Pena e Espada: Reflexões de fim de ano (I)

03-07-2011
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Há dias consegui pôr alguma conversa em dia com o meu caro amigo Réprobo. Num longo telefonema onde os livros foram o tema principal — como não podia deixar de ser —, referiu-se a um post que escrevera no seu blog no ido mês de Abril, que só agora li. Na altura, a polícia do pensamento não levou apenas livros, juntou ao saque os computadores, os telefones e tantas outras coisas. Atitude que só a ignorância pode explicar, tal como previu brilhantemente Ray Bradbury. Um dos "bombeiros" que irromperam pela minha casa adentro, deteve-se na escrivaninha inglesa que está à entrada, bem recheada de preciosidades, e começou a empilhar alfarrábios para levar. Tal amontoado deixou de lhe parecer uma boa ideia quando, entrado na sala, se deparou com várias estantes repletas. Pareceu pior ainda, quando a cena se repetiu no corredor e no meu quarto. Teve, então, outra ideia luminosa: apreender os livros com dedicatórias! Como seria de esperar, acabou com um punhado de volumes que versavam sobre os assuntos mais díspares, mas tal não o demoveu. Este era apenas um dos disparates — paradigmático dos tempos persecutórios que atravessamos —, porque o resto da colheita era igualmente descabido e inacreditável.Que dizer de um país onde se apreendem livros? Onde se apreendem documentos de identificação, revistas, recortes de jornais, correspondência e apontamentos escolares? Onde se mantém o visado sem prova das apreensões e numa dúvida kafkiana quanto à sua situação judicial? E onde, quando se exige aos tribunais que façam cumprir a Lei, se é condenado a pagar avultadas custas judiciais?Esse país é Portugal. O ano é 2007. Pensem nisto. Quando será a vossa vez?


Há dias consegui pôr alguma conversa em dia com o meu caro amigo Réprobo. Num longo telefonema onde os livros foram o tema principal — como não podia deixar de ser —, referiu-se a um post que escrevera no seu blog no ido mês de Abril, que só agora li. Na altura, a polícia do pensamento não levou apenas livros, juntou ao saque os computadores, os telefones e tantas outras coisas. Atitude que só a ignorância pode explicar, tal como previu brilhantemente Ray Bradbury. Um dos "bombeiros" que irromperam pela minha casa adentro, deteve-se na escrivaninha inglesa que está à entrada, bem recheada de preciosidades, e começou a empilhar alfarrábios para levar. Tal amontoado deixou de lhe parecer uma boa ideia quando, entrado na sala, se deparou com várias estantes repletas. Pareceu pior ainda, quando a cena se repetiu no corredor e no meu quarto. Teve, então, outra ideia luminosa: apreender os livros com dedicatórias! Como seria de esperar, acabou com um punhado de volumes que versavam sobre os assuntos mais díspares, mas tal não o demoveu. Este era apenas um dos disparates — paradigmático dos tempos persecutórios que atravessamos —, porque o resto da colheita era igualmente descabido e inacreditável.Que dizer de um país onde se apreendem livros? Onde se apreendem documentos de identificação, revistas, recortes de jornais, correspondência e apontamentos escolares? Onde se mantém o visado sem prova das apreensões e numa dúvida kafkiana quanto à sua situação judicial? E onde, quando se exige aos tribunais que façam cumprir a Lei, se é condenado a pagar avultadas custas judiciais?Esse país é Portugal. O ano é 2007. Pensem nisto. Quando será a vossa vez?

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