Touradas, TVI e as mentiras de Inês Sousa Real

13-07-2020
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No momento em que escrevo este artigo passam precisamente dezasseis minutos da uma da manhã. Ao chegar a casa fui ver a gravação do debate sobre as touradas entre Inês Sousa Real (PAN) e Miguel Sousa Tavares que horas antes aconteceu na TVI.

Vi. Revi. Fiquei enojado com a postura da deputada em questão. Tentei escrever. Não consegui. Fui deitar-me. Não dormia de incómodo. Voltei a levantar-me. Pensei se me apetecia novamente voltar a combater tanta mentira, tanta aldrabice.

Por momentos faltou-me resistência. Voltei a deitar-me. Voltei a não dormir. E assim acabei por escrever.

Começo por dizer com a maior das frontalidades o seguinte:

Inês, senhora deputada Inês de Sousa Real, não passas, não passa a senhora deputada de uma mentirosa compulsiva. Ou pelo menos se não o és, não o é por natureza, foste-o, foi-o no debate em questão, circunstância que te devia envergonhar como pessoa, que a devia envergonhar como deputada da nação.

Lamento se te ofendo, se a ofendo senhora deputada.

Mas o direito que tens, que a senhora deputada tem em não ser aficionada é uma coisa. O direito em bater-se por essa ausência de afición é outra igualmente legítima. Respeitosa. Merecedora de consideração intelectual, pessoal e política.

Mas a mentira Inês, a mentira senhora deputada, devia envergonhar-te, devia envergonhá-la. E essa, eu não aceito, não respeitarei nunca e sempre será por mim e por muitos como eu, alvo de combate.

Porque é que te chamo mentirosa Inês? Porque lhe chamo mentirosa senhora deputada?

Desde logo porque como diz o dicionário e portanto não representa nenhuma ofensa mas antes um condicionalismo etimológico, mentiroso é todo aquele que é falso; que tem como base ou fundamento uma mentira; que é desprovido de verdade: argumento mentiroso. Ilusório; que não tem correspondência com a verdade; que tende a induzir ao erro.

Tudo o que foste e fizeste Inês. Tudo o que foi e fez senhora deputada. Pelo menos nesta noite e nesta matéria.

Foste, foi, mentirosa, porque de acordo com as palavras do dicionário te serviste, se serviu, de todos estes artifícios para na TVI, em directo para quem quis ouvir e ver, dizeres, dizer todo um rol de mentiras que alguém que como eu é rural, conhece o campo e a realidade taurina portuguesa pode facilmente desmascarar.

Vamos a isto, Inês. Para que não digas que te ofendo;

Vamos a isto, Senhora Deputada. Para que não diga que a ofendo;

Argumento por argumento;

Mentira por mentira;

Passo a passo;

Lenta e compassivamente;

Com cadência, como no toureio de arte;

Argumento nº 1 - primeira mentira:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada que, e cito “ as touradas são contestadas fortemente pelos portugueses e não faz sentido que sejam financiadas pelos dinheiros públicos”

Resposta – As touradas não são contestadas fortemente pela sociedade portuguesa. As touradas são fortemente contestadas pela parte da sociedade portuguesa que delas não gosta. Legitimamente. Mas são tão fortemente contestadas por essa parte da sociedade portuguesa que delas não gosta como admiradas pela restante parte que as aprecia.

O PAN, essa espécie de partido político, não representa a totalidade da sociedade portuguesa. Não pode, portanto, responder pela sua totalidade. Nem que fosse só eu a defender as touradas no país inteiro. Mesmo aí, levando o cenário ao limite da razoabilidade, não poderia falar pela totalidade dos cidadãos nacionais.

Argumento nº 2 - segunda mentira:

Inês, Senhora Deputada, disseste, disse a senhora deputada, que numa sondagem da Universidade Católica que tanto quanto pude perceber teve como alvo o entendimento sobre a tauromaquia existente em Lisboa, resultou claro a pouca afición da capital.

