A Vénus pudica de Penafiel

15-01-2020
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Fotografia a três dimensões: Dispondo de uma só oportunidade para fotografar, os arqueólogos recolheram esta imagem com luz rasante, ao início da noite. A partir de imagens como esta, foi possível criar uma réplica 3D, à qual se aplicou o MRM (à esquerda). O módulo de resíduo morfológico foi desenvolvido por Hugo Pires e tem evidentes aplicações no estudo epigráfico. Este método permite contrastar os pequenos detalhes morfológicos da superfície da rocha, melhorando a percepção visual dos sulcos e tornando as inscrições mais nítidas (à direita). Imagem fotográfica: Francisco Albuquerque, imagem de síntese: Hugo Pires, Centro de Investigação em Ciências Geoespaciais e Superfície Lda. Fonte: “Notícia sobre uma nova estela romana figurada de Capela, Penafiel” (2013), por Teresa Soeiro e “A estela funerária de Capela, Penafiel” (2014), por M.J. Correia Santos e Hugo Pires.

No início do século XX, a abertura de uma estrada na freguesia de Capela (Penafiel), revelou sepulturas romanas e estelas funerárias, datáveis entre o século I e IV d.C.

Texto: Gonçalo Pereira Rosa

Fotografia: Francisco Albuquerque e Hugo Pires

Uma família local aproveitou um pedaço de granito para a construção de um muro, mas a lavagem revelou uma figura e inscrições epigráficas. A estela foi por isso guardada e mais tarde exibida num jardim privado, onde a arqueóloga Teresa Soeiro, da Universidade do Porto, a localizou em 2011. O estudo preliminar revelou uma figura feminina em baixo relevo, evocando o tema da Vénus pudica. Foram captadas diversas fotografias com luz rasante, posteriormente usadas por Hugo Pires, do Centro de Investigação em Ciências Geoespaciais, para a digitalização tridimensional da estela.

O estudo preliminar revelou uma figura feminina em baixo relevo.

Foi a partir desta réplica detalhada que se calculou o Modelo de Resíduo Morfológico, fazendo ressaltar as diferentes profundidades da superfície e permitindo leituras de maior sensibilidade. O processo permitiu detectar mais três linhas da inscrição e a figura feminina tornou-se mais nítida, bem como o gesto de amparar os seios e posição da mão direita sobre o seio esquerdo. Hugo Pires resume as novas possibilidades: “Em alguns casos, dados fotográficos recolhidos no passado podem originar representações 3D de objectos arqueológicos em risco, contribuindo para a sua salvaguarda e permitindo leituras mais aprofundadas”.

A inscrição: “Aos deuses Manes infernais, estátua colocada em memória de Paterna, de 60 anos, (que) repousa aqui” – é a transcrição da epígrafe sugerida pela investigadora M. J. Correia Santos, doutoranda da Universidade de Saragoça.

Fotografia a três dimensões: Dispondo de uma só oportunidade para fotografar, os arqueólogos recolheram esta imagem com luz rasante, ao início da noite. A partir de imagens como esta, foi possível criar uma réplica 3D, à qual se aplicou o MRM (à esquerda). O módulo de resíduo morfológico foi desenvolvido por Hugo Pires e tem evidentes aplicações no estudo epigráfico. Este método permite contrastar os pequenos detalhes morfológicos da superfície da rocha, melhorando a percepção visual dos sulcos e tornando as inscrições mais nítidas (à direita). Imagem fotográfica: Francisco Albuquerque, imagem de síntese: Hugo Pires, Centro de Investigação em Ciências Geoespaciais e Superfície Lda. Fonte: “Notícia sobre uma nova estela romana figurada de Capela, Penafiel” (2013), por Teresa Soeiro e “A estela funerária de Capela, Penafiel” (2014), por M.J. Correia Santos e Hugo Pires.

No início do século XX, a abertura de uma estrada na freguesia de Capela (Penafiel), revelou sepulturas romanas e estelas funerárias, datáveis entre o século I e IV d.C.

Texto: Gonçalo Pereira Rosa

Fotografia: Francisco Albuquerque e Hugo Pires

Uma família local aproveitou um pedaço de granito para a construção de um muro, mas a lavagem revelou uma figura e inscrições epigráficas. A estela foi por isso guardada e mais tarde exibida num jardim privado, onde a arqueóloga Teresa Soeiro, da Universidade do Porto, a localizou em 2011. O estudo preliminar revelou uma figura feminina em baixo relevo, evocando o tema da Vénus pudica. Foram captadas diversas fotografias com luz rasante, posteriormente usadas por Hugo Pires, do Centro de Investigação em Ciências Geoespaciais, para a digitalização tridimensional da estela.

O estudo preliminar revelou uma figura feminina em baixo relevo.

Foi a partir desta réplica detalhada que se calculou o Modelo de Resíduo Morfológico, fazendo ressaltar as diferentes profundidades da superfície e permitindo leituras de maior sensibilidade. O processo permitiu detectar mais três linhas da inscrição e a figura feminina tornou-se mais nítida, bem como o gesto de amparar os seios e posição da mão direita sobre o seio esquerdo. Hugo Pires resume as novas possibilidades: “Em alguns casos, dados fotográficos recolhidos no passado podem originar representações 3D de objectos arqueológicos em risco, contribuindo para a sua salvaguarda e permitindo leituras mais aprofundadas”.

A inscrição: “Aos deuses Manes infernais, estátua colocada em memória de Paterna, de 60 anos, (que) repousa aqui” – é a transcrição da epígrafe sugerida pela investigadora M. J. Correia Santos, doutoranda da Universidade de Saragoça.

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