Compromisso, entendimento, pacto. Quando se olha para os "Países como Nós" que o Expresso e a PwC analisaram durante as últimas semanas são estas as palavras que se destacam. Se o Chile é um exemplo nas finanças públicas é porque os governos de esquerda e de direita não põem em causa a exigência de ter um absoluto equilíbrio orçamental. Se a Irlanda continua - apesar do resgate - a ser aos olhos de todos um país competitivo é porque nenhuma mudança de governo altera o seu perfil agressivo na captação de investimento externo. Se a justiça finlandesa apresenta tempos de resolução de fazer inveja é porque essa questão não merece reparos das várias forças políticas.
Compromisso, entendimento, pacto. São palavras pouco comuns à política portuguesa. Somos, aliás, um dos países ocidentais com maior variação de políticas públicas. Pelas piores razões, o memorando da troika acabou por estabelecer um acordo raro entre três partidos políticos. Raro e detalhado. Mas os sinais políticos recentes não são os melhores. O Partido Socialista distancia-se da extrema austeridade e de opções políticas do Governo, que vão além do memorando; o Governo defende que só as reformas estruturais permitem dar um salto.
Assunção Cristas defende esta estratégia: "As reformas estruturais são um passo decisivo para que isso aconteça. O memorando é uma boa base, mas temos de saber ser capazes de fazer mais, sobretudo no crescimento. São algumas das reformas que nos vão permitir dar o salto para o crescimento".
Só o futuro dirá se a estratégia do Governo é a correta. Num ambiente de austeridade continental e de enorme pressão dos mercados, os sinais positivos tardam em aparecer. Mas o longo prazo talvez ajude. O exemplo de Fernando Ayala, embaixador do Chile em Lisboa, é curioso. Opositor declarado de Pinochet, não tem problema em afirmar: "Fui um opositor do regime militar do Chile mas o Chile começou a crescer ainda no tempo de Pinochet. Tivemos 20 anos de governos democráticos, de esquerda e direita, que não mudaram o perfil económico do país. O Chile está a crescer há 25 anos".
Num país tão marcado pela ditadura, este exemplo pode surpreender. Mas a explicação de Ayala é simples. "A América Latina tem um PhD em ditaduras e crises, a diferença é que o Chile teve uma só ditadura e o ditador mudou o perfil do país, porque as reformas económicas que se fizeram foram de abertura".
As razoes são profundas. Muito dependente da exportação de matérias-primas com preços sujeitos a grandes variações - como nitratos ou cobre - o Chile passava rapidamente de períodos de euforia a crises profundas. Foi assim que "o superavit estrutural passou a ser importante" para todos os partidos mesmo em democracia.
Qualquer mudança estrutural não pode ser feita só pelos Estados ou pelos privados, como lembrou António Correia da PwC. O exemplo da Alemanha no combate ao desemprego jovem é evidente. Os resultados conseguidos - que fazem inveja a quase todos os parceiros europeus - só são possíveis com um profundo entendimento entre as Universidades, as empresas e políticas públicas ativas. Isolados, nenhum dos três pilares teria o sucesso garantido.
Assunção Cristas resume o trabalho: "Temos de simplificar e desburocratizar o que pudermos e captar investimento". Mas isso exige credibilidade e confiança, o que não é fácil de conseguir em pouco tempo.
"Já estamos a ordenar o nosso espaço marítimo"
Sempre que se fala do futuro de Portugal, a palavra mar aparece. Há uns anos, surgia associada a um discurso mais nostálgico. Mas a pouco e pouco ganha peso económico. "Mapear" o nosso mar e definir áreas de investimento são as prioridades da ministra.
O mar aparece cada vez mais no discurso político mas quando é que é de facto um sector relevante na nossa economia?
Estamos a fazer neste momento um exercício fundamental, que tem que ver com o ordenamento do espaço marítimo. Nós temos um mar muito grande com potencial diferente para um conjunto de atividades muito diversas. Tipicamente o mar é um sítio onde se pesca, é dos pescadores e não de outras atividades. Mas não há blocos definidos para o desenvolvimento de atividades diferenciadas. Agora estamos a fazer um exercício de ordenamento do espaço marítimo e a ideia é dizer o que é que pode ser desenvolvido em cada uma destas áreas. Nunca olhámos para o mar como uma fonte de recursos que pode ser explorado com grande potencial. Há uma parte que já podemos explorar, há outras que dependem da investigação que tem que continuar a ser feita.
