Clube de Reflexão Política: Ascenso Simões: Cazzola e a esquerda

03-07-2011
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"Provocado, há poucos dias, pelo Clube de Política “ A Linha”, fui recuperar Franco Cazzola, num texto a que deu o nome “O que resta da Esquerda – mitos e realidades das esquerdas no Governo”. Não me arrependi de o ter relido, mas não foi alegre a forma como essa leitura foi feita.
Em boa verdade, Cazzola traz-nos à luz uma realidade inconveniente e diz-nos que o problema da esquerda é a existência de muitas esquerdas; Enquanto que a direita se fundeou numa visão de negação do Estado e, por isso, foi abjurando uma certa perspectiva social, que a doutrina social da igreja nos dava.
O título do livro não poderia ser mais desmotivador – o que resta da esquerda. Leva-nos, no imediato, ao passado e à perda, numa visão que pode ser considerada como uma derrota. São, aliás, estas formas de trazer o pensamento, tristes e prostradas, que fazem com que haja cada vez menos gente a querer discutir política pelo lado não politicamente correcto…
O texto parte de uma análise empírica, do que foi acontecendo na Europa desde a segunda grande guerra. A forma como nos oferece as razões das políticas e as relaciona com os projectos desenvolvidos em cada país, é mais um conjunto de dados do que a base para uma leitura conclusiva. Nem as predisposições, para a identificação das diferenças entre governos, são suficientemente sólidas para uma conclusão absoluta.
O mais interessante é a forma como Cazzola analisa cada acção governativa perante os recursos financeiros que tinha em mãos e perante a realidade de cada país. Aí se pode constatar que é um erro identificar um governo de esquerda que seja, que tenha sido, clinicamente puro, perante a acção concreta.
Ouvi há dias o politólogo André Freire dizer que importa reunir todas as esquerdas num só projecto. Cazzola responde a Freire dizendo que isso não é possível. Há uma esquerda democrática que assume a economia de mercado e o papel social do Estado, que não é compatível com uma esquerda que assenta na luta de classes, na visão intervencionista do Estado e rejeita o esforço para a consagração de uma união democrática na Europa.
Vieira da Silva, numa acção que a Fundação F. Erbert promoveu recentemente, não conseguiu encontrar as razões para a decepção que existe hoje, perante a incapacidade da esquerda encontrar um roteiro político.
A esquerda tem muitos e velhos problemas a que não consegue dar resposta. Como conseguir uma economia florescente com um estado de equidade e justiça social? Como conseguir resolver o problema demográfico compatibilizando-o com os novos conceitos de família? Como resolver o problema da imigração sem encontrar uma linha de acção no âmbito da segurança interna? Como assumir políticas nacionais num mundo sem governação global? E muitas outras questões nos tolhem…
Há aqui um caminho a seguir. Esse caminho é o de se reinventar uma outra forma de ter presente o Estado na vida das pessoas. Durante os anos 70, 80 e parte dos anos 90 do século passado, os partidos da esquerda democrática invernaram perante o liberalismo feroz de Reagan e Thatcher. Depois disso a Teceira Via conseguiu uma década de compromissos. Muito criticada foi… Talvez a esquerda democrática seja obrigada, por agora, a esperar, para se conseguir reinventar. Talvez! Mas que o faça com alegria e com esperança, porque há por aí, muito “velho do Restelo”, vencido na vida e sem uma palavra de futuro…"
in http://www.correioregistado.com/?p=1075


"Provocado, há poucos dias, pelo Clube de Política “ A Linha”, fui recuperar Franco Cazzola, num texto a que deu o nome “O que resta da Esquerda – mitos e realidades das esquerdas no Governo”. Não me arrependi de o ter relido, mas não foi alegre a forma como essa leitura foi feita.
Em boa verdade, Cazzola traz-nos à luz uma realidade inconveniente e diz-nos que o problema da esquerda é a existência de muitas esquerdas; Enquanto que a direita se fundeou numa visão de negação do Estado e, por isso, foi abjurando uma certa perspectiva social, que a doutrina social da igreja nos dava.
O título do livro não poderia ser mais desmotivador – o que resta da esquerda. Leva-nos, no imediato, ao passado e à perda, numa visão que pode ser considerada como uma derrota. São, aliás, estas formas de trazer o pensamento, tristes e prostradas, que fazem com que haja cada vez menos gente a querer discutir política pelo lado não politicamente correcto…
O texto parte de uma análise empírica, do que foi acontecendo na Europa desde a segunda grande guerra. A forma como nos oferece as razões das políticas e as relaciona com os projectos desenvolvidos em cada país, é mais um conjunto de dados do que a base para uma leitura conclusiva. Nem as predisposições, para a identificação das diferenças entre governos, são suficientemente sólidas para uma conclusão absoluta.
O mais interessante é a forma como Cazzola analisa cada acção governativa perante os recursos financeiros que tinha em mãos e perante a realidade de cada país. Aí se pode constatar que é um erro identificar um governo de esquerda que seja, que tenha sido, clinicamente puro, perante a acção concreta.
Ouvi há dias o politólogo André Freire dizer que importa reunir todas as esquerdas num só projecto. Cazzola responde a Freire dizendo que isso não é possível. Há uma esquerda democrática que assume a economia de mercado e o papel social do Estado, que não é compatível com uma esquerda que assenta na luta de classes, na visão intervencionista do Estado e rejeita o esforço para a consagração de uma união democrática na Europa.
Vieira da Silva, numa acção que a Fundação F. Erbert promoveu recentemente, não conseguiu encontrar as razões para a decepção que existe hoje, perante a incapacidade da esquerda encontrar um roteiro político.
A esquerda tem muitos e velhos problemas a que não consegue dar resposta. Como conseguir uma economia florescente com um estado de equidade e justiça social? Como conseguir resolver o problema demográfico compatibilizando-o com os novos conceitos de família? Como resolver o problema da imigração sem encontrar uma linha de acção no âmbito da segurança interna? Como assumir políticas nacionais num mundo sem governação global? E muitas outras questões nos tolhem…
Há aqui um caminho a seguir. Esse caminho é o de se reinventar uma outra forma de ter presente o Estado na vida das pessoas. Durante os anos 70, 80 e parte dos anos 90 do século passado, os partidos da esquerda democrática invernaram perante o liberalismo feroz de Reagan e Thatcher. Depois disso a Teceira Via conseguiu uma década de compromissos. Muito criticada foi… Talvez a esquerda democrática seja obrigada, por agora, a esperar, para se conseguir reinventar. Talvez! Mas que o faça com alegria e com esperança, porque há por aí, muito “velho do Restelo”, vencido na vida e sem uma palavra de futuro…"
in http://www.correioregistado.com/?p=1075

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