“Wake me up before Grécia go go”

30-05-2015
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“Wake me up before Grécia go go”

00:05 Luís Reis Pires

O teatro em torno da situação da Grécia passou os limites do aceitável. E os disparates que alguns líderes dizem sobre o ‘Grexit’ também.

A União Europeia tem o péssimo hábito de deixar tudo para a última. Talvez sejam incompetentes, talvez estejam só à procura de sentir alguma adrenalina, mas a verdade é que os líderes europeus especializaram-se na arte do deixar arrastar as coisas até chegarem à beira do precipício. Depois chegam lá, olham para baixo, assustam-se e resolvem num par de horas, de forma atabalhoada, o que não resolveram em meses.

A Grécia é o exemplo mais recente e, potencialmente (e a par da situação com a Rússia), um dos mais perigosos - ao contrário do que inconscientemente pensam algumas mentes brilhantes por essa Europa fora. Os últimos três meses têm sido uma vergonha para o projecto da moeda única. Gostava de poder dizer que são um atestado de incapacidade negocial das instituições europeias e dos responsáveis gregos, mas isso implicava que algumas das principais capitais europeias - e a própria Grécia - tivessem passado os primeiros dois meses e meio a negociar alguma coisa.

O que se tem passado é pior, muito pior. São as capitais europeias que emprestaram dinheiro à Grécia a acharem que o país tem de sofrer para aprender a não desafiar a ordem instalada - veja-se o lamentável episódio que retirou Varoufakis das "negociações" com a troika -, enquanto vendem que se estão a fazer esforços para um acordo. E é a Grécia, do outro lado, a jogar a ameaça do ‘default' lá dentro, enquanto cá para fora vende mensagens de optimismo de "estamos quase lá, já falta pouco para o acordo". É um brutal teatro à escala europeia.

Começa a ser insuportável assistir ao carrocel de "estamos perto do acordo", "estamos distantes do acordo", "agora é que é, está quase", "não é não, ainda falta muito"... Passada para canção, a tragédia grega era "Should I Stay or Should I Go", dos Clash. Mas a quem está de fora e tem de assistir à fraca capacidade de representação dos vários lados apetece mais adaptar George Michael e dizer "Wake me up before Grécia go go". Até lá, façam o que têm a fazer e parem de atirar areia para os olhos de toda a gente!

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“Wake me up before Grécia go go”

00:05 Luís Reis Pires

O teatro em torno da situação da Grécia passou os limites do aceitável. E os disparates que alguns líderes dizem sobre o ‘Grexit’ também.

A União Europeia tem o péssimo hábito de deixar tudo para a última. Talvez sejam incompetentes, talvez estejam só à procura de sentir alguma adrenalina, mas a verdade é que os líderes europeus especializaram-se na arte do deixar arrastar as coisas até chegarem à beira do precipício. Depois chegam lá, olham para baixo, assustam-se e resolvem num par de horas, de forma atabalhoada, o que não resolveram em meses.

A Grécia é o exemplo mais recente e, potencialmente (e a par da situação com a Rússia), um dos mais perigosos - ao contrário do que inconscientemente pensam algumas mentes brilhantes por essa Europa fora. Os últimos três meses têm sido uma vergonha para o projecto da moeda única. Gostava de poder dizer que são um atestado de incapacidade negocial das instituições europeias e dos responsáveis gregos, mas isso implicava que algumas das principais capitais europeias - e a própria Grécia - tivessem passado os primeiros dois meses e meio a negociar alguma coisa.

O que se tem passado é pior, muito pior. São as capitais europeias que emprestaram dinheiro à Grécia a acharem que o país tem de sofrer para aprender a não desafiar a ordem instalada - veja-se o lamentável episódio que retirou Varoufakis das "negociações" com a troika -, enquanto vendem que se estão a fazer esforços para um acordo. E é a Grécia, do outro lado, a jogar a ameaça do ‘default' lá dentro, enquanto cá para fora vende mensagens de optimismo de "estamos quase lá, já falta pouco para o acordo". É um brutal teatro à escala europeia.

Começa a ser insuportável assistir ao carrocel de "estamos perto do acordo", "estamos distantes do acordo", "agora é que é, está quase", "não é não, ainda falta muito"... Passada para canção, a tragédia grega era "Should I Stay or Should I Go", dos Clash. Mas a quem está de fora e tem de assistir à fraca capacidade de representação dos vários lados apetece mais adaptar George Michael e dizer "Wake me up before Grécia go go". Até lá, façam o que têm a fazer e parem de atirar areia para os olhos de toda a gente!

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