Acha que podemos ter uma espécie de cluster nessa área? Acho que é possível e acho que vai ser uma realidade. Precisamos de poder dizer aos investidores internacionais e nacionais o que podem fazer e onde podem fazer. Estamos a falar de atividades tão diversas como produção de algas para os biocombustíveis, os metais que estão pousados no fundo do mar, a riqueza do subsolo marinho, os peixes - ainda temos muito pouca produção em aquacultura -, ou as energias.
Quando é que está pronto?
Planeamos ter esse mapeamento pronto nos próximos meses. Idealmente o que nós vamos fazer é ter pronto o mapa do nosso mar - e da nossa terra também, e isso tem a ver com a bolsa de terras disponíveis, que também devem ser bastante bem identificadas -, teremos um site onde as pessoas vão poder ver o que está disponível e onde se podem candidatar para ter licenciamentos e depois investir. Ainda na recente visita do Presidente da República à Finlândia percebemos que há várias empresas disponíveis para investir em Portugal na área do mar. Este trabalho de ordenamento do espaço marítimo, que não nos ocorria há alguns anos, é hoje uma necessidade para podermos fazer essa transformação e podermos tirar riqueza do próprio mar. Mas há uma narrativa em relação ao mar com que é preciso ter algum cuidado. Nós em Portugal, só porque temos muito mar pensamos que temos muito peixe: não é totalmente verdade. Precisamos de melhorar muito a nossa forma de pescar...
Somos dos maiores consumidores mundiais de peixe mas importamos muito peixe.
Sim, nós disputamos a liderança no consumo de peixe com o Japão e a Islândia, estamos em segundo, terceiro lugar no consumo de peixe per capita, e importamos cerca de 66% do peixe que consumimos.
Porquê?
A resposta é bastante simples, por causa do bacalhau. O peixe que nós mais consumimos não pode ser pescado nem vai ser pescado em Portugal. As nossas águas não são suficientemente frias para a aquacultura do bacalhau e mesmo as experiências de aquacultura de bacalhau na Noruega não têm corrido muito bem.
Se deixarmos de comer bacalhau resolvemos o problema das importações...
(risos) Não... Pode ter a certeza que a cifra do bacalhau é uma das razões que mais dificuldades colocam ao equilíbrio da nossa balança agroalimentar. Mas temos é que compensar noutras áreas. Vamos ter sempre esse problema. As pessoas não vão começar a deixar de comer bacalhau nem mudar assim a sua dieta alimentar.
Como é que isso se resolve?
Resolve-se produzindo mais peixe em aquacultura. Nós produzimos pouco peixe. Isto não tem paralelo na carne. A carne de caça representa uma ínfima parcela na nossa alimentação, nós consumimos carne produzida. Os porcos, as galinhas, as vacas, tudo isso é produzido. No mar não, e precisamos de produzir mais peixe em aquacultura e também de valorizar o nosso peixe de água doce e ter mais diversidade naquilo que pode ser o consumo de peixe em Portugal.
Que tipo de investimentos é que podem surgir na aquacultura?
Temos cerca de três projetos na calha para começar. Há grandes projetos internacionais da aquacultura e nós temos que ser capazes, depois de um ordenamento do espaço marítimo e com uma prévia avaliação de impacto ambiental podermos dizer às pessoas, com 'chave na mão', esta é a área ou estas são as várias áreas para poderem produzir peixe. Só assim poderemos atrair investidores externos ou nacionais, mas hoje um dos nossos maiores problemas é a liquidez, pelo que o investimento externo é muito positivo para Portugal. Temos que o fazer de forma amigável, explicando o que podem fazer e que já está tudo previsto. Os investidores não estão disponíveis para o habitual calvário para poderem desenvolver as suas atividades. Estamos a trabalhar intensamente para facilitar os procedimentos de forma clara, dizendo com clareza quais são as áreas e o que pode ser feito em cada área.
Construir uma 'narrativa' para promover Portugal. Esta ideia é apontada por Jaime Esteves, partner da PwC, como prioritária. Partindo da ideia de que existe um pacto social coeso, que as contas públicas estão a ser equilibradas e que as reformas estruturais estão a avançar, Portugal apresenta condições únicas de investimento e tem uma vasta lista de argumentos a seu favor:
Geografia: uma nova centralidade
Língua global
Plataforma marítima
Infraestruturas logísticas e de comunicação
Rede de fornecedores de proximidade
Elevados níveis de serviço, flexibilidade e inovação
Recursos humanos de qualidade
Qualidade de vida (clima, segurança, tolerância, hospitalidade, estabilidade política e social)
Capacidade de relacionamento intercultural
Porta de entrada na Europa
Categorias
Entidades
Compromisso, entendimento, pacto. Quando se olha para os "Países como Nós" que o Expresso e a PwC analisaram durante as últimas semanas são estas as palavras que se destacam. Se o Chile é um exemplo nas finanças públicas é porque os governos de esquerda e de direita não põem em causa a exigência de ter um absoluto equilíbrio orçamental. Se a Irlanda continua - apesar do resgate - a ser aos olhos de todos um país competitivo é porque nenhuma mudança de governo altera o seu perfil agressivo na captação de investimento externo. Se a justiça finlandesa apresenta tempos de resolução de fazer inveja é porque essa questão não merece reparos das várias forças políticas.
