Está péssimo, Seguro

16-09-2014
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Está péssimo, Seguro

João Galamba

Ontem 00:05

Seguro tem uma lista de 80 medidas, mas não tem uma estratégia, porque não há estratégia sem uma narrativa que a enquadre, que lhe dê sentido.

A narrativa de António José Seguro é simples: aqui temos um líder que, com grande sacrifício pessoal, pegou num partido que vinha de uma pesada derrota (28%) e, três anos depois, conseguiu a extraordinária proeza de o "tirar da lama" e chegar aos 31% numas eleições europeias. Para Seguro, o resultado das europeias só não foi histórico porque os portugueses ainda culpam o Partido Socialista.

E o que tem Seguro a dizer desta culpa? Concorda com ela, concordando portanto com a maioria PSD-CDS? Discorda, tentando, na medida das suas possibilidades, contestar a narrativa que a sustenta, apresentando uma alternativa? Concorda com parte? Com tudo? Não sabemos. Sabemos apenas que Seguro se limita a tomar nota e a constatar que "uma parte dos portugueses ainda responsabilizam o PS pela situação a que chegámos".

Em vez de fazer aquilo que se espera de um líder de esquerda, que é contestar e apresentar uma alternativa à narrativa (falsa) de que foi o despesismo público, a insustentabilidade do Estado Social e a perda de competitividade (falta das famosas reformas estruturais) que nos trouxe até aqui, Seguro transforma-se num líder populista e elege a reforma do sistema político e a regeneração ética da política como prioridades estratégicas. Na cabeça de Seguro, o descontentamento não vem da crise económica e social, nem resulta da aparente incapacidade dos partidos políticos em apresentar caminhos para superar essa crise.

A reforma do sistema eleitoral e a reforma da lei das incompatibilidades não são necessariamente erradas, só não são é uma resposta à crise que vivemos hoje. Pensar que sim, que é isso vai reconciliar os portugueses com a política, é não perceber que esse caminho está condenado ao fracasso, porque o descontentamento e a frustração dos cidadãos não só se manterão intactos como até terão tendência a aumentar.

Seguro teve necessidade de apostar na via populista porque não tem nada de interessante para dizer sobre a crise actual, ou melhor, porque não tem nada para dizer sobre a crise actual que seja significativamente diferente do que a direita já diz. Seguro tem uma lista de 80 medidas, mas não tem uma estratégia, porque não há estratégia sem uma narrativa que a enquadre, que lhe dê sentido. Partilhando com a direita a narrativa do que nos trouxe até aqui, Seguro só se consegue distinguir do actual governo imitando (em pior) Marinho Pinto, ou então, como se viu no debate de terça-feira com António Costa, dizendo coisas disparatadas como aquela de se demitir de primeiro-ministro caso a carga fiscal aumentasse. Não está mal, Seguro, está péssimo.

Está péssimo, Seguro

João Galamba

Ontem 00:05

Seguro tem uma lista de 80 medidas, mas não tem uma estratégia, porque não há estratégia sem uma narrativa que a enquadre, que lhe dê sentido.

A narrativa de António José Seguro é simples: aqui temos um líder que, com grande sacrifício pessoal, pegou num partido que vinha de uma pesada derrota (28%) e, três anos depois, conseguiu a extraordinária proeza de o "tirar da lama" e chegar aos 31% numas eleições europeias. Para Seguro, o resultado das europeias só não foi histórico porque os portugueses ainda culpam o Partido Socialista.

E o que tem Seguro a dizer desta culpa? Concorda com ela, concordando portanto com a maioria PSD-CDS? Discorda, tentando, na medida das suas possibilidades, contestar a narrativa que a sustenta, apresentando uma alternativa? Concorda com parte? Com tudo? Não sabemos. Sabemos apenas que Seguro se limita a tomar nota e a constatar que "uma parte dos portugueses ainda responsabilizam o PS pela situação a que chegámos".

Em vez de fazer aquilo que se espera de um líder de esquerda, que é contestar e apresentar uma alternativa à narrativa (falsa) de que foi o despesismo público, a insustentabilidade do Estado Social e a perda de competitividade (falta das famosas reformas estruturais) que nos trouxe até aqui, Seguro transforma-se num líder populista e elege a reforma do sistema político e a regeneração ética da política como prioridades estratégicas. Na cabeça de Seguro, o descontentamento não vem da crise económica e social, nem resulta da aparente incapacidade dos partidos políticos em apresentar caminhos para superar essa crise.

A reforma do sistema eleitoral e a reforma da lei das incompatibilidades não são necessariamente erradas, só não são é uma resposta à crise que vivemos hoje. Pensar que sim, que é isso vai reconciliar os portugueses com a política, é não perceber que esse caminho está condenado ao fracasso, porque o descontentamento e a frustração dos cidadãos não só se manterão intactos como até terão tendência a aumentar.

Seguro teve necessidade de apostar na via populista porque não tem nada de interessante para dizer sobre a crise actual, ou melhor, porque não tem nada para dizer sobre a crise actual que seja significativamente diferente do que a direita já diz. Seguro tem uma lista de 80 medidas, mas não tem uma estratégia, porque não há estratégia sem uma narrativa que a enquadre, que lhe dê sentido. Partilhando com a direita a narrativa do que nos trouxe até aqui, Seguro só se consegue distinguir do actual governo imitando (em pior) Marinho Pinto, ou então, como se viu no debate de terça-feira com António Costa, dizendo coisas disparatadas como aquela de se demitir de primeiro-ministro caso a carga fiscal aumentasse. Não está mal, Seguro, está péssimo.

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