“Bloco Central seria suicidário para o PS e muito mau para o país”

04-05-2015
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“Bloco Central seria suicidário para o PS e muito mau para o país”

Rosário Lira e Francisco Ferreira da Silva

00:07

Política Maioria absoluta do PS é possível mas alternativa seria um acordo de incidência parlamentar, diz Cravinho.

Hoje acha que o PS está melhor com o António Costa do que estava com o António José Seguro?

Eu apoiei António José Seguro quando ele se candidatou, não era candidatura única, havia outros, eu escolhi-o com grande esperança. E, a certa altura, eu próprio cheguei à conclusão que o António José Seguro apesar da sua grande integridade e da sua honestidade política, não estava a ter um impacto que pudesse levar o PS para uma situação de vencedor das eleições.

E António Costa está a ter?

Eu acho que está em condições, basta ver...

Mas as sondagens não dizem isso.

As sondagens não diziam isso...

Está a antecipar as sondagens...

Não conheço as novas, o que conheço é o pânico que se apoderou do PSD e do CDS, sobretudo do PSD, em 8 dias, o fazer uma coisa que de facto é até um pouco ridícula. Como sabe os 12 economistas responderam às 29 questões, porque não haviam de responder? Responder às questões postas pelo PSD é responder ao eleitorado, é esclarecer o eleitorado e, portanto, achava normal esclarecer, mas não deixava de fazer uma pergunta, "E vocês, quando é que apresentam o vosso programa? Ainda andam à procura de rolha?"

Está em preparação. Mas António Costa então, o PS está melhor com ele?

Tem mais potencial sem dúvida.

E acha que vai haver um vencedor claro das próximas eleições? Acha que o PS pode ganhar com maioria absoluta?

Hoje em dia, a maioria das pessoas, não vê que o resultado natural das próximas eleições seja a maioria absoluta do PS, mas eu acho que o PS ainda tem essa possibilidade.

E portanto será necessário coligação...

Admitamos que, de facto, vamos ter uma situação em que o PS fica melhor colocado que a coligação mas não tem maioria absoluta, pode ter acordos de incidência parlamentar que façam a maioria. Se os puder fazer, muito bem, está o problema resolvido, de certo modo, mas não será a melhor das maneiras. O que é preciso num momento destes, de crise, é o eleitorado decidir-se, quer ou não quer ter um governo eficaz, um governo sólido, que seja estável.

Achava bem que se não houvesse uma maioria absoluta nas próximas eleições, seja ela de quem for, que houvesse uma coligação do Bloco Central?

Não, achava de facto que era suicidário para o PS e achava que era muito mau para o país. O país não pode viver de híbridos irreconciliáveis.

Esse cenário já existiu e também foi suicidário para Sócrates no seu segundo mandato.

Não tendo maioria absoluta?

Exactamente.

Porventura, sim. O José Sócrates acabou por sair do governo a seguir ao Memorando de entendimento mas, na realidade, José Sócrates estava "demitido" pelo Presidente da República no discurso de posse do seu segundo mandato. No sistema que nós temos, quando há um governo que não tem maioria e o Presidente da República é tão acirradamente crítico desse governo, eu acho que José Sócrates fez uma má leitura da situação, porque deveria ter apresentado ao Presidente da República a demissão naquele mesmo dia e, se ele o tivesse feito, o mundo era um bocado diferente.

Certo, mas se o PS também conseguir aquilo que já foi designado para António José Seguro, uma "vitóriazinha", a verdade é que governar sozinho com um Presidente da República que tem vindo a apelar aos consensos, provavelmente não vai ser possível.

Não, o Presidente da República, nessa altura, até não lhe dará posse, se eu bem percebi qual tem sido a sua linha de orientação.

Ou deve tentar António Costa uma aproximação mais à esquerda?

As aproximações, as negociações, podem ser abertas, o problema é fechá-las. Nós sabemos que o PCP não quer responsabilidades na governação. Não estou agora a dizer se é bem, se é mal, é a sua opção, ele é o dono da sua própria opção.

