Da Literatura: ARRE, CHIÇA!

03-07-2011
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Os media, todos, sem excepção, têm-nos tratado como se fôssemos parvos. O padrão refinou nos últimos 15 dias, atingindo o paroxismo nas últimas 48 horas. Há uma semana, quando foram anunciadas as medidas de austeridade, ninguém ligou peva. Se até o Presidente da República se permitiu uma semana de férias — Eu ando desde 2003 a alertar para as consequências da política económica portuguesa (cito de cor uma frase que o ouvi dizer ontem), como quem diz que a mais não é obrigado —, por que carga de água o país das hóstias, da Taça, do Rock in Rio, do CR9, etc., perderia um minuto com a dívida soberana...?Vamos por partes. O desabafo do Presidente da República — Eu ando desde 2003 a alertar para as consequências da política económica portuguesa — serve para quê? Para tornar inócua a eleição de 2005 e a provável recandidatura em 2011?Contudo, a cereja em cima do bolo são as famosas taxas adicionais ao IRS. Não vale a pena comentar a trapalhada da produção de efeitos. A sucessão de explicações e contra-explicações do ministério das Finanças faz lembrar os ominosos tempos do governo de Santana Lopes. Em consequência, a manipulação dos media é de regra. A dificuldade dos jornalistas em perceber o mecanismo de aplicação das taxas extraordinárias de 1% e 1,5% (as quais, em 2010, por surgirem a meio do ano, correspondem respectivamente a 0,58% e 0,88%) brada aos céus. Mas os deputados da oposição não fizeram melhor figura. Tratar uma Portaria como de Lei se tratasse, e foi isso que o CDS-PP fez em plenário, demonstra a enorme falta de respeito que sentem por quem os elegeu. Perderam uma excelente oportunidade para votar a favor da moção de censura do PCP. No outro extremo do hemiciclo, Ana Drago, sempre eloquente, disse: «Não se pode fazer um orçamento rectificativo por portaria...» A gente sabe que não.Voltando aos media. Os funcionários públicos (os do activo e os aposentados) receberam os respectivos vencimentos e pensões no passado dia 19. Se não sabem, ficam a saber. Por outro lado, falando de privados, ignorar que o processamento de salários (não confundir com pagamento) fecha por volta do dia 20, é ter do país a imagem da leitaria do sr. Abílio, que só no dia 30 ou 31 se lembra que tem de pagar 300 euros à nordestina que toma conta da casa das 7 da manhã às 7 da tarde. Os obscuros fiscalistas que as televisões foram ontem buscar às catacumbas, bem podem espremer-se com os efeitos imediatos da retenção. O governo diz que produzirá efeitos a partir de Junho. OK. Se for a partir de 21 de Maio, o desconto de Junho acumulará com onze dias de Maio. A ver vamos. E depois falamos.Etiquetas: Dívida pública, Nonsense

Os media, todos, sem excepção, têm-nos tratado como se fôssemos parvos. O padrão refinou nos últimos 15 dias, atingindo o paroxismo nas últimas 48 horas. Há uma semana, quando foram anunciadas as medidas de austeridade, ninguém ligou peva. Se até o Presidente da República se permitiu uma semana de férias — Eu ando desde 2003 a alertar para as consequências da política económica portuguesa (cito de cor uma frase que o ouvi dizer ontem), como quem diz que a mais não é obrigado —, por que carga de água o país das hóstias, da Taça, do Rock in Rio, do CR9, etc., perderia um minuto com a dívida soberana...?Vamos por partes. O desabafo do Presidente da República — Eu ando desde 2003 a alertar para as consequências da política económica portuguesa — serve para quê? Para tornar inócua a eleição de 2005 e a provável recandidatura em 2011?Contudo, a cereja em cima do bolo são as famosas taxas adicionais ao IRS. Não vale a pena comentar a trapalhada da produção de efeitos. A sucessão de explicações e contra-explicações do ministério das Finanças faz lembrar os ominosos tempos do governo de Santana Lopes. Em consequência, a manipulação dos media é de regra. A dificuldade dos jornalistas em perceber o mecanismo de aplicação das taxas extraordinárias de 1% e 1,5% (as quais, em 2010, por surgirem a meio do ano, correspondem respectivamente a 0,58% e 0,88%) brada aos céus. Mas os deputados da oposição não fizeram melhor figura. Tratar uma Portaria como de Lei se tratasse, e foi isso que o CDS-PP fez em plenário, demonstra a enorme falta de respeito que sentem por quem os elegeu. Perderam uma excelente oportunidade para votar a favor da moção de censura do PCP. No outro extremo do hemiciclo, Ana Drago, sempre eloquente, disse: «Não se pode fazer um orçamento rectificativo por portaria...» A gente sabe que não.Voltando aos media. Os funcionários públicos (os do activo e os aposentados) receberam os respectivos vencimentos e pensões no passado dia 19. Se não sabem, ficam a saber. Por outro lado, falando de privados, ignorar que o processamento de salários (não confundir com pagamento) fecha por volta do dia 20, é ter do país a imagem da leitaria do sr. Abílio, que só no dia 30 ou 31 se lembra que tem de pagar 300 euros à nordestina que toma conta da casa das 7 da manhã às 7 da tarde. Os obscuros fiscalistas que as televisões foram ontem buscar às catacumbas, bem podem espremer-se com os efeitos imediatos da retenção. O governo diz que produzirá efeitos a partir de Junho. OK. Se for a partir de 21 de Maio, o desconto de Junho acumulará com onze dias de Maio. A ver vamos. E depois falamos.Etiquetas: Dívida pública, Nonsense

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