Rupert e James Murdoch negam responsabilidades e dizem que não sabiam

20-07-2011
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O caso das escutas ilegais e dos subornos à polícia chegou ao Parlamento britânico. Mas os rostos do império Murdoch foram evasivos nas respostas

Rupert Murdoch falou pouco, repetiu várias vezes que não sabia, fez longas pausas de silêncio e pediu frequentemente aos deputados para lhe voltarem a fazer as perguntas. Aos 80 anos, o dono de um império mediático, que tem alguns dos mais populares media do Reino Unidos e dos Estados Unidos, não dispensou um pequeno show. Fez rir, de gozo, a sala do Parlamento britânico onde já não cabiam dezenas de membros do público e os jornalistas que assistiam à transmissão vídeo de uma sessão na Comissão de Cultura, Media e Desporto que devia ter durado uma hora mas durou três.

O dia ficou ainda marcado por um activista que atirou espuma de barbear à cara de Rupert Murdoch - a mulher de Rupert sairia em sua defesa e as filmagens mostram-na a dar um solavanco ao atacante. A sessão foi interrompida e várias pessoas que estavam na sala saíram com restos de espuma no corpo. Mas seria retomada logo a seguir para finalizar o interrogatório aos Murdoch - Rupert e o filho, James -, ainda que com entrada banida a todos os que não tinham acreditação oficial do Parlamento. Rupert apareceu depois em mangas de camisa e relaxado. Aliás, nenhum dos três interrogados ontem - foi ainda ouvida Rebekah Brooks, a ex-directora executiva da News International (NI), a filial britânica da empresa News Corp - mostrava sinais de nervosismo e todos negaram responsabilidade no caso das escutas telefónicas e subornos à polícia que está a provocar uma tempestade política no Reino Unido, sendo comparado ao Watergate por alguns - e promete continuar por muito.

Rupert e James Murdoch foram chamados ao Parlamento para esclarecer os deputados sobre o escândalo das escutas ilegais no News of the World (NoW), o semanário de 7,5 milhões de leitores que Murdoch fechou há mais de uma semana e que representa, disse ontem, apenas 1% dos seus negócios. Já Rebekah Brooks avisou que, por constrangimentos legais - foi presa no domingo e libertada no âmbito do processo - não podia responder a tudo.

Rupert Murdoch insistiu na técnica do "não sei" como resposta aos deputados e James do "não tenho conhecimento" ou justificando o não comentário com o facto de ser matéria em investigação. Sobre as escutas e os pagamentos à polícia disseram só ter tido conhecimento pelos jornais. Mas James admitiu que a NI fez pagamentos a Clive Goodman, ex-editor da secção de realeza do NoW preso por escutas ilegais, e ao detective Glenn Mulcaire, depois de estes terem sido condenados.

O filho do magnata que estudou em Harvard iniciou algumas vezes as respostas com um "obrigado". Todos começaram a sessão pedindo desculpa às vítimas das escutas telefónicas. Sobre o caso de Milly Dowler, a criança raptada cujo telefone foi escutado pelo NoW quando ela já estava morta, os três disseram que ficaram "em choque". Todas as vítimas vão receber indemnizações, disseram.

As armas de charme

Na primeira metade da sessão, que começou às 14h30, a cada intervenção de Murdoch a sala ria, em parte pela ironia, em parte porque Murdoch parece ter depois usado aquilo que supostamente o fragilizaria -o não ouvir bem, o não perceber - como arma de charme. Ou, quem sabe, como estratégia para fugir às perguntas dos deputados. Pode também ser que Murdoch esteja mesmo a perder capacidades. Certo é que, sempre que pôde, o seu filho James respondeu por ele, sendo que a parte mais difícil em seguir esta estratégia foi com o trabalhista Tom Watson, que lhe fez um interrogatório cerrado.

Em alguns momentos que ontem foram repetidos pelos media, Murdoch interrompeu James. Logo no início, estava o filho a falar, Rupert agarrou-lhe no braço e disse à comissão que aquele era o dia da sua carreira em que se sentia "mais humilde". Declarou mais tarde que nada sabia sobre as escutas e subornos à polícia de que o NoW é acusado e disse ter sido "traído" pelas pessoas em quem confiava ou pelas pessoas em quem essas pessoas confiavam. Julgava, declarou, que o problema das escutas tinha sido resolvido depois de 2007, quando Clive Goodman foi preso. "A polícia terminou a sua investigação e disseram-me que a News International fez uma auditoria interna". Murdoch reiterou que é ele a "melhor pessoa para limpar isto" e não deixou no ar a impressão de que tinha deixado de confiar em Rebekah Brooks. Sobre a sua demissão, disse tê-la aceite por Brooks estar em profunda "angústia".

