RUBRICA MENSAL DE AUGUSTO MESQUITA

26-01-2012
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Nossa Senhora da Conceição

O Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Agostinhos Descalços, está situado junto à cidade, numa colina em posição alegre, dominando vastíssimo panorama, foi fundado sob o padroado dos terceiros condes de Palma, D. Fernando Martins Mascarenhas da Costa Castelo Branco Barreto, ulteriormente condes de Óbidos e de Sabugal. Integrado na Ordem de Santo Agostinho, e na Regra da Descalces, o lançamento da 1.ª pedra, verificou-se no dia 29 de Maio de 1688, sob assistência superior do padre fr. Sebastião da Cruz.
Os primeiros frades haviam-se aboletado na vila, provisória e alternadamente, em casas cedidas no sítio das Pedras Negras, na Rua das Piçarras, e ainda na ermida de S. Lázaro (1671)
No local do convento, existia desde período desconhecido do séc. XVI, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que os antigos designavam de Amieira – edifício que, parcialmente, foi englobado no plano geral da construção, e que continuou no título da padroeira, tendo sempre, culto intenso na vila e no seu termo regional.
Extinto, por falta de membros religiosos por volta de 1815, no ano de 1825, uma comissão de devotos da Virgem da Conceição, pretendendo preservar da incúria, e dar assistência regular ao templo, em petição oficial, dirigida a D. João VI, solicitou licença para praticar nela o culto, e ter autorização para utilizar as águas da cisterna do pátio conventual, o que lhes foi concedido.
Vendido em hasta pública pelo Estado, depois de 1874, no ano seguinte, era propriedade de Joaquim Lopes Tavares, que o transformou em regime de enfiteuse particular.
O convento sofreu grave delapidação de pertences sumptuários em 1808; primeiro, pelo Decreto de Março, do Governo intruso de Junot, que determinou a contribuição de guerra aplicável às pratas das igrejas, e depois, pelo saque da divisão de Loison, em 28 de Julho, quando esta se encaminhava para o assalto punitivo de Évora.
O imenso pavilhão, ocupado pela comunidade, disposto em dois pisos de aberturas irregulares, tem a empena guarnecida de volutas com enrolamento escaioladas, e de intenção ornamental. Embebido na parede, discreto azulejo setecentista, figurando as almas do Purgatório. A empreitada do dormitório, que teve começo no ano de1700, foi levado a efeito com o empréstimo sob juros, de 200.000 réis. As constantes modificações necessárias ao conforto dos locatários, fizeram perder, em absoluto, a feição primitiva do imóvel.
A igreja é obra corrente, típica do aro rústico alentejano das centúrias de seiscentos e setecentos. Lançada na linha do ocidente, ocupou inicialmente, a ermida quinhentista da Virgem da Conceição, mas devido ao aumento extraordinário do culto, demoliu-se o exíguo corpo da nave primitiva, e, segundo planos desconhecidos, de paupérrima direcção técnica de mestres locais, acrescentou-se com volume desproporcionado, a nova nave e o coro.
A frontaria, estreita e alceada, tem portal e janela de mármore branco com tímpanos triangulares, singelamente esculpidos, da época de D. Maria I, e do estilo neoclássico; frontão com enrolamentos, de ornatos estucados e coloridos, da imagem de Nossa Senhora da Conceição, sotoposta às armas de Santo Agostinho, envolvidas pelas águias bicéfalas dos Habsburgos. Contra a face meridional, ergue-se a torre-miradouro, de aberturas setecentistas, com serventia de acesso lateral através da sacristia e casa dos milagres, sobrepujada por hodierno campanário de dois olhais agulhados, modificado no ano de 1895. Os sinos existentes, de bronze, foram fundidos em Lisboa em 1903, na oficina de José de Oliveira.
O interior da nave é desgracioso e falho das mais elementares regras de arquitectura, excessivamente comprido, e muito estreito.
A única peça artística existente, é a pia de água benta marmórea, e de taça polilobada, do estilo manuelino, talvez relíquia do antigo templete. Duas capelas laterais compõem os alçados do falso cruzeiro, dividido por teia de madeira vulgar, que entronca num degrau elevado de granito, com restos de velhas campas.
Dimensões da igreja, incluindo o presbitério e coro: comprimento 24,10 x largura 5,00 m.
Com a expulsão das ordens religiosas, ocorrida em 1834, o Convento e a Ermida, foram vendidos em hasta pública.
Durante muito tempo, a Igreja foi usada como se de propriedade paroquial se tratasse. Ao ser vendida novamente a particulares, o Convento e a Igreja, esta acabou por fechar as portas nos anos 80 do século passado, e entrou em acelerado processo de degradação. O pároco António Lavajo Simões transportou para a Igreja da Matriz, as imagens de Santa Bárbara, S. Nicolau de Tolentino, Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora do Carmo, Virgem com o Menino, Santo Agostinho, Santa Mónica e a imagem titular do mosteiro – Nossa Senhora da Conceição com a grande coroa de prata lavrada.
No ano de dois mil celebrou-se um Protocolo de Comodato entre a Paróquia de Nossa Senhora do Bispo e o senhor Vicente Leandro Bicho Loureiro, actual proprietário. Neste protocolo, a Ermida é cedida à Paróquia por um período de sessenta anos, renovável, com o objectivo de aí se retomar a actividade religiosa. Para isso, era necessário proceder a obras de restauro, o que foi feito, com a coordenação de uma comissão nomeada para o efeito, e constituída pelos dois párocos, José Morais Palos e Manuel Vieira, pelas senhoras D. Rosa Silva e D. Maria Constança Mouzinho Almadanim, e ainda pelos senhores Feliciano Cornacho, José Claudino Tregeira, António Luís Espadameira, Roberto Vieira dos Santos e Joaquim Casimiro Chapa.

