'Portas tem caminho aberto para Belém' [vídeo]

21-03-2012
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Fundou o CDS, foi ministro da AD, serviu o Governo de Sócrates, apoiou Cavaco nas presidenciais e é vice da bancada do PS, como independente. Depois dos ataques do Presidente da República (PR) a Sócrates, Basílio Horta acha que Seguro não ficará ‘nas mesmas condições’.

Depois do ‘Prefácio’ de Cavaco Silva, sente-se desconfortável por ter apoiado o PS e ter votado no actual PR?

Não sinto. Fui leal ao Governo anterior, fui e sou amigo de José Sócrates. Em relação a Cavaco Silva, fui membro da sua comissão de honra porque entendi que era o mais bem preparado para ser PR. Lamento muito o que ele disse no prefácio dos ‘Roteiros’. Mais do que nunca tem de ser um elemento de coesão nacional e tem de ter os seus poderes políticos sem mácula, com capacidade de intervenção. Se achava que o primeiro-ministro lhe tinha sido desleal devia tê-lo demitido.

Tem um efeito no actual PS?

Sim. Não se pode ofender um homem que foi líder do PS e foi primeiro-ministro e esperar concertação. Foi um erro grave e que atinge fundo um partido essencial para que haja coesão política em Portugal.

Limita o actual líder do PS?

Com certeza. Seguro estava a ter uma relação com o PR quase exemplar. Mesmo quando a área política do Presidente o atacava, António José Seguro nunca o atacou, pelo contrário. Seguro não ficará nas mesmas condições.

Que efeito isto tem no interior do PS? Faz renascer a ala socrática?

Eu não sou militante do PS e prezo esta independência. Mas como observador posso dizer que o PR uniu o partido todo. A expressão ‘ala socrática’ não me diz nada. Se há uma ‘ala socrática’ não devia haver.

Voltaria a apoiar Cavaco Silva?

Não o poderia apoiar. Mas tenho pena. Sobretudo, porque não entendo estas declarações. O relacionamento institucional entre o PR e o Governo tem regras. Mesmo o actual primeiro-ministro não deve estar confortável, porque não sabe o que amanhã [Cavaco] pode dizer.

A liderança do PS tem evitado fazer a defesa do consulado de Sócrates?

A direcção do PS tem de falar do presente e do futuro. Quanto aos ataques a Sócrates, há ataques justos e temos que os aceitar, e temos que defender-nos dos injustos. Agora o PS não pode ter uma opção estratégica de defender o consulado de Sócrates. Porque isso era barricar-se. Era esquecer o dever de construir uma alternativa para o país.

António Costa esta semana admitiu a candidatura a qualquer cargo. Que importância isto tem?

Tenho uma alta consideração por António Costa. Ele sabe que tem um grande futuro político e por isso, em vez de estar atrás do biombo, diz o que pensa. É um grande presidente da Câmara de Lisboa e seria um excelente candidato presidencial. Ou outra coisa, no momento próprio.

Costa não fragiliza António José Seguro?

Acho que não. Nesta altura é devida a António José Seguro a lealdade de todos. Ele tem o direito de o pedir a todos, sem excepção: lealdade, compromisso e acção política coordenada. Quem tem ambição de ser líder tem a altura própria, que é a do congresso, e aí candidata-se. Não pode é questionar-se as pessoas enquanto estão em funções, isso tira credibilidade à acção política.

Seguro não devia estar mais atento à bancada do PS? Tendo presença regular nas reuniões?

Acho que toda a atenção que o António José Seguro der à bancada do PS é sempre pouca. E a presença é muito importante. A bancada tem gente com muito peso, tem um ex-líder, tem ex-ministros. Isso exige um diálogo muito cuidado. É fundamental que Seguro olhe para a bancada como sua e que esta olhe para Seguro como o seu secretário-geral.

Porque aceitou ser deputado pelo PS?

Porque não gosto de me desresponsabilizar, sabia que os tempos iam ser difíceis. E eu, que fui deputado da Assembleia Constituinte, queria participar na construção de uma alternativa a um modelo de sociedade errado, que é o deste Governo, um modelo que não é social-cristão.

O PS deve preparar-se para entrar no governo?

O PS não deve entrar em nenhum governo a não ser através de eleições. Os governos de salvação nacional acabam por afundar-se em vez de salvar. O PS deve funcionar como alternativa, na economia e na configuração do Estado Social e na forma de o pagar, através do desenvolvimento económico, do crescimento.

Esperando até 2015?

Não sei... Há sinais muito preocupantes, que podem ter efeitos imediatos. Em mais de 40 anos de vida pública nunca vi uma coisa destas. O investimento no último trimestre de 2011 desceu 24%. Especialistas dizem que a recessão pode chegar aos 4%. Será muito complicado...

O Governo tem maioria na AR...

