Cavaco Silva - o novo carrasco de Assunção Esteves

12-10-2015
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Começo por dizer que defino-me como um patriota e um institucionalista: preservo a respeitabilidade e a dignidade das instituições políticas da República Portuguesa acima de tudo. Sobretudo, sou, até nas minhas posições teóricas académicas, um defensor da relevância da actuação política do Presidente da República, contra um entendimento (maioritário) restritivo dos poderes presidenciais. Logo, eu faço num esforço para preservar a imagem que os portugueses têm da instituição Presidência da República - da instituição, não do titular que conjunturalmente exerce o cargo de Presidente da República. Isto para dizer que quando critico o Presidente da República não o faço de ânimo leve - faço-o porque a minha função aqui é comentar a actualidade de forma objectiva, livremente, interpretando os factos políticos que vão sucedendo. A verdade é que é impossível não criticar Cavaco Silva - Cavaco é um Presidente profundamente inconsequente, para não dizer (como muitos dizem) insignificante. Digo isto com muita pena: eu apoiei Cavaco Silva convictamente em 2006 e depois, em 2011, apoiei-o com algumas reservas - mas sobretudo tenho pena porque Portugal precisava de um Presidente da República forte, com credibilidade e margem de manobra para se apresentar como a "válvula de escape" do sistema político. A verdade é que Cavaco Silva, ontem, conseguiu a proeza de se desmentir e negar a si próprio. Ou seja, o Presidente da República desmentiu e desautorizou...Cavaco Silva! Dizia-se que só havia uma pessoa em Portugal que confiava em Cavaco Silva - que era Cavaco Silva. Hoje, não há ninguém que confie no Presidente da República.

Com efeito, o Presidente da República começou por explicar, no discurso de ontem, as razões pelas quais não aceitou a remodelação governamental proposta por Passos Coelho e Paulo Portas, realçando que estava convicto que os três partidos chegassem a um entendimento. Só este facto já é preocupante - confirma que o Presidente da República de Portugal não tem qualquer noção da realidade. Era evidente que o acordo era quase a quadratura do círculo. Cavaco Silva tentou desresponsabilizar-se de uma situação que ele criou, que agravou a instabilidade política e que serviu apenas para que tentasse reescrever a História num sentido mais favorável. No fundo, Cavaco Silva tentou a velha táctica que foi a base da sua carreira política: a divisão entre os "políticos" e ele próprio, o responsável Professor, que não é político, que só se preocupa com os superiores interesses de Portugal e não entra em politiquices. Ora, ficou provado ontem que Cavaco Silva é o político mais politiqueiro : não se importou que prolongar a crise política para que possa, um dia, escrever nas suas memórias que revelou um tremendo sentido de Estado.

E reparem na forma subtil como Cavaco Silva tentou "lavar as mãos" de toda esta situação: afirmou que o acordo entre os três partidos é inevitável. Pode demorar mais um mês, menos um mês, mas irá certamente acontecer. A realidade assim o obrigará. Ou seja, Cavaco Silva, no fundo, afirma que os partidos políticos não estão a ver correctamente filme, não estão a perceber nada - e que a história lhe dará razão. É uma forma muito airosa de Cavaco Silva maquilhar a derrota monumental que sofreu. Pelo contrário, a partir de agora, ao invés do que dizem muitos comentadores que viram nas negociações o fim das tensões entre PS e PSD, podendo agora os dois partidos chegar a acordo sobre várias matérias, os conflitos entre PS e PSD serão ainda mais intensos - a partir de agora, não será possível chegar a qualquer entendimento. António José Seguro, mal ou bem, escolheu um caminho - e não poderá, se quiser afirmar a sua liderança, ter tergiversações. Logo, mais do que nunca, os consensos serão impossíveis na vida política portuguesa. Graças a Cavaco Silva.

Por último -por hoje - o que foi verdadeiramente lamentável foi o anúncio feito pelo Presidente Cavaco Silva de que o Parlamento irá a apresentar uma moção de confiança ao Governo. Ora, é um facto inédito na vida política portuguesa, um Presidente da República anunciar que uma acção futura do Parlamento! Trata-se, sem dúvida, de um desrespeito institucional grave - e coloca o Governo e a Assembleia da República na tutela do Presidente da República! Por que razão Cavaco Silva teve este gesto, ele que é um institucionalista, supostamente? Porque Cavaco Silva, no seu íntimo, sabe que perdeu em toda a linha. E que a a sua autoridade e o seu prestígio foram colocados em causa pelos partidos. Consequentemente, o anúncio da moção de confiança foi uma demonstração de força e de autoridade política do Presidente, que, a partir de agora, terá de ser muito mais interventivo e participar na política ordinária. Convençamo-nos: Cavaco Silva não tem margem de recuo. De qualquer forma, ser o Presidente da República a anunciar uma moção de confiança a apresentar pelo Parlamento é um precedente grave. Certamente que Assunção Esteves lhe deveria citar Simone de Beauvoir.