Daí extrapolaste, extrapolou a Senhora Deputada, o seu resultado para todo o país.

Ora vamos ver. Não me chocam os resultados da sondagem se me disserem que em Lisboa a esmagadora maioria dos lisboetas não é aficionado. Acho absolutamente normal. Mas uma vez mais estamos a falar de Lisboa. Portugal é mais que Lisboa. Os portugueses não vivem todos em Lisboa.

Inês, Senhora Deputada, faz lá uma sondagem, faça lá uma sondagem, em Coruche, Almeirim, Santarém, Moita do Ribatejo, Vila Franca de Xira, Alcochete, Montemor-o-Novo, Évora, Reguengos de Monsaraz, Salvaterra de Magos, Nazaré, Abiúl, Redondo, Moura, Elvas, Vila Viçosa, Angra do Heroísmo.

Faz. Faça. E depois falamos.

Argumento nº 3 – terceira mentira:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada, que seria inadmissível que num país onde não há dinheiro para tanta coisa importante, o há para as corridas de toiros.

Chegaste, chegou mesmo a dizer a senhora deputada, que é triste que num país em que não há dinheiro para a saúde ou para os professores, o haja para a tauromaquia. Que vergonha. Que vergonha Inês. Que vergonha senhora deputada. Que lástima. Que tristeza.

Fazer acreditar os portugueses que a falta de dinheiro desses sectores se deve à existência da tauromaquia. Pior, que é a tauromaquia que absorve essas verbas.

Sabes, sabe a senhora deputada o que isso é?

Desespero. Falta de argumentos. A fuga fácil para a frente em que se procura iludir o cidadão que não domina a matéria.

Por momentos resulta. Até que apareçam aqueles que como eu desmontam a tenda do circo.

Argumento nº 4 – quarta mentira - para mim a mais gritante e a que mais fácil e rapidamente desmonto:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada, que, e cito “Não existem postos de trabalho directamente criados pela tauromaquia”; “que ninguém vive exclusivamente da tauromaquia”; ou, que, pasme-se “ as pessoas que trabalham da tauromaquia não passam das duas centenas”

Inês, Senhora Deputada, e se fosses, e se fosse, pentear macacos?

É para isto que chegaste, que chegou a deputada? Para uma vez mais na ausência de argumentos e dados verídicos, mentires, mentir, descaradamente aos portugueses?

Terás tu, terá a senhora deputada, noção de que se eu pagar no meu telemóvel, se eu me apetecer fazê-lo, rapidamente lhe encho o seu gabinete ou mesmo a rua de São Bento, desde o Rato até ao parlamento, com pessoas que vivem exclusivamente de postos de trabalho gerados pela tauromaquia?

Acha que são só os cavaleiros? Os matadores de toiros? Os ganadeiros? Os coudeleiros? Os forcados? (que nada recebem) ou os empresários taurinos?

Então e os tratadores dos cavalos? Os maiorais das ganadarias? Os veterinários dos animais? Os ferradores? Os motoristas das viaturas de transporte dos cavalos e dos toiros? Os tratadores? Os emboladores? Os bilheteiros? Os correeiros? As empresas que se dedicam exclusivamente ao marketing taurino? Os funcionários que trabalham nas empresas taurinas? Os equitadores taurinos?

É tudo invenção minha?

Serão mesmo pouco mais de duzentos?

Tive pena de ti, Inês, tive pena de si senhora deputada.

Achas, acha mesmo a senhora deputada que estas pessoas vivem de outra actividade que não somente a taurina? Se achas, desculpa-me, se acha, desculpe-me Senhora Deputada, além de mentirosa, és, é, burra!

5º Argumento – quinta mentira:

Disseste Inês, disse a senhora deputada que, e cito novamente “a tradição não é imutável”, ou que “as tradições também desaparecem ou evoluem com a própria sociedade” Se não foi assim foi muito parecido. São já dez para as duas da manhã e além de estar a escrever não me apetece ir rever a tua triste intervenção novamente.