As obras fizeram-se sem qualquer comparticipação do Estado, apenas com os donativos de instituições e pessoas particulares de Montemor-o-Novo, e ascenderam a cerca de cento e cinquenta mil euros.
Após a conclusão das avultadas obras de restauro, a cargo do empreiteiro montemorense senhor Francisco Roque, a Ermida de Nossa Senhora da Conceição foi reaberta ao culto no dia 7 de Dezembro de 2002. O Arcebispo de Évora presidiu à celebração que assinalou a data, e foram muitas as centenas de montemorenses, que quiseram associar-se à festa.
No sábado, dia sete, fez-se a procissão que levou até ao santuário a imagem de Nossa Senhora da Conceição, uma excelente escultura em madeira policromada, que como referimos, estava guardada na Igreja Matriz desde o encerramento da Ermida. De assinalar a participação dos Bombeiros Voluntários, quer pela presença da Fanfarra, quer pela forma como transportaram a imagem, num dos seus carros.
Já na igreja, D. Maurílio de Gouveia sublinhou a devoção dos montemorenses a Maria, expressa ao longo dos séculos, nos santuários marianos que envolvem a cidade, e que marcaram a vida de sucessivas gerações. Nesse sentido, referiu o profundo significado do restauro desta igreja, e da sua reabertura ao culto, retomando tradições interrompidas pelas vicissitudes da história.
A festa transbordou para a rua, onde no terreno anexo, se montaram duas tendas, cedidas pela Escola Prática de Artilharia, para a instalação da popular venda de fogaças, e de um bar.
No dia oito, Dia da Padroeira, celebrou-se a Eucaristia na Ermida, com a participação do Coral de São Domingos, dirigido pelo Maestro João Luís Nabo. Após a Eucaristia, a festa popular continuou com bastante participação. O bom tempo que se registou, ajudou a que os dois dias de festa atraíssem muita gente àquele santuário, e permitiu, que se desfrutasse da beleza do lugar.
Após a reabertura do templo, ocorrida em 2002, anualmente, nos dias 7 e 8 de Dezembro, os montemorenses deslocam-se até ao cabeço para participarem na tradicional festa de homenagem à Imaculada Conceição, proclamada Padroeira de Portugal por El-Rei D. João IV.
Augusto Mesquita

Amigo Xico Manel

Regressado do Algarve onde estive uns dias, só hoje me é possível enviar o artigo publicado na "Folha de Montemor".
Aproveito a oportunidade para desejar à família Tátá um Feliz Natal, e que o ano que se aproxima, e que todos temem, não nos massacre com mais ROUBOS!


