Miguel Relvas continua vivo politicamente no PS!

07-10-2015
marcar artigo

1. Já recebi vários mails a perguntar por que razão ontem não escrevi sobre o Congresso do PS do passado fim-de-semana. Ora, esta interrogação comporta uma resposta muito simples: não escrevi sobre o referido congresso pelo simples facto de ter sido absolutamente insignificante. Com efeito, a dita "reunião magna" dos socialistas mais pareceu uma excursão a Santa Maria de Feira para disfrutar de um fim-de-semana cinzento, em que ir à praia não era uma ideia muito atractiva, fazendo terapia de grupo. E o PS precisava (precisa) de terapia de grupo? Claramente: aliás, não por acaso, a palavra mais ouvida foi mesmo união, dando a sensação de um grupo desavindo que precisava de estreitar os seus laços afectivos e apaziguar os seus ódios. António José Seguro comportou-se como o rapaz simpático, que afirma meia dúzia de frases que todos os amigos gostam de ouvir para ter o seu aplauso de conveniência. O mais preocupante no líder socialista é que não tem táctica, nem estratégia: limita-se a seguir o conselho que Mário de Figueiredo deu a um então jovem deputado da Assembleia Nacional no tempo do Estado Novo - se queres viver na política, faz de morto. E Seguro lá vai fazendo de morto...

2. Bom, posto isto, o Congresso do PS foi um não facto político: não houve um discurso marcante, não houve uma ideia forte que ficasse, não houve a definição clara da estratégia política do PS para os próximos tempos. O congresso foi tão irrelevante que os discursos de António José Seguro de sexta e de sábado foram uma mera reprodução das suas intervenções durante a semana, sem acrescentar nada - nem sequer um ponto final! -; o discurso de domingo pode ser qualificado como uma "mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma". Os spins doctors do PS andaram durante todo o fim de semana a vender a ideia aos jornalistas de que o discurso de encerramento do congresso iria ser uma bela peça de oratória, um exemplo de lirismo político e um virar de página no modo de fazer oposição - Seguro ia apresentar um conjunto de medidas para relançar a economia que iria surpreender os portugueses e desarmar o Governo. Seriam a prova que, afinal, há um rumo alternativo inequívoco `ao fanatismo financeiro de Vítor Gaspar e Passos Coelho. Eu próprio recebi um telefonema inflamado de um socialista a vender esta "boa nova", pelo que estive, em pleno início de tarde de domingo, a ouvir atentamente o discurso de António José Seguro. Minha primeira impressão: um discurso excessivamente longo, muito redondo, muito repetitivo - isto em termos formais. Minha segunda impressão: António José Seguro não tem perfil para discursos comiceiros, empolgados e empolgantes - não: o seu etilo é o de secretário-geral, de burocrata, de parlamentar. Minha terceira impressão: afinal, as medidas tão inovadoras, tão espectaculares, tão visionárias de António José Seguro mais não eram, com ligeiras adaptações, do que as que ele já tinha proposto há mais de um ano, com excepção de uma. De facto, a proposta de criação de um banco de fomento foi uma ideia que o Governo tinha capturado e incluído no memorando para o crescimento na semana anterior. A conversão dos créditos fiscais em empréstimos às empresas portuguesas é uma medida atabalhoada que não se percebe como muito bem como iria resolver o problema de liquidez da nossa economia: ora, o crédito fiscal significa que, no final, o Estado vai buscar menos dinheiro às empresas, podendo estas investir e utilizar no seu melhor interesse. Então para quê acabar-se com os créditos fiscais para depois o Estado emprestar esse dinheiro às empresas? Não se percebeu a ideia e fico com a sensação que nem o próprio António José Seguro sabe muito bem o que disse. Ora, o Governo no memorando para o crescimento prevê até ao final do ano criar um crédito fiscal para as empresas que invistam, criando empregos. Portanto, António José Seguro o que fez foi chamar outro nome a uma proposta, com a qual o Governo concorda, para dizer que (apenas e só!) ele é muito diferente de Passos Coelho. Nada de relevante, nem muito inovador, como se vê. Resta, então, a terceira proposta: o dinheiro que o BCE obteve com a intervenção no mercado secundário da dívida pública seja devolvido aos Estados intervencionados. É uma boa medida - este foi o melhor ponto do discurso. Esta é uma ideia da autoria de João Ribeiro (não de António José Seguro), mas que não depende do Estado português -logo é muito difícil de executar. Todavia, ainda bem que o PS a sugeriu: é positivo que haja alguém a vida política portuguesa que tenha uma visão diferente da condução política da Europa, recusando ser refém da "política da loucura" da senhora Merkel.