Email: politicoesfera@gmail.com

Começo por dizer que defino-me como um patriota e um institucionalista: preservo a respeitabilidade e a dignidade das instituições políticas da República Portuguesa acima de tudo. Sobretudo, sou, até nas minhas posições teóricas académicas, um defensor da relevância da actuação política do Presidente da República, contra um entendimento (maioritário) restritivo dos poderes presidenciais. Logo, eu faço num esforço para preservar a imagem que os portugueses têm da instituição Presidência da República - da instituição, não do titular que conjunturalmente exerce o cargo de Presidente da República. Isto para dizer que quando critico o Presidente da República não o faço de ânimo leve - faço-o porque a minha função aqui é comentar a actualidade de forma objectiva, livremente, interpretando os factos políticos que vão sucedendo. A verdade é que é impossível não criticar Cavaco Silva - Cavaco é um Presidente profundamente inconsequente, para não dizer (como muitos dizem) insignificante. Digo isto com muita pena: eu apoiei Cavaco Silva convictamente em 2006 e depois, em 2011, apoiei-o com algumas reservas - mas sobretudo tenho pena porque Portugal precisava de um Presidente da República forte, com credibilidade e margem de manobra para se apresentar como a "válvula de escape" do sistema político. A verdade é que Cavaco Silva, ontem, conseguiu a proeza de se desmentir e negar a si próprio. Ou seja, o Presidente da República desmentiu e desautorizou...Cavaco Silva! Dizia-se que só havia uma pessoa em Portugal que confiava em Cavaco Silva - que era Cavaco Silva. Hoje, não há ninguém que confie no Presidente da República.

Com efeito, o Presidente da República começou por explicar, no discurso de ontem, as razões pelas quais não aceitou a remodelação governamental proposta por Passos Coelho e Paulo Portas, realçando que estava convicto que os três partidos chegassem a um entendimento. Só este facto já é preocupante - confirma que o Presidente da República de Portugal não tem qualquer noção da realidade. Era evidente que o acordo era quase a quadratura do círculo. Cavaco Silva tentou desresponsabilizar-se de uma situação que ele criou, que agravou a instabilidade política e que serviu apenas para que tentasse reescrever a História num sentido mais favorável. No fundo, Cavaco Silva tentou a velha táctica que foi a base da sua carreira política: a divisão entre os "políticos" e ele próprio, o responsável Professor, que não é político, que só se preocupa com os superiores interesses de Portugal e não entra em politiquices. Ora, ficou provado ontem que Cavaco Silva é o político mais politiqueiro : não se importou que prolongar a crise política para que possa, um dia, escrever nas suas memórias que revelou um tremendo sentido de Estado.

E reparem na forma subtil como Cavaco Silva tentou "lavar as mãos" de toda esta situação: afirmou que o acordo entre os três partidos é inevitável. Pode demorar mais um mês, menos um mês, mas irá certamente acontecer. A realidade assim o obrigará. Ou seja, Cavaco Silva, no fundo, afirma que os partidos políticos não estão a ver correctamente filme, não estão a perceber nada - e que a história lhe dará razão. É uma forma muito airosa de Cavaco Silva maquilhar a derrota monumental que sofreu. Pelo contrário, a partir de agora, ao invés do que dizem muitos comentadores que viram nas negociações o fim das tensões entre PS e PSD, podendo agora os dois partidos chegar a acordo sobre várias matérias, os conflitos entre PS e PSD serão ainda mais intensos - a partir de agora, não será possível chegar a qualquer entendimento. António José Seguro, mal ou bem, escolheu um caminho - e não poderá, se quiser afirmar a sua liderança, ter tergiversações. Logo, mais do que nunca, os consensos serão impossíveis na vida política portuguesa. Graças a Cavaco Silva.

Por último -por hoje - o que foi verdadeiramente lamentável foi o anúncio feito pelo Presidente Cavaco Silva de que o Parlamento irá a apresentar uma moção de confiança ao Governo. Ora, é um facto inédito na vida política portuguesa, um Presidente da República anunciar que uma acção futura do Parlamento! Trata-se, sem dúvida, de um desrespeito institucional grave - e coloca o Governo e a Assembleia da República na tutela do Presidente da República! Por que razão Cavaco Silva teve este gesto, ele que é um institucionalista, supostamente? Porque Cavaco Silva, no seu íntimo, sabe que perdeu em toda a linha. E que a a sua autoridade e o seu prestígio foram colocados em causa pelos partidos. Consequentemente, o anúncio da moção de confiança foi uma demonstração de força e de autoridade política do Presidente, que, a partir de agora, terá de ser muito mais interventivo e participar na política ordinária. Convençamo-nos: Cavaco Silva não tem margem de recuo. De qualquer forma, ser o Presidente da República a anunciar uma moção de confiança a apresentar pelo Parlamento é um precedente grave. Certamente que Assunção Esteves lhe deveria citar Simone de Beauvoir.

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