Densidades, vacuidades e preconceitos

20-07-2011
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Para os inspectores desta ASAE, o António José Seguro ganha, se não por KO, pelo menos aos pontos ao Francisco Assis

Como seria saudavelmente de esperar, a eleição do próximo secretário-geral do Partido Socialista tem despertado o interesse de muitos que não apenas o dos seus militantes ou mesmo simpatizantes. Fora deste universo já muitos se fizeram igualmente ouvir, reflectindo aqui e acolá sobre os desafios políticos que se colocarão nos tempos próximos ao PS, mas essencialmente comentando os méritos e os deméritos dos candidatos.

Salvo uma outra honrosa excepção, poucos têm sido aqueles capazes de dobrarem a curva de umas quantas generalidades fáceis, ditas em tom mais ou menos sofisticado, mas quase sempre afunilando para um mero exercício avaliativo sobre a qualidade dos candidatos, quais ASAE da nossa vida política.

Confesso que é pouco, sabe a pouco, mas não é de todo surpreendente. Não deixa de ser curioso, quase mesmo ridiculamente divertido, assistir a tão preguiçosos, costumeiros e cansativos discursos. Hoje com lugar cativo em diversos palcos (ou como agora se diz uma produção de conteúdos para multicanal), mais não são, eles próprios, do que densíssimas vacuidades, pasme-se, sobre precisamente a pretensa falta de espessura, qualidade e de exigência que os candidatos emprestam à construção das suas propostas políticas.

Mas chegados aqui uma nota de justiça se impõe: neste capítulo, para os inspectores desta ASAE, o António José Seguro ganha, se não por KO, pelo menos aos pontos ao Francisco Assis. Se Assis ainda é poupado (mesmo que por vezes se torne evidente que apenas e só para uma adjectivação mais colorida de A.J.S.) já Seguro, é certo e sabido, não passa, segundo estes, de um mero produto aparelhístico partidário.

E aqui entramos no terreno do puro preconceito e dos equívocos. Preconceito, desde logo, na forma como se procura desvalorizar quem legitimamente optou por uma vida profissional feita na e para a política. Decidamo-nos: ora nos queixamos de que são poucos os que hoje se disponibilizam para vida política (porque será?), reduzindo de imediato esses poucos à categoria de meros carreiristas; ora, estamos sempre prontos a desconfiar da pureza das motivações dos que tendo feito vida profissional fora da actividade política com esta se cruzam em algum momento das suas vidas.

Preconceito ainda quando subjacente a este discurso verificamos, não raras vezes, estar a ideia de que quem granjeie o apoio e a confiança da maioria dos seus correligionários de partido só pode ser manifestamente um desqualificado: pois se os militantes são percepcionados e tratados como seres acéfalos, interesseiros e sei lá mais o quê, o corolário lógico é que estes só podem reproduzir e espelhar tamanha falta de exigência e qualidade nas suas escolhas.

Sejamos claros: não se trata aqui de fazer o elogio fácil da militância, procurando iludir ou branquear práticas e problemas da vida partidária. Trata-se sim de desmistificar certos discursos que tendem a transformar adjectivos em substantivos. Fazer decorrer da qualidade de militante ou independente uma qualquer substantividade inerente, seja ela positiva ou negativa, não passa de um enorme absurdo e preconceito.

Preconceito que não permite que relativamente ao A.J.S. se lhe reconheça e credite um conjunto de activos na sua vida política, havendo mesmo quem não se iniba de afirmar não se lhe conhecer uma ideia, uma proposta, um pensamento, ou mais insidiosamente ainda causas ou valores. Bastará ler a moção com que se apresenta a esta eleição para se perceber da má fé de tamanha acusação.

Preconceito, a que se soma ainda um enorme e recorrente equívoco: o de se exigir a um líder político no ponto de partida o que só é exigível no ponto de chegada.

O papel de um líder político não é o de tudo saber, o de tudo conhecer e de sobre tudo e sobre nada ser capaz de dissertar com grande auto-suficiência e densidade, sem esquecer obviamente a necessidade de fazer prova de grande cultura e erudição.

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Convenhamos que já era tempo de nos libertarmos de arquétipos que em nada contribuem para a afirmação de uma maioridade política e cívica na sociedade portuguesa.

O que hoje se exige e se espera de uma liderança política do Partido Socialista é precisamente que seja capaz de dinamizar competências, saberes, vontades para a construção de uma proposta política qualificada que tenha como ambição central responder aos desafios do tempo presente, nomeadamente, a necessidade de reinventar o modelo social europeu, fundado num novo contrato social, que lhe dê sustentabilidade, mas sem deste desistir.

