Ad confessionem: A inteligência táctica de Daniel Oliveira e o T de SWOT

20-01-2012
marcar artigo

A vitória de António José Seguro é a maior ameaça do momento ao Bloco de Esquerda. Nenhuma análise capitalista de SWOT ao Bloco de Esquerda escaparia à inclusão de Seguro no quadradinho das ameaças. Só Daniel Oliveira o compreendeu e tenta, comevidente e surpreendente desespero, tal qual pé-de-cabra, abrir um espaço entre o Bloco e AJS, um espaço para si. Devo declarar que o espaço de Daniel Oliveira é muito semelhante ao meu. Partilhamos muitas amarras e muitas marés. Mas chega a ser de partir o coração ler os esforços de diminuição conjunta de Assis e Seguro. Afinal Assis não é assim tão bom pelo que, necessariamente, Seguro não é assim tão mau. Nivelemos e confundamos... Importa, contudo, ser rigoroso. O entusiasmo de quem busca um bloco renovado de esquerdas, resistente a um PS marcadamente de Esquerda que acabará por inutilizar o Bloco, aproveitando alguns dos seus melhores e lúcidos para o Laboratório de Ideias, não justifica inverdades. Daniel Oliveira fala de um “euroconformismo que dominou o partido, incluindo estes dois candidatos,” e que “basta recordar a recusa do PS em debater o trágico Tratado Lisboa”. Não, não basta. Também é necessário recordar que António José Seguro defendeu nos órgãos nacionais do PS a realização do referendo e votou a favor dessa proposta na Assembleia da República. Como o Bloco fez, como o PCP fez. Como o eleitorado mais à esquerda queria.A segunda crítica, forte e adjectivada, é sobre um suposto vazio político. Recordemos as propostas mais concretas da Moção de António José Seguro (pública e publicada): Eurobonds; governação política da UE; Código de Ética para o exercício dos cargos partidários e públicos; definição de regras de transparência e registo da actividade dos lóbis; revisão da lei eleitoral para a Assembleia da República (criação de círculos eleitorais de menor dimensão ou de círculos uninominais, neste caso, com a criação de um círculo nacional que garanta a proporcionalidade); princípio da liberdade de votos dos deputados do PS (com valor estrutural muito superior à ideia de primárias…); alteração do sistema de governo das autarquias locais assegurando a formação de executivos municipais homogéneos; Laboratório de Ideias (sendo um projecto inédito em Portugal já tem lastro no PSF, algo que quem quer saber, sabe…); amplo debate nacional sobre a organização e funcionamento interno do PS (esse debate terá início no Congresso Nacional e decorrerá até Março de 2012 e pretende discutir a organização das estruturas distritais e regionais, o funcionamento dos órgãos, os métodos de trabalho, o acesso à informação, a comunicação, a transparência do sistema eleitoral interno e igualdade de condições para as candidaturas, sistema de quotização, o financiamento das campanhas internas, a natureza dos Congressos em articulação com o sistema das directas, o método de escolha dos candidatos para cargos políticos, incluindo a possibilidade da introdução das primárias, entre os militantes); especial atenção sobre a negociação das perspectivas financeiras para o período 2014-2020 devidamente ajustadas à situação nacional e em defesa clara do princípio da coesão; defesa de políticas de industrialização de nova geração; primado das pessoas sobre os mercados; regulação e fiscalização rigorosa e estreita dos mercados financeiros; fim dos paraísos fiscais; a língua como recurso estratégico e como prioridade política, orçamental e diplomática.Talvez haja um vazio político – mas o vazio político que vejo é o de ideias atacáveis pelo Bloco de Esquerda. A maior parte destas ideias também foi defendida por Daniel Oliveira nos últimos anos. Há, portanto, uma nova oportunidade à esquerda. Há um novo patamar de integração à esquerda totalmente disponível. Sabemos que só o António José Seguro, dentro e fora do Partido, pode alcançá-lo. Daniel Oliveira também o sabe. O que não saberá responder é à pergunta que muitas portuguesas e muitos portugueses farão depois da eleição do António José Seguro: para que serve o Bloco de Esquerda?

