Recurso a primárias no PS divide socialistas

02-06-2014
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Recurso a primárias no PS divide socialistas

Inês David Bastos

10:45

A decisão de António José Seguro de colocar militantes e eleitores do PS a votarem no candidato a primeiro-ministro causa polémica no partido.

A decisão do secretário-geral do PS de avançar com 'primárias' no partido para a escolha do candidato a primeiro-ministro está a ser muito criticada junto dos apoiantes de António Costa.

Num artigo de opinião no jornal "Público", Jorge Lacão, que se demitiu do Secretariado Nacional do PS, acusa Seguro de estar a dar "um péssimo contributo à credibilidade institucional da política, tanto no plano do partido (...) como do sistema representativo". Em resposta, num outro artigo de opinião publicado no mesmo jornal, Álvaro Beleza, apoiante de Seguro, diz que foi "António Costa que criou um gravíssimo problema ao PS".

Depois de ter sido desafiado por António Costa a marcar um congresso extraordinário para discussão da liderança, António José Seguro anunciou este fim-de-semana à Comissão Nacional do PS que rejeitava essa hipótese e que decidiu propor a realização de 'primárias' no partido, à semelhança do que acontece noutros países. Desta forma, todos os militantes, simpatizantes e eleitores do PS serão chamados a votar mas para o candidato a primeiro-ministro.

Álvaro Beleza diz que Seguro tomou "uma decisão histórica de abrir o partido à participação dos eleitores e à cidadania", afirmando que o secretário-geral socialista "ficará na história da democracia como o político" que propor a realização de primárias abertas a não militantes.

Jorge Lacão não concorda. O apoiante de Costa lembra que o semi-presidencialismo "marca a natureza do nosso sistema político" e "nele não há eleição directa para o cargo de primeiro-ministro". Diz ainda que tentar o contrário é "uma abusiva tentativa de condicionar o papel arbitral do Presidente da República (seja ele qual for)".

Lacão critica ainda o facto de a proposta de Seguro abrir a porta a "uma possibilidade de bicefalia vinculante entre líder do partido e candidato a primeiro-ministro". Álvaro Beleza contrapõe: "Uma ideia bicéfala só existe quando duas pessoas desempenham a mesma função, que nunca seria o caso no PS".

"Com tal interpretação, o secretário-geral não será mais um líder para servir um projecto de responsabilidade dos seus órgãos colegiais. Serão os órgãos colegiais que servirão para assessorar um presidencialismo interno, em que, face à dinâmica inevitável das coisas, perante essa "lei de bronze" da liderança, tudo se julgará no confronto dos fiéis contra os dissidentes", avisa Jorge Lacão.

Álvaro Beleza diz, em contrapartida, que a proposta entretanto feita por Costa de se realizarem directas (pelos militantes) para eleger o secretário-geral e 'primárias' para o candidato a primeiro-ministro "é um erro" pois pode acontecer que os militantes do PS elejam um secretário-geral diferente do candidato". Beleza aconselha ainda Costa e os seus apoiantes a não se esconderem "atrás de Estatutos para impedirem uma evolução na democracia".

Lacão antevê que a solução de Seguro vai levar "ao colapso do PS como partido fulcral no funcionamento equilibrado da democracia portuguesa" e deixa o aviso: "Será ainda possível impedir este caminho? Quero acreditar que sim".

Recurso a primárias no PS divide socialistas

Inês David Bastos

10:45

A decisão de António José Seguro de colocar militantes e eleitores do PS a votarem no candidato a primeiro-ministro causa polémica no partido.

A decisão do secretário-geral do PS de avançar com 'primárias' no partido para a escolha do candidato a primeiro-ministro está a ser muito criticada junto dos apoiantes de António Costa.

Num artigo de opinião no jornal "Público", Jorge Lacão, que se demitiu do Secretariado Nacional do PS, acusa Seguro de estar a dar "um péssimo contributo à credibilidade institucional da política, tanto no plano do partido (...) como do sistema representativo". Em resposta, num outro artigo de opinião publicado no mesmo jornal, Álvaro Beleza, apoiante de Seguro, diz que foi "António Costa que criou um gravíssimo problema ao PS".

Depois de ter sido desafiado por António Costa a marcar um congresso extraordinário para discussão da liderança, António José Seguro anunciou este fim-de-semana à Comissão Nacional do PS que rejeitava essa hipótese e que decidiu propor a realização de 'primárias' no partido, à semelhança do que acontece noutros países. Desta forma, todos os militantes, simpatizantes e eleitores do PS serão chamados a votar mas para o candidato a primeiro-ministro.

Álvaro Beleza diz que Seguro tomou "uma decisão histórica de abrir o partido à participação dos eleitores e à cidadania", afirmando que o secretário-geral socialista "ficará na história da democracia como o político" que propor a realização de primárias abertas a não militantes.

Jorge Lacão não concorda. O apoiante de Costa lembra que o semi-presidencialismo "marca a natureza do nosso sistema político" e "nele não há eleição directa para o cargo de primeiro-ministro". Diz ainda que tentar o contrário é "uma abusiva tentativa de condicionar o papel arbitral do Presidente da República (seja ele qual for)".

Lacão critica ainda o facto de a proposta de Seguro abrir a porta a "uma possibilidade de bicefalia vinculante entre líder do partido e candidato a primeiro-ministro". Álvaro Beleza contrapõe: "Uma ideia bicéfala só existe quando duas pessoas desempenham a mesma função, que nunca seria o caso no PS".

"Com tal interpretação, o secretário-geral não será mais um líder para servir um projecto de responsabilidade dos seus órgãos colegiais. Serão os órgãos colegiais que servirão para assessorar um presidencialismo interno, em que, face à dinâmica inevitável das coisas, perante essa "lei de bronze" da liderança, tudo se julgará no confronto dos fiéis contra os dissidentes", avisa Jorge Lacão.

Álvaro Beleza diz, em contrapartida, que a proposta entretanto feita por Costa de se realizarem directas (pelos militantes) para eleger o secretário-geral e 'primárias' para o candidato a primeiro-ministro "é um erro" pois pode acontecer que os militantes do PS elejam um secretário-geral diferente do candidato". Beleza aconselha ainda Costa e os seus apoiantes a não se esconderem "atrás de Estatutos para impedirem uma evolução na democracia".

Lacão antevê que a solução de Seguro vai levar "ao colapso do PS como partido fulcral no funcionamento equilibrado da democracia portuguesa" e deixa o aviso: "Será ainda possível impedir este caminho? Quero acreditar que sim".

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