Inês, senhora deputada:

A tradição evolui quando a sociedade dela abdica e não quando parte da sociedade obriga a outra parte da mesma sociedade a renegar as suas origens. A renegar quem é. A renegar o que sente. A renegar o que gosta. Isso não é evolução. Isso é regressão. A regressão que o PAN defende. Regressão social, política e cultural.

Aquela regressão que levou André Silva a dizer que a sua visão de futuro era arte dentro do Campo Pequeno e artistas tauromáquicos algemados à porta.

E já que mencionou, mencionaste o CHEGA como defensor da tauromaquia, e bem, quem é afinal o populista e ditador perante uma frase destas?

O André Silva ou o André Ventura?

6º Argumento – sexta mentira – grosseira e vergonhosa:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada, que e cito “ Ainda só existem corridas de toiros porque ainda não desligámos o balão dos dinheiros públicos”

Inês, senhora deputada:

Quais dinheiros públicos?

Aqueles que nas últimas semanas vários meios de comunicação social nacionais vieram dizer que serviam para pagarem falsos recibos verdes a elementos do PAN?

Esses mesmos recibos que alegadamente segundo notícias veiculadas pela mesma imprensa causaram a debandada que está a acontecer no teu, no seu partido?

Atenção que eu, friso e deixo claro, não estou a dizer que isso tenha realmente acontecido. Longe de mim. Apenas estou a citar alegadas notícias de imprensa. Friso novamente. Alegadas notícias. Alegados acontecimentos.

Quais dinheiros públicos Inês? Quais dinheiros públicos, senhora deputada?

Aqueles que servem para te pagar, para lhe pagar o seu ordenado como deputada?

Esqueces-te Inês, esquece a senhora deputada, por acaso, que o teu, o seu ordenado, tanto é pago por um aficionado como por um não aficionado?

Vá lá. Respeitinho. Respeitinho e vergonha na cara. Exige-se. Deve-se.

E mais?

Se os houver?

A tauromaquia não é legal?

Não faz parte do ministério da cultura?

Os artistas e empresários não pagam impostos como qualquer cidadão pela sua actividade?

Então porque motivo devem ser iguais a todos os portugueses na hora de pagar mas não na hora de receber?

Vá lá Inês, vá lá senhora deputada.

Transparência nos debates;

Objectividade;

Consonância com a realidade.

7º Argumento – este não é mentira, é só cómico – ridículo – a pérola da noite:

Disseste, disse a senhora deputada, qualquer coisa como que se os aficionados gostam tanto dos toiros, podem sempre vê-lo no campo, nas lezírias, fazer, pasme-se, e em maiúsculas, SAFARIS.

Raios me partam. Raios, te, lhe, a partam a ti, si.

Ou raios nos partam aos dois.

A ti, si, pelos disparates que dizes, diz.

A mim porque te dedico a atenção que ao dizê-los não mereces, merece.

SAFARIS?

Para ver toiros de lide? No Ribatejo e Alentejo?

É assim mais ou menos a mesma coisa que criar aquários para ver gorilas. Talvez orangotangos dos que me parecem agora existir, vários, em S. Bento.

Por último:

8º Argumento – oitava mentira – ou não mentira

Se for mentira Inês, senhora deputada, cuidado, podes, pode, ser chamada aos tribunais portugueses para provares o que disseste, disse – se não for mentira, pecas Inês, peca senhora deputada, por junto das instâncias judiciais ainda não teres, ter, apresentado, provas do que dizes, diz, e isso para um cidadão seria mau, para uma deputada é gravíssimo.

Cito: “O Campo Pequeno tem sido um saco azul de dinheiros públicos”. Se não foi assim terá também sido muito parecida a tua frase.

Ora bem, Inês, ora bem, senhora deputada:

Sou aficionado mas acima de tudo sou português.

