O “silêncio” de Ferreira Leite

09-07-2011
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Augusto Santos Silva, Ministro dos Assuntos Parlamentares, respondeu a um artigo de Manuela Ferreira Leite no Expresso, no qual a líder do PSD criticava o “inaceitável silêncio” do Governo acerca do “alarmante aumento da criminalidade” em Portugal. Santos Silva diz que esta afirmação da líder laranja “encerra uma ironia singular porque se aplica que nem uma luva à sua própria atitude”. Se não fosse pelo tom exagaderamente pomposo das palavras de Santos Silva, eu sentir-me-ia tentado a dizer que se há afirmação que “encerra uma ironia singular”, é a do ministro socialista: Santos Silva respondeu a um artigo de Ferreira Leite no Expresso. Ferreira Leite escreve uma coluna regular nesse jornal. Ora, se o que ela lá escreve é, para Santos Silva, merecedor de resposta, é porque constitui uma tomada de posição da líder laranja. Assim, a coluna de Ferreira Leite no Expresso, que desde que ela se tornou líder ainda não foi interrompida, “conta” enquanto veículo de afirmação das suas opiniões políticas. Ao longo de todos estes meses, Manuela Ferreira Leite manteve-se tudo menos “silenciosa”, e a própria existência das declarações de Santos Silva são uma prova de que esse é um mito que não corresponde à realidade.

Para além dessa coluna no Expresso, na qual já por várias vezes defendeu uma redefinição das funções do Estado, Ferreira Leite já fez várias intervenções públicas, com entrevistas e conferências de imprensa, quando julgou necessário e importante fazê-las. E já vários dos membros da sua direcção (os jornalistas esquecem-se que o PSD não é o CDS e Ferreira Leite não é Portas, existe mais gente no partido e Ferreira Leite parece querer que essas pessoas sejam tão visíveis como ela) vieram a público com declarações sobre qual deverá ser o rumo do partido nos próximos tempos. Percebe-se por que razão Santos Silva ou Menezes insistem em afirmar algo que não corresponde à realidade: interessa-lhes danificar a percepção pública de Ferreira Leite. Mais estranha é a insistência com que os jornalistas se referem ao tal “silêncio”. Claro que os jornalistas dirão que as colunas do Expresso não “contam”, que as entrevistas e conferências de imprensa foram “poucas”, e que declarações de subalternos não têm o mesmo “impacto”. Mas é aqui que fica evidente o que incomoda os senhores jornalistas no suposto “silêncio” de Ferreira Leite: não é o facto de ela não “falar”, mas o facto de ela falar quando ela quer, como ela quer e onde ela quer, e não se sujeitar ao “calendário mediático” que os senhores jornalistas gostariam de lhe impôr, e ao qual todos os outros políticos (talvez à excepção de Jerónimo de Sousa) se submetem sem pestanejar.

No entanto, Manuela Ferreira Leite tem de ter cuidado com a forma como esta “narrativa” do seu suposto “silêncio” se está a propagar na comunicação social. Porque “propagar” é o termo certo: alguém começou por fazer referências ao “silêncio”, e como uma gripe, essa ideia “pegou-se” à comunicação social em geral. O perigo para Ferreira Leite é que a “epidemia” alastre à opinião pública em geral, afectando a confiança dos eleitores na sua pessoa. Porque o facto de essa “narrativa” não corresponder à realidade não impede que ela se torne um problema. Ferreira Leite poderá conseguir “dar-lhe a volta”: pode ser que os eleitores, mesmo acreditando nessa falsa “narrativa” do “silêncio” de Ferreira Leite, depositem a sua confiança nela, se o “silêncio” for algo que valorizem (fartos de assistirem a políticos que “só sabem dizer mal”, podem sentir-se atraídos por um político acerca de quem tenham a percepção de que não tem esse comportamento); ou pode ser que o português comum consiga perceber como a “narrativa” do “silêncio” é falsa, e a “epidemia” fique restrita à quarentena das redacções dos jornais e das televisões. Mas só facto de ela existir faz com que seja sempre um problema, um problema que Manuela Ferreira Leite terá forçosamente de ultrapassar.

