Portugal Global: Da velocidade da morte

21-01-2012
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Nunca tinha imaginado que uma morte normal tem diversas velocidades, consoante o tempo histórico e geográfico em que ela se dá.A morte dos papas e dos reis é uma coisa prolongada, mesmo que a maioria dos convivas tenha avião particular. Dura sempre vários dias, como temos visto nos casos que guardamos na memória.A morte dos que são assassinados é, por regra, uma coisa muita rápida e discreta, mesmo que se trate de figura pública, como foi o caso recente de Saddam Hussein.Não imaginava que a morte de uma pessoa normal e decente pudesse ser tão expedita como o que vi hoje relativamente ao meu querido amigo Joaquim Magalhães.Às quatro da manhã de hoje ele tinha deixado de respirar, mas o médico ainda não tinha certificado o óbito.Passamos a notícia aos amigos que conseguimos contactar e às 10 horas da manhã sabíamos que o corpo do Joaquim seria «liberado» por volta das 14 horas e que o funeral se realizaria às 16 horas, precisamente 12 horas depois do passamento.O tempo marchou a uma velocidade incrível.Às 15 horas, um padre de jeans e camisa de manga curta, com uma estola ao pescoço e um estilo afável e esperançoso procedeu aos rituais da praxe, encomendando-lhe a alma.Às 16 horas em ponto os serviços municipais carregaram a urna e as coroas de flores e todos nos dirigimos para o crematório de Vila Alpina, onde entregamos o esquife, ao som de música brasileira, terminando com Elis Regina.Foi a única falha do programa...Nenhum de nós se lembrou de levar connosco um disco do Chaínho, daqueles em que a guitarra fala à alma, como bem precisava o Magalhães neste fim de tarde.Ainda não passaram 24 horas sobre o momento em que me me apertou a mão e se despediu de mim e já tenho a sensação de que, apesar de toda esta velocidade, a grande cidade e a nossa comunidade nesta metrópole mudaram.É que o peso deste homem franzino, de olhar vivo, no mundo português de S. Paulo nada tinha a ver com os 40 quilos que hoje entregamos ao crematório. O Magalhães nunca concordava, em absoluto, com nada.Criticava, discutia, forçava soluções, negociava, avançava para ganhar e cedia quando era preciso ceder.Era, intimamente, um perfeccionista, no que se refere à construção de soluções políticas.A virtude em que levava o perfeccionismo mais longe era a da fidelidade.Fiel aos amigos, fiel àqueles com quem colaborou, fiel às ideias políticas e ao partido que abraçou, era, todavia, estimado pelos adversários, que criticava mas respeitava.Apesar da velocidade com que tudo isto se processou - menos doze horas, que começaram às 4 da manhã - o Joaquim viu-se homenageado, na última viagem, por uma coroa de flores enviada pelo embaixador de Portugal em Brasília, o que, por si só, é nota expressiva do reconhecimento da sua intervenção cívica mas também da competência da actual representação diplomática de Portugal no Brasil.O Joaquim Magalhães era, de facto, uma personalidade impar. Se o não fosse não veriamos a pegar-lhe em peso, pessoas como o Dr. Júlio Rodrigues, presidente do banco Banif, o Dr. Paulo Esteves e o Dr. Paulo Porto, sem agravo para dos demais que o cansaço e a emoção não me deixam recordar.Gostei especialmente de ver ali o Capitão José Verdasca. Apesar das relações difíceis que ambos tiveram, foi das primeiras pessoas, a oferecer a sua solidariedade económica ao Magalhães, após o seu internamento. Dei-lhe o recado de agradecimento que o Joaquim não teve tempo de dar.Tudo foi demasiado rápido, como se a morte nas grandes cidades fosse uma questão política.Acabo este post vinte horas depois de a médica me ter dito que o meu amigo estava morto mas que ela ainda não tinha comprovado a morte.


Nunca tinha imaginado que uma morte normal tem diversas velocidades, consoante o tempo histórico e geográfico em que ela se dá.A morte dos papas e dos reis é uma coisa prolongada, mesmo que a maioria dos convivas tenha avião particular. Dura sempre vários dias, como temos visto nos casos que guardamos na memória.A morte dos que são assassinados é, por regra, uma coisa muita rápida e discreta, mesmo que se trate de figura pública, como foi o caso recente de Saddam Hussein.Não imaginava que a morte de uma pessoa normal e decente pudesse ser tão expedita como o que vi hoje relativamente ao meu querido amigo Joaquim Magalhães.Às quatro da manhã de hoje ele tinha deixado de respirar, mas o médico ainda não tinha certificado o óbito.Passamos a notícia aos amigos que conseguimos contactar e às 10 horas da manhã sabíamos que o corpo do Joaquim seria «liberado» por volta das 14 horas e que o funeral se realizaria às 16 horas, precisamente 12 horas depois do passamento.O tempo marchou a uma velocidade incrível.Às 15 horas, um padre de jeans e camisa de manga curta, com uma estola ao pescoço e um estilo afável e esperançoso procedeu aos rituais da praxe, encomendando-lhe a alma.Às 16 horas em ponto os serviços municipais carregaram a urna e as coroas de flores e todos nos dirigimos para o crematório de Vila Alpina, onde entregamos o esquife, ao som de música brasileira, terminando com Elis Regina.Foi a única falha do programa...Nenhum de nós se lembrou de levar connosco um disco do Chaínho, daqueles em que a guitarra fala à alma, como bem precisava o Magalhães neste fim de tarde.Ainda não passaram 24 horas sobre o momento em que me me apertou a mão e se despediu de mim e já tenho a sensação de que, apesar de toda esta velocidade, a grande cidade e a nossa comunidade nesta metrópole mudaram.É que o peso deste homem franzino, de olhar vivo, no mundo português de S. Paulo nada tinha a ver com os 40 quilos que hoje entregamos ao crematório. O Magalhães nunca concordava, em absoluto, com nada.Criticava, discutia, forçava soluções, negociava, avançava para ganhar e cedia quando era preciso ceder.Era, intimamente, um perfeccionista, no que se refere à construção de soluções políticas.A virtude em que levava o perfeccionismo mais longe era a da fidelidade.Fiel aos amigos, fiel àqueles com quem colaborou, fiel às ideias políticas e ao partido que abraçou, era, todavia, estimado pelos adversários, que criticava mas respeitava.Apesar da velocidade com que tudo isto se processou - menos doze horas, que começaram às 4 da manhã - o Joaquim viu-se homenageado, na última viagem, por uma coroa de flores enviada pelo embaixador de Portugal em Brasília, o que, por si só, é nota expressiva do reconhecimento da sua intervenção cívica mas também da competência da actual representação diplomática de Portugal no Brasil.O Joaquim Magalhães era, de facto, uma personalidade impar. Se o não fosse não veriamos a pegar-lhe em peso, pessoas como o Dr. Júlio Rodrigues, presidente do banco Banif, o Dr. Paulo Esteves e o Dr. Paulo Porto, sem agravo para dos demais que o cansaço e a emoção não me deixam recordar.Gostei especialmente de ver ali o Capitão José Verdasca. Apesar das relações difíceis que ambos tiveram, foi das primeiras pessoas, a oferecer a sua solidariedade económica ao Magalhães, após o seu internamento. Dei-lhe o recado de agradecimento que o Joaquim não teve tempo de dar.Tudo foi demasiado rápido, como se a morte nas grandes cidades fosse uma questão política.Acabo este post vinte horas depois de a médica me ter dito que o meu amigo estava morto mas que ela ainda não tinha comprovado a morte.

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