O amor que tenho à festa dos toiros não é em nada superior ao amor que sinto pelo meu país. E se a tauromaquia representar um foco de corrupção ou fraude que lese o meu país sou o primeiro a querer que tal se investigue.

Tudo isto na certeza de que se algo de fraudulento existir na tauromaquia, ou nalgum dos seus agentes, tal não representa a totalidade do sector nem da totalidade dos seus agentes.

Era a mesma coisa que caso se viesse a comprovar que alguém no PAN teria recebido realmente falsos recibos verdes (e repito, não estou a dizer ou sequer supor que houve), isso significasse que todos os elementos do PAN, incluindo tu, incluindo a senhora deputada, também os recebessem. (e não estou novamente sequer a admitir, cogitar ou sugerir essa possibilidade. É um mero exemplo)

Portanto Inês, portanto senhora deputada, desta vez passa.

Da próxima, cuidado que podes, que pode ser chamada a nas instâncias devidas ter de explicar com provas o que deixaste, deixou no ar.

Não por mim que sei o que é a política. Mas pode alguém ofender-se a sério. Isso poderia ser complicado.

Se tiveres, tiver, provas e razão do e no que disse, dar-te-ei, dar-lhe-ei senhora deputada, toda a razão.

Toda a razão e estarei a teu, a seu lado, na luta pelo descobrimento e punição de tais práticas. Se não tiveres, não tiver razão, tal por si só, poderá hipoteticamente representar também alguma prática criminal por falta de fundamento.

Ambos somos juristas. Ambos sabemos como são estas coisas.

Ambos somos pessoas de bem. Ambos não podemos atravessar certas linhas vermelhas.

Em suma porque já são duas e vinte da manhã:

Inês, senhora deputada, assume, assuma, assumam no PAN, que aquilo que pretendes, pretendem, é a abolição das corridas de toiros em Portugal.

Como não o conseguem, nem podem, fazer pela proibição por decreto, querem agora matá-la pela imposição do garrote das supostas limitações económicas ao sector. Como não podem simplesmente proibir a actividade para não ficarem politicamente com o rótulo de ditadores, querem tirar-lhe o oxigénio matando-a devagarinho por sufoco.

Assim como quem em vez de matar alguém de uma só vez por saber que é descoberto, envenena a pessoa devagarinho para que paulatinamente a conduza a uma aparente e disfarçada morte natural.

Vocês são inteligentes. Mas todos os demais não somos parvos.

Sabes Inês, sabe senhora deputada, não vais, não vão conseguir.

Ou para que tal aconteça, se alguma vez acontecer, prepara-te, preparem-se que as gentes do campo, as gentes aficionadas, não vão nesse dia respeitar esse mesmo acontecimento.

A que preço? Não sei!

Conflitos sociais?

Não os defendo! Não os aceito! Não os procuro! Não os quero! Muito menos os incentivo!

Mas cuidado. A paciência tem limites e a corda só estica até partir. Quando parte o coice é grande e o caminho, sem volta.

Que também tu, também a senhora deputada, não o queiras, não o queira.

Sabes Inês, sabe Senhora Deputada, tenho até genuína simpatia pessoal por ti, por si. Sei que nem tu acreditas, nem a senhora deputada acredita no que dizes, no que disse.

Simpatia que só por má-fé podes, pode a senhora deputada negar. Já nos encontrámos num debate televisivo, hoje estamos ambos em S. Bento e cruzamo-nos várias vezes por semana. Várias vezes ao dia nalgumas semanas. Julgo sermos os dois pessoas de bem. Mas neste debate deste má conta de ti.

Se não te conhecesse pensaria mal de ti.

Mas prepara-te porque pelos meus adversários tenho sempre o maior respeito e consideração, mas a mentirosos, nem que o sejam por momento ou contexto, só lhes guardo despeito e a acidez do meu fel pessoal e político.

Todos temos noites infelizes.

Um dia poderá ser a minha.

Hoje foi a tua.