3. Pouco, muito pouco para um Congresso do maior partido da oposição, num momento extremamente delicado para Portugal e para os portugueses. Se o PS fosse um partido responsável, teria centrado a sua discussão nos problemas que afectam os portugueses. Preferiu desviar as atenções para o ataque a Cavaco Silva (e aqui com alguma razão, mas para o português médio isso não interessa) para chegar ao coração de José Sócrates. Com a agravante de, segundo o próprio António José Seguro, este ter sido o último congresso do PS antes da realização de eleições legislativas: os militantes do partido não terão outra oportunidade de se pronunciarem, nem António José Seguro será, em princípio, afrontado como líder dos socialistas. Enfim, o balanço do congresso do PS é, pois, negativo. Os portugueses estão fartos de show-off, de bandeirinhas e da ausência total de conteúdo.

Já não há dúvidas: o PS de Seguro não é uma alternativa política credível. É mais do mesmo: António José Seguro é mais um Miguel Relvas - pode aguentar-se como n.º 2, mas como líder, como n.º 1, é um verdadeiro erro de casting. No fundo, António José Seguro, tal como Miguel Relvas, é um operacional que sabe muito bem manobrar os bastidores do partido, mas não tem estofo, não tem perfil, não tem chispa para ser o líder da oposição. Miguel Relvas continua entre nós, pelo menos, através da sua alma gémea política que é António José Seguro. É de tal modo mau que o tal socialista que me ligou, entusiasmadíssimo com as propostas que Seguro iria apresentar, nunca mais me atendeu o telefone desde o encerramento do congresso do PS. Sintomático.

Nota para o Congresso: 12 valores, apesar de tudo no show off, misturando o clima de festa com alguma contenção, os socialistas não estiveram mal...

Nota para discurso de António José Seguro: 9 valores. Em tempos de crise, temos de ser particularmente exigentes com os líderes políticos. Seguro desiludiu no domingo. Mais: mentiu aos portugueses pois prometera um discurso virado para o país e tivemos apenas um discurso virado para Cavaco Silva e para José Sócrates. O congresso do PS foi de tam modo insignificante que já nenhum português se lembra dele....

Email: politicoesfera@gmail.com

1. Já recebi vários mails a perguntar por que razão ontem não escrevi sobre o Congresso do PS do passado fim-de-semana. Ora, esta interrogação comporta uma resposta muito simples: não escrevi sobre o referido congresso pelo simples facto de ter sido absolutamente insignificante. Com efeito, a dita "reunião magna" dos socialistas mais pareceu uma excursão a Santa Maria de Feira para disfrutar de um fim-de-semana cinzento, em que ir à praia não era uma ideia muito atractiva, fazendo terapia de grupo. E o PS precisava (precisa) de terapia de grupo? Claramente: aliás, não por acaso, a palavra mais ouvida foi mesmo união, dando a sensação de um grupo desavindo que precisava de estreitar os seus laços afectivos e apaziguar os seus ódios. António José Seguro comportou-se como o rapaz simpático, que afirma meia dúzia de frases que todos os amigos gostam de ouvir para ter o seu aplauso de conveniência. O mais preocupante no líder socialista é que não tem táctica, nem estratégia: limita-se a seguir o conselho que Mário de Figueiredo deu a um então jovem deputado da Assembleia Nacional no tempo do Estado Novo - se queres viver na política, faz de morto. E Seguro lá vai fazendo de morto...

