O Carmo e a Trindade: O país mais feio da Europa

03-07-2011
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Em 1989, H.M. Enzenberger, um sociólogo que respeito, veio a Portugal. Eis o que deixou escrito: “As casas mais feias do mundo podem hoje ser encontradas no Minho[…]. Surgiu aqui uma arquitectura espontânea, a qual, através da imitação dos outros e depois de si própria se foi desenvolvendo em espiral, num pesadelo delirante que ultrapassou os próprios modelos originais. […] Os emigrantes vingaram-se, de uma forma terrível, do país que não havia conseguido alimentá-los. ”Se exceptuarmos os Açores, isto é verdade.Este ano fui passar uns dias ao Algarve e ao Douro. Muito do que vi confirma as suas palavras. Aliás, já em anteriores viagens, nomeadamente ao Minho, notara que a província estava a ficar horrenda. Exactamente pelas razões que Enzenberger anunciou. Ao contrário de outros, nunca me pareceu legítima a aspiração de os iluminados imporem regras a quem foi lá para fora ganhar o pão como suor do seu rosto. Geralmente analfabetos, os emigrantes ficaram seduzidos pela Civilização, pretendendo, no regresso, importá-la, em aspectos que, a nós, nos parecem caricatos: um chalet suíço ficava bem, pensavam, no meio do vale do Cávado. No entanto, mais do que as casas de emigrantes chocou-me a arquitectura da Têxtil Manuel Gonçalves, um cogumelo gigante no meio dos vales minhotos. No que diz respeito a preferências estéticas, os empresários portugueses não estão tão distantes quanto isso dos trabalhadores.Eis que, em pleno Douro, me deparei com uma adega, cujas linhas arquitectónicas eramde uma beleza extraordinária. Quem a construíra mantivera-se fiel à pedra local, o xisto, e embora arrojado, o edifício enquadrava-se na paisagem local. Indaguei quem seria o proprietário e o arquitecto. O primeiro chama-se Dirk Nieport, o dono da Quinta de Nápoles, e o segundo um austríaco, cujo nome ignoro. A conclusão é obvia: para se ter, ou manter, um país bonito é necessário alguma cultura.Maria Filomena MónicaIn Meia-Hora


Em 1989, H.M. Enzenberger, um sociólogo que respeito, veio a Portugal. Eis o que deixou escrito: “As casas mais feias do mundo podem hoje ser encontradas no Minho[…]. Surgiu aqui uma arquitectura espontânea, a qual, através da imitação dos outros e depois de si própria se foi desenvolvendo em espiral, num pesadelo delirante que ultrapassou os próprios modelos originais. […] Os emigrantes vingaram-se, de uma forma terrível, do país que não havia conseguido alimentá-los. ”Se exceptuarmos os Açores, isto é verdade.Este ano fui passar uns dias ao Algarve e ao Douro. Muito do que vi confirma as suas palavras. Aliás, já em anteriores viagens, nomeadamente ao Minho, notara que a província estava a ficar horrenda. Exactamente pelas razões que Enzenberger anunciou. Ao contrário de outros, nunca me pareceu legítima a aspiração de os iluminados imporem regras a quem foi lá para fora ganhar o pão como suor do seu rosto. Geralmente analfabetos, os emigrantes ficaram seduzidos pela Civilização, pretendendo, no regresso, importá-la, em aspectos que, a nós, nos parecem caricatos: um chalet suíço ficava bem, pensavam, no meio do vale do Cávado. No entanto, mais do que as casas de emigrantes chocou-me a arquitectura da Têxtil Manuel Gonçalves, um cogumelo gigante no meio dos vales minhotos. No que diz respeito a preferências estéticas, os empresários portugueses não estão tão distantes quanto isso dos trabalhadores.Eis que, em pleno Douro, me deparei com uma adega, cujas linhas arquitectónicas eramde uma beleza extraordinária. Quem a construíra mantivera-se fiel à pedra local, o xisto, e embora arrojado, o edifício enquadrava-se na paisagem local. Indaguei quem seria o proprietário e o arquitecto. O primeiro chama-se Dirk Nieport, o dono da Quinta de Nápoles, e o segundo um austríaco, cujo nome ignoro. A conclusão é obvia: para se ter, ou manter, um país bonito é necessário alguma cultura.Maria Filomena MónicaIn Meia-Hora

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