Rodrigo Alves Taxa

No momento em que escrevo este artigo passam precisamente dezasseis minutos da uma da manhã. Ao chegar a casa fui ver a gravação do debate sobre as touradas entre Inês Sousa Real (PAN) e Miguel Sousa Tavares que horas antes aconteceu na TVI.

Vi. Revi. Fiquei enojado com a postura da deputada em questão. Tentei escrever. Não consegui. Fui deitar-me. Não dormia de incómodo. Voltei a levantar-me. Pensei se me apetecia novamente voltar a combater tanta mentira, tanta aldrabice.

Por momentos faltou-me resistência. Voltei a deitar-me. Voltei a não dormir. E assim acabei por escrever.

Começo por dizer com a maior das frontalidades o seguinte:

Inês, senhora deputada Inês de Sousa Real, não passas, não passa a senhora deputada de uma mentirosa compulsiva. Ou pelo menos se não o és, não o é por natureza, foste-o, foi-o no debate em questão, circunstância que te devia envergonhar como pessoa, que a devia envergonhar como deputada da nação.

Lamento se te ofendo, se a ofendo senhora deputada.

Mas o direito que tens, que a senhora deputada tem em não ser aficionada é uma coisa. O direito em bater-se por essa ausência de afición é outra igualmente legítima. Respeitosa. Merecedora de consideração intelectual, pessoal e política.

Mas a mentira Inês, a mentira senhora deputada, devia envergonhar-te, devia envergonhá-la. E essa, eu não aceito, não respeitarei nunca e sempre será por mim e por muitos como eu, alvo de combate.

Porque é que te chamo mentirosa Inês? Porque lhe chamo mentirosa senhora deputada?

Desde logo porque como diz o dicionário e portanto não representa nenhuma ofensa mas antes um condicionalismo etimológico, mentiroso é todo aquele que é falso; que tem como base ou fundamento uma mentira; que é desprovido de verdade: argumento mentiroso. Ilusório; que não tem correspondência com a verdade; que tende a induzir ao erro.

Tudo o que foste e fizeste Inês. Tudo o que foi e fez senhora deputada. Pelo menos nesta noite e nesta matéria.

Foste, foi, mentirosa, porque de acordo com as palavras do dicionário te serviste, se serviu, de todos estes artifícios para na TVI, em directo para quem quis ouvir e ver, dizeres, dizer todo um rol de mentiras que alguém que como eu é rural, conhece o campo e a realidade taurina portuguesa pode facilmente desmascarar.

Vamos a isto, Inês. Para que não digas que te ofendo;

Vamos a isto, Senhora Deputada. Para que não diga que a ofendo;

Argumento por argumento;

Mentira por mentira;

Passo a passo;

Lenta e compassivamente;

Com cadência, como no toureio de arte;

Argumento nº 1 - primeira mentira:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada que, e cito “ as touradas são contestadas fortemente pelos portugueses e não faz sentido que sejam financiadas pelos dinheiros públicos”

Resposta – As touradas não são contestadas fortemente pela sociedade portuguesa. As touradas são fortemente contestadas pela parte da sociedade portuguesa que delas não gosta. Legitimamente. Mas são tão fortemente contestadas por essa parte da sociedade portuguesa que delas não gosta como admiradas pela restante parte que as aprecia.

O PAN, essa espécie de partido político, não representa a totalidade da sociedade portuguesa. Não pode, portanto, responder pela sua totalidade. Nem que fosse só eu a defender as touradas no país inteiro. Mesmo aí, levando o cenário ao limite da razoabilidade, não poderia falar pela totalidade dos cidadãos nacionais.

Argumento nº 2 - segunda mentira:

Inês, Senhora Deputada, disseste, disse a senhora deputada, que numa sondagem da Universidade Católica que tanto quanto pude perceber teve como alvo o entendimento sobre a tauromaquia existente em Lisboa, resultou claro a pouca afición da capital.

