Da Literatura: O CIRCO

01-07-2011
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A minha empregada está inconsolável. Tinha férias marcadas para Cancún e soube ontem que a agência cancelou o programa. Tudo por causa da gripe dos porcos! Mais furiosa ficou com a promessa de upgrade num destino mediterrânico. Quero lá saber desse tal de upigráde na Sardenha. Aquilo é só cascalho! Faço-lhe ver as vantagens: em vez de sete tem direito a dez noites em hotel de quatro estrelas (contra o de três no litoral mexicano), pensão completa como contratado para o outro lado, e um voo directo muitíssimo mais curto. Não! Cancún é que era. A minha Mariza fez lá a viagem de fim de curso da Moderna quando ficou doutora em cinema, e ainda hoje revira os olhos quando fala do capilé com rum que lhe serviam na piscina. OK.Como eu a percebo! Quando foi da gripe das aves, não sei se estão lembrados, as previsões mais modestas apontavam para quatro milhões, repito, quatro milhões de infectados só em Portugal, com uma taxa de mortalidade superior a 80%. Conheço gente que comprou Tamiflu no mercado negro. O frango vendia-se a dois euros o quilo no Corte Inglês (hoje custa o dobro), amigos meus desistiram de todas as viagens a leste das Maldivas, teóricos franceses — e quem senão eles? — largamente discutiram as consequências da pandemia, Coetzee falou de um vírus que pretendia «dominar o mundo» (cf. Diário de um Mau Ano, 2007), as televisões tornaram-se infrequentáveis, a Organização Mundial de Saúde perdeu as estribeiras, ministros voaram de continente em continente para discutir o Apocalipse. Em Portugal, a oposição em peso pediu a demissão do director-geral de Saúde porque o senhor não tem os dons oratórios de Louçã. Lembram-se? Dir-se-ia que nada disso aconteceu. Agora o circo voltou. A França quer impor uma barreira entre o México e o mundo (voos cancelados, já!). E daqui a nada Ana Jorge reúne-se no Luxemburgo com os seus homólogos. O mundo está perigoso.Etiquetas: Mundo, Saúde

A minha empregada está inconsolável. Tinha férias marcadas para Cancún e soube ontem que a agência cancelou o programa. Tudo por causa da gripe dos porcos! Mais furiosa ficou com a promessa de upgrade num destino mediterrânico. Quero lá saber desse tal de upigráde na Sardenha. Aquilo é só cascalho! Faço-lhe ver as vantagens: em vez de sete tem direito a dez noites em hotel de quatro estrelas (contra o de três no litoral mexicano), pensão completa como contratado para o outro lado, e um voo directo muitíssimo mais curto. Não! Cancún é que era. A minha Mariza fez lá a viagem de fim de curso da Moderna quando ficou doutora em cinema, e ainda hoje revira os olhos quando fala do capilé com rum que lhe serviam na piscina. OK.Como eu a percebo! Quando foi da gripe das aves, não sei se estão lembrados, as previsões mais modestas apontavam para quatro milhões, repito, quatro milhões de infectados só em Portugal, com uma taxa de mortalidade superior a 80%. Conheço gente que comprou Tamiflu no mercado negro. O frango vendia-se a dois euros o quilo no Corte Inglês (hoje custa o dobro), amigos meus desistiram de todas as viagens a leste das Maldivas, teóricos franceses — e quem senão eles? — largamente discutiram as consequências da pandemia, Coetzee falou de um vírus que pretendia «dominar o mundo» (cf. Diário de um Mau Ano, 2007), as televisões tornaram-se infrequentáveis, a Organização Mundial de Saúde perdeu as estribeiras, ministros voaram de continente em continente para discutir o Apocalipse. Em Portugal, a oposição em peso pediu a demissão do director-geral de Saúde porque o senhor não tem os dons oratórios de Louçã. Lembram-se? Dir-se-ia que nada disso aconteceu. Agora o circo voltou. A França quer impor uma barreira entre o México e o mundo (voos cancelados, já!). E daqui a nada Ana Jorge reúne-se no Luxemburgo com os seus homólogos. O mundo está perigoso.Etiquetas: Mundo, Saúde

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