2. Bom, posto isto, o Congresso do PS foi um não facto político: não houve um discurso marcante, não houve uma ideia forte que ficasse, não houve a definição clara da estratégia política do PS para os próximos tempos. O congresso foi tão irrelevante que os discursos de António José Seguro de sexta e de sábado foram uma mera reprodução das suas intervenções durante a semana, sem acrescentar nada - nem sequer um ponto final! -; o discurso de domingo pode ser qualificado como uma "mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma". Os spins doctors do PS andaram durante todo o fim de semana a vender a ideia aos jornalistas de que o discurso de encerramento do congresso iria ser uma bela peça de oratória, um exemplo de lirismo político e um virar de página no modo de fazer oposição - Seguro ia apresentar um conjunto de medidas para relançar a economia que iria surpreender os portugueses e desarmar o Governo. Seriam a prova que, afinal, há um rumo alternativo inequívoco `ao fanatismo financeiro de Vítor Gaspar e Passos Coelho. Eu próprio recebi um telefonema inflamado de um socialista a vender esta "boa nova", pelo que estive, em pleno início de tarde de domingo, a ouvir atentamente o discurso de António José Seguro. Minha primeira impressão: um discurso excessivamente longo, muito redondo, muito repetitivo - isto em termos formais. Minha segunda impressão: António José Seguro não tem perfil para discursos comiceiros, empolgados e empolgantes - não: o seu etilo é o de secretário-geral, de burocrata, de parlamentar. Minha terceira impressão: afinal, as medidas tão inovadoras, tão espectaculares, tão visionárias de António José Seguro mais não eram, com ligeiras adaptações, do que as que ele já tinha proposto há mais de um ano, com excepção de uma. De facto, a proposta de criação de um banco de fomento foi uma ideia que o Governo tinha capturado e incluído no memorando para o crescimento na semana anterior. A conversão dos créditos fiscais em empréstimos às empresas portuguesas é uma medida atabalhoada que não se percebe como muito bem como iria resolver o problema de liquidez da nossa economia: ora, o crédito fiscal significa que, no final, o Estado vai buscar menos dinheiro às empresas, podendo estas investir e utilizar no seu melhor interesse. Então para quê acabar-se com os créditos fiscais para depois o Estado emprestar esse dinheiro às empresas? Não se percebeu a ideia e fico com a sensação que nem o próprio António José Seguro sabe muito bem o que disse. Ora, o Governo no memorando para o crescimento prevê até ao final do ano criar um crédito fiscal para as empresas que invistam, criando empregos. Portanto, António José Seguro o que fez foi chamar outro nome a uma proposta, com a qual o Governo concorda, para dizer que (apenas e só!) ele é muito diferente de Passos Coelho. Nada de relevante, nem muito inovador, como se vê. Resta, então, a terceira proposta: o dinheiro que o BCE obteve com a intervenção no mercado secundário da dívida pública seja devolvido aos Estados intervencionados. É uma boa medida - este foi o melhor ponto do discurso. Esta é uma ideia da autoria de João Ribeiro (não de António José Seguro), mas que não depende do Estado português -logo é muito difícil de executar. Todavia, ainda bem que o PS a sugeriu: é positivo que haja alguém a vida política portuguesa que tenha uma visão diferente da condução política da Europa, recusando ser refém da "política da loucura" da senhora Merkel.

3. Pouco, muito pouco para um Congresso do maior partido da oposição, num momento extremamente delicado para Portugal e para os portugueses. Se o PS fosse um partido responsável, teria centrado a sua discussão nos problemas que afectam os portugueses. Preferiu desviar as atenções para o ataque a Cavaco Silva (e aqui com alguma razão, mas para o português médio isso não interessa) para chegar ao coração de José Sócrates. Com a agravante de, segundo o próprio António José Seguro, este ter sido o último congresso do PS antes da realização de eleições legislativas: os militantes do partido não terão outra oportunidade de se pronunciarem, nem António José Seguro será, em princípio, afrontado como líder dos socialistas. Enfim, o balanço do congresso do PS é, pois, negativo. Os portugueses estão fartos de show-off, de bandeirinhas e da ausência total de conteúdo.

Já não há dúvidas: o PS de Seguro não é uma alternativa política credível. É mais do mesmo: António José Seguro é mais um Miguel Relvas - pode aguentar-se como n.º 2, mas como líder, como n.º 1, é um verdadeiro erro de casting. No fundo, António José Seguro, tal como Miguel Relvas, é um operacional que sabe muito bem manobrar os bastidores do partido, mas não tem estofo, não tem perfil, não tem chispa para ser o líder da oposição. Miguel Relvas continua entre nós, pelo menos, através da sua alma gémea política que é António José Seguro. É de tal modo mau que o tal socialista que me ligou, entusiasmadíssimo com as propostas que Seguro iria apresentar, nunca mais me atendeu o telefone desde o encerramento do congresso do PS. Sintomático.

Nota para o Congresso: 12 valores, apesar de tudo no show off, misturando o clima de festa com alguma contenção, os socialistas não estiveram mal...

Nota para discurso de António José Seguro: 9 valores. Em tempos de crise, temos de ser particularmente exigentes com os líderes políticos. Seguro desiludiu no domingo. Mais: mentiu aos portugueses pois prometera um discurso virado para o país e tivemos apenas um discurso virado para Cavaco Silva e para José Sócrates. O congresso do PS foi de tam modo insignificante que já nenhum português se lembra dele....

Email: politicoesfera@gmail.com

marcar artigo