Compromisso, entendimento, pacto. São palavras pouco comuns à política portuguesa. Somos, aliás, um dos países ocidentais com maior variação de políticas públicas. Pelas piores razões, o memorando da troika acabou por estabelecer um acordo raro entre três partidos políticos. Raro e detalhado. Mas os sinais políticos recentes não são os melhores. O Partido Socialista distancia-se da extrema austeridade e de opções políticas do Governo, que vão além do memorando; o Governo defende que só as reformas estruturais permitem dar um salto.
Assunção Cristas defende esta estratégia: "As reformas estruturais são um passo decisivo para que isso aconteça. O memorando é uma boa base, mas temos de saber ser capazes de fazer mais, sobretudo no crescimento. São algumas das reformas que nos vão permitir dar o salto para o crescimento".
Só o futuro dirá se a estratégia do Governo é a correta. Num ambiente de austeridade continental e de enorme pressão dos mercados, os sinais positivos tardam em aparecer. Mas o longo prazo talvez ajude. O exemplo de Fernando Ayala, embaixador do Chile em Lisboa, é curioso. Opositor declarado de Pinochet, não tem problema em afirmar: "Fui um opositor do regime militar do Chile mas o Chile começou a crescer ainda no tempo de Pinochet. Tivemos 20 anos de governos democráticos, de esquerda e direita, que não mudaram o perfil económico do país. O Chile está a crescer há 25 anos".
Num país tão marcado pela ditadura, este exemplo pode surpreender. Mas a explicação de Ayala é simples. "A América Latina tem um PhD em ditaduras e crises, a diferença é que o Chile teve uma só ditadura e o ditador mudou o perfil do país, porque as reformas económicas que se fizeram foram de abertura".
As razoes são profundas. Muito dependente da exportação de matérias-primas com preços sujeitos a grandes variações - como nitratos ou cobre - o Chile passava rapidamente de períodos de euforia a crises profundas. Foi assim que "o superavit estrutural passou a ser importante" para todos os partidos mesmo em democracia.
Qualquer mudança estrutural não pode ser feita só pelos Estados ou pelos privados, como lembrou António Correia da PwC. O exemplo da Alemanha no combate ao desemprego jovem é evidente. Os resultados conseguidos - que fazem inveja a quase todos os parceiros europeus - só são possíveis com um profundo entendimento entre as Universidades, as empresas e políticas públicas ativas. Isolados, nenhum dos três pilares teria o sucesso garantido.
Assunção Cristas resume o trabalho: "Temos de simplificar e desburocratizar o que pudermos e captar investimento". Mas isso exige credibilidade e confiança, o que não é fácil de conseguir em pouco tempo.
"Já estamos a ordenar o nosso espaço marítimo"
Sempre que se fala do futuro de Portugal, a palavra mar aparece. Há uns anos, surgia associada a um discurso mais nostálgico. Mas a pouco e pouco ganha peso económico. "Mapear" o nosso mar e definir áreas de investimento são as prioridades da ministra.
O mar aparece cada vez mais no discurso político mas quando é que é de facto um sector relevante na nossa economia?
Estamos a fazer neste momento um exercício fundamental, que tem que ver com o ordenamento do espaço marítimo. Nós temos um mar muito grande com potencial diferente para um conjunto de atividades muito diversas. Tipicamente o mar é um sítio onde se pesca, é dos pescadores e não de outras atividades. Mas não há blocos definidos para o desenvolvimento de atividades diferenciadas. Agora estamos a fazer um exercício de ordenamento do espaço marítimo e a ideia é dizer o que é que pode ser desenvolvido em cada uma destas áreas. Nunca olhámos para o mar como uma fonte de recursos que pode ser explorado com grande potencial. Há uma parte que já podemos explorar, há outras que dependem da investigação que tem que continuar a ser feita.