Sim. Mas, até quando é que as pessoas aguentam isto? Como é que se chega até 2015 assim? As maiorias às vezes fazem-se nos parlamentos, mas desfazem-se nos partidos. Esta crise profunda cria uma pressão muito grande no partidos que constituem o Governo.

Antecipa que no PSD e no CDS haja desentendimentos?

Julgo que muita gente no PSD e no CDS não pode aceitar uma política com estes resultados. A sopa dos pobres tem cada vez mais gente, há famílias da classe média que entregam as casas. Se houver pessoas no PSD e no CDS que virem que esta política não tem saída e forem responsáveis têm que se interrogar.

O novo Código do Trabalho facilita os despedimentos. O PS deve votar a favor?

O meu voto não pode ser favorável. O novo modelo de despedimento por inadaptação liberaliza os despedimentos. Não se pode, numa crise destas, liberalizar despedimentos, baixar as indemnizações e o subsídio de desemprego.

Paulo Portas faz um bom trabalho no MNE?

Ele está a dedicar-se muito à diplomacia económica, e bem. Mas há uma crítica que lhe faço: na União Europeia temos muito o ministro das Finanças e pouco o Ministro dos Negócios Estrangeiros.

O CDS está a sair-se melhor neste Governo porque se libertou do complexo de ter ser leal?

A verdade é que o líder do CDS é o político português mais popular. É um feito fantástico, sendo membro de um governo que tem imposto a maior austeridade que o país conheceu. Até parece que tem caminho aberto para ser candidato presidencial. Isso não me espantaria, conhecendo-o. Será que a vida dele é ser número dois de qualquer líder do PSD? É natural que pense no seu futuro.

Acredita que o CDS cresça à custa do PSD nas próximas eleições?

Não acredito muito. Diz-se sempre isso, nas últimas eleições também. Porque Passos era desconhecido, dizia-se que o CDS teria 15%, acabou em 11%. O CDS, desde a sua fundação tem tido um pequeno problema. No velho CDS, o PSD estava à nossa direita e à nossa esquerda e nós estávamos ali no meio. Quando ele ‘fechava as pernas’ esmagava-nos. Depois o CDS passou a ser o PP, de direita, populista. Subiu um bocadinho mas não mudou nada. Mais tarde, Portas, no regresso ao CDS, quis voltar às raízes – fez bem – , mas continuámos a ter entre 10 e 11 por cento. Não creio que saiamos muito daí.

manuel.a.mgalhaes@sol.pt

Fundou o CDS, foi ministro da AD, serviu o Governo de Sócrates, apoiou Cavaco nas presidenciais e é vice da bancada do PS, como independente. Depois dos ataques do Presidente da República (PR) a Sócrates, Basílio Horta acha que Seguro não ficará ‘nas mesmas condições’.

Depois do ‘Prefácio’ de Cavaco Silva, sente-se desconfortável por ter apoiado o PS e ter votado no actual PR?

Não sinto. Fui leal ao Governo anterior, fui e sou amigo de José Sócrates. Em relação a Cavaco Silva, fui membro da sua comissão de honra porque entendi que era o mais bem preparado para ser PR. Lamento muito o que ele disse no prefácio dos ‘Roteiros’. Mais do que nunca tem de ser um elemento de coesão nacional e tem de ter os seus poderes políticos sem mácula, com capacidade de intervenção. Se achava que o primeiro-ministro lhe tinha sido desleal devia tê-lo demitido.

Tem um efeito no actual PS?

Sim. Não se pode ofender um homem que foi líder do PS e foi primeiro-ministro e esperar concertação. Foi um erro grave e que atinge fundo um partido essencial para que haja coesão política em Portugal.

Limita o actual líder do PS?

Com certeza. Seguro estava a ter uma relação com o PR quase exemplar. Mesmo quando a área política do Presidente o atacava, António José Seguro nunca o atacou, pelo contrário. Seguro não ficará nas mesmas condições.

Que efeito isto tem no interior do PS? Faz renascer a ala socrática?

Eu não sou militante do PS e prezo esta independência. Mas como observador posso dizer que o PR uniu o partido todo. A expressão ‘ala socrática’ não me diz nada. Se há uma ‘ala socrática’ não devia haver.

Voltaria a apoiar Cavaco Silva?

Não o poderia apoiar. Mas tenho pena. Sobretudo, porque não entendo estas declarações. O relacionamento institucional entre o PR e o Governo tem regras. Mesmo o actual primeiro-ministro não deve estar confortável, porque não sabe o que amanhã [Cavaco] pode dizer.

A liderança do PS tem evitado fazer a defesa do consulado de Sócrates?

A direcção do PS tem de falar do presente e do futuro. Quanto aos ataques a Sócrates, há ataques justos e temos que os aceitar, e temos que defender-nos dos injustos. Agora o PS não pode ter uma opção estratégica de defender o consulado de Sócrates. Porque isso era barricar-se. Era esquecer o dever de construir uma alternativa para o país.

