Pulo do Lobo: Dez Milhões de Imigrantes

21-01-2012
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OK, o receio de que os imigrantes deixem os portugueses em minoria não foi o momento alto de Cavaco no debate de sexta-feira. Louçã qualificou-o mesmo de "divertido". Mas o tema nada tem de divertido. Só um (mau) cómico não vê que a imigração constitui actualmente o maior problema das democracias europeias. Basta olhar lá para fora, como o Bloco tanto gosta de fazer. A segunda geração de imigrantes magrebinos a ferro e fogo nas ruas de França - é divertido? Os bombistas suicidas de Atocha, imigrantes legais e integrados em Espanha - divertem-no? Os bombistas suicidas do Metro de Londres, cidadãos britânicos filhos de imigrantes - arrancam-lhe um sorriso? Os confrontos ocasionais entre imigrantes de diversas etnias em Inglaterra - são hilariantes? O que se passa em Ceuta e Melilla - dá vontade de rir? Os centros de detenção italianos - fazem-lhe cócegas? O tráfico de carne branca (ou preta) para a prostituição e para a construção civil - será caricato?Talvez sim, para quem tenha uma relação eternamente ambígua com o uso da violência e a própria democracia. O caso muda de figura para todos os que não frequentam os workshops de desobediência civil do Bloco. Até Soares disse hoje a um imigrante brasileiro que não podiam vir os seus 180 milhões de compatriotas para cá, ou Portugal afundava-se no Atlântico. Soares pode dizer isto, claro: com ele, todos os momentos são divertidos. 180 milhões... Ah ah ah! Pois, mas nem a grandeza dos números consegue disfarçar que a solução soarista não anda longe da cavaquista. Quanto a Louçã, não sabemos que solução quer (ou mesmo se quer alguma). Sabemos que admite o falhanço do multiculturalismo, mas não o que propõe em troca. Será o melting pot americano, o tal que produz o Katrina e outras injustiças neoliberais? Será uma sociedade onde os enchidos ocupem o lugar dos crucifixos, como sugeriu Ana Drago - talvez unindo nos prazeres da carne cristãos e ateus (mas não, lamento notar, judeus e muçulmanos)? Sobre isto, Louçã nada diz: diverte-se. A filha sorri (sai ao pai). O Nélson não sorri porque não pode jogar futebol federado sem a nacionalidade portuguesa, mas ele cita-o nos debates. Tirando esse pormenor, parece estar tudo bem no reino de Louçã. Estará? Veremos quem ri no fim. Não será ele, que não fica para ver. A filha e o Nélson que se arranjem.

OK, o receio de que os imigrantes deixem os portugueses em minoria não foi o momento alto de Cavaco no debate de sexta-feira. Louçã qualificou-o mesmo de "divertido". Mas o tema nada tem de divertido. Só um (mau) cómico não vê que a imigração constitui actualmente o maior problema das democracias europeias. Basta olhar lá para fora, como o Bloco tanto gosta de fazer. A segunda geração de imigrantes magrebinos a ferro e fogo nas ruas de França - é divertido? Os bombistas suicidas de Atocha, imigrantes legais e integrados em Espanha - divertem-no? Os bombistas suicidas do Metro de Londres, cidadãos britânicos filhos de imigrantes - arrancam-lhe um sorriso? Os confrontos ocasionais entre imigrantes de diversas etnias em Inglaterra - são hilariantes? O que se passa em Ceuta e Melilla - dá vontade de rir? Os centros de detenção italianos - fazem-lhe cócegas? O tráfico de carne branca (ou preta) para a prostituição e para a construção civil - será caricato?Talvez sim, para quem tenha uma relação eternamente ambígua com o uso da violência e a própria democracia. O caso muda de figura para todos os que não frequentam os workshops de desobediência civil do Bloco. Até Soares disse hoje a um imigrante brasileiro que não podiam vir os seus 180 milhões de compatriotas para cá, ou Portugal afundava-se no Atlântico. Soares pode dizer isto, claro: com ele, todos os momentos são divertidos. 180 milhões... Ah ah ah! Pois, mas nem a grandeza dos números consegue disfarçar que a solução soarista não anda longe da cavaquista. Quanto a Louçã, não sabemos que solução quer (ou mesmo se quer alguma). Sabemos que admite o falhanço do multiculturalismo, mas não o que propõe em troca. Será o melting pot americano, o tal que produz o Katrina e outras injustiças neoliberais? Será uma sociedade onde os enchidos ocupem o lugar dos crucifixos, como sugeriu Ana Drago - talvez unindo nos prazeres da carne cristãos e ateus (mas não, lamento notar, judeus e muçulmanos)? Sobre isto, Louçã nada diz: diverte-se. A filha sorri (sai ao pai). O Nélson não sorri porque não pode jogar futebol federado sem a nacionalidade portuguesa, mas ele cita-o nos debates. Tirando esse pormenor, parece estar tudo bem no reino de Louçã. Estará? Veremos quem ri no fim. Não será ele, que não fica para ver. A filha e o Nélson que se arranjem.

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