Veneza George Clooney a tempo do cinismo

02-09-2011
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A euforia com a eleição de Obama suspendeu a rodagem de The Ides of March. Mas agora, que o optimismo se evaporou, Clooney diz que é um filme com timing perfeito. Abertura, hoje, da 68.ª edição do Festival de Veneza.

Em 2007-2008, na euforia de Obama para Presidente, um filme cínico sobre política pareceu a George Clooney, que se preparava para o realizar, pouco apropriado face ao optimismo dominante. O projecto ficou em suspenso. Mas, como ele conta, citado nas notas de intenções que apresentam The Ides of March, "bastou um ano para que todo o optimismo se evaporasse e o timing pareceu perfeito".

E assim Clooney continua a fazer de antena das aspirações e inquietações da América liberal, à medida (e agora falamos das aspirações do cineasta) de um património cinematográfico, o da década de 70. E o Festival de Veneza continua a gostar de ouvir a morality play que o vizinho do lado (casa no lago Como) tem para contar. Por isso, dá-lhe hoje as honras de abertura, e em competição, desta 68.ª edição, depois de o actor-realizador ali ter já falado ao mundo, com Good Night and Good Luck, sobre os tempos de ouro da investigação jornalística.

O filme adapta a peça Farragut North, de Beau Willimon, com cast coreáceo: Ryan Gosling, Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood. Na história, estamos em plenas primárias da candidatura democrática para as presidenciais americanas. Clooney é o governador que se candidata à nomeação, mas é sobre o seu secretário (Gosling) que se centra The Ides of March. É sobre ele que pairam nuvens de escândalo e de corrupção que podem comprometer uma candidatura - inquérito à estrutura moral de uma personagem.

Veneza 68, eis os outros concorrentes ao Leão de Ouro, júri presidido por Darren Aronofsky, que já ganhou um Leão (The Wrestler, 2008), já abriu o festival (Cisne Negro, 2010) e sucede na presidência a Quentin Tarantino, o homem que o ano passado escolheu esse pedaço de aborrecimento, mais do que filme sobre o ennui, chamado Somewhere, realizado pela amiga Sofia Coppola: Tinker, Tailor, Soldier, Spy, de Tomas Alfredson, adaptação de John LeCarré que terá respeitado o seguinte conselho do escritor - "Por favor, não filme o livro e não faça um remake da série de TV. Isso já existe" - vamos ver, então, o que ele fez; outra adaptação literária, Emily Brontë por Andrea Arnold, Wuthering Heights; uma adaptação teatral, Carnage, de Roman Polanski, a partir de God of Carnage, de Yasmina Reza, com os dois casais em confronto interpretados por Jodie Foster, Kate Winslet, John C. Reilly e Christoph Waltz; e Texas Killing Fields, de Ami Canaan Mann.

David Cronenberg também já fez correr muita tinta com A Dangerous Method ou os perigos de estar próximo de Carl Jung e Sigmund Freud, mas ainda é preciso não esquecer Shame, de Steve McQueen, nova colaboração com o actor de Fome, Michael Fassbender; Silent Souls, de Aleksei Fedorchenko; Last Day on Earth, de Abel Ferrara - ou o casal e o apocalipse; o thriller Killer Joe, de William Friedkin, que se vem mostrando cineasta cada vez mais feroz; The Exchange, de Eran Kolirin; Alps, de Yorgos Lamthimos; Poulet aux Prunes, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, o filme depois de Persépolis (é a história anterior da mesma família, passada entre os anos 30 e 40); Un Eté Brulant, de Philippe Garrel, com Louis Garrel e Monica Bellucci; a "quota" de Hong Kong, A Simple Life, de Ann Hui, regresso de uma cineasta, e Life Without Principle, de Johnnie To; Faust, de Aleksandr Sokurov; Dark Horse, de Todd Solondz; Himizu, do japonês Sion Sono; Seediq Bale, de Wei Desheng (Taiwan); os italianos Quando la Notte, de Cristina Comencini, Terraferma, de Emanuele Crialese, e L"Ultimo Terrestre, de Gipi. O festival termina a 10 de Setembro.