Daí extrapolaste, extrapolou a Senhora Deputada, o seu resultado para todo o país.

Ora vamos ver. Não me chocam os resultados da sondagem se me disserem que em Lisboa a esmagadora maioria dos lisboetas não é aficionado. Acho absolutamente normal. Mas uma vez mais estamos a falar de Lisboa. Portugal é mais que Lisboa. Os portugueses não vivem todos em Lisboa.

Inês, Senhora Deputada, faz lá uma sondagem, faça lá uma sondagem, em Coruche, Almeirim, Santarém, Moita do Ribatejo, Vila Franca de Xira, Alcochete, Montemor-o-Novo, Évora, Reguengos de Monsaraz, Salvaterra de Magos, Nazaré, Abiúl, Redondo, Moura, Elvas, Vila Viçosa, Angra do Heroísmo.

Faz. Faça. E depois falamos.

Argumento nº 3 – terceira mentira:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada, que seria inadmissível que num país onde não há dinheiro para tanta coisa importante, o há para as corridas de toiros.

Chegaste, chegou mesmo a dizer a senhora deputada, que é triste que num país em que não há dinheiro para a saúde ou para os professores, o haja para a tauromaquia. Que vergonha. Que vergonha Inês. Que vergonha senhora deputada. Que lástima. Que tristeza.

Fazer acreditar os portugueses que a falta de dinheiro desses sectores se deve à existência da tauromaquia. Pior, que é a tauromaquia que absorve essas verbas.

Sabes, sabe a senhora deputada o que isso é?

Desespero. Falta de argumentos. A fuga fácil para a frente em que se procura iludir o cidadão que não domina a matéria.

Por momentos resulta. Até que apareçam aqueles que como eu desmontam a tenda do circo.

Argumento nº 4 – quarta mentira - para mim a mais gritante e a que mais fácil e rapidamente desmonto:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada, que, e cito “Não existem postos de trabalho directamente criados pela tauromaquia”; “que ninguém vive exclusivamente da tauromaquia”; ou, que, pasme-se “ as pessoas que trabalham da tauromaquia não passam das duas centenas”

Inês, Senhora Deputada, e se fosses, e se fosse, pentear macacos?

É para isto que chegaste, que chegou a deputada? Para uma vez mais na ausência de argumentos e dados verídicos, mentires, mentir, descaradamente aos portugueses?

Terás tu, terá a senhora deputada, noção de que se eu pagar no meu telemóvel, se eu me apetecer fazê-lo, rapidamente lhe encho o seu gabinete ou mesmo a rua de São Bento, desde o Rato até ao parlamento, com pessoas que vivem exclusivamente de postos de trabalho gerados pela tauromaquia?

Acha que são só os cavaleiros? Os matadores de toiros? Os ganadeiros? Os coudeleiros? Os forcados? (que nada recebem) ou os empresários taurinos?

Então e os tratadores dos cavalos? Os maiorais das ganadarias? Os veterinários dos animais? Os ferradores? Os motoristas das viaturas de transporte dos cavalos e dos toiros? Os tratadores? Os emboladores? Os bilheteiros? Os correeiros? As empresas que se dedicam exclusivamente ao marketing taurino? Os funcionários que trabalham nas empresas taurinas? Os equitadores taurinos?

É tudo invenção minha?

Serão mesmo pouco mais de duzentos?

Tive pena de ti, Inês, tive pena de si senhora deputada.

Achas, acha mesmo a senhora deputada que estas pessoas vivem de outra actividade que não somente a taurina? Se achas, desculpa-me, se acha, desculpe-me Senhora Deputada, além de mentirosa, és, é, burra!

5º Argumento – quinta mentira:

Disseste Inês, disse a senhora deputada que, e cito novamente “a tradição não é imutável”, ou que “as tradições também desaparecem ou evoluem com a própria sociedade” Se não foi assim foi muito parecido. São já dez para as duas da manhã e além de estar a escrever não me apetece ir rever a tua triste intervenção novamente.