Augusto Santos Silva, Ministro dos Assuntos Parlamentares, respondeu a um artigo de Manuela Ferreira Leite no Expresso, no qual a líder do PSD criticava o “inaceitável silêncio” do Governo acerca do “alarmante aumento da criminalidade” em Portugal. Santos Silva diz que esta afirmação da líder laranja “encerra uma ironia singular porque se aplica que nem uma luva à sua própria atitude”. Se não fosse pelo tom exagaderamente pomposo das palavras de Santos Silva, eu sentir-me-ia tentado a dizer que se há afirmação que “encerra uma ironia singular”, é a do ministro socialista: Santos Silva respondeu a um artigo de Ferreira Leite no Expresso. Ferreira Leite escreve uma coluna regular nesse jornal. Ora, se o que ela lá escreve é, para Santos Silva, merecedor de resposta, é porque constitui uma tomada de posição da líder laranja. Assim, a coluna de Ferreira Leite no Expresso, que desde que ela se tornou líder ainda não foi interrompida, “conta” enquanto veículo de afirmação das suas opiniões políticas. Ao longo de todos estes meses, Manuela Ferreira Leite manteve-se tudo menos “silenciosa”, e a própria existência das declarações de Santos Silva são uma prova de que esse é um mito que não corresponde à realidade.

Para além dessa coluna no Expresso, na qual já por várias vezes defendeu uma redefinição das funções do Estado, Ferreira Leite já fez várias intervenções públicas, com entrevistas e conferências de imprensa, quando julgou necessário e importante fazê-las. E já vários dos membros da sua direcção (os jornalistas esquecem-se que o PSD não é o CDS e Ferreira Leite não é Portas, existe mais gente no partido e Ferreira Leite parece querer que essas pessoas sejam tão visíveis como ela) vieram a público com declarações sobre qual deverá ser o rumo do partido nos próximos tempos. Percebe-se por que razão Santos Silva ou Menezes insistem em afirmar algo que não corresponde à realidade: interessa-lhes danificar a percepção pública de Ferreira Leite. Mais estranha é a insistência com que os jornalistas se referem ao tal “silêncio”. Claro que os jornalistas dirão que as colunas do Expresso não “contam”, que as entrevistas e conferências de imprensa foram “poucas”, e que declarações de subalternos não têm o mesmo “impacto”. Mas é aqui que fica evidente o que incomoda os senhores jornalistas no suposto “silêncio” de Ferreira Leite: não é o facto de ela não “falar”, mas o facto de ela falar quando ela quer, como ela quer e onde ela quer, e não se sujeitar ao “calendário mediático” que os senhores jornalistas gostariam de lhe impôr, e ao qual todos os outros políticos (talvez à excepção de Jerónimo de Sousa) se submetem sem pestanejar.

No entanto, Manuela Ferreira Leite tem de ter cuidado com a forma como esta “narrativa” do seu suposto “silêncio” se está a propagar na comunicação social. Porque “propagar” é o termo certo: alguém começou por fazer referências ao “silêncio”, e como uma gripe, essa ideia “pegou-se” à comunicação social em geral. O perigo para Ferreira Leite é que a “epidemia” alastre à opinião pública em geral, afectando a confiança dos eleitores na sua pessoa. Porque o facto de essa “narrativa” não corresponder à realidade não impede que ela se torne um problema. Ferreira Leite poderá conseguir “dar-lhe a volta”: pode ser que os eleitores, mesmo acreditando nessa falsa “narrativa” do “silêncio” de Ferreira Leite, depositem a sua confiança nela, se o “silêncio” for algo que valorizem (fartos de assistirem a políticos que “só sabem dizer mal”, podem sentir-se atraídos por um político acerca de quem tenham a percepção de que não tem esse comportamento); ou pode ser que o português comum consiga perceber como a “narrativa” do “silêncio” é falsa, e a “epidemia” fique restrita à quarentena das redacções dos jornais e das televisões. Mas só facto de ela existir faz com que seja sempre um problema, um problema que Manuela Ferreira Leite terá forçosamente de ultrapassar.

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