Portanto, digamos que o espaço para efeitos de eventuais acordos com incidência parlamentar são bastante mais reduzidos, com ou sem PC. Sem o PC tem sido muito claro e nós temos que respeitar a sua própria autonomia, podemos discordar mas a realidade é o que é e o PCP é que determina a sua política.

Mas uma aliança com o CDS fica inviabilizada com esta coligação ou não?

Se o CDS estiver nesta coligação com o mínimo de boa-fé, a resposta parece-meóbvia.

Mas assim sendo, parece que chegamos aqui a um ponto sem saída.

Mas não deixo de notar curiosamente, segundo me dizem, que apesar da coligação haverá dois grupos parlamentares perfeitamente separados, distintos e autónomos.

Portanto não põe de parte essa coligação?

Não ponho de parte a vontade de, mas não acho que a vontade se faz.

Não acha que vamos chegar a uma situação de impasse? Por aquilo que está a dizer podemos chegar a uma situação dessas.

O Dr. Salgado Zenha deu-nos a todos uma grande lição em várias circunstâncias, quando havia problemas muito complicados e se dizia "não há solução", ele dizia "em democracia há sempre solução", e há. Nós temos aqui uma particularidade, que complica muito as coisas, que é a seguinte: o Presidente da República cessa o seu mandato em Março, o novo só em Novembro é que poderá dissolver a assembleia, se o entender e se assim for necessário. Isto significaria que, em última instância, teríamos governo de gestão até Novembro de 2016.

O que seria péssimo na situação em que o país está.

É muito mau, mas as coisas costumam ter um começo.

Esteve na apresentação de Sampaio da Nóvoa. Deve ser este o candidato do PS às presidenciais?

Como sabe, o Partido Socialista - e António Costa tem sido muito claro nisso - nesta fase concentra-se, tão fortemente quanto possível, em ganhar as legislativas e portanto não entra na batalha presidencial já, com toda a normalidade da sua adesão e do seu poder. Portanto, eu acho que isso é uma estratégia bem vista. Pessoalmente penso que o Sampaio da Nóvoa é um bom candidato.

“Bloco Central seria suicidário para o PS e muito mau para o país”

Rosário Lira e Francisco Ferreira da Silva

00:07

Política Maioria absoluta do PS é possível mas alternativa seria um acordo de incidência parlamentar, diz Cravinho.

Hoje acha que o PS está melhor com o António Costa do que estava com o António José Seguro?

Eu apoiei António José Seguro quando ele se candidatou, não era candidatura única, havia outros, eu escolhi-o com grande esperança. E, a certa altura, eu próprio cheguei à conclusão que o António José Seguro apesar da sua grande integridade e da sua honestidade política, não estava a ter um impacto que pudesse levar o PS para uma situação de vencedor das eleições.

E António Costa está a ter?

Eu acho que está em condições, basta ver...

Mas as sondagens não dizem isso.

As sondagens não diziam isso...

Está a antecipar as sondagens...

Não conheço as novas, o que conheço é o pânico que se apoderou do PSD e do CDS, sobretudo do PSD, em 8 dias, o fazer uma coisa que de facto é até um pouco ridícula. Como sabe os 12 economistas responderam às 29 questões, porque não haviam de responder? Responder às questões postas pelo PSD é responder ao eleitorado, é esclarecer o eleitorado e, portanto, achava normal esclarecer, mas não deixava de fazer uma pergunta, "E vocês, quando é que apresentam o vosso programa? Ainda andam à procura de rolha?"

Está em preparação. Mas António Costa então, o PS está melhor com ele?

Tem mais potencial sem dúvida.

E acha que vai haver um vencedor claro das próximas eleições? Acha que o PS pode ganhar com maioria absoluta?

Hoje em dia, a maioria das pessoas, não vê que o resultado natural das próximas eleições seja a maioria absoluta do PS, mas eu acho que o PS ainda tem essa possibilidade.

E portanto será necessário coligação...