Inês, senhora deputada:

A tradição evolui quando a sociedade dela abdica e não quando parte da sociedade obriga a outra parte da mesma sociedade a renegar as suas origens. A renegar quem é. A renegar o que sente. A renegar o que gosta. Isso não é evolução. Isso é regressão. A regressão que o PAN defende. Regressão social, política e cultural.

Aquela regressão que levou André Silva a dizer que a sua visão de futuro era arte dentro do Campo Pequeno e artistas tauromáquicos algemados à porta.

E já que mencionou, mencionaste o CHEGA como defensor da tauromaquia, e bem, quem é afinal o populista e ditador perante uma frase destas?

O André Silva ou o André Ventura?

6º Argumento – sexta mentira – grosseira e vergonhosa:

Disseste tu Inês, disse a Senhora Deputada, que e cito “ Ainda só existem corridas de toiros porque ainda não desligámos o balão dos dinheiros públicos”

Inês, senhora deputada:

Quais dinheiros públicos?

Aqueles que nas últimas semanas vários meios de comunicação social nacionais vieram dizer que serviam para pagarem falsos recibos verdes a elementos do PAN?

Esses mesmos recibos que alegadamente segundo notícias veiculadas pela mesma imprensa causaram a debandada que está a acontecer no teu, no seu partido?

Atenção que eu, friso e deixo claro, não estou a dizer que isso tenha realmente acontecido. Longe de mim. Apenas estou a citar alegadas notícias de imprensa. Friso novamente. Alegadas notícias. Alegados acontecimentos.

Quais dinheiros públicos Inês? Quais dinheiros públicos, senhora deputada?

Aqueles que servem para te pagar, para lhe pagar o seu ordenado como deputada?

Esqueces-te Inês, esquece a senhora deputada, por acaso, que o teu, o seu ordenado, tanto é pago por um aficionado como por um não aficionado?

Vá lá. Respeitinho. Respeitinho e vergonha na cara. Exige-se. Deve-se.

E mais?

Se os houver?

A tauromaquia não é legal?

Não faz parte do ministério da cultura?

Os artistas e empresários não pagam impostos como qualquer cidadão pela sua actividade?

Então porque motivo devem ser iguais a todos os portugueses na hora de pagar mas não na hora de receber?

Vá lá Inês, vá lá senhora deputada.

Transparência nos debates;

Objectividade;

Consonância com a realidade.

7º Argumento – este não é mentira, é só cómico – ridículo – a pérola da noite:

Disseste, disse a senhora deputada, qualquer coisa como que se os aficionados gostam tanto dos toiros, podem sempre vê-lo no campo, nas lezírias, fazer, pasme-se, e em maiúsculas, SAFARIS.

Raios me partam. Raios, te, lhe, a partam a ti, si.

Ou raios nos partam aos dois.

A ti, si, pelos disparates que dizes, diz.

A mim porque te dedico a atenção que ao dizê-los não mereces, merece.

SAFARIS?

Para ver toiros de lide? No Ribatejo e Alentejo?

É assim mais ou menos a mesma coisa que criar aquários para ver gorilas. Talvez orangotangos dos que me parecem agora existir, vários, em S. Bento.

Por último:

8º Argumento – oitava mentira – ou não mentira

Se for mentira Inês, senhora deputada, cuidado, podes, pode, ser chamada aos tribunais portugueses para provares o que disseste, disse – se não for mentira, pecas Inês, peca senhora deputada, por junto das instâncias judiciais ainda não teres, ter, apresentado, provas do que dizes, diz, e isso para um cidadão seria mau, para uma deputada é gravíssimo.

Cito: “O Campo Pequeno tem sido um saco azul de dinheiros públicos”. Se não foi assim terá também sido muito parecida a tua frase.

Ora bem, Inês, ora bem, senhora deputada:

Sou aficionado mas acima de tudo sou português.

