portugal contemporâneo: podem os liberais voar?

01-07-2011
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Ou porque estranho motivo nenhum «liberal praticante» consegue ser eleito para um governo nacional, como constata o Doutor Vasco Pulido Valente?Pois não, Doutor VPV, pois não. Essa é uma verdade universal, tanto quanto estas possam existir, como os pássaros terem asas e as galinhas não terem dentes. Se bem que há uns passarocos pelas bandas da Nova Zelândia (os kiwi e os kakapos, pelo menos) a quem precisamente faltam quase por completo esses indispensáveis auxiliares de voo. Também, não lhes devem sentir a falta, porque não voam. Já quanto às galinhas, o terror que me infundem – um bicharoco desses vaza-nos um olho com uma imprevisível bicada - impede-me de lhes verificar os bicos, um por um. Logo e até prova em contrário, mantém-se a veracidade do postulado.Quanto ao liberalismo, a coisa não anda, também, muito longe disto. Na verdade, o último espécimen político vagamente aparentado com o género liberal que por aí vi foi o dr. Frasquilho, que perdurou duas ou três semanas no departamento das Finanças do governo Barroso, donde saiu literalmente com as orelhas a arder, electrocutado com o seu famoso «choque fiscal».Contudo, caro Doutor VPV, o liberalismo é, nos tempos que correm, mais uma pedagogia de reforço da liberdade individual, do que uma ideologia política ou, menos ainda, um programa eleitoral para consumo partidário. Contando com a bondade dos regimes democráticos, alguns liberais estão seriamente persuadidos de que se souberem convencer o eleitorado que no dia-a-dia o Estado os deve (e pode) incomodar menos, quem está no governo ver-se-á provavelmente obrigado a ceder algum do poder que detém, sob pena de perder eleições. Veja, o que sucedeu com o Presidente Bush, não o George W. que refere, mas com o paizinho e o seu célebre «read my lips». Ou o que teria acontecido com a nossa doméstica e indomável parelha composta pelos drs. Barroso e Ferreira Leite, não tivesse o primeiro rumado para outras paragens politicamente mais amenas. Por definição, um governo só liberaliza, isto é, só consente em perder poderes e abdicar de funções, se for forçado a isso: pela opinião pública, sob ameaça de ser derrotado em eleições; pelos credores externos, com o aviso prévio de falência (como sucedeu com o dr. Soares e o FMI); ou por medo do ridículo e pela força das evidências, como bem percebeu o dr. Cavaco no seu primeiro governo de maioria absoluta, quando assumiu a gerência de um Estado que era dono de tudo e que estava comicamente em plena integração comunitária.Por fim e sobre a Srª Thatcher (de facto, assumo, um ícone destas coisas…), pouco acrescentaria ao que disse o André Azevedo Alves. Mas lembro-me de lhe ter lido, a si, há já muitos anos, um comentário sobre a misteriosa eleição do sr. John Major, em que sensatamente explicava que ele beneficiara ainda da «revolução» (ipsis verbis) que a sua antecessora promovera em Inglaterra. De facto, assim foi. A Srª Thatcher pegou num país socialista, dominado pelo funcionalismo público e pelas poderosas Trade Unions, e virou-o de alto a baixo. Deixou-o, sem dúvida, imensamente mais livre, desenvolvido e próspero do que o que encontrara quando chegou ao governo. As dificuldades que teve de assumir com os seus primeiros orçamentos (e que, não fossem a guerra das Falkland, provavelmente a fariam perder as eleições de 1983) serviram para promover reformas profundas no Estado e não para, como é uso por cá fazer-se, retocar as contas públicas, mantendo o despesismo. É uma pequena diferença que, não obstante a crónica ingenuidade política dos liberais, somos até capazes de entender.

Ou porque estranho motivo nenhum «liberal praticante» consegue ser eleito para um governo nacional, como constata o Doutor Vasco Pulido Valente?Pois não, Doutor VPV, pois não. Essa é uma verdade universal, tanto quanto estas possam existir, como os pássaros terem asas e as galinhas não terem dentes. Se bem que há uns passarocos pelas bandas da Nova Zelândia (os kiwi e os kakapos, pelo menos) a quem precisamente faltam quase por completo esses indispensáveis auxiliares de voo. Também, não lhes devem sentir a falta, porque não voam. Já quanto às galinhas, o terror que me infundem – um bicharoco desses vaza-nos um olho com uma imprevisível bicada - impede-me de lhes verificar os bicos, um por um. Logo e até prova em contrário, mantém-se a veracidade do postulado.Quanto ao liberalismo, a coisa não anda, também, muito longe disto. Na verdade, o último espécimen político vagamente aparentado com o género liberal que por aí vi foi o dr. Frasquilho, que perdurou duas ou três semanas no departamento das Finanças do governo Barroso, donde saiu literalmente com as orelhas a arder, electrocutado com o seu famoso «choque fiscal».Contudo, caro Doutor VPV, o liberalismo é, nos tempos que correm, mais uma pedagogia de reforço da liberdade individual, do que uma ideologia política ou, menos ainda, um programa eleitoral para consumo partidário. Contando com a bondade dos regimes democráticos, alguns liberais estão seriamente persuadidos de que se souberem convencer o eleitorado que no dia-a-dia o Estado os deve (e pode) incomodar menos, quem está no governo ver-se-á provavelmente obrigado a ceder algum do poder que detém, sob pena de perder eleições. Veja, o que sucedeu com o Presidente Bush, não o George W. que refere, mas com o paizinho e o seu célebre «read my lips». Ou o que teria acontecido com a nossa doméstica e indomável parelha composta pelos drs. Barroso e Ferreira Leite, não tivesse o primeiro rumado para outras paragens politicamente mais amenas. Por definição, um governo só liberaliza, isto é, só consente em perder poderes e abdicar de funções, se for forçado a isso: pela opinião pública, sob ameaça de ser derrotado em eleições; pelos credores externos, com o aviso prévio de falência (como sucedeu com o dr. Soares e o FMI); ou por medo do ridículo e pela força das evidências, como bem percebeu o dr. Cavaco no seu primeiro governo de maioria absoluta, quando assumiu a gerência de um Estado que era dono de tudo e que estava comicamente em plena integração comunitária.Por fim e sobre a Srª Thatcher (de facto, assumo, um ícone destas coisas…), pouco acrescentaria ao que disse o André Azevedo Alves. Mas lembro-me de lhe ter lido, a si, há já muitos anos, um comentário sobre a misteriosa eleição do sr. John Major, em que sensatamente explicava que ele beneficiara ainda da «revolução» (ipsis verbis) que a sua antecessora promovera em Inglaterra. De facto, assim foi. A Srª Thatcher pegou num país socialista, dominado pelo funcionalismo público e pelas poderosas Trade Unions, e virou-o de alto a baixo. Deixou-o, sem dúvida, imensamente mais livre, desenvolvido e próspero do que o que encontrara quando chegou ao governo. As dificuldades que teve de assumir com os seus primeiros orçamentos (e que, não fossem a guerra das Falkland, provavelmente a fariam perder as eleições de 1983) serviram para promover reformas profundas no Estado e não para, como é uso por cá fazer-se, retocar as contas públicas, mantendo o despesismo. É uma pequena diferença que, não obstante a crónica ingenuidade política dos liberais, somos até capazes de entender.

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