Acha que podemos ter uma espécie de cluster nessa área? Acho que é possível e acho que vai ser uma realidade. Precisamos de poder dizer aos investidores internacionais e nacionais o que podem fazer e onde podem fazer. Estamos a falar de atividades tão diversas como produção de algas para os biocombustíveis, os metais que estão pousados no fundo do mar, a riqueza do subsolo marinho, os peixes - ainda temos muito pouca produção em aquacultura -, ou as energias.
Quando é que está pronto?
Planeamos ter esse mapeamento pronto nos próximos meses. Idealmente o que nós vamos fazer é ter pronto o mapa do nosso mar - e da nossa terra também, e isso tem a ver com a bolsa de terras disponíveis, que também devem ser bastante bem identificadas -, teremos um site onde as pessoas vão poder ver o que está disponível e onde se podem candidatar para ter licenciamentos e depois investir. Ainda na recente visita do Presidente da República à Finlândia percebemos que há várias empresas disponíveis para investir em Portugal na área do mar. Este trabalho de ordenamento do espaço marítimo, que não nos ocorria há alguns anos, é hoje uma necessidade para podermos fazer essa transformação e podermos tirar riqueza do próprio mar. Mas há uma narrativa em relação ao mar com que é preciso ter algum cuidado. Nós em Portugal, só porque temos muito mar pensamos que temos muito peixe: não é totalmente verdade. Precisamos de melhorar muito a nossa forma de pescar...
Somos dos maiores consumidores mundiais de peixe mas importamos muito peixe.
Sim, nós disputamos a liderança no consumo de peixe com o Japão e a Islândia, estamos em segundo, terceiro lugar no consumo de peixe per capita, e importamos cerca de 66% do peixe que consumimos.
Porquê?
A resposta é bastante simples, por causa do bacalhau. O peixe que nós mais consumimos não pode ser pescado nem vai ser pescado em Portugal. As nossas águas não são suficientemente frias para a aquacultura do bacalhau e mesmo as experiências de aquacultura de bacalhau na Noruega não têm corrido muito bem.
Se deixarmos de comer bacalhau resolvemos o problema das importações...
(risos) Não... Pode ter a certeza que a cifra do bacalhau é uma das razões que mais dificuldades colocam ao equilíbrio da nossa balança agroalimentar. Mas temos é que compensar noutras áreas. Vamos ter sempre esse problema. As pessoas não vão começar a deixar de comer bacalhau nem mudar assim a sua dieta alimentar.
Como é que isso se resolve?
Resolve-se produzindo mais peixe em aquacultura. Nós produzimos pouco peixe. Isto não tem paralelo na carne. A carne de caça representa uma ínfima parcela na nossa alimentação, nós consumimos carne produzida. Os porcos, as galinhas, as vacas, tudo isso é produzido. No mar não, e precisamos de produzir mais peixe em aquacultura e também de valorizar o nosso peixe de água doce e ter mais diversidade naquilo que pode ser o consumo de peixe em Portugal.
Que tipo de investimentos é que podem surgir na aquacultura?
Temos cerca de três projetos na calha para começar. Há grandes projetos internacionais da aquacultura e nós temos que ser capazes, depois de um ordenamento do espaço marítimo e com uma prévia avaliação de impacto ambiental podermos dizer às pessoas, com 'chave na mão', esta é a área ou estas são as várias áreas para poderem produzir peixe. Só assim poderemos atrair investidores externos ou nacionais, mas hoje um dos nossos maiores problemas é a liquidez, pelo que o investimento externo é muito positivo para Portugal. Temos que o fazer de forma amigável, explicando o que podem fazer e que já está tudo previsto. Os investidores não estão disponíveis para o habitual calvário para poderem desenvolver as suas atividades. Estamos a trabalhar intensamente para facilitar os procedimentos de forma clara, dizendo com clareza quais são as áreas e o que pode ser feito em cada área.
Construir uma 'narrativa' para promover Portugal. Esta ideia é apontada por Jaime Esteves, partner da PwC, como prioritária. Partindo da ideia de que existe um pacto social coeso, que as contas públicas estão a ser equilibradas e que as reformas estruturais estão a avançar, Portugal apresenta condições únicas de investimento e tem uma vasta lista de argumentos a seu favor:
Geografia: uma nova centralidade
Língua global
Plataforma marítima
Infraestruturas logísticas e de comunicação
Rede de fornecedores de proximidade
Elevados níveis de serviço, flexibilidade e inovação
Recursos humanos de qualidade
Qualidade de vida (clima, segurança, tolerância, hospitalidade, estabilidade política e social)
Capacidade de relacionamento intercultural
Porta de entrada na Europa