A vitória de António José Seguro é a maior ameaça do momento ao Bloco de Esquerda. Nenhuma análise capitalista de SWOT ao Bloco de Esquerda escaparia à inclusão de Seguro no quadradinho das ameaças. Só Daniel Oliveira o compreendeu e tenta, comevidente e surpreendente desespero, tal qual pé-de-cabra, abrir um espaço entre o Bloco e AJS, um espaço para si. Devo declarar que o espaço de Daniel Oliveira é muito semelhante ao meu. Partilhamos muitas amarras e muitas marés. Mas chega a ser de partir o coração ler os esforços de diminuição conjunta de Assis e Seguro. Afinal Assis não é assim tão bom pelo que, necessariamente, Seguro não é assim tão mau. Nivelemos e confundamos... Importa, contudo, ser rigoroso. O entusiasmo de quem busca um bloco renovado de esquerdas, resistente a um PS marcadamente de Esquerda que acabará por inutilizar o Bloco, aproveitando alguns dos seus melhores e lúcidos para o Laboratório de Ideias, não justifica inverdades. Daniel Oliveira fala de um “euroconformismo que dominou o partido, incluindo estes dois candidatos,” e que “basta recordar a recusa do PS em debater o trágico Tratado Lisboa”. Não, não basta. Também é necessário recordar que António José Seguro defendeu nos órgãos nacionais do PS a realização do referendo e votou a favor dessa proposta na Assembleia da República. Como o Bloco fez, como o PCP fez. Como o eleitorado mais à esquerda queria.A segunda crítica, forte e adjectivada, é sobre um suposto vazio político. Recordemos as propostas mais concretas da Moção de António José Seguro (pública e publicada): Eurobonds; governação política da UE; Código de Ética para o exercício dos cargos partidários e públicos; definição de regras de transparência e registo da actividade dos lóbis; revisão da lei eleitoral para a Assembleia da República (criação de círculos eleitorais de menor dimensão ou de círculos uninominais, neste caso, com a criação de um círculo nacional que garanta a proporcionalidade); princípio da liberdade de votos dos deputados do PS (com valor estrutural muito superior à ideia de primárias…); alteração do sistema de governo das autarquias locais assegurando a formação de executivos municipais homogéneos; Laboratório de Ideias (sendo um projecto inédito em Portugal já tem lastro no PSF, algo que quem quer saber, sabe…); amplo debate nacional sobre a organização e funcionamento interno do PS (esse debate terá início no Congresso Nacional e decorrerá até Março de 2012 e pretende discutir a organização das estruturas distritais e regionais, o funcionamento dos órgãos, os métodos de trabalho, o acesso à informação, a comunicação, a transparência do sistema eleitoral interno e igualdade de condições para as candidaturas, sistema de quotização, o financiamento das campanhas internas, a natureza dos Congressos em articulação com o sistema das directas, o método de escolha dos candidatos para cargos políticos, incluindo a possibilidade da introdução das primárias, entre os militantes); especial atenção sobre a negociação das perspectivas financeiras para o período 2014-2020 devidamente ajustadas à situação nacional e em defesa clara do princípio da coesão; defesa de políticas de industrialização de nova geração; primado das pessoas sobre os mercados; regulação e fiscalização rigorosa e estreita dos mercados financeiros; fim dos paraísos fiscais; a língua como recurso estratégico e como prioridade política, orçamental e diplomática.Talvez haja um vazio político – mas o vazio político que vejo é o de ideias atacáveis pelo Bloco de Esquerda. A maior parte destas ideias também foi defendida por Daniel Oliveira nos últimos anos. Há, portanto, uma nova oportunidade à esquerda. Há um novo patamar de integração à esquerda totalmente disponível. Sabemos que só o António José Seguro, dentro e fora do Partido, pode alcançá-lo. Daniel Oliveira também o sabe. O que não saberá responder é à pergunta que muitas portuguesas e muitos portugueses farão depois da eleição do António José Seguro: para que serve o Bloco de Esquerda?

marcar artigo