E aqui afirmo, mais do que uma esperança e um apoio, a convicção de que o António José Seguro saberá promover uma cultura de mérito, de exigência e de competência, mobilizando todos os que neste espaço político participam e se revêem, para com sentido de compromisso abraçarem este enorme desafio. Militante do Partido Socialista, ex-secretário de Estado da Juventude

Para os inspectores desta ASAE, o António José Seguro ganha, se não por KO, pelo menos aos pontos ao Francisco Assis

Como seria saudavelmente de esperar, a eleição do próximo secretário-geral do Partido Socialista tem despertado o interesse de muitos que não apenas o dos seus militantes ou mesmo simpatizantes. Fora deste universo já muitos se fizeram igualmente ouvir, reflectindo aqui e acolá sobre os desafios políticos que se colocarão nos tempos próximos ao PS, mas essencialmente comentando os méritos e os deméritos dos candidatos.

Salvo uma outra honrosa excepção, poucos têm sido aqueles capazes de dobrarem a curva de umas quantas generalidades fáceis, ditas em tom mais ou menos sofisticado, mas quase sempre afunilando para um mero exercício avaliativo sobre a qualidade dos candidatos, quais ASAE da nossa vida política.

Confesso que é pouco, sabe a pouco, mas não é de todo surpreendente. Não deixa de ser curioso, quase mesmo ridiculamente divertido, assistir a tão preguiçosos, costumeiros e cansativos discursos. Hoje com lugar cativo em diversos palcos (ou como agora se diz uma produção de conteúdos para multicanal), mais não são, eles próprios, do que densíssimas vacuidades, pasme-se, sobre precisamente a pretensa falta de espessura, qualidade e de exigência que os candidatos emprestam à construção das suas propostas políticas.

Mas chegados aqui uma nota de justiça se impõe: neste capítulo, para os inspectores desta ASAE, o António José Seguro ganha, se não por KO, pelo menos aos pontos ao Francisco Assis. Se Assis ainda é poupado (mesmo que por vezes se torne evidente que apenas e só para uma adjectivação mais colorida de A.J.S.) já Seguro, é certo e sabido, não passa, segundo estes, de um mero produto aparelhístico partidário.

E aqui entramos no terreno do puro preconceito e dos equívocos. Preconceito, desde logo, na forma como se procura desvalorizar quem legitimamente optou por uma vida profissional feita na e para a política. Decidamo-nos: ora nos queixamos de que são poucos os que hoje se disponibilizam para vida política (porque será?), reduzindo de imediato esses poucos à categoria de meros carreiristas; ora, estamos sempre prontos a desconfiar da pureza das motivações dos que tendo feito vida profissional fora da actividade política com esta se cruzam em algum momento das suas vidas.

Preconceito ainda quando subjacente a este discurso verificamos, não raras vezes, estar a ideia de que quem granjeie o apoio e a confiança da maioria dos seus correligionários de partido só pode ser manifestamente um desqualificado: pois se os militantes são percepcionados e tratados como seres acéfalos, interesseiros e sei lá mais o quê, o corolário lógico é que estes só podem reproduzir e espelhar tamanha falta de exigência e qualidade nas suas escolhas.

Sejamos claros: não se trata aqui de fazer o elogio fácil da militância, procurando iludir ou branquear práticas e problemas da vida partidária. Trata-se sim de desmistificar certos discursos que tendem a transformar adjectivos em substantivos. Fazer decorrer da qualidade de militante ou independente uma qualquer substantividade inerente, seja ela positiva ou negativa, não passa de um enorme absurdo e preconceito.

Preconceito que não permite que relativamente ao A.J.S. se lhe reconheça e credite um conjunto de activos na sua vida política, havendo mesmo quem não se iniba de afirmar não se lhe conhecer uma ideia, uma proposta, um pensamento, ou mais insidiosamente ainda causas ou valores. Bastará ler a moção com que se apresenta a esta eleição para se perceber da má fé de tamanha acusação.

Preconceito, a que se soma ainda um enorme e recorrente equívoco: o de se exigir a um líder político no ponto de partida o que só é exigível no ponto de chegada.

O papel de um líder político não é o de tudo saber, o de tudo conhecer e de sobre tudo e sobre nada ser capaz de dissertar com grande auto-suficiência e densidade, sem esquecer obviamente a necessidade de fazer prova de grande cultura e erudição.

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Convenhamos que já era tempo de nos libertarmos de arquétipos que em nada contribuem para a afirmação de uma maioridade política e cívica na sociedade portuguesa.

O que hoje se exige e se espera de uma liderança política do Partido Socialista é precisamente que seja capaz de dinamizar competências, saberes, vontades para a construção de uma proposta política qualificada que tenha como ambição central responder aos desafios do tempo presente, nomeadamente, a necessidade de reinventar o modelo social europeu, fundado num novo contrato social, que lhe dê sustentabilidade, mas sem deste desistir.

E aqui afirmo, mais do que uma esperança e um apoio, a convicção de que o António José Seguro saberá promover uma cultura de mérito, de exigência e de competência, mobilizando todos os que neste espaço político participam e se revêem, para com sentido de compromisso abraçarem este enorme desafio. Militante do Partido Socialista, ex-secretário de Estado da Juventude

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