Duelo verbal com solução adiada para a Palestina

24-09-2011
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Os líderes palestiniano e israelita foram simultaneamente acusador e réu na Assembleia Geral da ONU. Quarteto espera reiniciar negociações directas dentro de um mês

"Os nossos destinos estão interligados", disse ontem o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, referindo-se ao presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. Abbas e Netanyahu discursaram ontem na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, separados por meia hora de intervalo, no que pareceu uma sessão de tribunal em que os dois líderes foram simultaneamente acusador e réu. Os dois falaram durante 40 minutos. Os dois defenderam as suas respectivas posições. Os dois trocaram acusações. Os dois fizeram críticas às Nações Unidas. Os dois disseram estar abertos ao diálogo.

Netanyahu notou que ambos tinham viajado milhares de quilómetros até Nova Iorque. "Estamos na mesma cidade. Estamos no mesmo edifício. Por que não nos encontramos hoje nas Nações Unidas? O que é que nos pode impedir?"

Mas quando Netanyahu, que falou depois de Abbas, terminou o seu discurso, a perspectiva de um reinício das negociações continuou a ser um ponto de interrogação. Hora e meia depois, a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, anunciou numa conferência de imprensa que o Quarteto tinha ultimado uma declaração que prevê que Israel e a Palestina possam retomar negociações no prazo de um mês. "Esperemos que as duas partes reajam positivamente", disse.

Abbas discursou primeiro, e o anúncio da sua intervenção causou uma longa ovação na sala da Assembleia Geral, prova de que a maioria da comunidade internacional é favorável ao reconhecimento de um Estado Palestiniano; estima-se que entre 120 e 130 países-membros das Nações Unidas apoiem a "questão palestiniana".

Netanyahu teve uma recepção mais fria, o que não terá sido uma surpresa para o próprio: o líder israelita descreveu as Nações Unidas como "um teatro do absurdo", em que o seu país costuma ser visto como "o vilão". Abbas criticou a complacência das Nações Unidas para com Israel; Netanyahu argumentou que Israel, "a única verdadeira democracia no Médio Oriente", é alvo de condenações "injustas" por parte das Nações Unidas "ano após ano" e "mais do que todas as nações do mundo combinadas". Abbas acusou Israel de intransigência. Netanyahu acusou a Palestina de intransigência. "No último ano, não deixámos nenhuma porta por bater, nem nenhum caminho por percorrer", disse Abbas, mas todos "os esforços sinceros" dos mediadores internacionais "foram repetidamente arruinados pelas posições do Governo israelita". Netanyahu: "Os palestinianos simplesmente recusam negociar connosco".

"Evitar solução forçada"

Nenhum estava presente na sala quando o outro discursou mas, para todos os efeitos, os seus discursos foram um duelo verbal.

Netanyahu defendeu que o reconhecimento de um Estado palestiniano só poderá resultar de negociações directas entre ambos. "Os palestinianos devem primeiro fazer a paz com Israel e só depois obter o seu Estado. Seremos os primeiros a dar-lhes as boas-vindas", disse.

Abbas afirmou-se pronto a retomar negociações desde que Israel terminasse a construção de colonatos em território palestiniano. Netanyahu notou que foi o "único primeiro-ministro" israelita que alguma vez suspendeu a construção de colonatos, mas que isso não teve retorno do lado palestiniano.

Abbas referiu-se à Primavera Árabe, dizendo que "é chegado o momento para uma Primavera palestiniana". O seu discurso foi repetidamente aplaudido, mas a maior ovação ocorreu quando exibiu uma cópia do pedido formal de reconhecimento do Estado palestiniano enquanto membro das Nações Unidas, que entregara pouco antes ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. E Abbas sorriu. "Não acredito que alguém com um rasgo de consciência possa rejeitar a nossa candidatura a membro pleno das Nações Unidas", disse.

O texto do Quarteto de mediação para o Médio Oriente - composto pela União Europeia, Estados Unidos, Rússia e ONU - não é ainda conhecido, mas Catherine Ashton esclareceu ontem que ele não se refere aos aspectos mais polémicos que Israel e Palestina exigiam como pré-condições - o reconhecimento de Israel como Estado judaico no primeiro caso, e a suspensão da construção de colonatos no segundo. A proposta prevê que as suas partes se encontrem dentro de um mês para estabelecer um calendário e método de negociações. O objectivo é chegar a um acordo definitivo até ao final de 2012.

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A proposta do Quarteto precipitou uma sequência de conferencias de imprensa: Ashton, Tony Blair e Hillary Clinton. O Quarteto espera conseguir obter o reinício de negociações antes que o pedido de adesão da Palestina às Nações Unidas seja votado pelo Conselho de Segurança. A candidatura precisa de nove votos favoráveis - e nenhum veto - para ser aprovada, mas antes disso terá de ser avaliada por um comité técnico, um processo que pode demorar semanas ou meses.

Seis membros do órgão máximo da ONU já declaram publicamente que votarão a favor da Palestina: China, Rússia, Brasil, Índia, Líbano e África do Sul. Portugal, que é membro não-permanente do Conselho de Segurança até ao final do próximo ano, não declarou a sua intenção de voto, mas ontem em Nova Iorque, à saída do encontro bilateral com Abbas, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho declarou aos jornalistas que era favorável ao reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral enquanto Estado observador não-membro, um estatuto idêntico ao do Vaticano. "Seria de evitar uma solução forçada relativamente ao Conselho de Segurança", afirmou.