António Costa esta semana admitiu a candidatura a qualquer cargo. Que importância isto tem?

Tenho uma alta consideração por António Costa. Ele sabe que tem um grande futuro político e por isso, em vez de estar atrás do biombo, diz o que pensa. É um grande presidente da Câmara de Lisboa e seria um excelente candidato presidencial. Ou outra coisa, no momento próprio.

Costa não fragiliza António José Seguro?

Acho que não. Nesta altura é devida a António José Seguro a lealdade de todos. Ele tem o direito de o pedir a todos, sem excepção: lealdade, compromisso e acção política coordenada. Quem tem ambição de ser líder tem a altura própria, que é a do congresso, e aí candidata-se. Não pode é questionar-se as pessoas enquanto estão em funções, isso tira credibilidade à acção política.

Seguro não devia estar mais atento à bancada do PS? Tendo presença regular nas reuniões?

Acho que toda a atenção que o António José Seguro der à bancada do PS é sempre pouca. E a presença é muito importante. A bancada tem gente com muito peso, tem um ex-líder, tem ex-ministros. Isso exige um diálogo muito cuidado. É fundamental que Seguro olhe para a bancada como sua e que esta olhe para Seguro como o seu secretário-geral.

Porque aceitou ser deputado pelo PS?

Porque não gosto de me desresponsabilizar, sabia que os tempos iam ser difíceis. E eu, que fui deputado da Assembleia Constituinte, queria participar na construção de uma alternativa a um modelo de sociedade errado, que é o deste Governo, um modelo que não é social-cristão.

O PS deve preparar-se para entrar no governo?

O PS não deve entrar em nenhum governo a não ser através de eleições. Os governos de salvação nacional acabam por afundar-se em vez de salvar. O PS deve funcionar como alternativa, na economia e na configuração do Estado Social e na forma de o pagar, através do desenvolvimento económico, do crescimento.

Esperando até 2015?

Não sei... Há sinais muito preocupantes, que podem ter efeitos imediatos. Em mais de 40 anos de vida pública nunca vi uma coisa destas. O investimento no último trimestre de 2011 desceu 24%. Especialistas dizem que a recessão pode chegar aos 4%. Será muito complicado...

O Governo tem maioria na AR...

Sim. Mas, até quando é que as pessoas aguentam isto? Como é que se chega até 2015 assim? As maiorias às vezes fazem-se nos parlamentos, mas desfazem-se nos partidos. Esta crise profunda cria uma pressão muito grande no partidos que constituem o Governo.

Antecipa que no PSD e no CDS haja desentendimentos?

Julgo que muita gente no PSD e no CDS não pode aceitar uma política com estes resultados. A sopa dos pobres tem cada vez mais gente, há famílias da classe média que entregam as casas. Se houver pessoas no PSD e no CDS que virem que esta política não tem saída e forem responsáveis têm que se interrogar.

O novo Código do Trabalho facilita os despedimentos. O PS deve votar a favor?

O meu voto não pode ser favorável. O novo modelo de despedimento por inadaptação liberaliza os despedimentos. Não se pode, numa crise destas, liberalizar despedimentos, baixar as indemnizações e o subsídio de desemprego.

Paulo Portas faz um bom trabalho no MNE?

Ele está a dedicar-se muito à diplomacia económica, e bem. Mas há uma crítica que lhe faço: na União Europeia temos muito o ministro das Finanças e pouco o Ministro dos Negócios Estrangeiros.

O CDS está a sair-se melhor neste Governo porque se libertou do complexo de ter ser leal?

A verdade é que o líder do CDS é o político português mais popular. É um feito fantástico, sendo membro de um governo que tem imposto a maior austeridade que o país conheceu. Até parece que tem caminho aberto para ser candidato presidencial. Isso não me espantaria, conhecendo-o. Será que a vida dele é ser número dois de qualquer líder do PSD? É natural que pense no seu futuro.

Acredita que o CDS cresça à custa do PSD nas próximas eleições?

Não acredito muito. Diz-se sempre isso, nas últimas eleições também. Porque Passos era desconhecido, dizia-se que o CDS teria 15%, acabou em 11%. O CDS, desde a sua fundação tem tido um pequeno problema. No velho CDS, o PSD estava à nossa direita e à nossa esquerda e nós estávamos ali no meio. Quando ele ‘fechava as pernas’ esmagava-nos. Depois o CDS passou a ser o PP, de direita, populista. Subiu um bocadinho mas não mudou nada. Mais tarde, Portas, no regresso ao CDS, quis voltar às raízes – fez bem – , mas continuámos a ter entre 10 e 11 por cento. Não creio que saiamos muito daí.

manuel.a.mgalhaes@sol.pt

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