A euforia com a eleição de Obama suspendeu a rodagem de The Ides of March. Mas agora, que o optimismo se evaporou, Clooney diz que é um filme com timing perfeito. Abertura, hoje, da 68.ª edição do Festival de Veneza.

Em 2007-2008, na euforia de Obama para Presidente, um filme cínico sobre política pareceu a George Clooney, que se preparava para o realizar, pouco apropriado face ao optimismo dominante. O projecto ficou em suspenso. Mas, como ele conta, citado nas notas de intenções que apresentam The Ides of March, "bastou um ano para que todo o optimismo se evaporasse e o timing pareceu perfeito".

E assim Clooney continua a fazer de antena das aspirações e inquietações da América liberal, à medida (e agora falamos das aspirações do cineasta) de um património cinematográfico, o da década de 70. E o Festival de Veneza continua a gostar de ouvir a morality play que o vizinho do lado (casa no lago Como) tem para contar. Por isso, dá-lhe hoje as honras de abertura, e em competição, desta 68.ª edição, depois de o actor-realizador ali ter já falado ao mundo, com Good Night and Good Luck, sobre os tempos de ouro da investigação jornalística.

O filme adapta a peça Farragut North, de Beau Willimon, com cast coreáceo: Ryan Gosling, Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood. Na história, estamos em plenas primárias da candidatura democrática para as presidenciais americanas. Clooney é o governador que se candidata à nomeação, mas é sobre o seu secretário (Gosling) que se centra The Ides of March. É sobre ele que pairam nuvens de escândalo e de corrupção que podem comprometer uma candidatura - inquérito à estrutura moral de uma personagem.

Veneza 68, eis os outros concorrentes ao Leão de Ouro, júri presidido por Darren Aronofsky, que já ganhou um Leão (The Wrestler, 2008), já abriu o festival (Cisne Negro, 2010) e sucede na presidência a Quentin Tarantino, o homem que o ano passado escolheu esse pedaço de aborrecimento, mais do que filme sobre o ennui, chamado Somewhere, realizado pela amiga Sofia Coppola: Tinker, Tailor, Soldier, Spy, de Tomas Alfredson, adaptação de John LeCarré que terá respeitado o seguinte conselho do escritor - "Por favor, não filme o livro e não faça um remake da série de TV. Isso já existe" - vamos ver, então, o que ele fez; outra adaptação literária, Emily Brontë por Andrea Arnold, Wuthering Heights; uma adaptação teatral, Carnage, de Roman Polanski, a partir de God of Carnage, de Yasmina Reza, com os dois casais em confronto interpretados por Jodie Foster, Kate Winslet, John C. Reilly e Christoph Waltz; e Texas Killing Fields, de Ami Canaan Mann.

David Cronenberg também já fez correr muita tinta com A Dangerous Method ou os perigos de estar próximo de Carl Jung e Sigmund Freud, mas ainda é preciso não esquecer Shame, de Steve McQueen, nova colaboração com o actor de Fome, Michael Fassbender; Silent Souls, de Aleksei Fedorchenko; Last Day on Earth, de Abel Ferrara - ou o casal e o apocalipse; o thriller Killer Joe, de William Friedkin, que se vem mostrando cineasta cada vez mais feroz; The Exchange, de Eran Kolirin; Alps, de Yorgos Lamthimos; Poulet aux Prunes, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, o filme depois de Persépolis (é a história anterior da mesma família, passada entre os anos 30 e 40); Un Eté Brulant, de Philippe Garrel, com Louis Garrel e Monica Bellucci; a "quota" de Hong Kong, A Simple Life, de Ann Hui, regresso de uma cineasta, e Life Without Principle, de Johnnie To; Faust, de Aleksandr Sokurov; Dark Horse, de Todd Solondz; Himizu, do japonês Sion Sono; Seediq Bale, de Wei Desheng (Taiwan); os italianos Quando la Notte, de Cristina Comencini, Terraferma, de Emanuele Crialese, e L"Ultimo Terrestre, de Gipi. O festival termina a 10 de Setembro.

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