Pena e Espada: Revisionismo revisto

03-07-2011
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Há um ano atrás, quando a prisão de David Irving motivou um aceso debate sobre o chamado “revisionismo do Holocausto”, escrevi aqui que “a minha formação em História diz-me que proibir a investigação, por mais loucas ou disparatadas que sejam as suas conclusões, é errado. (…) Devem, isso sim, ser debatidas e, se necessário for, contrariadas com argumentos e provas, em resumo, com outras investigações, nunca com leis”. É esse o princípio que me guia e que deve guiar qualquer historiador.É claro que a História é uma arma política poderosa e, como tal, tem sido utilizada amiúde ao longo dos tempos. Nada se alterou nos nossos dias e o tema do Holocausto e do seu revisionismo é particularmente “quente”. O “revisionismo do Holocausto” tem sido aproveitado politicamente por muitos sectores. Do lado considerado “negacionista” pelos seus detractores, foi guiado por agendas políticas de extrema-esquerda, extrema-direita e fundamentalista islâmica. Do lado considerado “exterminacionista” foi aproveitado por grupos sionistas e outros grupos judaicos, grupos “anti-nazis”, entre outros. Neste último, interessa referir que a pressão destes grupos levou a que em vários países surgissem leis que condenam o “revisionismo ou negação do Holocausto”.Este processo levou a que, rapidamente, se equivalesse revisionismo a negação do Holocausto e que, como a negação do Holocausto foi considerada crime, o revisionismo também o fosse automaticamente. Não apenas o revisionismo do Holocausto, mas o revisionismo em geral; este, aliás, começou a ser algo muito mal visto em favor de versões “oficiais” da História!Isto leva-me à questão central deste texto — o revisionismo precisa de ser revisto. É essencial à investigação histórica que o espírito crítico e a vontade de verdade e exactidão não sejam toldados por discussões encerradas.O problema do revisionismo tem sido a falta de seriedade de vários “investigadores”. No caso do revisionismo do Holocausto, tal tem sido notório — de um lado e do outro, sublinhe-se. Um aspecto importante foi levantado pelo meu amigo e colega de disciplina Humberto Nuno de Oliveira, que alertou para a importância de não se ficar apenas pelas fontes secundárias, nomeadamente por impedimentos linguísticos, num oportuno post.Nesta revisão do revisionismo, o primeiro passo é recusar os dogmas — de um lado e do outro, sublinho mais uma vez. Como escrevi em tempos, os “santificadores da Shoah” e os “reverendos do revisionismo” estão no mesmo plano. A História é uma disciplina fascinante e o trabalho do historiador nunca está terminado.Felizmente, a blogosfera é um local para o livre debate e reflexão e, sobre o revisionismo, o Humberto Nuno de Oliveira, historiador e professor universitário, iniciou já uma série de textos sérios e obrigatórios sobre o tema. Ontem publicou o primeiro, “À laia de introdução ao tema do revisionismo”, que a todos aconselho, ficando a aguardar ansiosamente os seguintes.


Há um ano atrás, quando a prisão de David Irving motivou um aceso debate sobre o chamado “revisionismo do Holocausto”, escrevi aqui que “a minha formação em História diz-me que proibir a investigação, por mais loucas ou disparatadas que sejam as suas conclusões, é errado. (…) Devem, isso sim, ser debatidas e, se necessário for, contrariadas com argumentos e provas, em resumo, com outras investigações, nunca com leis”. É esse o princípio que me guia e que deve guiar qualquer historiador.É claro que a História é uma arma política poderosa e, como tal, tem sido utilizada amiúde ao longo dos tempos. Nada se alterou nos nossos dias e o tema do Holocausto e do seu revisionismo é particularmente “quente”. O “revisionismo do Holocausto” tem sido aproveitado politicamente por muitos sectores. Do lado considerado “negacionista” pelos seus detractores, foi guiado por agendas políticas de extrema-esquerda, extrema-direita e fundamentalista islâmica. Do lado considerado “exterminacionista” foi aproveitado por grupos sionistas e outros grupos judaicos, grupos “anti-nazis”, entre outros. Neste último, interessa referir que a pressão destes grupos levou a que em vários países surgissem leis que condenam o “revisionismo ou negação do Holocausto”.Este processo levou a que, rapidamente, se equivalesse revisionismo a negação do Holocausto e que, como a negação do Holocausto foi considerada crime, o revisionismo também o fosse automaticamente. Não apenas o revisionismo do Holocausto, mas o revisionismo em geral; este, aliás, começou a ser algo muito mal visto em favor de versões “oficiais” da História!Isto leva-me à questão central deste texto — o revisionismo precisa de ser revisto. É essencial à investigação histórica que o espírito crítico e a vontade de verdade e exactidão não sejam toldados por discussões encerradas.O problema do revisionismo tem sido a falta de seriedade de vários “investigadores”. No caso do revisionismo do Holocausto, tal tem sido notório — de um lado e do outro, sublinhe-se. Um aspecto importante foi levantado pelo meu amigo e colega de disciplina Humberto Nuno de Oliveira, que alertou para a importância de não se ficar apenas pelas fontes secundárias, nomeadamente por impedimentos linguísticos, num oportuno post.Nesta revisão do revisionismo, o primeiro passo é recusar os dogmas — de um lado e do outro, sublinho mais uma vez. Como escrevi em tempos, os “santificadores da Shoah” e os “reverendos do revisionismo” estão no mesmo plano. A História é uma disciplina fascinante e o trabalho do historiador nunca está terminado.Felizmente, a blogosfera é um local para o livre debate e reflexão e, sobre o revisionismo, o Humberto Nuno de Oliveira, historiador e professor universitário, iniciou já uma série de textos sérios e obrigatórios sobre o tema. Ontem publicou o primeiro, “À laia de introdução ao tema do revisionismo”, que a todos aconselho, ficando a aguardar ansiosamente os seguintes.

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