O amor que tenho à festa dos toiros não é em nada superior ao amor que sinto pelo meu país. E se a tauromaquia representar um foco de corrupção ou fraude que lese o meu país sou o primeiro a querer que tal se investigue.

Tudo isto na certeza de que se algo de fraudulento existir na tauromaquia, ou nalgum dos seus agentes, tal não representa a totalidade do sector nem da totalidade dos seus agentes.

Era a mesma coisa que caso se viesse a comprovar que alguém no PAN teria recebido realmente falsos recibos verdes (e repito, não estou a dizer ou sequer supor que houve), isso significasse que todos os elementos do PAN, incluindo tu, incluindo a senhora deputada, também os recebessem. (e não estou novamente sequer a admitir, cogitar ou sugerir essa possibilidade. É um mero exemplo)

Portanto Inês, portanto senhora deputada, desta vez passa.

Da próxima, cuidado que podes, que pode ser chamada a nas instâncias devidas ter de explicar com provas o que deixaste, deixou no ar.

Não por mim que sei o que é a política. Mas pode alguém ofender-se a sério. Isso poderia ser complicado.

Se tiveres, tiver, provas e razão do e no que disse, dar-te-ei, dar-lhe-ei senhora deputada, toda a razão.

Toda a razão e estarei a teu, a seu lado, na luta pelo descobrimento e punição de tais práticas. Se não tiveres, não tiver razão, tal por si só, poderá hipoteticamente representar também alguma prática criminal por falta de fundamento.

Ambos somos juristas. Ambos sabemos como são estas coisas.

Ambos somos pessoas de bem. Ambos não podemos atravessar certas linhas vermelhas.

Em suma porque já são duas e vinte da manhã:

Inês, senhora deputada, assume, assuma, assumam no PAN, que aquilo que pretendes, pretendem, é a abolição das corridas de toiros em Portugal.

Como não o conseguem, nem podem, fazer pela proibição por decreto, querem agora matá-la pela imposição do garrote das supostas limitações económicas ao sector. Como não podem simplesmente proibir a actividade para não ficarem politicamente com o rótulo de ditadores, querem tirar-lhe o oxigénio matando-a devagarinho por sufoco.

Assim como quem em vez de matar alguém de uma só vez por saber que é descoberto, envenena a pessoa devagarinho para que paulatinamente a conduza a uma aparente e disfarçada morte natural.

Vocês são inteligentes. Mas todos os demais não somos parvos.

Sabes Inês, sabe senhora deputada, não vais, não vão conseguir.

Ou para que tal aconteça, se alguma vez acontecer, prepara-te, preparem-se que as gentes do campo, as gentes aficionadas, não vão nesse dia respeitar esse mesmo acontecimento.

A que preço? Não sei!

Conflitos sociais?

Não os defendo! Não os aceito! Não os procuro! Não os quero! Muito menos os incentivo!

Mas cuidado. A paciência tem limites e a corda só estica até partir. Quando parte o coice é grande e o caminho, sem volta.

Que também tu, também a senhora deputada, não o queiras, não o queira.

Sabes Inês, sabe Senhora Deputada, tenho até genuína simpatia pessoal por ti, por si. Sei que nem tu acreditas, nem a senhora deputada acredita no que dizes, no que disse.

Simpatia que só por má-fé podes, pode a senhora deputada negar. Já nos encontrámos num debate televisivo, hoje estamos ambos em S. Bento e cruzamo-nos várias vezes por semana. Várias vezes ao dia nalgumas semanas. Julgo sermos os dois pessoas de bem. Mas neste debate deste má conta de ti.

Se não te conhecesse pensaria mal de ti.

Mas prepara-te porque pelos meus adversários tenho sempre o maior respeito e consideração, mas a mentirosos, nem que o sejam por momento ou contexto, só lhes guardo despeito e a acidez do meu fel pessoal e político.

Todos temos noites infelizes.

Um dia poderá ser a minha.

Hoje foi a tua.

Rodrigo Alves Taxa

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