Nossa Senhora da Conceição

O Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Agostinhos Descalços, está situado junto à cidade, numa colina em posição alegre, dominando vastíssimo panorama, foi fundado sob o padroado dos terceiros condes de Palma, D. Fernando Martins Mascarenhas da Costa Castelo Branco Barreto, ulteriormente condes de Óbidos e de Sabugal. Integrado na Ordem de Santo Agostinho, e na Regra da Descalces, o lançamento da 1.ª pedra, verificou-se no dia 29 de Maio de 1688, sob assistência superior do padre fr. Sebastião da Cruz.
Os primeiros frades haviam-se aboletado na vila, provisória e alternadamente, em casas cedidas no sítio das Pedras Negras, na Rua das Piçarras, e ainda na ermida de S. Lázaro (1671)
No local do convento, existia desde período desconhecido do séc. XVI, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, que os antigos designavam de Amieira – edifício que, parcialmente, foi englobado no plano geral da construção, e que continuou no título da padroeira, tendo sempre, culto intenso na vila e no seu termo regional.
Extinto, por falta de membros religiosos por volta de 1815, no ano de 1825, uma comissão de devotos da Virgem da Conceição, pretendendo preservar da incúria, e dar assistência regular ao templo, em petição oficial, dirigida a D. João VI, solicitou licença para praticar nela o culto, e ter autorização para utilizar as águas da cisterna do pátio conventual, o que lhes foi concedido.
Vendido em hasta pública pelo Estado, depois de 1874, no ano seguinte, era propriedade de Joaquim Lopes Tavares, que o transformou em regime de enfiteuse particular.
O convento sofreu grave delapidação de pertences sumptuários em 1808; primeiro, pelo Decreto de Março, do Governo intruso de Junot, que determinou a contribuição de guerra aplicável às pratas das igrejas, e depois, pelo saque da divisão de Loison, em 28 de Julho, quando esta se encaminhava para o assalto punitivo de Évora.
O imenso pavilhão, ocupado pela comunidade, disposto em dois pisos de aberturas irregulares, tem a empena guarnecida de volutas com enrolamento escaioladas, e de intenção ornamental. Embebido na parede, discreto azulejo setecentista, figurando as almas do Purgatório. A empreitada do dormitório, que teve começo no ano de1700, foi levado a efeito com o empréstimo sob juros, de 200.000 réis. As constantes modificações necessárias ao conforto dos locatários, fizeram perder, em absoluto, a feição primitiva do imóvel.
A igreja é obra corrente, típica do aro rústico alentejano das centúrias de seiscentos e setecentos. Lançada na linha do ocidente, ocupou inicialmente, a ermida quinhentista da Virgem da Conceição, mas devido ao aumento extraordinário do culto, demoliu-se o exíguo corpo da nave primitiva, e, segundo planos desconhecidos, de paupérrima direcção técnica de mestres locais, acrescentou-se com volume desproporcionado, a nova nave e o coro.
A frontaria, estreita e alceada, tem portal e janela de mármore branco com tímpanos triangulares, singelamente esculpidos, da época de D. Maria I, e do estilo neoclássico; frontão com enrolamentos, de ornatos estucados e coloridos, da imagem de Nossa Senhora da Conceição, sotoposta às armas de Santo Agostinho, envolvidas pelas águias bicéfalas dos Habsburgos. Contra a face meridional, ergue-se a torre-miradouro, de aberturas setecentistas, com serventia de acesso lateral através da sacristia e casa dos milagres, sobrepujada por hodierno campanário de dois olhais agulhados, modificado no ano de 1895. Os sinos existentes, de bronze, foram fundidos em Lisboa em 1903, na oficina de José de Oliveira.
O interior da nave é desgracioso e falho das mais elementares regras de arquitectura, excessivamente comprido, e muito estreito.
A única peça artística existente, é a pia de água benta marmórea, e de taça polilobada, do estilo manuelino, talvez relíquia do antigo templete. Duas capelas laterais compõem os alçados do falso cruzeiro, dividido por teia de madeira vulgar, que entronca num degrau elevado de granito, com restos de velhas campas.
Dimensões da igreja, incluindo o presbitério e coro: comprimento 24,10 x largura 5,00 m.
Com a expulsão das ordens religiosas, ocorrida em 1834, o Convento e a Ermida, foram vendidos em hasta pública.
Durante muito tempo, a Igreja foi usada como se de propriedade paroquial se tratasse. Ao ser vendida novamente a particulares, o Convento e a Igreja, esta acabou por fechar as portas nos anos 80 do século passado, e entrou em acelerado processo de degradação. O pároco António Lavajo Simões transportou para a Igreja da Matriz, as imagens de Santa Bárbara, S. Nicolau de Tolentino, Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora do Carmo, Virgem com o Menino, Santo Agostinho, Santa Mónica e a imagem titular do mosteiro – Nossa Senhora da Conceição com a grande coroa de prata lavrada.
No ano de dois mil celebrou-se um Protocolo de Comodato entre a Paróquia de Nossa Senhora do Bispo e o senhor Vicente Leandro Bicho Loureiro, actual proprietário. Neste protocolo, a Ermida é cedida à Paróquia por um período de sessenta anos, renovável, com o objectivo de aí se retomar a actividade religiosa. Para isso, era necessário proceder a obras de restauro, o que foi feito, com a coordenação de uma comissão nomeada para o efeito, e constituída pelos dois párocos, José Morais Palos e Manuel Vieira, pelas senhoras D. Rosa Silva e D. Maria Constança Mouzinho Almadanim, e ainda pelos senhores Feliciano Cornacho, José Claudino Tregeira, António Luís Espadameira, Roberto Vieira dos Santos e Joaquim Casimiro Chapa.

