almanaque silva

05-11-2013
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Os night clubs são os lugares de eleição dos loucos e felizes anos 20, após a recessão imediata à Primeira Guerra Mundial. A inflação galopante, o florescente mercado negro e a especulação eram o caldo de cultura de uma sociedade nova-rica, ostentatória e frenética. A música das jazz-band, o charleston, o sexo e a cocaína davam a vertigem às noites que só acabavam de dia, atraindo até a cobiça de bandos criminosos como a Legião Vermelha. Havia o Maxim’s, instalado no imponente Palácio Foz à Praça dos Restauradores. Havia o Avenida Parque, mais acima, no Palácio Mayer da Avenida da Liberdade. E o Clube dos Patos, no Largo do Picadeiro. E alguns mais, todos compreendidos na estreita área entre o Chiado e a Avenida. E o mais moderno de todos, o Bristol Club, que ostentava nas suas paredes o escol dos artistas modernos, com a Pintura Decorativa de Nu de Almada Negreiros logo à entrada. A modernidade do Bristol refletia-se também na inovadora campanha publicitária que fez nas capas do Magazine ABC em 1927.

A maior parte das publicidades ficou nas mãos de Jorge Barradas (Lisboa, 1894-1971). São as melhores capas do ilustrador, que numa longa colaboração iniciada em 1920, fecha com esta série a ilustração cosmopolita e moderna no ABC. A partir de 28, sucedem-se os campinos, as saloias e as fotografias das vedetas do cinema, acompanhando o declínio da revista, numa agonia pró-regionalista que se fina em 1931. Barradas é o mais estimado dos modernistas dos anos 20. Ilustrador predestinado das elegâncias lisboetas, Barradas vai ensaiando ao longo da década a fusão entre o oitocentismo naturalista e o modernismo decorativo e citadino. Enquanto pinta varinas, saloias, mendigos e bêbados, assina também estas feéricas ilustrações para o Bristol Club. Papillons roliças, apanhadas em flagrante delírio, voltam a cabeça para o leitor, afetando poses lânguidas e falsos pudores. Todos os recursos gráficos (e também a ternura) de Barradas se aprimoram nestes rostos de patética humanidade, girls perdidas nas loucas madrugadas dos night clubs lisboetas.

Fontes:

Os Night Clubs de Lisboa dos anos 20, Júlia Leitão de Barros, Lucifer Edições, 1990

Jorge Barradas, António Rodrigues, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995

Ilustração em Portugal I, Theresa Lobo, IADE Edições, 2009

Os night clubs são os lugares de eleição dos loucos e felizes anos 20, após a recessão imediata à Primeira Guerra Mundial. A inflação galopante, o florescente mercado negro e a especulação eram o caldo de cultura de uma sociedade nova-rica, ostentatória e frenética. A música das jazz-band, o charleston, o sexo e a cocaína davam a vertigem às noites que só acabavam de dia, atraindo até a cobiça de bandos criminosos como a Legião Vermelha. Havia o Maxim’s, instalado no imponente Palácio Foz à Praça dos Restauradores. Havia o Avenida Parque, mais acima, no Palácio Mayer da Avenida da Liberdade. E o Clube dos Patos, no Largo do Picadeiro. E alguns mais, todos compreendidos na estreita área entre o Chiado e a Avenida. E o mais moderno de todos, o Bristol Club, que ostentava nas suas paredes o escol dos artistas modernos, com a Pintura Decorativa de Nu de Almada Negreiros logo à entrada. A modernidade do Bristol refletia-se também na inovadora campanha publicitária que fez nas capas do Magazine ABC em 1927.

A maior parte das publicidades ficou nas mãos de Jorge Barradas (Lisboa, 1894-1971). São as melhores capas do ilustrador, que numa longa colaboração iniciada em 1920, fecha com esta série a ilustração cosmopolita e moderna no ABC. A partir de 28, sucedem-se os campinos, as saloias e as fotografias das vedetas do cinema, acompanhando o declínio da revista, numa agonia pró-regionalista que se fina em 1931. Barradas é o mais estimado dos modernistas dos anos 20. Ilustrador predestinado das elegâncias lisboetas, Barradas vai ensaiando ao longo da década a fusão entre o oitocentismo naturalista e o modernismo decorativo e citadino. Enquanto pinta varinas, saloias, mendigos e bêbados, assina também estas feéricas ilustrações para o Bristol Club. Papillons roliças, apanhadas em flagrante delírio, voltam a cabeça para o leitor, afetando poses lânguidas e falsos pudores. Todos os recursos gráficos (e também a ternura) de Barradas se aprimoram nestes rostos de patética humanidade, girls perdidas nas loucas madrugadas dos night clubs lisboetas.

Fontes:

Os Night Clubs de Lisboa dos anos 20, Júlia Leitão de Barros, Lucifer Edições, 1990

Jorge Barradas, António Rodrigues, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995

Ilustração em Portugal I, Theresa Lobo, IADE Edições, 2009

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