Admitamos que, de facto, vamos ter uma situação em que o PS fica melhor colocado que a coligação mas não tem maioria absoluta, pode ter acordos de incidência parlamentar que façam a maioria. Se os puder fazer, muito bem, está o problema resolvido, de certo modo, mas não será a melhor das maneiras. O que é preciso num momento destes, de crise, é o eleitorado decidir-se, quer ou não quer ter um governo eficaz, um governo sólido, que seja estável.

Achava bem que se não houvesse uma maioria absoluta nas próximas eleições, seja ela de quem for, que houvesse uma coligação do Bloco Central?

Não, achava de facto que era suicidário para o PS e achava que era muito mau para o país. O país não pode viver de híbridos irreconciliáveis.

Esse cenário já existiu e também foi suicidário para Sócrates no seu segundo mandato.

Não tendo maioria absoluta?

Exactamente.

Porventura, sim. O José Sócrates acabou por sair do governo a seguir ao Memorando de entendimento mas, na realidade, José Sócrates estava "demitido" pelo Presidente da República no discurso de posse do seu segundo mandato. No sistema que nós temos, quando há um governo que não tem maioria e o Presidente da República é tão acirradamente crítico desse governo, eu acho que José Sócrates fez uma má leitura da situação, porque deveria ter apresentado ao Presidente da República a demissão naquele mesmo dia e, se ele o tivesse feito, o mundo era um bocado diferente.

Certo, mas se o PS também conseguir aquilo que já foi designado para António José Seguro, uma "vitóriazinha", a verdade é que governar sozinho com um Presidente da República que tem vindo a apelar aos consensos, provavelmente não vai ser possível.

Não, o Presidente da República, nessa altura, até não lhe dará posse, se eu bem percebi qual tem sido a sua linha de orientação.

Ou deve tentar António Costa uma aproximação mais à esquerda?

As aproximações, as negociações, podem ser abertas, o problema é fechá-las. Nós sabemos que o PCP não quer responsabilidades na governação. Não estou agora a dizer se é bem, se é mal, é a sua opção, ele é o dono da sua própria opção.

Portanto, digamos que o espaço para efeitos de eventuais acordos com incidência parlamentar são bastante mais reduzidos, com ou sem PC. Sem o PC tem sido muito claro e nós temos que respeitar a sua própria autonomia, podemos discordar mas a realidade é o que é e o PCP é que determina a sua política.

Mas uma aliança com o CDS fica inviabilizada com esta coligação ou não?

Se o CDS estiver nesta coligação com o mínimo de boa-fé, a resposta parece-meóbvia.

Mas assim sendo, parece que chegamos aqui a um ponto sem saída.

Mas não deixo de notar curiosamente, segundo me dizem, que apesar da coligação haverá dois grupos parlamentares perfeitamente separados, distintos e autónomos.

Portanto não põe de parte essa coligação?

Não ponho de parte a vontade de, mas não acho que a vontade se faz.

Não acha que vamos chegar a uma situação de impasse? Por aquilo que está a dizer podemos chegar a uma situação dessas.

O Dr. Salgado Zenha deu-nos a todos uma grande lição em várias circunstâncias, quando havia problemas muito complicados e se dizia "não há solução", ele dizia "em democracia há sempre solução", e há. Nós temos aqui uma particularidade, que complica muito as coisas, que é a seguinte: o Presidente da República cessa o seu mandato em Março, o novo só em Novembro é que poderá dissolver a assembleia, se o entender e se assim for necessário. Isto significaria que, em última instância, teríamos governo de gestão até Novembro de 2016.

O que seria péssimo na situação em que o país está.

É muito mau, mas as coisas costumam ter um começo.

Esteve na apresentação de Sampaio da Nóvoa. Deve ser este o candidato do PS às presidenciais?

Como sabe, o Partido Socialista - e António Costa tem sido muito claro nisso - nesta fase concentra-se, tão fortemente quanto possível, em ganhar as legislativas e portanto não entra na batalha presidencial já, com toda a normalidade da sua adesão e do seu poder. Portanto, eu acho que isso é uma estratégia bem vista. Pessoalmente penso que o Sampaio da Nóvoa é um bom candidato.

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