bons de mefistofélicos pactos faustianos com o dinheiro, em Marx e Jesus (“a busca do dinheiro é a raiz de todo os males” -Timóteo, 6:10 ) e o ouro, no Anel dos Nibelungos. Mesmo aqueles que não leram Marx, por vezes imaginam também um mundo onde omniscientes e angélicos planeadores abolem a miséria, deixando intactas a liberdade e o individualismo. Esta necessidade de acreditar, parece pois ser universal. Se não é na Virgem, é no Professor Chibanga, no Engenheiro Sócrates, no Santo Obama, no Dr Salazar, no Tio Adolfo, no Karl Marx, etc, etc. Quanto a este último, o busílis da questão é que a classe operária nunca esteve à altura da sua missão histórica, os "operários avançados" de que falava Trostky, baldaram-se à chamada, e o bom do Lenine, coçando a cabeça e perguntando "Que Fazer?", chegou à conclusão de que havia que organizar uma vanguarda activa que representasse e espicaçasse estes malandros. Devo dizer-vos que compreendo perfeitamente o Senhor Vladimir. Ainda ontem estive a beber uma imperial e a comer uns tremoços ali no bar com um amigo da classe operária e o tipo, além de nunca ter ouvido falar na ditadura do proletariado, nem na sua missão histórica apresentou-me os seguintes projectos revolucionários: -Arranjar bilhetes para o Benfica-Liverpool-Conseguir endrominar a Vanessa que, por acaso, é bem jeitosa.-Trocar os pneus ao carro. ( os da frente estão completamente carecas) -Beber mais uma imperial. ( e já íamos na 3ª) -Apanhar uma carraspana das antigas na despedida de solteiro do Quim. Ora com gente desta, gente com uma desavergonhada tendência para a burguesice e para a rebaixolice, gente que prefere aconchegar o fofo à Vanessa em vez de lutar firmemente contra as mais valias e o Grande Capital, não há Revolução que avance.

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Como é sabido, o marxismo conjura um enredo linear em que, no fim da história, a classe operária derrota a burguesia e instala a sociedade sem classes. O argumento não é original. Noutras escatologias do mesmo tipo, S. Jorge mata o Dragão, o Messias julgará os vivos e os mortos, o Mhadi aterrará em Teerão, etc, etc. Tudo se joga num final cataclísmico que acabará com o mal e trará a felicidade eterna. No capítulo 32 de Das Kapital, Marx prevê também um gigantesco ajuste de contas com o capitalismo, muito parecido com o juizo final do cristianismo e, no Anel dos Nibelungos, de Wagner, com a morte de Brunilde e Siegfried, e o cataclismo da Valhalla. Acontecimentos redentores que libertarão por fim os bons de mefistofélicos pactos faustianos com o dinheiro, em Marx e Jesus (“a busca do dinheiro é a raiz de todo os males” -Timóteo, 6:10 ) e o ouro, no Anel dos Nibelungos. Mesmo aqueles que não leram Marx, por vezes imaginam também um mundo onde omniscientes e angélicos planeadores abolem a miséria, deixando intactas a liberdade e o individualismo. Esta necessidade de acreditar, parece pois ser universal. Se não é na Virgem, é no Professor Chibanga, no Engenheiro Sócrates, no Santo Obama, no Dr Salazar, no Tio Adolfo, no Karl Marx, etc, etc. Quanto a este último, o busílis da questão é que a classe operária nunca esteve à altura da sua missão histórica, os "operários avançados" de que falava Trostky, baldaram-se à chamada, e o bom do Lenine, coçando a cabeça e perguntando "Que Fazer?", chegou à conclusão de que havia que organizar uma vanguarda activa que representasse e espicaçasse estes malandros. Devo dizer-vos que compreendo perfeitamente o Senhor Vladimir. Ainda ontem estive a beber uma imperial e a comer uns tremoços ali no bar com um amigo da classe operária e o tipo, além de nunca ter ouvido falar na ditadura do proletariado, nem na sua missão histórica apresentou-me os seguintes projectos revolucionários: -Arranjar bilhetes para o Benfica-Liverpool-Conseguir endrominar a Vanessa que, por acaso, é bem jeitosa.-Trocar os pneus ao carro. ( os da frente estão completamente carecas) -Beber mais uma imperial. ( e já íamos na 3ª) -Apanhar uma carraspana das antigas na despedida de solteiro do Quim. Ora com gente desta, gente com uma desavergonhada tendência para a burguesice e para a rebaixolice, gente que prefere aconchegar o fofo à Vanessa em vez de lutar firmemente contra as mais valias e o Grande Capital, não há Revolução que avance.

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