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Um dos temas mais abordados neste escândalo tem sido a influência política de Rupert Murdoch no Reino Unido, e ontem isso não foi esquecido. A Murdoch perguntaram sobre a regularidade com que falava com os directores dos jornais britânicos: disse que todos os sábados com o do Sunday Times mas não tão frequentemente com o do NoW. "Não tenho qualquer interferência" nas decisões editoriais, disse. O director do jornal com quem tem mais contacto é o do Wall Street Journal.

Os deputados também quiseram saber porque é que tinha entrado em Downing Street pela porta das traseiras, ao que Rupert esclareceu ter sido para evitar os fotógrafos numa visita a David Cameron, o primeiro-ministro conservador, dias depois da sua eleição em 2010 - a opção não foi dele mas da equipa do primeiro- ministro, disse. O magnata de quem se diz que cada vez que um dos seus jornais tablóides apoia um candidato ele ganha - o Sun apoiou Cameron - esclareceu que foi convidado para "Cameron lhe agradecer o apoio". Disse também ter visitado muitas vezes Gordon Brown em Downing Street. "Nunca garanti a ninguém o apoio dos meus jornais."

Rebekah Brooks foi também questionada sobre a sua relação com Cameron, com quem passou o Natal. Disse que muita coisa que tem saído nos media é "mentira", mas admitiu que ele é "um vizinho", um "amigo", sublinhando que nunca teve uma conversa com o primeiro-ministro que "esta sala pudesse desaprovar". Vestida com um clássico fato azul, com umas visíveis olheiras mas sempre voz calma, Brooks negou ter aprovado pagamentos à polícia - os pagamentos terão sido feitos pelos editores do NoW, não por ela. "A minha experiência com a polícia é que a informação não é paga." Brooks disse ainda que quer "mesmo perceber o que aconteceu". Com o ritmo vertiginoso a que são reveladas novas notícias do "NoWgate", é difícil prever quando é que isso será.

O caso das escutas ilegais e dos subornos à polícia chegou ao Parlamento britânico. Mas os rostos do império Murdoch foram evasivos nas respostas

Rupert Murdoch falou pouco, repetiu várias vezes que não sabia, fez longas pausas de silêncio e pediu frequentemente aos deputados para lhe voltarem a fazer as perguntas. Aos 80 anos, o dono de um império mediático, que tem alguns dos mais populares media do Reino Unidos e dos Estados Unidos, não dispensou um pequeno show. Fez rir, de gozo, a sala do Parlamento britânico onde já não cabiam dezenas de membros do público e os jornalistas que assistiam à transmissão vídeo de uma sessão na Comissão de Cultura, Media e Desporto que devia ter durado uma hora mas durou três.

O dia ficou ainda marcado por um activista que atirou espuma de barbear à cara de Rupert Murdoch - a mulher de Rupert sairia em sua defesa e as filmagens mostram-na a dar um solavanco ao atacante. A sessão foi interrompida e várias pessoas que estavam na sala saíram com restos de espuma no corpo. Mas seria retomada logo a seguir para finalizar o interrogatório aos Murdoch - Rupert e o filho, James -, ainda que com entrada banida a todos os que não tinham acreditação oficial do Parlamento. Rupert apareceu depois em mangas de camisa e relaxado. Aliás, nenhum dos três interrogados ontem - foi ainda ouvida Rebekah Brooks, a ex-directora executiva da News International (NI), a filial britânica da empresa News Corp - mostrava sinais de nervosismo e todos negaram responsabilidade no caso das escutas telefónicas e subornos à polícia que está a provocar uma tempestade política no Reino Unido, sendo comparado ao Watergate por alguns - e promete continuar por muito.

Rupert e James Murdoch foram chamados ao Parlamento para esclarecer os deputados sobre o escândalo das escutas ilegais no News of the World (NoW), o semanário de 7,5 milhões de leitores que Murdoch fechou há mais de uma semana e que representa, disse ontem, apenas 1% dos seus negócios. Já Rebekah Brooks avisou que, por constrangimentos legais - foi presa no domingo e libertada no âmbito do processo - não podia responder a tudo.