As obras fizeram-se sem qualquer comparticipação do Estado, apenas com os donativos de instituições e pessoas particulares de Montemor-o-Novo, e ascenderam a cerca de cento e cinquenta mil euros.
Após a conclusão das avultadas obras de restauro, a cargo do empreiteiro montemorense senhor Francisco Roque, a Ermida de Nossa Senhora da Conceição foi reaberta ao culto no dia 7 de Dezembro de 2002. O Arcebispo de Évora presidiu à celebração que assinalou a data, e foram muitas as centenas de montemorenses, que quiseram associar-se à festa.
No sábado, dia sete, fez-se a procissão que levou até ao santuário a imagem de Nossa Senhora da Conceição, uma excelente escultura em madeira policromada, que como referimos, estava guardada na Igreja Matriz desde o encerramento da Ermida. De assinalar a participação dos Bombeiros Voluntários, quer pela presença da Fanfarra, quer pela forma como transportaram a imagem, num dos seus carros.
Já na igreja, D. Maurílio de Gouveia sublinhou a devoção dos montemorenses a Maria, expressa ao longo dos séculos, nos santuários marianos que envolvem a cidade, e que marcaram a vida de sucessivas gerações. Nesse sentido, referiu o profundo significado do restauro desta igreja, e da sua reabertura ao culto, retomando tradições interrompidas pelas vicissitudes da história.
A festa transbordou para a rua, onde no terreno anexo, se montaram duas tendas, cedidas pela Escola Prática de Artilharia, para a instalação da popular venda de fogaças, e de um bar.
No dia oito, Dia da Padroeira, celebrou-se a Eucaristia na Ermida, com a participação do Coral de São Domingos, dirigido pelo Maestro João Luís Nabo. Após a Eucaristia, a festa popular continuou com bastante participação. O bom tempo que se registou, ajudou a que os dois dias de festa atraíssem muita gente àquele santuário, e permitiu, que se desfrutasse da beleza do lugar.
Após a reabertura do templo, ocorrida em 2002, anualmente, nos dias 7 e 8 de Dezembro, os montemorenses deslocam-se até ao cabeço para participarem na tradicional festa de homenagem à Imaculada Conceição, proclamada Padroeira de Portugal por El-Rei D. João IV.
Augusto Mesquita

Amigo Xico Manel

Regressado do Algarve onde estive uns dias, só hoje me é possível enviar o artigo publicado na "Folha de Montemor".
Aproveito a oportunidade para desejar à família Tátá um Feliz Natal, e que o ano que se aproxima, e que todos temem, não nos massacre com mais ROUBOS!

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