Crescimento limpo é a aposta mais segura

26-09-2014
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Crescimento limpo é a aposta mais segura

Martin Wolf

00:05

O debate sobre as alterações climáticas chegou a um impasse. Apesar da profusão de discursos e conferências internacionais, incluindo a cimeira das Nações Unidas realizada esta semana em Nova Iorque, as emissões de gases com efeito de estufa seguem em crescendo.

Seremos capazes de inverter a situação? Podemos, pelo menos, identificar as condições necessárias. A liderança é uma delas, mas a mais importante é, sem dúvida, a constatação de que a prosperidade é compatível com a busca de soluções para reverter as alterações climáticas.

O recente relatório da Comissão Mundial sobre a Economia e o Clima destaca cinco pontos fundamentais para essa mudança de mentalidade. Primeiro, a natureza da infra-estrutura a construir nos próximos 15 anos vai determinar a probabilidade de manter a média global de aquecimento abaixo dos 2ºC. Muitos cientistas defendem que acima deste nível as consequências poderão ser catastróficas. Segundo, para alcançar essa mudança o mundo tem de mudar o seu comportamento imediatamente.

Terceiro, terão de ser feitos grandes investimentos na infra-estrutura que vai moldar o desenvolvimento urbano, a utilização de terras e solos e a gestão dos sistemas energéticos. Quarto, o mundo poderá diminuir em pelo menos metade as emissões definidas até 2030 se forem tomadas as decisões de investimento correctas. Por último, alterar o padrão de investimento e de inovação, colocando-o no caminho certo, trará mais benefícios do que custos económicos para a Humanidade.

Eis uma mensagem encorajadora. No relatório estima-se que os subsídios aos combustíveis fósseis rondem os 600 mil milhões de dólares (472 mil milhões de euros) por ano, contra 90 mil milhões de dólares (71 mil milhões de euros) para as energias limpas. As transformações necessárias podem ser alcançadas combinando a fixação de preços e o investimento com a promoção da inovação e o planeamento - sim, porque o desenvolvimento urbano requer planeamento. Quais os custos de tudo isto? O relatório dá a entender que os custos incrementais do investimento num futuro de baixo carbono comparativamente ao presente de alto carbono seriam relativamente baixos e dá exemplos concretos.

Os custos anuais do investimento nas infra-estruturas requeridas para essa transformação - transportes, energia, sistemas de água e centros urbanos - rondariam os 6 mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros) por ano. O valor indicado para os custos incrementais de infra-estruturas de baixo carbono é de 270 mil milhões de dólares/ano (212 mil milhões de euros). Modelos económicos plausíveis mostram que a perda agregada do produto mundial em 2030, na opção de baixo carbono, seria equivalente a um hiato de um ano no crescimento económico. Em contrapartida, dá a entender que os custos da crise financeira serão substancialmente maiores.

Acima de tudo, porém, importa realçar que um futuro de baixo carbono não é sinónimo de miséria perpétua. Com o apoio adequado dos governos, o mercado não só poderá gerar mais prosperidade como reduzir o risco de desestabilização do clima. Manter a lógica actual do ‘business as usual' é uma escolha profundamente irracional, mas as mudanças que é preciso levar a cabo têm de ser feitas já. Mais tarde será demasiado tarde.

Crescimento limpo é a aposta mais segura

Martin Wolf

00:05

O debate sobre as alterações climáticas chegou a um impasse. Apesar da profusão de discursos e conferências internacionais, incluindo a cimeira das Nações Unidas realizada esta semana em Nova Iorque, as emissões de gases com efeito de estufa seguem em crescendo.

Seremos capazes de inverter a situação? Podemos, pelo menos, identificar as condições necessárias. A liderança é uma delas, mas a mais importante é, sem dúvida, a constatação de que a prosperidade é compatível com a busca de soluções para reverter as alterações climáticas.

O recente relatório da Comissão Mundial sobre a Economia e o Clima destaca cinco pontos fundamentais para essa mudança de mentalidade. Primeiro, a natureza da infra-estrutura a construir nos próximos 15 anos vai determinar a probabilidade de manter a média global de aquecimento abaixo dos 2ºC. Muitos cientistas defendem que acima deste nível as consequências poderão ser catastróficas. Segundo, para alcançar essa mudança o mundo tem de mudar o seu comportamento imediatamente.

Terceiro, terão de ser feitos grandes investimentos na infra-estrutura que vai moldar o desenvolvimento urbano, a utilização de terras e solos e a gestão dos sistemas energéticos. Quarto, o mundo poderá diminuir em pelo menos metade as emissões definidas até 2030 se forem tomadas as decisões de investimento correctas. Por último, alterar o padrão de investimento e de inovação, colocando-o no caminho certo, trará mais benefícios do que custos económicos para a Humanidade.

Eis uma mensagem encorajadora. No relatório estima-se que os subsídios aos combustíveis fósseis rondem os 600 mil milhões de dólares (472 mil milhões de euros) por ano, contra 90 mil milhões de dólares (71 mil milhões de euros) para as energias limpas. As transformações necessárias podem ser alcançadas combinando a fixação de preços e o investimento com a promoção da inovação e o planeamento - sim, porque o desenvolvimento urbano requer planeamento. Quais os custos de tudo isto? O relatório dá a entender que os custos incrementais do investimento num futuro de baixo carbono comparativamente ao presente de alto carbono seriam relativamente baixos e dá exemplos concretos.

Os custos anuais do investimento nas infra-estruturas requeridas para essa transformação - transportes, energia, sistemas de água e centros urbanos - rondariam os 6 mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros) por ano. O valor indicado para os custos incrementais de infra-estruturas de baixo carbono é de 270 mil milhões de dólares/ano (212 mil milhões de euros). Modelos económicos plausíveis mostram que a perda agregada do produto mundial em 2030, na opção de baixo carbono, seria equivalente a um hiato de um ano no crescimento económico. Em contrapartida, dá a entender que os custos da crise financeira serão substancialmente maiores.

Acima de tudo, porém, importa realçar que um futuro de baixo carbono não é sinónimo de miséria perpétua. Com o apoio adequado dos governos, o mercado não só poderá gerar mais prosperidade como reduzir o risco de desestabilização do clima. Manter a lógica actual do ‘business as usual' é uma escolha profundamente irracional, mas as mudanças que é preciso levar a cabo têm de ser feitas já. Mais tarde será demasiado tarde.

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