Os líderes palestiniano e israelita foram simultaneamente acusador e réu na Assembleia Geral da ONU. Quarteto espera reiniciar negociações directas dentro de um mês

"Os nossos destinos estão interligados", disse ontem o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, referindo-se ao presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. Abbas e Netanyahu discursaram ontem na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, separados por meia hora de intervalo, no que pareceu uma sessão de tribunal em que os dois líderes foram simultaneamente acusador e réu. Os dois falaram durante 40 minutos. Os dois defenderam as suas respectivas posições. Os dois trocaram acusações. Os dois fizeram críticas às Nações Unidas. Os dois disseram estar abertos ao diálogo.

Netanyahu notou que ambos tinham viajado milhares de quilómetros até Nova Iorque. "Estamos na mesma cidade. Estamos no mesmo edifício. Por que não nos encontramos hoje nas Nações Unidas? O que é que nos pode impedir?"

Mas quando Netanyahu, que falou depois de Abbas, terminou o seu discurso, a perspectiva de um reinício das negociações continuou a ser um ponto de interrogação. Hora e meia depois, a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, anunciou numa conferência de imprensa que o Quarteto tinha ultimado uma declaração que prevê que Israel e a Palestina possam retomar negociações no prazo de um mês. "Esperemos que as duas partes reajam positivamente", disse.

Abbas discursou primeiro, e o anúncio da sua intervenção causou uma longa ovação na sala da Assembleia Geral, prova de que a maioria da comunidade internacional é favorável ao reconhecimento de um Estado Palestiniano; estima-se que entre 120 e 130 países-membros das Nações Unidas apoiem a "questão palestiniana".

Netanyahu teve uma recepção mais fria, o que não terá sido uma surpresa para o próprio: o líder israelita descreveu as Nações Unidas como "um teatro do absurdo", em que o seu país costuma ser visto como "o vilão". Abbas criticou a complacência das Nações Unidas para com Israel; Netanyahu argumentou que Israel, "a única verdadeira democracia no Médio Oriente", é alvo de condenações "injustas" por parte das Nações Unidas "ano após ano" e "mais do que todas as nações do mundo combinadas". Abbas acusou Israel de intransigência. Netanyahu acusou a Palestina de intransigência. "No último ano, não deixámos nenhuma porta por bater, nem nenhum caminho por percorrer", disse Abbas, mas todos "os esforços sinceros" dos mediadores internacionais "foram repetidamente arruinados pelas posições do Governo israelita". Netanyahu: "Os palestinianos simplesmente recusam negociar connosco".

"Evitar solução forçada"

Nenhum estava presente na sala quando o outro discursou mas, para todos os efeitos, os seus discursos foram um duelo verbal.

Netanyahu defendeu que o reconhecimento de um Estado palestiniano só poderá resultar de negociações directas entre ambos. "Os palestinianos devem primeiro fazer a paz com Israel e só depois obter o seu Estado. Seremos os primeiros a dar-lhes as boas-vindas", disse.

Abbas afirmou-se pronto a retomar negociações desde que Israel terminasse a construção de colonatos em território palestiniano. Netanyahu notou que foi o "único primeiro-ministro" israelita que alguma vez suspendeu a construção de colonatos, mas que isso não teve retorno do lado palestiniano.

Abbas referiu-se à Primavera Árabe, dizendo que "é chegado o momento para uma Primavera palestiniana". O seu discurso foi repetidamente aplaudido, mas a maior ovação ocorreu quando exibiu uma cópia do pedido formal de reconhecimento do Estado palestiniano enquanto membro das Nações Unidas, que entregara pouco antes ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. E Abbas sorriu. "Não acredito que alguém com um rasgo de consciência possa rejeitar a nossa candidatura a membro pleno das Nações Unidas", disse.

O texto do Quarteto de mediação para o Médio Oriente - composto pela União Europeia, Estados Unidos, Rússia e ONU - não é ainda conhecido, mas Catherine Ashton esclareceu ontem que ele não se refere aos aspectos mais polémicos que Israel e Palestina exigiam como pré-condições - o reconhecimento de Israel como Estado judaico no primeiro caso, e a suspensão da construção de colonatos no segundo. A proposta prevê que as suas partes se encontrem dentro de um mês para estabelecer um calendário e método de negociações. O objectivo é chegar a um acordo definitivo até ao final de 2012.

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A proposta do Quarteto precipitou uma sequência de conferencias de imprensa: Ashton, Tony Blair e Hillary Clinton. O Quarteto espera conseguir obter o reinício de negociações antes que o pedido de adesão da Palestina às Nações Unidas seja votado pelo Conselho de Segurança. A candidatura precisa de nove votos favoráveis - e nenhum veto - para ser aprovada, mas antes disso terá de ser avaliada por um comité técnico, um processo que pode demorar semanas ou meses.

Seis membros do órgão máximo da ONU já declaram publicamente que votarão a favor da Palestina: China, Rússia, Brasil, Índia, Líbano e África do Sul. Portugal, que é membro não-permanente do Conselho de Segurança até ao final do próximo ano, não declarou a sua intenção de voto, mas ontem em Nova Iorque, à saída do encontro bilateral com Abbas, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho declarou aos jornalistas que era favorável ao reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral enquanto Estado observador não-membro, um estatuto idêntico ao do Vaticano. "Seria de evitar uma solução forçada relativamente ao Conselho de Segurança", afirmou.

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