Rupert Murdoch insistiu na técnica do "não sei" como resposta aos deputados e James do "não tenho conhecimento" ou justificando o não comentário com o facto de ser matéria em investigação. Sobre as escutas e os pagamentos à polícia disseram só ter tido conhecimento pelos jornais. Mas James admitiu que a NI fez pagamentos a Clive Goodman, ex-editor da secção de realeza do NoW preso por escutas ilegais, e ao detective Glenn Mulcaire, depois de estes terem sido condenados.

O filho do magnata que estudou em Harvard iniciou algumas vezes as respostas com um "obrigado". Todos começaram a sessão pedindo desculpa às vítimas das escutas telefónicas. Sobre o caso de Milly Dowler, a criança raptada cujo telefone foi escutado pelo NoW quando ela já estava morta, os três disseram que ficaram "em choque". Todas as vítimas vão receber indemnizações, disseram.

As armas de charme

Na primeira metade da sessão, que começou às 14h30, a cada intervenção de Murdoch a sala ria, em parte pela ironia, em parte porque Murdoch parece ter depois usado aquilo que supostamente o fragilizaria -o não ouvir bem, o não perceber - como arma de charme. Ou, quem sabe, como estratégia para fugir às perguntas dos deputados. Pode também ser que Murdoch esteja mesmo a perder capacidades. Certo é que, sempre que pôde, o seu filho James respondeu por ele, sendo que a parte mais difícil em seguir esta estratégia foi com o trabalhista Tom Watson, que lhe fez um interrogatório cerrado.

Em alguns momentos que ontem foram repetidos pelos media, Murdoch interrompeu James. Logo no início, estava o filho a falar, Rupert agarrou-lhe no braço e disse à comissão que aquele era o dia da sua carreira em que se sentia "mais humilde". Declarou mais tarde que nada sabia sobre as escutas e subornos à polícia de que o NoW é acusado e disse ter sido "traído" pelas pessoas em quem confiava ou pelas pessoas em quem essas pessoas confiavam. Julgava, declarou, que o problema das escutas tinha sido resolvido depois de 2007, quando Clive Goodman foi preso. "A polícia terminou a sua investigação e disseram-me que a News International fez uma auditoria interna". Murdoch reiterou que é ele a "melhor pessoa para limpar isto" e não deixou no ar a impressão de que tinha deixado de confiar em Rebekah Brooks. Sobre a sua demissão, disse tê-la aceite por Brooks estar em profunda "angústia".

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Um dos temas mais abordados neste escândalo tem sido a influência política de Rupert Murdoch no Reino Unido, e ontem isso não foi esquecido. A Murdoch perguntaram sobre a regularidade com que falava com os directores dos jornais britânicos: disse que todos os sábados com o do Sunday Times mas não tão frequentemente com o do NoW. "Não tenho qualquer interferência" nas decisões editoriais, disse. O director do jornal com quem tem mais contacto é o do Wall Street Journal.

Os deputados também quiseram saber porque é que tinha entrado em Downing Street pela porta das traseiras, ao que Rupert esclareceu ter sido para evitar os fotógrafos numa visita a David Cameron, o primeiro-ministro conservador, dias depois da sua eleição em 2010 - a opção não foi dele mas da equipa do primeiro- ministro, disse. O magnata de quem se diz que cada vez que um dos seus jornais tablóides apoia um candidato ele ganha - o Sun apoiou Cameron - esclareceu que foi convidado para "Cameron lhe agradecer o apoio". Disse também ter visitado muitas vezes Gordon Brown em Downing Street. "Nunca garanti a ninguém o apoio dos meus jornais."

Rebekah Brooks foi também questionada sobre a sua relação com Cameron, com quem passou o Natal. Disse que muita coisa que tem saído nos media é "mentira", mas admitiu que ele é "um vizinho", um "amigo", sublinhando que nunca teve uma conversa com o primeiro-ministro que "esta sala pudesse desaprovar". Vestida com um clássico fato azul, com umas visíveis olheiras mas sempre voz calma, Brooks negou ter aprovado pagamentos à polícia - os pagamentos terão sido feitos pelos editores do NoW, não por ela. "A minha experiência com a polícia é que a informação não é paga." Brooks disse ainda que quer "mesmo perceber o que aconteceu". Com o ritmo vertiginoso a que são reveladas novas notícias do "NoWgate", é difícil prever quando é que isso será.

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